terça-feira, 25 de outubro de 2016

NO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES: VOTAR NULO PARA APROFUNDAR A CRISE DO REGIME POLÍTICO!!

                                                                           

David Lucius



As recentes eleições não conseguiram superar a enorme crise que afeta todo o regime político do país. A recessão, o desemprego e a profunda instabilidade e bancarrota econômica, que contamina todos os poros da sociedade, são a base sobre as quais desenvolvem-se todas as demais crises, contaminando-se mutuamente.

A prisão de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e principal organizador do impeachment de Dilma é apenas mais um capitulo nesse intrincado enredo.

O governo Temer, fruto de um golpe parlamentar que funde uma grande parte dos partidos que sustentavam o governo anterior (do PT) ao PSDB e ao DEM, procura aprofundar, de forma avassaladora, os ajustes econômicos iniciados na gestão Dilma. A aprovação da PEC 241 (projeto que limita os gastos públicos), nessa semana, é apenas o inicio de uma gigantesca política para jogar o ônus da crise econômica nas costas da maioria dos trabalhadores, dos setores oprimidos e até mesmo de alguns setores da classe média.

Diante desse descalabro as organizações sindicais, populares e os partidos de esquerda dão tímidas repostas e não procuram utilizar a totalidade de suas forças e mobilizar uma grande parcela da população para lutar contra o governo. A CUT, que possui cerca de três mil e quinhentos sindicatos e entidades filiadas e cerca de 5 milhões de associados, pouco fez em matéria de mobilização. Com um calendário que aponta o dia 11 de novembro como um Dia Nacional de Paralisações a burocracia sindical vai colocando as lutas contra o governo Temer em um processo morno, adaptado a uma tentativa de "estabilizar" o governo, que procura muito mais um "desgaste" político e eleitoral e não seu real enfrentamento a partir da organização dos trabalhadores. A luta contra os planos de ajuste enquadram-se em uma "oposição responsável", que realiza um tipo de oposição parlamentar apoiado nos partidos de esquerda e nos sindicatos, não como um meio de organização e luta efetiva dos trabalhadores, mas apenas como uma "pressão" para desgastar o governo com claro interesse eleitoral em 2018, ou para as calendas gregas.

Grande parte do movimento sindical, da esquerda e dos movimentos sociais, vão a reboque dessa política, que procura fazer do não enfrentamento a arma para organizar as futuras derrotas. Similar ao que ocorreu durante o governo Itamar e FHC, tanto a esquerda como o movimento sindical e popular (conduzidos pelas suas burocracias) tentam transformar os movimentos dos trabalhadores em meros apêndices para desgastar o governo. A organização real, a luta efetiva, e a discussão de um programa que possibilite um desenvolvimento da consciência de classe, passa longe dos interesses mesquinhos da esquerda e da burocracia sindical.

Já a juventude marca uma posição combativa e de luta ocupando mais mil escolas e 82 campus universitários, mobilizando-se de forma independente contra a PEC 241 e os ajustes do governo Temer. Mostram uma inconformidade com a situação de crise, o desemprego e a recessão que atingem a juventude de forma acentuada em todo o país.

As eleições nacionais só podem ser analisadas dentro do quadro de profunda crise que abala não só a economia, a sociedade e próprio Estado. A política do atual governo tenta transferir de forma profunda o ônus da crise capitalista, encobrindo-a como uma crise de "gestão do Estado", para as classes menos favorecidas da sociedade, em especial a classe operária, os trabalhadores e assalariados.

As eleições galvanizaram a raiva que toda uma parcela da sociedade sentia pela evolução da crise e descarregaram sobre o PT. De fato todo o regime atual teve origem no governo do PT e todos os ajustes agora em curso, foram engendrados no governo do PT, em especial durante o Ministério de Joaquim Levy. O próprio Ministro da Economia do atual governo, Henrique Meireles, foi ministro do primeiro governo Lula. A guinada a direita nas eleições foi o resultado de um voto de protesto, que não se deslocou à esquerda, porque a esquerda não soube marcar uma posição clara de combate ao governo burguês do PT, de colaboração de classes, que soçobrou e sofreu um golpe parlamentar, organizado do interior do próprio governo (no qual Temer foi um dos organizadores) com a finalidade de aprofundar a política de ajuste e desviar-se das operações judiciais anti-corrupção em curso.

Diante de toda essa crise que desenvolve-se, as candidaturas a esquerda do PT (PSTU, PCB e PSOL) não conseguiram marcar uma clara e efetiva demonstração de enfrentamento do golpe e do ajuste em curso.

Agora no segundo turno temos apenas as candidaturas do PSOL em Belém e do Rio de Janeiro. A adaptação do PSOL ao transformar-se, sem críticas, em um apêndice das políticas de colaboração de classes do PT, vão dando passos firmes, repetindo a história, com uma política que seja "confiável" aos mercados e à própria burguesia.

A "Carta aos Cariocas" que o candidato Fleixo do PSOL lançou é similar nos propósitos a "Carta aos Brasileiros" que Lula utilizou para selar seu acordo com a política burguesa em 2002.

O PSOL preocupa-se não em organizar os trabalhadores para enfrentar uma dura resistência contra o ajuste e um governo golpista, mas em fazer uma oposição parlamentar, no melhor estilo do PT e dar garantias ao regime político burguês de que pretende "atuar de forma ética e equilibrada junto ao setor privado" e que "nenhum secretário será nomeado por indicação de partido político".

Tudo de forma a "acalmar" os setores burgueses que vem com "desconfiança" o PSOL.

Não é de se estranhar que a quase unanimidade da esquerda brasileira apoie, de forma "crítica", ou não, Fleixo no RJ.

É a repetição da política do PT, porém de uma forma tímida e discreta, como se tivessem medo de serem lembrados de que a política de colaboração de classes, democratizante até a medula, do PT, abriu passagem para a política de capitulação diante do golpe e do ajuste, e foi essencial para revitalizar os partidos burgueses que puderam utilizar o capital político do PT para controlar o Estado, o seu governo e impedir qualquer mínima evolução política independente das massas.

O PSOL quer repetir essa tragédia, mas de forma insípida, cômica e burlesca.


 Ao não apontar uma evolução na consciência de classe, na organização e nem na luta das massas, nossa posição, de Tribuna Classista, nas eleições municipais do segundo turno, é pelo VOTO NULO.

Não iremos dar nosso aval para se repetir a tragédia da política de colaboração de classes que o PT desenvolveu durante as últimas décadas e que ainda é o principal empecilho para a evolução da consciência de política das massas.

A crítica do que vivenciamos hoje deve ser o primeiro passo para a sua superação.

sábado, 22 de outubro de 2016

Entrevista com o Vereador Babá da CST-PSOL

                                                                       









Entrevista do Vereador (PSOL/CST - RJ) Babá



Desde o TRIBUNA CLASSISTA lhe enviamos nossa solidariedade e ainda lhe convidamos em sinal de apoio a responder algumas perguntas para serem publicadas em formato de entrevista no nosso blog, no jornal e divulgação nas redes sociais.


TC: Lendo o texto que gerou a polêmica no site do CST relacionado com a morte de Shimon Perez e olhando as respostas e a repercussão negativa que teve nas instituições judaicas entendemos que temos que separar o antissemitismo do antissionismo do debate. Eles acreditam que chamar ao Estado de Israel de genocida envolve ao povo judeu quando não se trata de atacar a tradição judaica, seus mitos, sua culinária, sua música e sim a política que leva a cabo o Estado de Israel junto com os americanos no Oriente Médio. Gostaria que nos falasse sobre esta diferença entre ser a favor do povo judeu e contra a política do Estado israelita.


