quarta-feira, 13 de maio de 2020

Às reflexões críticas dos egressos do PCO

“Nos últimos dois ou três anos se incorporaram ao partido inúmeros estudantes, literatos e outros jovens burgueses fora de sua classe. Chegaram a tempo de ocupar a maioria dos cargos nas redações dos novos jornais que pululavam; como é lógico, veem na universidade burguesa a escola socialista de Saint Cyr (escola de excelência de oficiais franceses), que lhes confere o direito de ingressar 'nas fileiras do partido' com o grau de oficial, quando não de general. Todos estes senhores se ocupam do marxismo, mas de uma categoria que você conheceu bem na França há dez anos e da qual Marx dizia: "Neste caso, a única coisa que sei é que eu não sou marxista!". Provavelmente, ele diria sobre estes senhores o mesmo que Heine disse de seus imitadores: ‘Semeeis dragões e colheis pulgas’. A incapacidade desta gente só pode se comparar à sua arrogância [...].”

Carta de F. Engels a Paul Lafargue, 27/10/1890, Werke, 
publicado em Sobre Literatura e Arte, Marx - Engels


GUILHERME GIORDANO
Acabamos de receber uma nota política datada de  15/3/2020 de ex-militantes do PCO, partido que a maioria senão 100% dos militantes do Agrupamento Tribuna Classista militaram por mais de duas décadas e que a sua direção com o pretexto do golpe de estado em 2016 entendeu que para combater esse golpe deveria se dissolver na política de colaboração de classes de Frente Popular do PT (seu dirigente vitalício e supremo ascendeu socialmente e politicamente para o site 247, Estado-maior da política de frente popular e nacionalista burguesa, convertendo-se em seu conselheiro e sua perna "esquerda") e que agora, com o ato do último 1º de maio evolui e se materializa como uma política que caminha rumo à Frente Ampla com FHC, Rodrigo Maia, Dias Tóffoli, Wilson Witzel, João Dória, Ciro Gomes, Flávio Dino, Intersindical do PSOL, a ala majoritária do PSOL (envergonhada), o atual governador Eduardo Leite do PSDB do Rio Grande do Sul (que a convite da CUT e das demais "centrais" sindicais, defendeu no dia Internacional da classe trabalhadora nada mais, nada menos que o "fim da CLT"), e outros Cavalos de Tróias da política burguesa e pró-imperialista.
Lênin, no curso da tentativa  de golpe de estado do general Kornilov, em 1917, na Rússia, entendia de maneira completamente diferente, que a necessária e vital derrota de Kornilov não significava "dar um tostão de apoio ao governo provisório de Kerenski", mas, antes pelo contrário, preparar as bases para a sua derrubada, como de fato se sucedeu em outubro daquele "ano que abalou o mundo". (Lições de Outubro, León Tróstky)
Nas palavras de seus ex-militantes mais recentes expressa-se um verdadeiro aborto da perspectiva histórica do que realmente os que se jogaram a criar e lutar por uma organização operária e independente no Brasil, em 1979, e até 1991, ano que a corrente política Causa Operária foi expulsa do PT. Diríamos mais, uma completa frustração da perspectiva que está em aberto no país, que é a construção de um partido operário revolucionário.
Nem os berros dos seus dirigentes no último 1º de maio serão capazes de ofuscar essa verdadeira encruzilhada em que se meteram, para não desaparecer totalmente.
Definitivamente, a crise sistêmica do capitalismo atingiu em cheio todas as frações do imperialismo, das burguesias nacionais e da esquerda a nível mundial.
Entendemos que o documento dos companheiros e companheiras se detém aos problemas organizativos, sem se darem conta que esses são consequência do programa político que foi abandonado e nunca aliás defendido desde 2004, a saber: o programa de fundação da Coordenação pela Refundação da IV Internacional, de defesa do Internacionalismo proletário e da Revolução Mundial do proletariado.
O PCO se lançou depois de romper com o programa da IV Internacional num movimentismo típico das correntes democratizantes, frentepopulistas e do nacionalismo burguês ultrarretardatário, e acabou na sombra do lulismo, o movimentismo-mor da esquerda burguesa na América Latina 
O PCO se ofereceu para ser uma verdadeira tendência "externa" do lulismo, um embelezador da conciliação de classes, lhe emprestando uma verborragia "trotskizante", tão necessária no momento para que o mesmo acobertasse o que de fato foram as suas alianças estratégicas e programáticas que abriram as porteiras para o golpe de estado em 2016 e o ascenso de Bolsonaro ao governo, dissolvendo-se literalmente na política frentepopulista.
É necessário uma recomposição política da esquerda que tenha como princípio número um a luta pela independência de classe dos trabalhadores, pelo programa de transição pela passagem desse estágio de desenvolvimento da humanidade (em relação ao feudalismo e tão somente) para uma sociedade socialista, da passagem do "reino da necessidade" para o "reino da liberdade", como diria Engels. 
Diz o documento: "Foi escrito tanto por necessidade de compreensão e balanço da experiência, quanto pela possibilidade de oferecê-lo como meio de diálogo a camaradas de luta que saíram do Partido." Da nossa parte, na condição de trabalhadores que buscamos e lutamos há mais de três décadas numa perspectiva de um futuro comunista para toda a humanidade, estamos abertos ao diálogo com os companheiros e companheiras.