sábado, 15 de junho de 2019

NO DIA DA GREVE GERAL DE 14/06 ....




GUILHERME GIORDANO


O GOVERNO BOLSONARO, GOVERNADORES, STF, PARLAMENTO, LULA ...


ENTRE CHUVAS, TROVOADAS, RELÂMPAGOS, RAIOS E UM DESCUIDO ... 

ANEDOTÁRIO DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA E A LUTA DE CLASSES




No dia 14/06, sexta-feira, dia de Greve Geral no país, que, se por um lado, foi uma greve parcial, com a priorização de manifestações e protestos (o limite das declarações de intenções, discursos parlamentares e da burocracia), por outro lado colocou em cena os operários metalúrgicos do ABC que paralisaram a produção em cinco montadoras, e outras tantas categorias operárias. A disposição de luta dos trabalhadores e da juventude ofuscou nas ruas a política da burocracia sindical, que orientou os trabalhadores a fazerem um feriadão, se recolherem, ficarem em casa, e o acordaço de parte do governo e dos representantes do parlamento com os governadores, realizado no dia 11/06, incluindo os do PT, PC do B, PSB e PDT, o qual segundo o governador do PT do Piauí, Wellington Dias havia retirado o "bode da sala", a saber: BPC, aposentadorias dos trabalhadores rurais, capitalização e desconstitucionalização da Previdência Social. O petista Wellington Dias, um dia antes da Greve Geral, em que foi apresentado o relatório substitutivo na Comissão Especial da Câmara de Deputados, disparou contra o relator Samuel Moreira (PSDB-SP), que retirou do texto os servidores estaduais e municipais: "Espero que quem teve esta bela ideia garanta mesmo os 308 votos ou mais prometidos", e que "Faltou responsabilidade com o Brasil". Wellington Dias afirmou que na ocasião do encontro dos governadores com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), "o indicativo era de um acordo para que recebesse o apoio dos gestores, principalmente os do Nordeste". (https://blogs.ne10.uol.com.br,13/06/2019)

É bom frisar que a chantagem é recíproca. Todos os governadores, sem exceção, chantageiam o Congresso dizendo que se os servidores estaduais e municipais não forem incluídos na reforma, os Estados irão quebrar, num verdadeiro campeonato para ver quem é o maior chantagista (parece que os de MG e do RS estão na frente, no momento, capitaneados por João Dória de SP). Por outro lado, Rodrigo Maia  (DEM-RJ) orientou Samuel Moreira (PSDB-SP) a retirar do texto, por ora, os servidores dos Estados e municípios, e exortar os governadores a se empenharem para inclusão dos mesmos na reforma, "perfeitamente" previsível na tramitação da matéria na própria comissão especial ou no plenário.
A semana da Greve Geral iniciou com tentativa de conciliação política, anunciada euforicamente, entre o parlamento, governo Bolsonaro e os governadores. No entanto, a verdadeira rinha estabelecida no interior do governo entre a ala olavista, a chamada "ala "ideológica" e os militares, derrubou o general Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, demissão esta caracterizada por Bolsonaro como uma "separação amigável". Depois da queda dos gabinetes de Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, de Vélez Rodriguez, da Educação e de Franklimberg Freitas da presidência da FUNAI, já é a quarta "separação amigável" do governo Bolsonaro pouco antes de completar um semestre.
O próximo militar na linha de tiro de Bolsonaro a ser abatido, é o presidente dos Correios, general Juarez de Paula, acusado de sindicalista por criticar a privatização da estatal e pousar para fotos com os parlamentares da oposição, demissão já anunciada profundamente lamentada pelo Deputado Leonardo Monteiro (PT-MG).
"O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), mostrou que a economia brasileira tombou 0,47% em abril. O resultado indica que o segundo trimestre do ano também começou no negativo, depois de o Brasil ter recuado 0,2% nos três primeiros meses do ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)".(https://www.correiobraziliense.com.br/, 14/06/2019)