Babá: Com certeza, querer misturar antissemitismo com antissionismo como se fossem a mesma coisa não é nada mais que uma armadilha oportunista para gerar confusão. Nada mais repudiável que confundir a historia e a tradição do povo judeu com o regime de apartheid praticado pelo sionismo com apoio do imperialismo. A esquerda mundial tem sido educada por grandes mestres filhos de famílias judias, a começar por Marx, Trotsky, Rosa Luxemburgo, entre os mais notáveis. Mas não é só isso. Somos agradecidos à legião de judeus, que fugindo das perseguições dos regimes totalitários europeus nos fins do século XIX e princípios do XX, chegaram às nossas terras trazendo as ideias socialistas e nos ajudaram a organizar sindicatos lutando lado a lado conosco para defender nossos direitos. Essa tradição, que reflete em muitos outros aspectos da vida quotidiana de uma família trabalhadora judia, nós a reivindicamos completamente. Por isso é inaceitável tentar confundir essa bela tradição, com o regime sionista, racista, colonialista e genocida de Israel.


TC: Sua postura e a do CST são corretas. Inclusive o dirigente do Partido Obrero da Argentina Jorge Altamira, que é judeu e não sionista, caracteriza também Israel como um estado genocida, a esquerda em geral do mundo todo tem essas postura, inclusive a posição oficial do PSOL (comenta Milton Temer no facebook) é ser solidário com a luta da Palestina...


Babá: Antes de tudo gostaria de agradecer ao companheiro Jorge Altamira pela sua solidariedade. Sei que Altamira, como o Partido Obrero, bem como a maioria da esquerda mundial, condena o estado genocida de Israel. Nesse sentido me sinto forte, nos sentimos fortes a partir do PSOL, da CST e da UIT, a internacional à qual pertencemos. Diferente dos que nos acusam de sermos uma "minoria intolerante" compartilhamos os mesmos sentimentos com a absoluta maioria da esquerda mundial e de importantes intelectuais e personalidades do mundo das artes, das ciências, do esporte ao apoiar a Causa Palestina contra a ocupação sionista. Por isso não foi casual que simultaneamente com a nota que publicou a CST, foram publicados outros artigos mostrando a verdadeira face de Shimon Peres.


TC: Os militantes ligados ao Freixo criticaram nas redes sociais a inconveniência do teu posicionamento....Penso que a conveniência por si só é um principio reacionário, no sentido de que deveria estar subordinada ao conceito de defesa da liberdade ou dos direitos humanos, neste caso; a postura do CST foi criticada como inoportuna por militantes do PSOL argumentando que no meio de uma campanha eleitoral isso ausentaria os votos da comunidade judaica. Pensamos que é correto se colocar porque justamente temos que defender nossos princípios mais caros embora isso seja contra a perda de parte do eleitorado. Queria que me falasse sobre o significado de falar ou calar em relação as convicções políticas, embora isso esteja sendo colocado por parte da militância do PSOL contra um interesse pontual .


Babá: Na verdade no PSOL se abriu um debate bastante artificial. É necessário deixar claro que o programa do partido é taxativo em relação a este tema quando afirma que "Israel pratica terrorismo de estado contra os palestinos". Porém, é evidente que existem interesses de setores sionistas para tentar influenciar nas políticas internas do PSOL, e isso se manifesta especialmente em períodos eleitorais. Desta vez o problema se agravou porque em meio da campanha eleitoral faleceu o líder sionista Shimon Peres, que foi homenageado pelo imperialismo mundial e recebeu várias notas da esquerda, criticando com mais ou menos virulência sua trajetória, entre outras a que publicamos na página de nossa corrente, assinada pelo companheiro Miguel Lamas, o que escandalizou vários setores que saíram a nos criticar porque era um teme inconveniente para aquele momento eleitoral. A CST não agendou a morte de Peres no período eleitoral e reproduzir um pequeno texto lembrando aos lutadores quem foi de verdade Shimon Peres, não deveria ser um problema para nosso partido, mas há setores internos que lamentavelmente são influenciados pelo sionismo e acabam se unindo a eles para nos atacar. Um absurdo! Para defender questões de princípios, como é a luta dos povos pela sua liberação, sempre é boa a oportunidade, só não é para os oportunistas de plantão. Por isso, não nos calarão.


TC: Uma representante da direita, a vereadora Teresa Bergher (PSDB) protocolou pedido junto ao Procurador Geral de Justiça, pedindo a "interdição e retirada das páginas da Corrente Socialista dos Trabalhadores" e "a prisão do autor do texto, Miguel Lamas" (Veja.abril.com). Setores do sionismo falam em pedir a cassação do Vereador Babá, ou pressionar para que a CST seja expulsa do PSOL. Vemos como não se trata apenas de uma questão de ter sido inoportuna publicação do CST. O ataque demonstra que estão se evidenciando mais que confrontos de ideias, mas de luta de classes. Aqui estão os que apoiam a ofensiva americano-israelense versus que são contra os ataques imperialistas. Gostaria que você comentasse a postura da vereadora e o que existe por trás do ataque à CST.


Babá: As reações internas equivocadas de alguns dirigentes do PSOL, cedendo às posturas de setores sionistas organizados, alguns dos quais filiados e militantes do partido, além de servir à imprensa burguesa reacionária como Veja ou a Rede Globo para nos atacar, encorajam políticos burgueses como a vereadora carioca, defensora do sionismo, Theresa Bergher do partido de FHC, o PSDB, o maior privatizador deste país. O mesmo partido que governava o Estado do Pará que, em 1996, e que foi responsável pela Chacina do Eldorado dos Carajás, onde foram assassinados 19 líderes camponeses sem terra. Essa senhora que, como dirigente do PSDB tem responsabilidade pela entrega das riquezas do país às empreiteiras, às multinacionais e ao imperialismo, ainda se acha no direito de pedir o fechamento de nossa página e a prisão de Miguel Lamas (que nem mora no Brasil).

Alguns setores do PSOL aliados aos sionistas que hoje tem a coragem de pedir a expulsão da CST das fileiras do PSOL e até a cassação de meu mandato, não tiveram a mesma coragem de enfrentar Lula no auge de seu prestígio popular em 2003, quando fomos expulsos do PT por votarmos contra a Reforma da Previdência. Em 2004 fundamos o PSOL e eles preferiram continuar no PT, e só vieram para o PSOL em 2005. É evidente que se trata de um grave ataque à esquerda consequente que não se cala e toma partido frente aos grandes problemas da luta de classes nacional e internacional. A pretensão de condenar quem se posiciona contra o estado genocida de Israel e seus lamentáveis líderes é parte da criminalização dos movimentos sociais. E um ataque preventivo aos que lutam contra o estado brasileiro e suas instituições corruptas e desprestigiadas. Se enganam se pretendem calar a esquerda consequente e os trabalhadores que resistem à retirada de seus direitos como se propõe este governo sem legitimidade com medidas que reduzem os orçamentos da saúde e da educação e pretendem tirar direitos dos trabalhadores mediante as reformas previdenciárias e trabalhistas. Não nos intimidam, estamos preparados para encarar estas novas batalhas.

                                                       
 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

BRASIL: ELEIÇÕES EM TEMPOS DE CRISE

                                                                                                 



David Lucius


As eleições no Brasil ocorreram diante de uma profunda crise política e econômica, na qual a recessão dá claros sinais desenvolver-se como depressão econômica pelo próximo período.

O regime político desgastou-se profundamente, o golpe parlamentar sofreu movimentos massivos pelo "Fora Temer", com inúmeras passeatas nas principais capitais do país. As operações contra a corrupção tem sido utilizadas como factoides, com claro interesse político. O caldo dessa mistura de mobilizações, crise do regime, corrupção, recessão e depressão econômica, impactaram de tal forma a consciência das massas, que as eleições ficaram literalmente em um segundo plano.

