quinta-feira, 22 de setembro de 2016

BRASIL: A CLASSE OPERÁRIA DEBATE A GREVE GERAL



Rafael Santos


De 1 a 3 de setembro aconteceu, em Florianópolis, o IX Congresso do SINTRASEM (Sindicato dos Trabalhadores municipais da capital catarinense). Com a presença de 200 delegados, representando 8.000 filiados, debateu-se durante três dias a situação política do Brasil e as tarefas que devem encarar o movimento sindical e a classe operária na nova etapa pós-golpista. Apresentaram teses, que foram editadas e distribuídas no caderno oficial do Congresso, 6 organizações da esquerda brasileira: Esquerda Marxista (Corrente O Militante Internacional), Unidade Classista (PCB), ConLutas-PSTU, Unidos Vamos à Luta-CUT (O Trabalho, ex lambertistas), Intersindical Central da Classe Trabalhadora (Psol) e Tribuna Classista (CRQI no Brasil). O PO da Argentina foi convidado por Tribuna Classista, com o apoio da direção do Sintrasem, para intervir no debate nacional e internacional.

O debate central girou sobre o balanço do governo do PT e a necessidade de enfrentar a ofensiva do governo Temer com a greve geral. A palavra de ordem “FORA TEMER” dominou as deliberações do congresso e serve como medida do repúdio que desperta o novo governo entre os trabalhadores.

Algumas correntes chamam a impulsionar a greve geral, mas esta proposta não é acompanhada por um balanço e uma ruptura política com o PT e suas burocracias nas organizações operárias. Ao contrário, para alguns setores estaria colocado uma pressão sobre a direção da CUT, para que a Central “volte a ser o ponto de apoio de nossas lutas, pressionando para que sua direção passe do discurso à ação.” Mas a CUT foi o veículo que restringiu a luta independente da classe trabalhadora, convertendo os sindicatos em escritórios do PT e do governo. Em nove meses do processo de impeachment golpista, estas direções burocráticas bloquearam toda a mobilização independente contra os golpistas, subordinando-se ao governo Dilma, que levava adiante o “ajuste” contra os trabalhadores. Concluído o julgamento político, a política do PT é assegurar a governabilidade. A CUT vem propondo uma medida de força, enquanto se acentuam e multiplicam em todo o país as mobilizações populares.

Opondo-se a estas tendências se encontravam correntes defensoras ativas de um plano de luta e da greve geral, partidárias, além disso, de rechaçar a política de colaboração de classes. O eixo desse rechaço girou em torno da ruptura do Sintrasem e de todas as organizações operárias com a CUT, a desfiliação e a saída da mesma. Isto é defendido pela Unidade Classista (PCB), uma ala do velho PC que enfrentou ao PT, e o PSTU, que dirige uma pequena central alternativa (CSP/CONLUTAS). A ruptura das organizações operárias com a burguesia se transformou na ruptura da CUT; a batalha por uma proposta, reagrupamento e programa de independência de classe é substituída por uma luta faccional de aparatos. O ABC dos que se reivindicam classistas é a defesa da frente única da classe operária em todos os níveis, e lutar em todos os sindicatos e centrais por uma nova direção revolucionária baseada em um programa revolucionário de independência política.

As deliberações do Congresso dos servidores municipais é um exemplo de amostragem da necessidade e da possibilidade de uma resposta coletiva dos trabalhadores. A esquerda classista tem uma oportunidade de apresentar um programa de conjunto frente à crise e de propor uma alternativa política de classe. No entanto, tende a limitar suas perspectivas às eleições municipais de outubro, a qual – importante registrar – passou desapercebida no congresso. Não houve propostas de apoio a qualquer candidatura. A esquerda não vai unificada em torno de posições de independência política. Alguns apóiam a frações do PT (que vão inclusive em alianças com seus antigos aliados convertidos em golpistas) ou a candidaturas burguesas ou oportunistas (PSOL). O PSTU se oferece como um canal independente, mas minoritário e com algumas propostas confusas.

Urge abrir um debate para desenvolver a palavra de ordem “FORA TEMER” e a greve geral, em função de uma crise de poder com uma possível irrupção das massas.

Esta perspectiva foi desenvolvida pelo TRIBUNA CLASSISTA – e apoiada por muitos delegados, que chamou a impulsionar a convocação de Congresso de trabalhadores nacional, para discutir as propostas políticas que permitam construir uma alternativa política e sindical independente dos trabalhadores.

A experiência de luta do PO na Argentina e a construção da FIT despertou um grande interesse nos delegados. Nossa proposta de luta contra o golpe sem apoiar o governo Dilma, a necessidade de uma delimitação implacável do nacionalismo burguês e do frentepopulismo, o rechaço às pseudo frentes de resistência contra Macri que agora diz impulsionar o Kircnerismo e o combate por um plano de luta independente contra os planos ajustadores do governo nacional de Macri e dos governos provinciais do PJ e a luta por uma nova direção com um programa classista revolucionário em todas as centrais e sindicato

Um fato marcante: no encerramento do congresso, os delegados assistiram um vídeo do deputado federal do PO, Néstor Pitrola, enfrentando a deputada Elisia Carrió, para repudiar o golpe de Temer e assinalando que no Brasil está se abrindo o caminho da luta pela Greve Geral .