Roberto Rutigliano - Tribuna Classista Rio de Janeiro
Aconteceram
duas barbáries nestes dias que trazem à tona a questão do racismo; primeiro, a
morte de um garoto dentro de casa no Rio de Janeiro. Este caso tem um fundo
classista porque a polícia não atira assim em bairros de classe média. Na casa onde
ele estava foram encontrados mais de 70 disparos nas paredes.
O
caso mostra de forma clara e explicita como a polícia entra de forma violenta
nas periferias e nas comunidades onde normalmente vive a população negra e
pobre.
A
polícia entrou na comunidade atirando de forma completamente indiscriminada tirando a vida de um jovem inocente.
O
resultado da operação foi desgraçadamente a morte de um jovem que estava dentro de casa.
Após ser atingido, João Pedro foi levado pela polícia e a família só ficou
sabendo da morte do garoto na manhã da quarta-feira, dois dias depois.
A ação criminosa ocorreu durante operação da Polícia
Federal (PF) e da Polícia Civil
no Complexo do Salgueiro, em São
Gonçalo (RJ).
O segundo episódio foi um caso de racismo humilhante. Colegas
do Colégio Franco-Brasileiro no Rio trocaram mensagens ofensivas contra uma
companheira negra e a notícia acabou ganhando as redes e a mídia.
O racismo existe e teremos que combatê-lo de forma muito mais
agressiva para que acabe. A questão se arrasta desde a época da
escravidão e está instalada de forma subliminar em toda a sociedade.
O
racismo se manifesta de forma explicita contra os negros pela questão física,
pela questão de classe e acaba se incorporando de forma disfarçada atrás de um
desprezo pelas atividades ou pela cultura do negro como uma forma de desqualificação
gratuita. Isto está internalizado na educação, na religião cristã, na moda, nos
modelos sociáveis desejados e se manifesta em forma de um sentimento de
superioridade que permitiria o desprezo ou a ofensa como algo natural e
entendível.
Existe
a marca na pele e na questão classista que discrimina mesmo ao negro que
frequenta espaços sociais de privilégio.
Esta
prática tem que acabar não apenas com notas de repúdio, mas com uma mobilização
das organizações sociais para que toda esta problemática seja discutida com as
crianças na escola, com as forças policiais e com os meios de comunicação até
se tornar evidente que estamos ante um desvio insano da conduta humana.
A
história dos negros no Brasil é responsável por atos políticos importantes como
o Quilombo dos Palmares e Zumbi ou as Revolta dos Malês na luta contra os
colonizadores.
A
cultura negra é responsável por muitos dos ritmos e pela instrumentação de boa
parte da música brasileira. As religiões afro-brasileiras são riquíssimas em
mitologias e influenciaram desde a culinária, a dança, até boa parte dos
costumes e dos hábitos do país.
Existe
um preconceito encruado dentro da direita branca racista que se manifesta no
desprezo de políticos como Bolsonaro que mais de uma vez ofendeu e teve ações indignas
contra o povo negro.
Temos
que incansavelmente voltar sobre este assunto por que aqui como nos EUA ou na
Europa a educação não conseguiu arrancar essa perversão humana que pretende
desqualificar a outro ser humano apenas pela sua cor ou sua condição econômica.
Chamamos
a atenção a que esta luta está intimamente associada a uma luta por uma
concepção classista da sociedade. A coletividade toda tem que se revelar contra
este tipo de visão e afirmar de forma categórica que a luta pela liberação do homem
passa pela compreensão da necessidade de aceitar as diferenças e enriquecer-nos
com o fim da disputa pela superioridade racial ou social.