Diante dessa profunda crise, uma grande parte da população reagiu com pouco interesse às eleições, o próprio calendário eleitoral foi modificado para ser mais curto (45 dias), promovendo uma maior despolitização e um grande desinteresse crescente na maioria dos eleitores. A crise do regime aliada ao calendário eleitoral provocou uma das maiores taxas de abstenção somados aos votos brancos e nulos. Foram cerca de 25 milhões de abstenções (17,5 %), os brancos e nulos ainda não foram todos computados, mas as projeções apontam a casa dos 13 %. Nas capitais esses índices foram ainda maiores, em 22 capitais o número de votos brancos, nulos e abstenções superou o primeiro ou o segundo colocado, ou seja, nas grandes cidades a grande maioria deu um grande não ao regime político e às suas instituições democráticas vigentes.

O PT foi, sem sombra de dúvida, o grande derrotado das eleições, tinha a prefeitura de 630 cidades em 2012, agora tem apenas 256. Das capitais só conseguiu vencer em Rio Branco, no extremo norte do país, e vai disputar o segundo turno apenas no Recife, entre as capitais.

Além disso o PT perdeu em São Paulo, e de forma humilhante (16 % dos votos, após ficar algumas semanas nos míseros 10 %), sem ao menos um segundo turno, e para o PSDB (principal partido da oposição burguesa), de João Dória, um empresário que nunca havia disputado uma eleição, aliado do governador Alckmin, com um discurso privatista e reacionário, marcado pelo slogam de que era um gestor e não um político, Dória obteve 53 % dos votos, e liquidou a fatura no primeiro turno.
Em grandes capitais o desempenho do PT caiu muito, principalmente nos bairros das periferias, onde viva a população mais pobre, mesmo no nordeste, onde tinha grande penetração, sua votação caiu.

Tudo leva a crer que após as eleições a crise se aprofundará dentro do PT levando o partido a rachar e perder mais militantes a apoio entre a população. O futuro do PT e algo obscuro e incerto, a única certeza é de que nada será como antes. A possibilidade de recuperar seu crédito político e zero. De um lado os trabalhadores sentiram-se traídos e abandonaram o partido, de outro a burguesia, que sustentava os governos do PT, mudou de lado, impossibilitando até mesmo alianças com grandes partidos burgueses, em várias capitais, o PT foi obrigado a desfazer-se das alianças com a burguesia e seus partidos e voltar a aliar-se com partidos que são apenas a expressão de sua sombra, não por opção, mas por imposição da realidade política. De todas as formas a política do PT é o de um balcão de negócios, o que falta é alguém do outro lado para negociar.

A direita, de um modo geral, os partidos que dão sustentação ao governo Temer e os partidos de sua base aliada no Congresso, foram os grandes vitoriosos dessas eleições.

O PMDB, partido de Michel Temer, praticamente manteve o número de prefeituras, de 1015 no total, que possuía em 2012, passou para 2028 nessas eleições. Ganharam a capital de Boa Vista, e vão disputar o segundo turno em 6 capitais. Em São Paulo e Rio de Janeiro perderam também de forma humilhante, na capital paulista com a ex-prefeita Marta Suplicy (ex-PT) e no Rio de Janeiro com Pedro Paulo, em que pese todo a pressão da máquina da prefeitura e do estado que são governados pelo PMDB, foi ultrapassado pelo PSOL, com Marcelo Freixo, que só possuía apenas 11 segundos de tempo na TV, e que vai disputar o segundo turno com um bispo ligado à Igreja Universal, Marcelo Crivella, antigo aliado do PT e ex-ministro do governo Dilma, coisa que boa parte da esquerda não gosta de lembrar.

O PSDB foi o partido que conseguiu as maiores vitórias, não tanto pelo número de prefeituras, tinha 686 e agora vai ter 793, ou mais, mas pelo peso das capitais conquistadas. Venceu em São Paulo com Dória, um empresário ao estilo Macri, que tem um projeto mega liberal e privatizador. Ganhou 14 prefeituras das 93 cidades mais importantes do país e vai disputar outras 19 cidades. Além de São Paulo ganhou na capital do Piauí, Teresina e disputará o segundo turno em 9 capitais. A vitória em São Paulo irá potencializar a candidatura de seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, mas de outro lado abrirá uma disputa acirrada com os outros concorrentes, em especial, José Serra (Ministro das Relações Exteriores) e o Senador Aécio Neves.

A organização de extrema direita MBL (Movimento Brasil Livre), que organizou grande parte dos protestos a favor do impeachment e pelo golpe, e que sempre pouparam e se aliaram ao antigo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (articulador do golpe), elegeu 7 vereadores (quatro delas pelo PSDB) e um prefeito.

Outros partidos de direita tiveram uma expressiva votação, DEM, PSD, PR, PP, etc.

O PSOL ganhou apenas em duas prefeituras. Mas vai ao segundo turno em duas capitais. Em Belém do Pará e no Rio de Janeiro.

A ida ao segundo turno no Rio de Janeiro foi um fato inusitado e coloca a possibilidade real de uma vitória contra um bispo ligado aos setores mais reacionários da sociedade. No RJ o PSOL fez a segunda maior bancada da cidade com 6 vereadores. Além disso o Rio de Janeiro teve um candidato de extrema direita, Flávio Bolsonaro, com 16% dos votos e que por apenas 2% não ultrapassa o candidato do PSOL.

A votação do PSOL nas capitais foi muito diferenciada, variou de 3% em São Paulo a 29 % em Belém.

A campanha do PSTU, que sofreu um racha de metade de seus militantes no meio desse ano, e de grande parte de seus militantes históricos, de seus quadros, foi muito tímida, isso para dizer o mínimo. Em alguns lugares a campanha quase inexistiu. Sua votação em São Paulo foi cerca de 4 mil votos (0,08 %), no Rio de Janeiro cerca de 5 mil (0,19 %), em São José dos Campos, onde dirigem o sindicato dos metalúrgicos há mais de uma década, foi de pouco mais de 4 mil votos (1,24%). Em Natal onde possuíam uma das vereadora mais bem votadas proporcionalmente, Amanda Gurgel (que saiu com o recente racha que formou o MAIS), a candidatura foi lançada pelo partido, mas não atingiu o coeficiente mínimo para se eleger. Tinha dois vereadores e não reelegeu nenhum. O PSTU foi abalado profundamente, por suas posições equivocadas diante do golpe, seu isolamento diante da crise, e pelo último racha.

Diante da crise que se aprofunda a burguesia vendeu, através dos meios de comunicação, a ideia de que toda crise econômica seria culpa única e exclusiva do PT e da esquerda de um modo geral. A solução seria um ajuste monstruoso e privatizar ao máximo todo o Estado.

O atual governo é uma continuidade (inclusive com vários ministros do governo anterior) do antigo governo, mas com o PSDB no lugar do PT e uma maior ferocidade em aplicar os ajustes, assim como, com o apoio do parlamento, o que o governo anterior não tinha. A burguesia unificou-se diante do golpe, o parlamento que era quase um duplo poder, transformou-se em aliado do governo. Sem o parlamento como aliado será impossível o governo impor qualquer tipo de ajuste, por isso a importância do acordo entre o o governo e o legislativo. Os interesses de classe falaram mais alto, e as divergências foram adiadas, pelo menos por hora.

A esquerda ficou aturdida e atônita diante da votação expressiva e esmagadora da direita. Todos agora tentam tecer teorias. Poucos analisam o papel do PT como articulador de um governo de colaboração de classes, que esmagou as tendências de luta no interior da esquerda e do movimento operário. Grande parte da burguesia golpista foi, anteriormente, aliada do PT, exceção feita ao PSDB.

