terça-feira, 25 de outubro de 2016

NO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES: VOTAR NULO PARA APROFUNDAR A CRISE DO REGIME POLÍTICO!!

                                                                           

David Lucius



As recentes eleições não conseguiram superar a enorme crise que afeta todo o regime político do país. A recessão, o desemprego e a profunda instabilidade e bancarrota econômica, que contamina todos os poros da sociedade, são a base sobre as quais desenvolvem-se todas as demais crises, contaminando-se mutuamente.

A prisão de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e principal organizador do impeachment de Dilma é apenas mais um capitulo nesse intrincado enredo.

O governo Temer, fruto de um golpe parlamentar que funde uma grande parte dos partidos que sustentavam o governo anterior (do PT) ao PSDB e ao DEM, procura aprofundar, de forma avassaladora, os ajustes econômicos iniciados na gestão Dilma. A aprovação da PEC 241 (projeto que limita os gastos públicos), nessa semana, é apenas o inicio de uma gigantesca política para jogar o ônus da crise econômica nas costas da maioria dos trabalhadores, dos setores oprimidos e até mesmo de alguns setores da classe média.

Diante desse descalabro as organizações sindicais, populares e os partidos de esquerda dão tímidas repostas e não procuram utilizar a totalidade de suas forças e mobilizar uma grande parcela da população para lutar contra o governo. A CUT, que possui cerca de três mil e quinhentos sindicatos e entidades filiadas e cerca de 5 milhões de associados, pouco fez em matéria de mobilização. Com um calendário que aponta o dia 11 de novembro como um Dia Nacional de Paralisações a burocracia sindical vai colocando as lutas contra o governo Temer em um processo morno, adaptado a uma tentativa de "estabilizar" o governo, que procura muito mais um "desgaste" político e eleitoral e não seu real enfrentamento a partir da organização dos trabalhadores. A luta contra os planos de ajuste enquadram-se em uma "oposição responsável", que realiza um tipo de oposição parlamentar apoiado nos partidos de esquerda e nos sindicatos, não como um meio de organização e luta efetiva dos trabalhadores, mas apenas como uma "pressão" para desgastar o governo com claro interesse eleitoral em 2018, ou para as calendas gregas.

Grande parte do movimento sindical, da esquerda e dos movimentos sociais, vão a reboque dessa política, que procura fazer do não enfrentamento a arma para organizar as futuras derrotas. Similar ao que ocorreu durante o governo Itamar e FHC, tanto a esquerda como o movimento sindical e popular (conduzidos pelas suas burocracias) tentam transformar os movimentos dos trabalhadores em meros apêndices para desgastar o governo. A organização real, a luta efetiva, e a discussão de um programa que possibilite um desenvolvimento da consciência de classe, passa longe dos interesses mesquinhos da esquerda e da burocracia sindical.

Já a juventude marca uma posição combativa e de luta ocupando mais mil escolas e 82 campus universitários, mobilizando-se de forma independente contra a PEC 241 e os ajustes do governo Temer. Mostram uma inconformidade com a situação de crise, o desemprego e a recessão que atingem a juventude de forma acentuada em todo o país.

As eleições nacionais só podem ser analisadas dentro do quadro de profunda crise que abala não só a economia, a sociedade e próprio Estado. A política do atual governo tenta transferir de forma profunda o ônus da crise capitalista, encobrindo-a como uma crise de "gestão do Estado", para as classes menos favorecidas da sociedade, em especial a classe operária, os trabalhadores e assalariados.

As eleições galvanizaram a raiva que toda uma parcela da sociedade sentia pela evolução da crise e descarregaram sobre o PT. De fato todo o regime atual teve origem no governo do PT e todos os ajustes agora em curso, foram engendrados no governo do PT, em especial durante o Ministério de Joaquim Levy. O próprio Ministro da Economia do atual governo, Henrique Meireles, foi ministro do primeiro governo Lula. A guinada a direita nas eleições foi o resultado de um voto de protesto, que não se deslocou à esquerda, porque a esquerda não soube marcar uma posição clara de combate ao governo burguês do PT, de colaboração de classes, que soçobrou e sofreu um golpe parlamentar, organizado do interior do próprio governo (no qual Temer foi um dos organizadores) com a finalidade de aprofundar a política de ajuste e desviar-se das operações judiciais anti-corrupção em curso.

Diante de toda essa crise que desenvolve-se, as candidaturas a esquerda do PT (PSTU, PCB e PSOL) não conseguiram marcar uma clara e efetiva demonstração de enfrentamento do golpe e do ajuste em curso.

Agora no segundo turno temos apenas as candidaturas do PSOL em Belém e do Rio de Janeiro. A adaptação do PSOL ao transformar-se, sem críticas, em um apêndice das políticas de colaboração de classes do PT, vão dando passos firmes, repetindo a história, com uma política que seja "confiável" aos mercados e à própria burguesia.

A "Carta aos Cariocas" que o candidato Fleixo do PSOL lançou é similar nos propósitos a "Carta aos Brasileiros" que Lula utilizou para selar seu acordo com a política burguesa em 2002.

O PSOL preocupa-se não em organizar os trabalhadores para enfrentar uma dura resistência contra o ajuste e um governo golpista, mas em fazer uma oposição parlamentar, no melhor estilo do PT e dar garantias ao regime político burguês de que pretende "atuar de forma ética e equilibrada junto ao setor privado" e que "nenhum secretário será nomeado por indicação de partido político".

Tudo de forma a "acalmar" os setores burgueses que vem com "desconfiança" o PSOL.

Não é de se estranhar que a quase unanimidade da esquerda brasileira apoie, de forma "crítica", ou não, Fleixo no RJ.

É a repetição da política do PT, porém de uma forma tímida e discreta, como se tivessem medo de serem lembrados de que a política de colaboração de classes, democratizante até a medula, do PT, abriu passagem para a política de capitulação diante do golpe e do ajuste, e foi essencial para revitalizar os partidos burgueses que puderam utilizar o capital político do PT para controlar o Estado, o seu governo e impedir qualquer mínima evolução política independente das massas.

O PSOL quer repetir essa tragédia, mas de forma insípida, cômica e burlesca.


 Ao não apontar uma evolução na consciência de classe, na organização e nem na luta das massas, nossa posição, de Tribuna Classista, nas eleições municipais do segundo turno, é pelo VOTO NULO.

Não iremos dar nosso aval para se repetir a tragédia da política de colaboração de classes que o PT desenvolveu durante as últimas décadas e que ainda é o principal empecilho para a evolução da consciência de política das massas.

A crítica do que vivenciamos hoje deve ser o primeiro passo para a sua superação.