terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Brasil: PT golpista?


Publicamos aqui um texto extraído do site do Partido Obrero da Argentina, https://prensaobrera.com/internacionales/brasil-el-pt-golpista/, para abrir o debate acerca de qual deve ser a perspectiva das massas que estão pagando com a própria vida as consequências das mais nefastas deste governo Bolsonaro de genocidas e do regime político burguês.



Substituir Bolsonaro pelo general Mourão


RAFAEL SANTOS - dirigente do Partido Obrero da Argentina

José Dirceu, que foi Ministro da Casa Civil sob a presidência de Lula e é hoje um dos ideólogos do PT, realizou claras declarações num extenso artigo (Poder 360, 19/1).

Dirceu começa propondo “Que fazer?”, mas não se trata de um plagio do célebre livro de Lenin de 1902. O revolucionário russo dirigia esta interrogação à vanguarda operária.

Ao invés disso, Dirceu encarrega-se de esclarecer-nos que ele pretende com esta “pergunta clássica… iluminar decisões de partidos e dirigentes, dirigentes militares e empresários, dirigentes sindicais e populares…”.

Quer convencer à burguesia e aos militares brasileiros urge tirar Bolsonaro do poder.

“A tarefa principal hoje é o julgamento político a Bolsonaro, enquanto se prioriza a luta contra a pandemia”, afirma Dirceu e para isso se propõe convencer aos grandes capitalistas e aos empresários que o Estado corre o perigo de um colapso e revolta popular (“Quanto mais tempo Bolsonaro e seu camarilha permaneçam no poder, maior será o colapso do país e os riscos de colapso económico e agitação social”). Em seu afã por convencer a monopólios e militares das vantagens de afastar Bolsonaro, Dirceu assinala também o “crescente isolamento internacional do país e a perda total de credibilidade, inclusive nos chamados mercados, do capital financeiro bancário”. Nem sequer é uma alternativa “antineoliberal”, senão de convergência com o “capital financeiro bancário”, como foram os governos de Lula e Dilma Rousseff.

Dirceu assinala que a via para habilitar “a aprovação do julgamento político requererá uma composição com a centro-direita e inclusive a direita porque somos uma minoria no Parlamento”. Esta “estratégia” do PT é o que está na base de seu apoio agora a Baleia Rossi, o candidato de direita, para a presidência do parlamento.

O “movimento de massas” deveria intervir enquadrado no apoio a esta perspectiva. Não poder-se-ia impulsionar um movimento de luta para derrubar Bolsonaro e todo seu governo porque seria abrir o caminho “ao colapso do Estado e à revolta popular”. O PT coloca-se abertamente como partido da ordem contra luta operária e popular.

Limitado aos marcos constitucionalistas, o eventual julgamento político que propugna Dirceu, seria somente para retirar Bolsonaro da presidência. Porque sucedê-lo-ia o vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Isto não é só uma dedução lógica, senão que está explicitamente desenvolvido na posição de Dirceu: “É verdadeiro que seu adjunto é um general e de direita. Mas seu governo, se assume o poder, não será uma continuação de Bolsonaro, já que não terá condições políticas para isso”.

Abaixo Bolsonaro, arriba o general de direita Mourão: essa é a estratégia do PT.

Dirceu vai a fundo em seu papel de apresentar-se como um partido da ordem contra a ultradireita de Bolsonaro e as eventuais revoltas populares. É um cheque em branco que fornece às Forças Armadas.

Este é o Que Fazer que propõe Dirceu aos setores capitalistas que ainda que “defendendo suas mordomias e interesses, ancorados na política econômica neoliberal, procuram uma saída à direita sem Bolsonaro”.

“A pergunta que há que se fazer é quanto tempo vão viver os militares com Bolsonaro e como fará uma transição nossa elite, até as eleições do 22”, arremata o porta-voz do PT. Poucas vezes viu-se na história do oportunismo uma formulação defensora da ordem burguesa e contrarrevolucionaria mais clara que a que propõe Dirceu.

O Que Fazer para os trabalhadores, camponeses e explorados passa por outra perspectiva radicalmente diferente: Fora Bolsonaro, Mourão e todo o regime bolsonarista. Que se vão todos! Greve geral para impor as reivindicações das massas e anti-imperialistas. Independência política dos trabalhadores. O PT e seus burocracias são um pilar da ordem burguesa. A classe operária precisa criar seu próprio partido operário independente para lutar por um governo operário e dos trabalhadores.