A vitória dos setores mais direitistas, burgueses e favoráveis ao golpe e ao ajuste foi notório e acachapante.

A grande questão é que a crise mundial do capitalismo continuará a abalar a economia e o regime político do Brasil com a mesma força e intensidade, se não maior. A receita dos partidos que ganharam será aprofundar o ajuste, privatizar e tentar esmagar os movimentos sociais, e em especial o movimento operário e a classe trabalhadora.

A vitória da direita e o golpe parlamentar são a expressão cabal de que estamos diante de uma enorme crise. A profunda crise desloca setores inteiros da população para a polarização política, e até mesmo para a direita. Mas a crise não será superada por um ajuste mais duro contra as massas e por uma política liberal privatizadora, muito pelo contrário, em pouco tempo a política dos setores vitoriosos se chocará diretamente com a maioria esmagadora das massas.

Se a política perpetrada pelo governo do PT, com tímidos ajustes diante da crise, e com uma política econômica que sempre favoreceu os grandes bancos, colocaram grande parte da população contra o governo e contra o PT, de forma nunca antes vista, o que ocorrerá com um governo que planeja ajustes draconianos e raivosos contra a maioria da população brasileira?

A crise brasileira é alimentada diretamente pela crise econômica. O governo e boa parte da burguesia acreditam que o pior já passou, mas os dados concretos, o desemprego, e os demais índices econômicos vão de mal a pior.

A vitória da direita nas eleições não estabiliza o governo e nem diminui a crise, muito pelo contrário, será o combustível que alimentará o aprofundamento da crise e a colisão inexorável das massas com todo o regime político.

A pressão do ajuste a da crise, econômica e política, de forma combinada, transformam o Brasil em uma grande panela de pressão, prestes a explodir. Toda a vitória recente das eleições são uma guinada à direita de uma parcela significativa das massas, mas essa guinada se move por cima de uma crise gigantesca, no qual a burguesia e seus partidos não irão acalmar e estabilizar os fatores objetivos e econômicos, nem seus efeitos sociais, ao contrário, com a vitória irão tentar garantir seus lucros às custas de uma maior opressão da maioria da população.

O Brasil vive hoje uma crise histórica, essas eleições que sinalizaram uma vitória da burguesia apenas aprofundarão a crise, suas contradições, e seus efeitos sobre a população. Os mesmos partidos que cantam e brindam suas vitórias hoje, terão que enfrentar a continuidade da crise e a fúria das massas no dia de amanhã.


A esquerda necessita debater de forma crítica a crise histórica e conjuntural que atravessa o nosso país, analisar de forma profunda o papel que desempenha a crise mundial do capitalismo nessa crise e o papel funesto que cumpriu a política de colaboração de classes, levada adiante pelo PT nos últimos trinta anos, e seus atuais desdobramentos, sem superar criticamente sua trajetória, a esquerda não conseguirá se transformar em um norte para a classe trabalhadora, que sofre em toda sua plenitude os efeitos desta crise histórica no qual o capitalismo se encontra totalmente submerso.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

AS ELEIÇÕES E O REGIME POLÍTICO

                                                                           
                     


Guilherme Giordano


O fator que mais se destaca no resultado das eleições municipais de 2016 no Brasil é que uma ampla parcela de eleitores se absteve, não comparecendo às urnas, anulou o voto ou votou em branco. Somados, abstenções, votos nulos e brancos em inúmeras cidades, inclusive nas capitais mais importantes do país, chegaram a atingir cerca de 40% do eleitorado, o que se tornou praticamente uma média nacional, e foi maior que o número de votos dos primeiros colocados.

O mosaico que se formou no mapa eleitoral brasileiro dá lugar a nada menos do que 18 partidos diferentes disputando o segundo turno. O PSDB ganhou no primeiro turno em São Paulo, das capitais, e a vitória do seu candidato folclórico expressa a derrota de alas do partido ligadas a Serra, FHC e Aécio Neves. João Dória, ex-apresentador de TV e empresário, em seu discurso para celebrar uma vitória acachapante abriu uma fenda em seu partido, ao lançar o seu principal cabo eleitoral e apoiador, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à presidência da república nas eleições de 2018. A luta faccional da burguesia no interior dos seus partidos e entre seus partidos recém começou, prometendo uma verdadeira guerra entre as suas diferentes frações à medida que a crise capitalista avança e torna os recursos mais escassos.

Aqueles que se colocaram a reboque da Frente Popular, que representa o seguidismo a uma das alas da burguesia, é tanta que omitem em seus balanços a rejeição de uma significativa parcela da população brasileira ao conjunto do regime político, e por outro que quando Fernando Haddad, do PT, por exemplo, elegeu-se em São Paulo foi com o apoio formal e escancarado de Paulo Maluf. 

O PT foi derrotado em todo o país, chamando atenção da perda de inúmeras prefeituras em quase toda a região nordeste, e na capital gaúcha, Porto Alegre, tradicional reduto do partido, que chegou a governar por 16 anos ininterruptos.

O PSTU, depois de ter sofrido um racha de quase metade do partido, encolheu ainda mais em termos de votos, tendo perdido os dois vereadores que tinha em Belém do Pará (Cleber Rabelo foi lançado candidato a prefeito) e em Natal, Rio Grande do Norte (Armanda Gurgel, que foi para o MAIS, tendo sido a 2ª candidata mais votada nesta eleição, não eleita pelo coeficiente eleitoral – voto na legenda).

O PSOL obteve êxito no Rio de Janeiro, com seu candidato, Marcelo Freixo, e em Belém do Pará, com Edmilson Rodrigues (tendo sido este prefeito pelo PT naquela capital, durante dois mandatos consecutivos), tendo ido ambos para o 2º turno.

O MRT/PSOL, que corresponde ao PTS na Argentina, tirou um balanço costumeiro e histórico do morenismo de auto-propagandismo dos seus “milhares” de votos pelo país. Em São Paulo, sua candidata precisou esconder com mil e um artifícios e manobras a candidatura majoritária do PSOL, que era nada mais nada menos do que Luiza Erundina, que rompeu com o PT pela direita, após ter governado a cidade para os interesses da FIESP. Na eleição municipal, em 2004, Erundina foi candidata pelo direitista PSB com nada mais, nada menos do que o atual presidente “progressista” golpista, Michel Temer como vice em sua chapa. O PT se apoiou para compor a chapa Dilma Roussef/Michel Temer, em 2010. O “progressismo” de Temer e seu “progressista” PMDB, desculpem-me o trocadilho, “progrediu” para um golpe de estado. Nesse caso, vale para o MRT o ditado bíblico com uma emenda: “Diga-me com quem andas, ou quem pensa que não andas, que te direi quem és.”

Um capítulo à parte tem que ser dedicado ao MES/PSOL de Luciana Genro, em Porto Alegre, corrente que corresponde ao MST na Argentina. Luciana Genro disparou nas pesquisas no início da eleição e desenvolveu uma campanha reacionária, moralista, típica da pequena-burguesia conservadora. Seu mote de campanha era as “Mãos limpas” (para quem foi acusada por toda a esquerda inclusive no interior do próprio PSOL de ter sido financiada por grandes empresários, em eleições anteriores). No último debate que ocorreu em cadeia regional, transmitido pela Rede Globo, para boa parte do estado do Rio Grande do Sul, revelou sua face caricatural ao afirmar que almejava ser uma personagem de uma novela da própria Rede Globo, que tem audiência nacional em horário nobre desde a época da ditadura militar (nesse caso, foi para legitimá-la). Essa comédia ao vivo não parou por aí: Luciana Genro, bem aos moldes dos candidatos aventureiros que viram motivo de piadas nas eleições propôs o Tele-saúde e um controle remoto a ser distribuído para cada cidadão e cidadã, que acionaria uma Central de Segurança, e com isso, viaturas policiais estariam em poucos segundos no local da ocorrência. Foi com esse programa que o MES compareceu nas eleições em Porto Alegre. Luciana despencou assim para 5º lugar, tendo virado motivo de piadas, a tal ponto de estar sendo chamada de Beatriz, a personagem da novela da golpista Globo. Tal vexame foi amenizado pela votação que obteve sua candidata a vereadora, Fernanda Melchiona, que obteve a maior votação para o legislativo municipal, tendo contribuído para a eleição de mais dois vereadores do PSOL na capital gaúcha.

