É
impossível analisar a crise econômica e política no Brasil sem
caracterizar que o grande pano de fundo em que é projetado o filme
da história mais recente do país é o da crise mundial do
capitalismo que abala fortemente todo o planeta e particularmente
nosso continente no último período.
Com
a conclusão do processo de impeachment no Senado, o golpe
parlamentar chega ao seu último e derradeiro capítulo. O PT, que
durante 13 anos governou o país numa frente de colaboração de
classes com uma parcela significativa da burguesia nativa, uma frente
popular, foi derrubado por essa mesma burguesia (organizada dentro do
PMDB, PSD e seus partidos acólitos), e que agora se rearticulou
junto com a oposição burguesa (PSDB, DEM e partidos menores) para
colocar um fim em um governo que tentou de todas as maneiras superar
suas contradições internas e realizar uma política que sempre
colocou em primeiro lugar os lucros das grandes empresas, dos grandes
bancos e das grandes corporações em detrimento das necessidades
básicas da população. Não podemos agora passar a mão na cabeça
e ignorar que durante todo o tempo que governaram, criaram
paulatinamente as condições para o estado de colapso no qual
chegamos. Não é a toa que todos os ajustes e reformas que o governo
golpista de Michel Temer discute e deseja implementar, tiveram
início, em germe, dentro do governo do PT.
A impossibilidade e
incapacidade do PT realizar esses mesmos ajustes, favoráveis ao
grande capital, pela franca oposição de sua base política, levou à
queda do ministro Joaquim Levy, e depois acabou acentuando a
tendência golpista dentro e fora do governo, afinal Temer e o PMDB
que hoje são a expressão dos golpistas traidores, foram, até bem
pouco tempo atrás, os cumplices e aliados principais do PT, e se o
Congresso é considerado um dos mais reacionários da história, boa
parte de seus deputados foram eleitos em alianças com esse mesmo PT,
com o seu aval e utilizando o seu capital político, como é o caso
do famigerado Eduardo Cunha, antigo aliado do PT, que se transformou
em seu “grande inimigo”.
Com
a conclusão do processo de impeachment, a burguesia unificou suas
forças para tomar o poder através de uma manobra, um golpe
parlamentar, que não visa de forma alguma liquidar ou diminuir a
corrupção (característica histórica da burguesia em seu
parasitismo estatal), ou substituir um governo que não geriu de
forma “eficiente” a máquina do Estado, longe disso, o golpe visa
garantir a continuidade da corrupção como “modus operandi” da
burguesia e da política burguesa e o aprofundamento dos ajustes e
reformas (trabalhista, previdenciária, aumento de impostos, etc),
fazendo com que o ônus da crise recaia única e exclusivamente sobre
as costas da classe trabalhadora, e da maioria esmagadora da
população, aprofundando assim a recessão e a consequente depressão
econômica, aumentando o desemprego e a desindustrialização do
país. O Estado será cada vez mais desmantelado (cortes nas áreas
sociais, de saúde, educação, etc), o que levará, seguramente a um
colapso de todo o sistema (o que já podemos ver antecipadamente em
alguns estados como o RJ e RGS em que não se consegue nem mais fazer
o efetivo pagamento de salários do funcionalismo público em dia,
quanto mais os demais pagamentos necessários para o funcionamento do
Estado).
As
manifestações de 2013 abriram uma luta política contra um regime
opressor que deixava grande parte da população à margem da
sociedade para garantir os grandes lucros da burguesia, essa mesma
burguesia, açoitada pela crise mundial, também entrou em campo para
garantir um governo que lhe pudesse garantir esses mesmos lucros, mas
com a execução de um programa que lhe trouxesse ainda mais
privilégios, diante de uma crise sem precedentes que atingia
diretamente todas as classes sociais. Assim, 2013 abriu uma pugna
pelo poder, no qual a burguesia conseguiu, após longas disputas e
manobras, concluir seu golpe para tentar reestruturar o poder do
Estado, o impeachment finaliza o golpe e a batalha pelo poder do
Estado, mas apenas inicia mais um capitulo, mais profundo e visceral,
na guerra da luta de classes.
Com
o golpe concluído, finda em meio de um grande setor das massas que se
opunha ao governo, mas que não apoiava o golpe, a contradição de
que o Fora Temer significa-se ao mesmo tempo um Volta Dilma, o
caráter do Fora Temer tem agora uma projeção e um eco que antes
não era visto, e nem fora previsto, separando nitidamente os que
estão a favor do governo e do regime político e os que estão
contra.
O
PT, PCdoB e seus satélites mostraram sua capitulação diante do
golpe, acovardaram-se e estrangularam as organizações de massa que
controlam para não haver uma luta massiva contra o golpe. Seu receio
é de que as massas tenham uma intervenção independente diante da
atual crise.
A
classe média de direita que saiu às ruas para ser o porta-voz da
burguesia e de sua imprensa golpista agora deixa de ser
franco-atirador, transforma-se, junto de seu governo, numa enorme e
frágil vidraça.
É
hora de iniciarmos uma ampla organização das massas, preparar e
organizar uma greve geral para lutar contra o regime político e
contra o ajuste, fazer um chamado para se organizar um congresso da
classe trabalhadora, para dar um norte e um programa a essa luta e
aprofundar e nacionalizar o Fora Temer por todo o Brasil, como
expressão da luta dos setores explorados e da maioria da população,
para que a derrubada desse governo se expresse na luta por governo
dos explorados, dos trabalhadores e das trabalhadoras da cidade e do
campo e pelo socialismo.
TRIBUNA CLASSISTA
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