GUILHERME GIORDANO
O GOVERNO BOLSONARO, GOVERNADORES, STF, PARLAMENTO, LULA ...
ANEDOTÁRIO DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA E A LUTA DE CLASSES
No dia 14/06, sexta-feira, dia de Greve
Geral no país, que, se por um lado, foi uma greve parcial, com a priorização de
manifestações e protestos (o limite das declarações de intenções, discursos
parlamentares e da burocracia), por outro lado colocou em cena os operários
metalúrgicos do ABC que paralisaram a produção em cinco montadoras, e outras
tantas categorias operárias. A disposição de luta dos trabalhadores e da
juventude ofuscou nas ruas a política da burocracia sindical, que orientou os
trabalhadores a fazerem um feriadão, se recolherem, ficarem em casa, e o
acordaço de parte do governo e dos representantes do parlamento com os
governadores, realizado no dia 11/06, incluindo os do PT, PC do B, PSB e PDT, o
qual segundo o governador do PT do Piauí, Wellington Dias havia retirado o
"bode da sala", a saber: BPC, aposentadorias dos trabalhadores
rurais, capitalização e desconstitucionalização da Previdência Social. O
petista Wellington Dias, um dia antes da Greve Geral, em que foi apresentado o
relatório substitutivo na Comissão Especial da Câmara de Deputados, disparou
contra o relator Samuel Moreira (PSDB-SP), que retirou do texto os servidores
estaduais e municipais: "Espero que quem teve esta bela ideia garanta
mesmo os 308 votos ou mais prometidos", e que "Faltou
responsabilidade com o Brasil". Wellington Dias afirmou que na ocasião do
encontro dos governadores com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
"o indicativo era de um acordo para que recebesse o apoio dos gestores,
principalmente os do Nordeste". (https://blogs.ne10.uol.com.br,13/06/2019)
É bom frisar que a chantagem é recíproca. Todos os governadores, sem
exceção, chantageiam o Congresso dizendo que se os servidores estaduais e
municipais não forem incluídos na reforma, os Estados irão quebrar, num
verdadeiro campeonato para ver quem é o maior chantagista (parece que os de MG e
do RS estão na frente, no momento, capitaneados por João Dória de SP). Por
outro lado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) orientou Samuel Moreira
(PSDB-SP) a retirar do texto, por ora, os servidores dos Estados e municípios,
e exortar os governadores a se empenharem para inclusão dos mesmos na reforma,
"perfeitamente" previsível na tramitação da matéria na própria
comissão especial ou no plenário.
A semana da Greve Geral iniciou com tentativa de conciliação política,
anunciada euforicamente, entre o parlamento, governo Bolsonaro e os
governadores. No entanto, a verdadeira rinha estabelecida no interior do
governo entre a ala olavista, a chamada "ala "ideológica" e os
militares, derrubou o general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da
Secretaria de Governo, demissão esta caracterizada por Bolsonaro como uma
"separação amigável". Depois da queda dos gabinetes de Gustavo
Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, de Vélez Rodriguez, da Educação e
de Franklimberg Freitas da presidência da FUNAI, já é a quarta "separação amigável" do governo Bolsonaro pouco
antes de completar um semestre.
O próximo militar na linha de tiro de Bolsonaro a ser
abatido, é o presidente dos Correios, general Juarez de Paula, acusado de
sindicalista por criticar a privatização da estatal e pousar para fotos com os
parlamentares da oposição, demissão já anunciada profundamente lamentada pelo Deputado Leonardo
Monteiro (PT-MG).
