León Trótsky, (14/11/1930, Prinkipo/Turquia)
[...] “A característica mais
incontestável da revolução é a intervenção direta das massas nos acontecimentos
históricos.
Comumente o estado, monárquico ou democrático, domina a nação; a
História é feita pelos especialistas da matéria: monarcas, ministros,
burocratas, parlamentares e jornalistas. Todavia, nas curvas decisivas, quando
um velho regime se torna intolerável às massas, estas destroem as muralhas que
as separam da arena política, derrubam os seus representantes e, intervindo
desse modo, criam uma posição de partida para um novo regime. Seja isso um bem
ou um mal, cabe aos moralistas julgá-lo.
Quanto a nós, tomamos os fatos tal como
se apresentam, em seu desenvolvimento objetivo.
A História de uma revolução é,
para nós, inicialmente a narrativa de uma irrupção violenta das massas onde se
desenrolam seus próprios destinos.”
“Numa sociedade em
revolução, as classes entram em luta. É, por conseguinte, absolutamente
evidente que as transformações produzidas, entre o princípio e o fim de uma
revolução, quer nas bases econômicas da sociedade, quer no substrato social das
classes, não são suficientes para explicar a marcha da revolução em si, uma vez
que, em curto lapso de tempo, derruba as instituições seculares, e cria novas
para, em seguida, derrubá-las também. A dinâmica dos acontecimentos
revolucionários é diretamente determinada pelas rápidas e intensas e
apaixonadas mudanças psicológicas das classes constituídas antes da revolução.”
“Com efeito, uma
sociedade não modifica as suas instituições na medida de suas necessidades, como um artífice renova o seu instrumental. Ao
contrário: a sociedade praticamente considera as instituições como algo para
sempre estabelecido. Durante uma dezena de anos, a crítica de oposição serve
apenas como válvula de escape ao descontentamento das massas, o que se
constitui em condição de estabilidade do regime social: tal é, em princípio, o
valor adquirido pela crítica social-democrata. São necessárias circunstâncias
absolutamente excepcionais, independentes da vontade individual ou dos
partidos, para libertar os descontentes do espírito conservador e levar as
massas à insurreição.”
“As bruscas mudanças de opinião e de humor das massas, em épocas de
revolução, provém por conseguinte, não da maleabilidade ou da inconstância do
psiquismo humano, porém de seu profundo conservantismo. As ideias e as
relações sociais, permanecendo cronicamente em atraso, quanto às novas
circunstâncias objetivas, até o momento em que tais circunstâncias se abatem
como um cataclisma, provocam, em época de revolução, sobressaltos de ideias e
paixões, que a cérebros de policiais se apresentam simplesmente como obra de
“demagogos”.
“As massas entram em
estado de revolução não com um plano preestabelecido de transformação social,
mas com o amargo sentimento de não lhes ser mais possível tolerar o antigo
regime. Apenas o centro dirigente das classes possui um programa político, o
qual, entretanto, precisa ser confirmado pelos acontecimentos e aprovado pelas
massas." [...]