O regime democratizante, que é resultado do continuísmo e não da ruptura com a ditadura militar, vai caminhando “muy despacito” para seu total esgotamento. A vitória da direita nas eleições municipais não expressa o enorme descontentamento das amplas massas com suas péssimas condições de vida, que estão sendo assoladas principalmente com o flagelo do desemprego. O desencanto com o PT, que está pagando caro pela estratégia política que adotou, de colaboracionismo com a burguesia e com o imperialismo, não significa, muito pelo contrário, um aval aos partidos de direita, em especial, o PSDB, que por ora, circunstancialmente, capitalizou muito parcialmente um êxito eleitoral. 

A crise mundial do capitalismo que agora atinge em cheio todo o continente latino-americano dará o tom dos recursos que os golpistas “vitoriosos” terão disponíveis para enfrentar uma tendência à rebelião popular, que está por ora contida pela política de governabilidade do golpismo eleita pela CUT e pelo PT. Uma greve geral contra o conjunto do regime político é a resposta necessária da classe trabalhadora para lutar contra o golpe e contra o ajuste que o novo governo já prepara.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Balanço das eleições no Rio de Janeiro

                                                                 



Roberto Rutigliano

Quando as pessoas acreditam em um setor de esquerda e este as trai ficam confusas e nesse rio revolto quem cresce é o ceticismo e a direita.

Em nível nacional, as eleições mostraram como as pessoas estão descrentes do resultado eleitoral e do sistema (mais de 40 % entre brancos, nulos, e abstenções; em São Paulo mais de 3 milhões, no Rio 42 %, quase 2 milhões de pessoas). O eleitor mostrou também como está querendo se afastar da experiência PT, um partido que com suas alianças sem princípios acabou beneficiando as empreiteiras, bancos e que quando levou o golpe nem foi capaz de reagir mantendo a política de coligações do PT com o PMDB e elegendo a Rodrigo Maia para a presidência da câmara de deputados.

Para entender o tamanho da rejeição, só como exemplo: em São Bernardo, o filho de Lula recebeu apenas 0,33 % dos votos.

No Rio levaram uma surra (Jandira ficou de fora e conseguiram só dois vereadores), Também no Rio, o PMDB não se reelegeu, fica mais uma derrota na conta do PT que tinha o vice do Paes no governo. O Bolsonaro, candidato proto-fascista, também não passou, mas obteve 14%.

Agora Crivella, com apoio da máquina da prefeitura e do estado e das igrejas evangélicas, ou o PSOL com Freixo ... o PSOL, uma frente de mais de 20 tendências com posições diversas.

As eleições do Rio de Janeiro será, com certeza, uma das mais polarizadas no segundo turno das eleições.

Passado o episódio eleitoral, agora a esquerda e a classe trabalhadora têm que voltar às ruas e lutar por uma greve geral e tirar o Temer do poder porque a estamos sendo governados por uma frente de direita usurpadora e golpista.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

FORA TEMER! PELA GREVE GERAL PARA DERROTAR O AJUSTE

                                                                               


Gustavo Montenegro


                               Crescem as lutas contra o ajuste

Os trabalhadores bancários já estão há quase um mês em greve reivindicando um aumento salarial que contemple a inflação acumulada (9,5%) mais 5% de aumento real, assim como melhores condições de trabalho.

A medida chama a atenção pela sua contundência: um informe do diário O Globo (20/09) que faz um levantamento da situação por estados indica que em quase todos eles uma média de 78% das agências bancárias aderiram à greve.

Após a primeira semana de greve, os banqueiros ofereceram uma proposta de aumento de 7%, que foi rechaçada por estar abaixo da inflação. Os bancos argumentam que o país se encontra em crise, mas os trabalhadores enfatizam os fabulosos lucros que eles receberam nos últimos tempos, incluindo as administrações “progressistas” de Lula e Dilma. Nas palavras de um dirigente do Sindicato dos bancários de São Paulo, “os banqueiros não possuem crise, tendo em vista os benefícios que obtiveram nos últimos anos. Se tomamos os balanços dos maiores bancos brasileiros nos últimos seis meses, o que se vê são benefícios cada vez maiores.” (Correio da Cidadania, 14/09).

A crise brasileira, na verdade, está sendo descarregada pelo governo e as patronais sobre os ombros dos trabalhadores.

O governo impulsiona um pacote de medidas anti-operárias que inclui a elevação da idade mínima para a aposentadoria e uma reforma trabalhista flexibilizadora que “legaliza os contratos temporários inclusive por poucas horas e permite ampliar a jornada de trabalho de 8 a 12 horas diárias” (Página 12, 10/09), mantendo a jornada de 44 horas semanais, mas adequando sua distribuição aos caprichos dos patrões. 

Por este motivo, os metalúrgicos do ABC paulista preparam uma jornada de luta para o dia 29/09.

Em meio desta ofensiva capitalista, a greve dos bancários reveste de particular importância para o movimento operário e o povo, que enfrenta nas ruas o golpista Temer, que vê a sua impopularidade aumentar principalmente depois das multitudinárias manifestações pelo FORA TEMER.

A CUT se esquiva, no entanto, da convocação da GREVE GERAL para quebrar o ajuste e o PT tenta limitar as mobilizações à reivindicação de novas eleições.

A conduta de ambos se transforma assim num fator de garantia da governabilidade.

                  PELO TRIUNFO DA GREVE DOS TRABALHADORES BANCÁRIO




quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A LUTA CONTRA O GOLPE, O AJUSTE E A CRISE DO REGIME POLÍTICO

                                                                        

A análise do período atual deve considerar a gigantesca crise que estamos passando, seu significado econômico, político e social e quais as perspectivas que podemos ter para modificar o atual panorama para dar uma saída a esta crise, principalmente sob o ponto de vista da classe trabalhadora e da maioria esmagadora da população.

A crise que vivenciamos é parte de uma crise maior, uma crise histórica do capitalismo, que está, nitidamente, em seu período de declínio, um período de colapso de suas relações sociais, em que a estabilidade econômica e social já não pode ser assegurada nem mesmo nos países imperialistas, que constituem o centro da economia mundial. Estamos diante de uma bancarrota de todo o sistema, levando a queda de regimes políticos inteiros, a uma crise que afeta diretamente a União Europeia, os Estados Unidos, a China, o Japão e toda Ásia, e consequentemente a América Latina. Sem uma análise que coloque a crise mundial do sistema capitalista como o eixo central, como pano de fundo, todos os grandes fatos históricos que vivenciamos no último período perdem a sua concatenação lógica intrínseca, e tornam-se um amálgama de crises sem sentido e nem direção.

A queda internacional dos preços das matérias-primas é apenas mais um episódio nessa luta, que afetou diretamente as economias nacionais de todo o continente e abalou profundamente grande parte dos regimes políticos do Cone Sul. Se num primeiro momento a crise mundial desenvolveu-se e irradiou-se a partir dos EUA e da Europa, em seguida afetou de forma inexorável toda a sociedade latino-americana, e o Brasil, nesse contexto, sofreu uma de suas maiores crises, onde a economia, a política e as relações sociais foram afetadas profundamente.

