terça-feira, 24 de agosto de 2021

UM GRANDE DEBATE OCORREU NO DIA 21/08, HÁ 81 ANOS DO ASSASSINATO DE LEON TRÓTSKY

 



Vide link:

https://drive.google.com/file/d/1gzOCPQzPQEROufUlLV7ZpvRs0vBghtff/view?usp=sharing

O Agrupamento Tribuna Classista promoveu no dia 21/08 um debate em homenagem a Leon Trótsky, dia que completou 81 anos de seu assassinato por um agente do stalinismo, o infame Ramon Mercarder.

Foi convidado como expositor da atividade o companheiro Gustavo Montenegro, militante do Partido Obrero da Argentina e membro do Conselho de Redação do jornal Prensa Obrera, o qual reproduzimos aqui a tradução da transcrição da sua brilhante exposição que contribuiu para coroar nossa homenagem. Ver atividade completa no link disponível acima.

"Companheiros e companheiras, obrigado pelo convite.

Neste 81º aniversário do assassinato de Leon Trotsky, reivindicamos
o líder - junto com Lênin - da Revolução de Outubro de 1917, 
da primeira revolução operária triunfante da história, que abriu
uma nova etapa e foi um marco na luta de classes mundial 
dos trabalhadores; reivindicamos ao líder do Exército Vermelho, 
esse exército de centenas de milhares fundado sobre a convicção 
de seus membros,que enfrentou a contrarrevolução e uma coalizão 
de potências estrangeiras que ameaçaram fazer retroceder esse 
grande progresso histórico que havia significado a Revolução Russa
e sua repercussão para o resto do mundo; em terceiro lugar, 
reivindicamos em Trotsky a figura daquele que inquestionavelmente
enfrentou a burocratização da URSS, processo que teve em Stalin 
como seu maior expoente - e é justamente um agente do stalinismo
que fará este ataque criminoso contra Trotsky em agosto de 1940, 
quando ele já estava no exílio no México;e um quarto ponto a 
destacar é a constituição de uma nova internacional, 
a IV, retomando as melhores tradições de luta do movimento operário
e do socialismo, as melhores tradições das três internacionais 
anteriores. 
Uma Internacional que confronta a degeneração da Internacional
Comunista com o Stalinismo, corrente política que em vez da luta
pelo socialismo a nível internacional, formulou a teoria 
do "socialismo em um país", o que implicava na subordinação
dos partidos comunistas à órbita da burocracia.
Esses pontos: Trotsky, como líder da revolução de outubro; 
como defensor dessa revolução contra os poderes invasores 
e a contrarrevolução; como o mais consistente lutador 
contra a burocratização stalinista; e como construtor de uma nova
Internacional; são quatro as questões que nos falam de um 
dos grandes revolucionários do século XX. Ele também foi um 
dos grandes teóricos revolucionários.
Desenvolver todos esses pontos seria impossível em uma 
intervenção de 30 minutos.
E como aqui na Argentina se diz que "el que mucho abarca, poco aprieta",
quer dizer que se tenta dar conta de tudo, mas superficialmente,
não vai dar certo,achei melhor me concentrar em um desses pontos.
E um desses pontos é o Programa de Transição, de 1938, 
adotado em setembro daquele ano pela Quarta Internacional. 
E esse programa já tem em seu próprio título uma abordagem muito atual.
O título se refere à agonia do capitalismo. E pensamos que isso 
está totalmente em vigor, que estamos na fase de agonia do capitalismo. 
No Programa de Transição, pode-se encontrar uma advertência 
severa de Trotsky sobre os tempos difíceis pelos quais 
a humanidade estava passando. 
A IV foi fundada em um momento extremamente difícil 
para o movimento operário internacional, foi um momento de derrotas 
profundas como a da revolução espanhola; onde o stalinismo consolidou 
seu poder e conduziu os processos de Moscou,nos quais numerosos
oponentes políticos foram condenados e assassinados, 
e houve uma perseguição implacável contra os revolucionários 
em diferentes partes do mundo; e onde o nazismo e o fascismo 
estavam em ascensão. 
Naquele momento difícil, era sua vez de sair para lutar 
contra a IV Internacional.
Pode-se dizer que as internacionais anteriores foram fundadas 
em momentos de ascensão do movimento de massas e da 
luta dos trabalhadores: no caso da III, notadamente, 
após o triunfo da revolução de 1917. Mas no caso da IV, 
é um cenário diferente, é um cenário  de derrotas e é às vésperas 
de uma nova guerra mundial. 
E essa nova guerra vai acontecer da maneira prevista no programa,
que diz:
“Sob a pressão crescente do declínio capitalista, 
os antagonismos imperialistas chegaram ao limite além do 
qual conflitos e explosões sangrentas (Etiópia, Espanha, 
Extremo Oriente, Europa Central ...) devem infalivelmente 
se confundir com um incêndio mundial. Na verdade, 
a burguesia percebe o perigo mortal
que uma nova guerra representa para o seu domínio, 
mas atualmente é infinitamente menos capaz de evitá-la 
do que na véspera de 1914”.