Nessa perspectiva acinzentada, o tom de voz do czar de plantão da Economia, Ministro Paulo Guedes, aumentou e carregou na tinta contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusando-lhe, por ter sofrido pressão dos servidores, de ter convencido o relator Samuel Moreira (PSDB-SP) a recuar e apresentar um substitutivo que poderá abortar a "nova Previdência", diminuindo a "economia" prevista com o roubo das aposentadorias de mais de um trilhão para menos de novecentos bilhões.
Rodrigo Maia (DEM-RJ) não se fez de rogado e lascou que a medida foi tomada para blindar o parlamento frente à "Usina de crises que é este governo", afirmando que a "economia", leia-se roubo, de 860 bilhões para um governo que não tem base é muito, que se dependesse da articulação do governo seriam obtidos 50 votos favoráveis para uma necessidade de 350. Segundo a recomendação do "nobre" parlamentar, "um Ministro da Economia deveria por água na fervura, ao invés de lenha na fogueira". 
O presidente Bolsonaro não poderia ficar de coadjuvante neste teatro de comédias e num "cafezinho" da manhã com os jornalistas deu um verdadeiro show. Depois de falar sobre mais uma demissão em gabinete ministerial, anunciou a queda do terceiro militar em uma semana, acusou o STF de estar legislando e aprofundando a luta de classes com a decisão de criminalizar a homofobia (nem a um presidente declaradamente homofóbico lhe escapa que a esta luta tem que ser dado um caráter de classe). Respondendo a Lula, o qual questionou a facada recebida pelo então candidato à Presidência em 2018, depois do seu suposto agressor ter sido absolvido judicialmente, afirmou que " se dessem uma facada na barriga de Lula só sairia cachaça", e que no lugar aonde ele supostamente foi atingido, "sangra pra dentro". Sobre as denúncias contra Moro e o procurador Dallagnol lascou "se existe um telefone grampeado no Brasil é o meu". Capitão com o ... na mão?
Sérgio Moro, atual Ministro da Justiça, denunciado pelo site The Intercept em flagrante delito nos seus colóquios virtuais com o procurador Dallagnol e cia., ao ser indagado sobre a sua recomendação que acabasse com o show de Lula, montando toda uma operação fraudulenta que se transformou agora com as revelações que estão vindo à tona em um verdadeiro escândalo internacional, pois contribuiu decisivamente para a prisão e proscrição da candidatura de Lula, resumiu tudo numa frase: "foi um descuido!"
Mas quem roubou a cena foi o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que ao se exaltar repudiando a declaração de Lula durante o banquete do presidente com os jornalistas, desafinou o coro dos contentes, dando um soco na mesa esbravejando que Lula cumprisse “prisão perpétua”. No mínimo dá para se dizer que este general é mal-agradecido, pois quando Bush decidiu terceirizar a invasão do Haiti para os exércitos dos países latinoamericanos, Lula se prontificou nomea-lo comandante das Tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), as quais foram acusadas pela Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH) de massacres, torturas, estupros, etc. ao já sofrido povo haitiano.
Arnaldo Jabor, o cineasta convertido em comentarista da Rede Globo, no Jornal Nacional, se referindo à crise estabelecida em torno à reforma da previdência afirmou para fechar o dia da Greve Geral que "cortaram o rabo do lagarto, lá vai o velho Brasil descendo a ladeira", em consonância com o Ministro Paulo Guedes.
E por falar em cinema, bem que poderíamos sugerir à atriz e diretora Carla Camurati, autora do filme Carlota Joaquina - Princesa do Brasil, que aproveitasse as cenas reais e como figurantes os atores da verdadeira pocilga da era Bolsonaro, antes que seja tarde, pois pode ser uma comédia  muito efêmera. E por falar em pocilga e figurantes, Pier Paolo Pasolini o que diria?