Durante um longo período, o PT desenvolveu uma política de colaboração de classes com a burguesia, colocou os movimentos sociais, o movimento operário (através da CUT) e seus militantes, em uma camisa de força na qual tentava impedir qualquer tipo manifestação independente das massas com vistas a lutar contra a opressão nacional e de classe. Seu papel foi subordinar e arregimentar todos os movimentos sociais a reboque de sua política de aliança com um amplo setor de frações da burguesia e que tinha, em última análise, apenas o objetivo de preservar e aumentar os grandes lucros do capital como um todo, e o capital financeiro de forma particular. O próprio Lula sempre repetiu o sermão de que "os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como no meu governo". Somente o lucro dos bancos foi oito vezes maior no governo Lula do que no governo FHC, que o precedeu (R$ 279,9 bilhões contra R$ 34,4 bi).

A crise mundial manifestou-se no final do governo Lula e colocou em xeque os grandes lucros e a estabilidade de todo o sistema. Um dos maiores fatores de lucros dos bancos foi o altíssimo endividamento da população e seus juros astronômicos. Temos, além disso, o endividamento público do Estado como um todo, que paga uma das maiores taxas de juros mundiais (acima de 14%). A dívida bruta brasileira já cresce em ritmo grego. Grande parte da burguesia (não somente os bancos) investiu nos títulos da dívida pública, não se precisa de muita astúcia para se chegar a conclusão que um "ajuste" para frear o déficit fiscal foi quase um instinto de sobrevivência para a burguesia, que parasita de forma sistemática o Estado, garantir e sustentar os seus lucros. O risco de um default (calote) por parte do Estado ameaça os altos lucros da burguesia, nacional e internacional, como um todo. O sistema de endividamento financeiro é um dos combustíveis da crise.

O PT, que sustentava um governo de colaboração de classes com uma das frações da burguesia e do grande capital, começou a perder o controle da economia e do poder político diante do agravamento da crise econômica e de suas consequências. Seus sócios políticos e econômicos foram “abandonando” o barco diante do desmoronamento do governo e com a perda de popularidade, não só nas camadas médias, mas principalmente nas camadas mais oprimidas. O grande capital que parasita o Estado e que até ontem estava com o governo, transformou-se no principal promotor de um golpe parlamentar através do impeachment, especialmente os setores industriais paulistas agrupados na FIESP. A burguesia e seus partidos foram abandonando paulatinamente o PT, enquanto o golpe foi estruturando-se dentro do próprio governo Dilma, com o PMDB e seus aliados como principais protagonistas, liderados por Michel Temer, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros.
Capítulo a parte merece a frente popular de colaboração de classes, entre o PT e os demais partidos burgueses (com PMDB e demais aliados), que conseguiu eleger com seu aval, o que muitos consideram, o Congresso mais reacionário de nossa República, recheado de evangélicos, latifundiários e deputados ligados a oligarquias regionais. As chamadas bancada BBB (boi, bíblia e bala) e do Centrão de Eduardo Cunha, foram, em grande parte, eleitos em alianças regionais com o PT. Políticos e deputados burgueses foram capitalizados e eleitos através da aliança eleitoral com o Partido dos Trabalhadores e com o PCdoB, não apenas o seu vice golpista, Michel Temer, que foi colocado em uma posição privilegiada para a articulação do golpe, mas também os deputados do Centrão e de boa parte da BBB, assim como os demais partidos burgueses, que o PT acobertou em seus ministérios, como o PSD de Kassab, entre outros, e que continuam no poder, graças a um golpe parlamentar que constituiu-se num golpe da burguesia como classe, com interesses definidos e apoiado claramente pela imprensa e pela mídia burguesa.

A possibilidade de neutralizar a Operação Lava-Jato (e outras operações em curso), também foi um dos objetivos do golpe, já que foi utilizada como cavalo de batalha contra o PT (que se utilizou dos esquemas criados pelos próprios partidos burgueses), era lugar comum que só se conseguiria abafar os "escândalos" e operações com o impeachment contra Dilma, o PT e a conclusão do golpe parlamentar. Vazamentos "delataram" os objetivos do golpe antes mesmo que o golpe estivesse concluído, a realidade foi mais fantástica do que qualquer ficção.
O governo Temer constituiu um verdadeiro ministério de processados na Lava-Jato e de outras operações, dando assim foro privilegiado a vários acusados e demonstrando que há dois pesos e duas medidas, conforme os interesses de classe, assim como em toda sociedade. Como disse um notório político brasileiro: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei".

Com a conclusão do processo de impeachment no Senado, o golpe parlamentar chega ao seu último e derradeiro capítulo. O PT, que durante 13 anos governou o país numa frente de colaboração de classes com uma parcela significativa da burguesia nativa, uma frente popular, foi derrubado por essa mesma burguesia (organizada dentro do PMDB, PSD e seus partidos acólitos), e que agora se rearticulou junto com a oposição burguesa (PSDB, DEM e partidos menores).

A burguesia unificou suas forças, momentaneamente, diante de suas inúmeras contradições, para tomar o poder através de uma manobra, um golpe parlamentar, que não visa de forma alguma liquidar ou diminuir a corrupção (característica histórica da burguesia em seu parasitismo estatal), ou substituir um governo que não geriu de forma “eficiente” a máquina do Estado, longe disso, o golpe visa garantir a continuidade da corrupção como “modus operandi” da burguesia e da política burguesa e o aprofundamento dos ajustes e reformas (trabalhista, previdenciária, aumento de impostos, etc), fazendo com que o ônus da crise recaia única e exclusivamente sobre as costas da classe trabalhadora, e da maioria esmagadora da população, aprofundando assim a recessão e a consequente depressão econômica, aumentando o desemprego e a desindustrialização do país. O Estado cada vez mais é desmantelado (cortes nas áreas sociais, de saúde, educação, etc), levando seguramente a um colapso de todo o sistema.
Se para uma parcela da sociedade, a luta contra o golpe e pelo Fora Temer confundia-se com o Fica Dilma, agora concluído o processo de impeachment delimita-se claramente quem é a favor do regime político (e consequentemente do golpe) e quem é contra esse regime e tudo que o simboliza. A contradição de que o Fora Temer significa-se ao mesmo tempo um Volta Dilma foi superado pela fria realidade dos fatos. A situação política que era sinuosa e emaranhada, vai aos poucos ficando clara para amplos setores das massas que foram iludidas pelo grande capital e seus agentes. A política de ajuste fiscal do novo governo, que visa descarregar a crise sobre a classe trabalhadora e a maioria explorada vai sendo exposta, paulatinamente, a nu, e sem nenhum pudor, diante de uma parcela da população que não tinha ainda compreendido a natureza e o caráter desse governo e nem o seu profundo significado político.

O PT (sua direção) e uma parcela significativa da esquerda, que não só capitularam como participaram de conluios e acordos espúrios com os golpistas, jogam uma cartada decisiva ao tentar amarrar a esquerda e os movimentos sociais, que apontam uma tendência independente de luta contra o regime político de conjunto, com a consigna de "eleições antecipadas" e de "frente de esquerda", utilizam-na para desviar a luta dos que tentam, lutar contra o regime político vigente. Os mesmos setores que agora defendem essa política, como se fosse uma guinada à esquerda, são os mesmo que compuseram durante décadas uma frente com a burguesia e que foram chutados e golpeados por essa mesma burguesia, enquanto faziam descer pela goela abaixo dos trabalhadores o ajuste fiscal, iniciado no governo Dilma, com Mantega e depois com Joaquim Levy.