Esta é a clareza com que o Programa de Transição foi 
localizado em comparação com o tempo. Nele, será argumentado 
que as condições objetivas para a revolução estavam mais 
do que maduras há muito tempo, mas que havia uma contradição, 
devido às dificuldades subjetivas. Ele diz: 
“As condições objetivas da revolução proletária não estão 
apenas maduras, mas começaram a se decompor. Sem revolução 
social em um período histórico 
que se aproxima, a civilização humana está sob a ameaça de 
ser devastada por uma catástrofe”. 
Este prognóstico, que recorda o lema de Rosa Luxemburgo 
de "socialismo ou barbárie", 
verificar-se-á imediatamente com a guerra mundial.

Ao mesmo tempo que as condições objetivas estavam dadas,
surge o problema da direção política do proletariado. 
E apesar de Trotsky enfatizar no Programa de Transição
que há um profundo mal-estar no proletariado, 
o principal obstáculo à revolução está na direção 
política do movimento operário.
Trotsky está pensando na social-democracia e no stalinismo,
que foram as duas forças que tiveram maior incidência 
entre os trabalhadores. No caso da socialdemocracia, há muito 
ela traiu os interesses da classe trabalhadora, 
em 1914 votou pelos créditos de guerra e cada um se 
alinhou com suas respectivas burguesias para a guerra mundial; 
e o stalinismo levou à degeneração da URSS e levou a cabo 
um processo contrarrevolucionario. Na época em que o programa 
foi escrito, o stalinismo tinha políticas erráticas: em apoio 
ao Kuomintang, a força da burguesia nacional chinesa, 
com consequências desastrosas, com a derrota da revolução de 1927,
com os comunistas jogados nas caldeiras pelas tropas,
por Chiang Kai Shek. Veio então um período de ultraesquerdismo e, 
por volta de 1935, ele voltou à política das frentes populares, 
à ideia de colaboração política com a burguesia.
O Programa de Transição combate essas questões e é um defensor 
enérgico da independência política dos trabalhadores.
E ele afirma aberta e claramente que a tarefa é 
"superar a contradição entre a maturidade das condições objetivas 
da revolução e a falta de maturidade do proletariado e 
de sua vanguarda".

O Programa de Transição irá propor uma chave mestra, 
demandas transitórias, uma ponte entre a consciência 
existente dos trabalhadores e a consciência revolucionária. 
A distribuição da jornada de trabalho, a abolição dos segredos 
comerciais, o controle operário dos locais de produção, 
o governo operário e camponês (como denominação popular 
da ditadura do proletariado), serão propostas que sugerem 
que a classe trabalhadora em sua luta diária 
contra o regime capitalista, eleve seu nível de consciência 
e transforme-se em uma alternativa de poder.

Esta é a grande importância histórica do Programa de Transição. 
Reivindicamos sua validade e seu valor do ponto de vista
metodológico para orientar nossa luta política.

Quando se trata da agonia do capitalismo, muita água correu
sob a ponte até hoje, mas não há dúvida de que o capitalismo
continua a arrastar, protelar essa agonia e, ao fazer isso, condena 
a humanidade a um sofrimento terrível. 
Vimos isso na Segunda Guerra Mundial, com 50 milhões de mortos 
e o horror de Hiroshima e Nagasaki. E em outras guerras.
Essa agonia tem sua expressão na crise que vivemos agora.
De certa forma, pode-se dizer que o mundo não saiu 
da crise de 2008-9 e entrou em uma mais aguda, 
que foi a que se encerrou no ano passado. 
Há quem acredite que a crise é episódica, 
resultado da pandemia, mas essa crise já vinha desde 2019. 
A Europa teve crescimento zero, a China desacelerou e os 
EUA também não estavam em boa situação. Isso, apesar de os
Estados terem seguido uma política de socorro 
aos capitalistas, baixando as taxas de juros dos 
empréstimos baratos, por meio de emissão, e mesmo assim
não houve recuperação significativa. 
Muitos dos fundos foram derivados de especulação financeira.
E isso tem a ver com o fato de que há um quadro de superprodução 
de bens e superacumulação de capital. E a própria intervenção 
do Estado que se vê hoje com os mega-pacotes de resgate 
dos Estados Unidos e da União Europeia está colocando 
os Estados em dívida. A China tem uma dívida equivalente 
a 300% do PIB, nos Estados Unidos acho que ultrapassa 150%,
na Itália os níveis são parecidos. 
Portanto, a crise está envolvendo os próprios Estados.

