segunda-feira, 5 de setembro de 2016

OS ESTADOS UNIDOS NO OLHO DO TEMPESTADE: UMA NOVA FASE DA CRISE CAPITALISTA MUNDIAL

                                                                           


Publicado originalmente em Prensa Obrera Nº 1424 (http://www.po.org.ar/)

Pablo Heller

Até há pouco tempo atrás se dizia que o pior da crise econômica mundial já havia passado. Para isso se exibiam sintomas da recuperação dos Estados Unidos. A partir dessas expectativas o Federal Reserve (banco Central norte-americano) resolveu aumentar a taxa de juros no final do ano passado, e adiantou sua intenção de proceder a novas altas nos trimestres seguintes. The Wall Street Journal adverte sobre “o descenso mais prolongado da produtividade do trabalho nos Estados Unidos desde o final da década de 1970 (que) ameaça as perspectivas a longo prazo da economia do país e poderia levar o Federal Reserve a manter as taxas de juros baixas por vários anos” (WSJ, 11/08).

Assistimos ao terceiro trimestre seguido de baixa de produtividade (o período mais longo desde 1979), o que ilustra a estagnação da economia. O crescimento econômico dos Estados Unidos no segundo trimestre foi de somente 1,2%. Porém este impasse integra uma tendência mundial. Na Europa, teve um crescimento de apenas 0,3%. O crescimento chinês continua em queda livre, e grande parte da América Latina continua em retrocesso.

O pano de fundo desses dados é uma enorme crise de superprodução, ou seja, um excesso de capitais e mercadorias comparado com suas possibilidades de valorização. Isso nutre as tendências deflacionárias, a queda dos lucros e uma retração do investimento. As tendências deflacionárias se expressam no crescimento da dívida pública que hoje estão colocadas a uma taxa de juros negativa, e que passou no último ano de 1,3 trilhões a 14 trilhões de dólares a nível mundial. A ausência de rendimentos financeiros positivos implica uma ameaça ao sistema bancário e às companhias de seguros, e constitui um registro inapelável da tendência à depressão econômica. Atividade petroleira é um exemplo eloquente desse processo: alguns viram na queda de preços dos combustíveis como uma reativação da economia, uma oportunidade para a redução de custos industriais e para o aumento do consumo. Longe disso, a queda dos preços de combustíveis somente conduz à derrubada da industria petroleira, com sua sequência de fechamentos, demissões e concentração industrial.

Em 2015, o informe anual do FMI assinalava que a queda de investimento privado estava no centro do fracasso da recuperação da economia global desde a crise de 2008, apesar do crédito com baixíssimas taxas de juro e do resgate multimilionário dos bancos que realizaram os Estados das principais potências e seus respectivos bancos centrais. No último trimestre, o investimento privado dos EUA caiu 9,7%, a terceira pior queda trimestral. Esta queda de investimento nos países capitalistas avançados está na base do desmoronamento da produtividade.

                                                                  



As grandes empresas acumularam trilhões de dólares em espécie e não os investiram nem na produção e nem no desenvolvimento tecnológico. Utilizam esses fundos para recomprar ações, aumentar seus lucros e levar a cabo fusões e aquisições.

Isto explica o paradoxo de que o desempenho produtivo seja cada mais magro, enquanto o preço das ações nas bolsas mundiais alcançam níveis elevados. Quando examina-se os balanços, observa-se que uma parcela significativa de seus proventos advém de seus investimentos financeiros.

Esta hipertrofia do setor financeiro terminou por socavar a base industrial norte-americana. Seu contraponto é um aumento da especulação e uma inflação dos ativos, que não é outra coisa que capital fictício. A economia dos Estados Unidos está sentada em cima de uma nova e explosiva bolha, que prepara uma crise de maiores proporções que a de 2008. Isto vai de encontro com as tendências à desintegração da União Europeia, que ganharam um novo impulso com o Brexit e o estado de falência que se encontra o sistema bancário do continente europeu; com o impasse da economia japonesa, que não consegue sair da recessão mesmo com os abundantes recursos colocados pelo Estado; com a crise na China e nos países emergentes.

O agravamento da bancarrota capitalista explica a crescente rivalidade entre os Estados e, com isso, as tendências à guerra comercial, monetária e à própria guerra se consolidam. Isso evidencia-se agora nos EUA, no uso crescente dos candidatos à demagogia social e chauvinista, que floresce de forma proporcional à desintegração dos partidos tradicionais. Porém esta crise de fundo também é o laboratório e o caldo em que se cultiva as grandes explosões sociais, e ao ritmo delas, as profundas reviravoltas políticas das massas.