"O Índice de Atividade Econômica do Banco
Central (IBC-Br), que é considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB),
mostrou que a economia brasileira tombou 0,47% em abril. O resultado indica que
o segundo trimestre do ano também começou no negativo, depois de o Brasil ter
recuado 0,2% nos três primeiros meses do ano, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE)".(https://www.correiobraziliense.com.br/,
14/06/2019)
Nessa perspectiva acinzentada, o tom de voz do czar de plantão da
Economia, Ministro Paulo Guedes, aumentou e carregou na tinta contra o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusando-lhe, por ter sofrido
pressão dos servidores, de ter convencido o relator Samuel Moreira (PSDB-SP) a recuar e
apresentar um substitutivo que poderá abortar a "nova Previdência",
diminuindo a "economia" prevista com o roubo das aposentadorias de
mais de um trilhão para menos de novecentos bilhões.
Rodrigo Maia (DEM-RJ) não se fez de rogado e lascou que a medida foi
tomada para blindar o parlamento frente à "Usina de crises que é este
governo", afirmando que a "economia", leia-se roubo, de 860
bilhões para um governo que não tem base é muito, que se dependesse da
articulação do governo seriam obtidos 50 votos favoráveis para uma necessidade
de 350. Segundo a recomendação do "nobre" parlamentar, "um Ministro da
Economia deveria por água na fervura, ao invés de lenha na
fogueira".
O presidente Bolsonaro não poderia ficar de coadjuvante neste teatro de
comédias e num "cafezinho" da manhã com os jornalistas deu um
verdadeiro show. Depois de falar sobre mais uma demissão em gabinete
ministerial, anunciou a queda do terceiro militar em uma semana, acusou o STF
de estar legislando e aprofundando a luta de classes com a decisão de
criminalizar a homofobia (nem a um presidente declaradamente homofóbico lhe
escapa que a esta luta tem que ser dado um caráter de classe). Respondendo a
Lula, o qual
questionou a facada recebida pelo então candidato à Presidência em 2018, depois
do seu suposto agressor ter sido absolvido judicialmente, afirmou que " se
dessem uma facada na barriga de Lula só sairia cachaça", e que no lugar
aonde ele supostamente foi atingido, "sangra pra dentro". Sobre as
denúncias contra Moro e o procurador Dallagnol lascou "se existe um
telefone grampeado no Brasil é o meu". Capitão com o ... na mão?
Sérgio Moro, atual Ministro da Justiça, denunciado pelo site The Intercept
em flagrante delito nos seus colóquios virtuais com o procurador Dallagnol e
cia., ao ser indagado sobre a sua recomendação que acabasse com o show de Lula, montando toda uma operação fraudulenta que se transformou agora com as
revelações que estão vindo à tona em um verdadeiro escândalo internacional, pois
contribuiu decisivamente para a prisão e proscrição da candidatura de Lula, resumiu tudo numa frase:
"foi um descuido!"
Mas quem roubou a cena foi o ministro do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que ao se exaltar repudiando a declaração de Lula
durante o banquete do presidente com os jornalistas, desafinou o coro dos
contentes, dando um soco na mesa esbravejando que Lula cumprisse “prisão
perpétua”. No mínimo dá para se dizer que este general é mal-agradecido, pois
quando Bush decidiu terceirizar a invasão do Haiti para os exércitos dos países
latinoamericanos, Lula se prontificou nomea-lo comandante das Tropas da
Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), as quais foram
acusadas pela Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH) de massacres, torturas, estupros, etc. ao já sofrido povo haitiano.
Arnaldo Jabor, o
cineasta convertido em comentarista da Rede Globo, no Jornal Nacional, se
referindo à crise estabelecida em torno à reforma da previdência afirmou para
fechar o dia da Greve Geral que "cortaram o rabo do lagarto, lá vai o
velho Brasil descendo a ladeira", em consonância com o Ministro Paulo
Guedes.
E por falar em cinema, bem que poderíamos sugerir à atriz e diretora
Carla Camurati, autora do filme Carlota Joaquina - Princesa do Brasil, que
aproveitasse as cenas reais e como figurantes os atores da verdadeira pocilga
da era Bolsonaro, antes que seja tarde, pois pode ser uma comédia muito
efêmera. E por falar em pocilga e figurantes, Pier Paolo Pasolini o que
diria?