sábado, 29 de junho de 2019

Prefácio à História da Revolução Russa


León Trótsky,  (14/11/1930, Prinkipo/Turquia)






[...] “A característica mais incontestável da revolução é a intervenção direta das massas nos acontecimentos históricos.
Comumente o estado, monárquico ou democrático, domina a nação; a História é feita pelos especialistas da matéria: monarcas, ministros, burocratas, parlamentares e jornalistas. Todavia, nas curvas decisivas, quando um velho regime se torna intolerável às massas, estas destroem as muralhas que as separam da arena política, derrubam os seus representantes e, intervindo desse modo, criam uma posição de partida para um novo regime. Seja isso um bem ou um mal, cabe aos moralistas julgá-lo.
Quanto a nós, tomamos os fatos tal como se apresentam, em seu desenvolvimento objetivo. 
A História de uma revolução é, para nós, inicialmente a narrativa de uma irrupção violenta das massas onde se desenrolam seus próprios destinos.” 

“Numa sociedade em revolução, as classes entram em luta. É, por conseguinte, absolutamente evidente que as transformações produzidas, entre o princípio e o fim de uma revolução, quer nas bases econômicas da sociedade, quer no substrato social das classes, não são suficientes para explicar a marcha da revolução em si, uma vez que, em curto lapso de tempo, derruba as instituições seculares, e cria novas para, em seguida, derrubá-las também. A dinâmica dos acontecimentos revolucionários é diretamente determinada pelas rápidas e intensas e apaixonadas mudanças psicológicas das classes constituídas antes da revolução.”  
“Com efeito, uma sociedade não modifica as suas instituições na  medida de suas necessidades, como um artífice renova o seu instrumental. Ao contrário: a sociedade praticamente considera as instituições como algo para sempre estabelecido. Durante uma dezena de anos, a crítica de oposição serve apenas como válvula de escape ao descontentamento das massas, o que se constitui em condição de estabilidade do regime social: tal é, em princípio, o valor adquirido pela crítica social-democrata. São necessárias circunstâncias absolutamente excepcionais, independentes da vontade individual ou dos partidos, para libertar os descontentes do espírito conservador e levar as massas à insurreição.”  

“As bruscas mudanças de opinião e de humor das massas, em épocas de revolução, provém por conseguinte, não da maleabilidade ou da inconstância do psiquismo humano, porém de seu profundo conservantismo. As ideias e as relações sociais, permanecendo cronicamente em atraso, quanto às novas circunstâncias objetivas, até o momento em que tais circunstâncias se abatem como um cataclisma, provocam, em época de revolução, sobressaltos de ideias e paixões, que a cérebros de policiais se apresentam simplesmente como obra de “demagogos”. 

“As massas entram em estado de revolução não com um plano preestabelecido de transformação social, mas com o amargo sentimento de não lhes ser mais possível tolerar o antigo regime. Apenas o centro dirigente das classes possui um programa político, o qual, entretanto, precisa ser confirmado pelos acontecimentos e aprovado pelas massas." [...]