Esses setores que agora querem uma frente, não para lutar contra o golpe, mas para desviar a tendência de luta das massas, legitimar o golpe através de eleições antecipadas, em que se legitimaria o golpe e tudo que nele foi aprovado, assim como todos os ajustes constituídos e realizados.

Antecipar as eleições visa apenas capitalizar um novo governo e logicamente realizar um ajuste mais "brando" e "flexível", com um governo "legitimado" por novas eleições, numa tentativa de "estabilizar" a crise e o regime político, evitando assim, que o governo golpista corra o "risco" de ser ele próprio "golpeado" pela reação das massas.

A legitimação do golpe através de eleições antecipadas é, em última análise, um acordo político espúrio, como foi realizado no final ditadura militar para que o governo que o sucedesse não derrubasse o regime anterior, não desmontasse o Estado e não punisse os que participaram de todo o regime golpista. As eleições visam apenas ser a garantia do acordo em que ambas as partes "esqueceriam" as pugnas anteriores e o ajuste seria aplicado às massas, de forma paulatina, em troca de um acordo de "governabilidade".

A crise que se desenvolve tem uma base material bem definida. Para os incrédulos poderíamos citar os cerca de 2 milhões de empregos que foram aniquilados com a atual crise em apenas dois anos.

A maioria explorada necessita de um programa de luta que defenda claramente os interesses da classe trabalhadora. Sob essa perspectiva é que defendemos um Congresso da Classe Trabalhadora, para debater e elaborar um programa classista, que seja organizado pela base, pelos sindicatos e pelas Centrais sindicais combativas. A organização metódica de uma greve geral para lutar contra o ajuste é, no atual momento, não só uma arma, como um laboratório de organização para toda a classe operária, e o movimento popular pelo Fora Temer, com a consequente derrubada do regime político vigente, e a constituição de um governo dos trabalhadores, independente da burocracia e da burguesia, é o caminho para a superação dessa crise. Lógico que para isso temos que dar um combate para clarificar as ideias que norteiam a nossa luta, assim como nos delimitarmos, de forma intransigente, com aqueles que defendem a política de colaboração de classe, e defender assim uma política classista.

BRASIL: A CLASSE OPERÁRIA DEBATE A GREVE GERAL



Rafael Santos


De 1 a 3 de setembro aconteceu, em Florianópolis, o IX Congresso do SINTRASEM (Sindicato dos Trabalhadores municipais da capital catarinense). Com a presença de 200 delegados, representando 8.000 filiados, debateu-se durante três dias a situação política do Brasil e as tarefas que devem encarar o movimento sindical e a classe operária na nova etapa pós-golpista. Apresentaram teses, que foram editadas e distribuídas no caderno oficial do Congresso, 6 organizações da esquerda brasileira: Esquerda Marxista (Corrente O Militante Internacional), Unidade Classista (PCB), ConLutas-PSTU, Unidos Vamos à Luta-CUT (O Trabalho, ex lambertistas), Intersindical Central da Classe Trabalhadora (Psol) e Tribuna Classista (CRQI no Brasil). O PO da Argentina foi convidado por Tribuna Classista, com o apoio da direção do Sintrasem, para intervir no debate nacional e internacional.

O debate central girou sobre o balanço do governo do PT e a necessidade de enfrentar a ofensiva do governo Temer com a greve geral. A palavra de ordem “FORA TEMER” dominou as deliberações do congresso e serve como medida do repúdio que desperta o novo governo entre os trabalhadores.

Algumas correntes chamam a impulsionar a greve geral, mas esta proposta não é acompanhada por um balanço e uma ruptura política com o PT e suas burocracias nas organizações operárias. Ao contrário, para alguns setores estaria colocado uma pressão sobre a direção da CUT, para que a Central “volte a ser o ponto de apoio de nossas lutas, pressionando para que sua direção passe do discurso à ação.” Mas a CUT foi o veículo que restringiu a luta independente da classe trabalhadora, convertendo os sindicatos em escritórios do PT e do governo. Em nove meses do processo de impeachment golpista, estas direções burocráticas bloquearam toda a mobilização independente contra os golpistas, subordinando-se ao governo Dilma, que levava adiante o “ajuste” contra os trabalhadores. Concluído o julgamento político, a política do PT é assegurar a governabilidade. A CUT vem propondo uma medida de força, enquanto se acentuam e multiplicam em todo o país as mobilizações populares.

Opondo-se a estas tendências se encontravam correntes defensoras ativas de um plano de luta e da greve geral, partidárias, além disso, de rechaçar a política de colaboração de classes. O eixo desse rechaço girou em torno da ruptura do Sintrasem e de todas as organizações operárias com a CUT, a desfiliação e a saída da mesma. Isto é defendido pela Unidade Classista (PCB), uma ala do velho PC que enfrentou ao PT, e o PSTU, que dirige uma pequena central alternativa (CSP/CONLUTAS). A ruptura das organizações operárias com a burguesia se transformou na ruptura da CUT; a batalha por uma proposta, reagrupamento e programa de independência de classe é substituída por uma luta faccional de aparatos. O ABC dos que se reivindicam classistas é a defesa da frente única da classe operária em todos os níveis, e lutar em todos os sindicatos e centrais por uma nova direção revolucionária baseada em um programa revolucionário de independência política.

As deliberações do Congresso dos servidores municipais é um exemplo de amostragem da necessidade e da possibilidade de uma resposta coletiva dos trabalhadores. A esquerda classista tem uma oportunidade de apresentar um programa de conjunto frente à crise e de propor uma alternativa política de classe. No entanto, tende a limitar suas perspectivas às eleições municipais de outubro, a qual – importante registrar – passou desapercebida no congresso. Não houve propostas de apoio a qualquer candidatura. A esquerda não vai unificada em torno de posições de independência política. Alguns apóiam a frações do PT (que vão inclusive em alianças com seus antigos aliados convertidos em golpistas) ou a candidaturas burguesas ou oportunistas (PSOL). O PSTU se oferece como um canal independente, mas minoritário e com algumas propostas confusas.

Urge abrir um debate para desenvolver a palavra de ordem “FORA TEMER” e a greve geral, em função de uma crise de poder com uma possível irrupção das massas.

Esta perspectiva foi desenvolvida pelo TRIBUNA CLASSISTA – e apoiada por muitos delegados, que chamou a impulsionar a convocação de Congresso de trabalhadores nacional, para discutir as propostas políticas que permitam construir uma alternativa política e sindical independente dos trabalhadores.

A experiência de luta do PO na Argentina e a construção da FIT despertou um grande interesse nos delegados. Nossa proposta de luta contra o golpe sem apoiar o governo Dilma, a necessidade de uma delimitação implacável do nacionalismo burguês e do frentepopulismo, o rechaço às pseudo frentes de resistência contra Macri que agora diz impulsionar o Kircnerismo e o combate por um plano de luta independente contra os planos ajustadores do governo nacional de Macri e dos governos provinciais do PJ e a luta por uma nova direção com um programa classista revolucionário em todas as centrais e sindicato

Um fato marcante: no encerramento do congresso, os delegados assistiram um vídeo do deputado federal do PO, Néstor Pitrola, enfrentando a deputada Elisia Carrió, para repudiar o golpe de Temer e assinalando que no Brasil está se abrindo o caminho da luta pela Greve Geral .

terça-feira, 20 de setembro de 2016

TRIUNFO DA GRANDE GREVE DOS MUNICIPÁRIOS DE FLORIANÓPOLIS



Alfeu Bittencourt Goulart (Tribuna Classista e delegado do Conselho do Sintrasem)


Os servidores municipais de Florianópolis acabaram ocupando o gabinete do prefeito, o que levou a este a pedir à Câmara de Vereadores que o Projeto Lei nº 1560 fosse arquivado. Assim terminou a greve por tempo indeterminado contra o Prefeito César Souza (PSD) que se estendeu por onze dias com piquetes, assembleias e marchas massivas. Um dia antes aconteceu uma grande mobilização frente à Câmara de Vereadores sob uma chuva torrencial em uma clara demonstração da vontade de luta existente para que se investigue o roubo dos fundos públicos (operação Ave de Rapina). O projeto pretendia aprovar a fusão dos fundos de pensão e financeiros em uma operação de privatização destinada a cobrir o déficit de quatrocentos milhões de reais acumulados pelo executivo. Em uma greve anterior realizada em março, os trabalhadores que realizaram piquetes e manifestações foram ameaçados com processos policiais-judiciais. Agora, da mesma maneira que aconteceu naquela ocasião, os trabalhadores da educação, vigilância sanitária, construção, etc. aderiram massivamente à greve.