Estamos nesse palco. E os confrontos entre as potências
imperialistas também se intensificam. Como é verificado? 
Não estamos enfrentando a iminência 
de uma guerra mundial, como no Programa de Transição, 
mas enfrentamos uma guerra comercial aguda entre os EUA 
e a China. Não classificamos a China como um país imperialista,
mas há um confronto crescente entre essas duas nações. 
Também há litígios entre Estados Unidos e Europa, 
com tarifas sobre alumínio e outros produtos. 
E já vimos como Trump iniciou uma cruzada tarifária contra a China, 
que foi respondida pela burocracia.
E também vemos um processo de desenvolvimento das tendências bélicas. 
Há tensões no Mar da China Meridional. Biden enviou navios para 
assumir o controle de exercícios militares. É uma área estratégica.
Vivemos um cenário de guerra imperialista na Síria, no Iêmen,
e Biden bombardeou a Somália, país no chifre da África no qual 
os EUA intervieram na década de 1990. E existem tensões de todo 
tipo entre as grandes potências. No quadro da crise capitalista, 
esses confrontos acontecem e em algum momento podem levar 
a uma guerra generalizada.

O capitalismo empurra repetidamente a humanidade para a barbárie. 
Quando ouvimos,“você diz que o capitalismo caiu, mas não caiu; 
Trotsky falou da agonia, mas 80 anos se passaram e o capitalismo 
continua”... é verdade que continua, mas em meio a convulsões
tremendas e condições terríveis para as massas. Aqui na Argentina, 
o jornal La Nación, porta-voz da burguesia, publica repetidamente 
artigos editoriais nos quais zomba do "fracasso do socialismo";
Ele confunde as coisas e vê a queda da URSS e do Muro de Berlim 
como a morte do socialismo. Ele diz isso, mas não percebe 
que sua defesa do capitalismo ocorre quando o fracasso retumbante 
desse regime é destacado. Como se defender quando estamos 
testemunhando de forma combinada uma pandemia com milhões 
de mortes - cujo número real pode nunca ser conhecido 
devido ao encobrimento de alguns Estados-, contra a qual 
o capitalismo falhou em sua abordagem (há países que ainda 
não iniciaram a vacinação); e por outro lado a crise 
econômica? Para se ter uma ideia do declínio das condições de vida,
nos Estados Unidos, junto com a pandemia, a expectativa de vida 
diminuiu pela primeira vez em décadas. É um sinal de retrocesso
civilizacional. 
Quando na principal potência capitalista do mundo há queda da 
expectativa de vida (maior na população afro-americana), 
quando tem o maior número de mortes por pandemia,
quando enfrenta uma crise de tal magnitude que uma tentativa 
de golpe de estado ocorreu por grupos fascistas, como se pode
dizer que o capitalismo é um regime exitoso?
É o contrário. O capitalismo mostra seu retumbante fracasso 
quando há uma humanidade que deve ir às ruas com máscaras, 
devido a uma pandemia que contribuiu para produzir 
e que não conseguiu enfrentar. E o que mostra sua validade 
é o socialismo,como única alternativa para enfrentá-la.

Por fim, gostaria de me referir aos obstáculos para a abertura 
dessa perspectiva socialista. Um dos pontos que Trotsky destaca
no Programa de Transição é o das frentes populares. 
É um recurso para estrangular as tendências de mobilização 
e a organização autônoma dos trabalhadores. Parece-me - 
vocês serão mais capazes de intervir em torno disso - 
de que em face do fracasso do governo Bolsonaro, 
com a pobreza e as devastações da pandemia, 
e uma situação social complexa; diante do fracasso 
de Bolsonaro e do colapso de sua popularidade, 
há preocupação entre a burguesia, que duvida de sua capacidade
de conter a situação e pensa em algum tipo de alívio que possa 
acalmar uma situação potencialmente explosiva.
Aí surge o problema da candidatura de Lula e do PT, que realizam 
uma política de aliança com setores da burguesia, 
onde com o argumento de enfrentar a Bolsonaro uma frente popular 
sem limites se faz à direita.

Lula já desempenhou esse papel no início do século. 
E conseguiu manter o Brasil à margem do processo de
revoltas populares da época. E agora Lula está concorrendo 
para desempenhar esse papel novamente. O mais ilustrativo, 
ou o que mais transcendeu aqui na Argentina, foi o 
encontro com Fernando Henrique Cardoso.

Isso representa um desafio para os revolucionários no Brasil. 
Em sua luta contra a frente popular, Trotsky nos deixou 
uma grande ferramenta para o presente latino-americano. 
Não se trata apenas do Brasil, aqui na Argentina também temos 
o problema do nacionalismo burguês, que busca encantar 
os trabalhadores, e também o vemos em outras partes da América Latina.