quinta-feira, 21 de maio de 2020

O RACISMO NO BRASIL




Roberto Rutigliano - Tribuna Classista Rio de Janeiro 

Aconteceram duas barbáries nestes dias que trazem à tona a questão do racismo; primeiro, a morte de um garoto dentro de casa no Rio de Janeiro. Este caso tem um fundo classista porque a polícia não atira assim em bairros de classe média. Na casa onde ele estava foram encontrados mais de 70 disparos nas paredes.
O caso mostra de forma clara e explicita como a polícia entra de forma violenta nas periferias e nas comunidades onde normalmente vive a população negra e pobre.
A polícia entrou na comunidade atirando de forma completamente indiscriminada tirando a vida de um jovem inocente.
O resultado da operação foi desgraçadamente a morte de um jovem que estava dentro de casa. Após ser atingido, João Pedro foi levado pela polícia e a família só ficou sabendo da morte do garoto na manhã da quarta-feira, dois dias depois.
 A ação criminosa ocorreu durante operação da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ).
O segundo episódio foi um caso de racismo humilhante. Colegas do Colégio Franco-Brasileiro no Rio trocaram mensagens ofensivas contra uma companheira negra e a notícia acabou ganhando as redes e a mídia.
O racismo existe e teremos que combatê-lo de forma muito mais agressiva para que acabe. A questão se arrasta desde a época da escravidão e está instalada de forma subliminar em toda a sociedade.
O racismo se manifesta de forma explicita contra os negros pela questão física, pela questão de classe e acaba se incorporando de forma disfarçada atrás de um desprezo pelas atividades ou pela cultura do negro como uma forma de desqualificação gratuita. Isto está internalizado na educação, na religião cristã, na moda, nos modelos sociáveis desejados e se manifesta em forma de um sentimento de superioridade que permitiria o desprezo ou a ofensa como algo natural e entendível.
Existe a marca na pele e na questão classista que discrimina mesmo ao negro que frequenta espaços sociais de privilégio.
Esta prática tem que acabar não apenas com notas de repúdio, mas com uma mobilização das organizações sociais para que toda esta problemática seja discutida com as crianças na escola, com as forças policiais e com os meios de comunicação até se tornar evidente que estamos ante um desvio insano da conduta humana.
A história dos negros no Brasil é responsável por atos políticos importantes como o Quilombo dos Palmares e Zumbi ou as Revolta dos Malês na luta contra os colonizadores.
A cultura negra é responsável por muitos dos ritmos e pela instrumentação de boa parte da música brasileira. As religiões afro-brasileiras são riquíssimas em mitologias e influenciaram desde a culinária, a dança, até boa parte dos costumes e dos hábitos do país.
Existe um preconceito encruado dentro da direita branca racista que se manifesta no desprezo de políticos como Bolsonaro que mais de uma vez ofendeu e teve ações indignas contra o povo negro.
Temos que incansavelmente voltar sobre este assunto por que aqui como nos EUA ou na Europa a educação não conseguiu arrancar essa perversão humana que pretende desqualificar a outro ser humano apenas pela sua cor ou sua condição econômica.
Chamamos a atenção a que esta luta está intimamente associada a uma luta por uma concepção classista da sociedade. A coletividade toda tem que se revelar contra este tipo de visão e afirmar de forma categórica que a luta pela liberação do homem passa pela compreensão da necessidade de aceitar as diferenças e enriquecer-nos com o fim da disputa pela superioridade racial ou social.