A retirada do Projeto privatizador fez com que todas as forças políticas representadas no comando de greve avaliassem isso como um triunfo e decidissem acabar a greve. O Tribuna Classista considerava que estavam dadas as condições para impor outras reivindicações pendentes na pauta: pagamento dos dias da greve de março aos contratados que se mobilizaram nos atos, etc. Mas ficamos em minoria frente ao resto dos agrupamentos. Ainda que houvesse uma insatisfação em setores da base da categoria, porque naquela oportunidade, depois de 20 dias de greve, o prefeito não cumpriu várias promessas. O Tribuna Clasista propôs que podíamos recuperá-las agora, continuando a luta. Por outro lado, o secretário da Saúde ameaçou aos trabalhadores e se negou a pagar as horas extras devidas, etc. De fato, o prefeito César Souza leva adiante os planos de ajuste iniciados pelo governo de Dilma e agora continuados pelo golpe de Temer que quer aprofundá-los para que sejam os trabalhadores que paguem a bancarrota capitalista.,

Como se propôs e se aprovou no Congresso da categoria realizado recentemente: pela escala móvel de salários e horas de trabalho, o controle operário da produção, a nacionalização sem indenização dos bancos e dos monopólios e de toda empresa que feche suas portas, abertura dos livros dos monopólios capitalistas, reforma agrária sob controle dos trabalhadores, não pagamento da dívida externa e interna.

Greve geral é a palavra de ordem que guia nossa. 

                                                                 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

FORA TEMER! ORGANIZAR A GREVE GERAL!

                                                                                               


É impossível analisar a crise econômica e política no Brasil sem caracterizar que o grande pano de fundo em que é projetado o filme da história mais recente do país é o da crise mundial do capitalismo que abala fortemente todo o planeta e particularmente nosso continente no último período.

Com a conclusão do processo de impeachment no Senado, o golpe parlamentar chega ao seu último e derradeiro capítulo. O PT, que durante 13 anos governou o país numa frente de colaboração de classes com uma parcela significativa da burguesia nativa, uma frente popular, foi derrubado por essa mesma burguesia (organizada dentro do PMDB, PSD e seus partidos acólitos), e que agora se rearticulou junto com a oposição burguesa (PSDB, DEM e partidos menores) para colocar um fim em um governo que tentou de todas as maneiras superar suas contradições internas e realizar uma política que sempre colocou em primeiro lugar os lucros das grandes empresas, dos grandes bancos e das grandes corporações em detrimento das necessidades básicas da população. Não podemos agora passar a mão na cabeça e ignorar que durante todo o tempo que governaram, criaram paulatinamente as condições para o estado de colapso no qual chegamos. Não é a toa que todos os ajustes e reformas que o governo golpista de Michel Temer discute e deseja implementar, tiveram início, em germe, dentro do governo do PT. 

A impossibilidade e incapacidade do PT realizar esses mesmos ajustes, favoráveis ao grande capital, pela franca oposição de sua base política, levou à queda do ministro Joaquim Levy, e depois acabou acentuando a tendência golpista dentro e fora do governo, afinal Temer e o PMDB que hoje são a expressão dos golpistas traidores, foram, até bem pouco tempo atrás, os cumplices e aliados principais do PT, e se o Congresso é considerado um dos mais reacionários da história, boa parte de seus deputados foram eleitos em alianças com esse mesmo PT, com o seu aval e utilizando o seu capital político, como é o caso do famigerado Eduardo Cunha, antigo aliado do PT, que se transformou em seu “grande inimigo”.

Com a conclusão do processo de impeachment, a burguesia unificou suas forças para tomar o poder através de uma manobra, um golpe parlamentar, que não visa de forma alguma liquidar ou diminuir a corrupção (característica histórica da burguesia em seu parasitismo estatal), ou substituir um governo que não geriu de forma “eficiente” a máquina do Estado, longe disso, o golpe visa garantir a continuidade da corrupção como “modus operandi” da burguesia e da política burguesa e o aprofundamento dos ajustes e reformas (trabalhista, previdenciária, aumento de impostos, etc), fazendo com que o ônus da crise recaia única e exclusivamente sobre as costas da classe trabalhadora, e da maioria esmagadora da população, aprofundando assim a recessão e a consequente depressão econômica, aumentando o desemprego e a desindustrialização do país. O Estado será cada vez mais desmantelado (cortes nas áreas sociais, de saúde, educação, etc), o que levará, seguramente a um colapso de todo o sistema (o que já podemos ver antecipadamente em alguns estados como o RJ e RGS em que não se consegue nem mais fazer o efetivo pagamento de salários do funcionalismo público em dia, quanto mais os demais pagamentos necessários para o funcionamento do Estado).

As manifestações de 2013 abriram uma luta política contra um regime opressor que deixava grande parte da população à margem da sociedade para garantir os grandes lucros da burguesia, essa mesma burguesia, açoitada pela crise mundial, também entrou em campo para garantir um governo que lhe pudesse garantir esses mesmos lucros, mas com a execução de um programa que lhe trouxesse ainda mais privilégios, diante de uma crise sem precedentes que atingia diretamente todas as classes sociais. Assim, 2013 abriu uma pugna pelo poder, no qual a burguesia conseguiu, após longas disputas e manobras, concluir seu golpe para tentar reestruturar o poder do Estado, o impeachment finaliza o golpe e a batalha pelo poder do Estado, mas apenas inicia mais um capitulo, mais profundo e visceral, na guerra da luta de classes.

Com o golpe concluído, finda em meio de um grande setor das massas que se opunha ao governo, mas que não apoiava o golpe, a contradição de que o Fora Temer significa-se ao mesmo tempo um Volta Dilma, o caráter do Fora Temer tem agora uma projeção e um eco que antes não era visto, e nem fora previsto, separando nitidamente os que estão a favor do governo e do regime político e os que estão contra.

O PT, PCdoB e seus satélites mostraram sua capitulação diante do golpe, acovardaram-se e estrangularam as organizações de massa que controlam para não haver uma luta massiva contra o golpe. Seu receio é de que as massas tenham uma intervenção independente diante da atual crise.

A classe média de direita que saiu às ruas para ser o porta-voz da burguesia e de sua imprensa golpista agora deixa de ser franco-atirador, transforma-se, junto de seu governo, numa enorme e frágil vidraça.

É hora de iniciarmos uma ampla organização das massas, preparar e organizar uma greve geral para lutar contra o regime político e contra o ajuste, fazer um chamado para se organizar um congresso da classe trabalhadora, para dar um norte e um programa a essa luta e aprofundar e nacionalizar o Fora Temer por todo o Brasil, como expressão da luta dos setores explorados e da maioria da população, para que a derrubada desse governo se expresse na luta por governo dos explorados, dos trabalhadores e das trabalhadoras da cidade e do campo e pelo socialismo.

                                                                                         
                    



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