Pablo
Heller
Até há
pouco tempo atrás se dizia que o pior da crise econômica mundial já havia passado. Para isso se exibiam sintomas da recuperação dos
Estados Unidos. A partir dessas expectativas o Federal Reserve (banco
Central norte-americano) resolveu aumentar a taxa de juros no final
do ano passado, e adiantou sua intenção de proceder a novas altas
nos trimestres seguintes. The Wall Street Journal adverte sobre “o
descenso mais prolongado da produtividade do trabalho nos Estados
Unidos desde o final da década de 1970 (que) ameaça as perspectivas
a longo prazo da economia do país e poderia levar o Federal Reserve
a manter as taxas de juros baixas por vários anos” (WSJ, 11/08).
Assistimos
ao terceiro trimestre seguido de baixa de produtividade (o período
mais longo desde 1979), o que ilustra a estagnação da economia. O
crescimento econômico dos Estados Unidos no segundo trimestre foi de
somente 1,2%. Porém este impasse integra uma tendência mundial. Na
Europa, teve um crescimento de apenas 0,3%. O crescimento chinês
continua em queda livre, e grande parte da América Latina continua
em retrocesso.
O
pano de fundo desses dados é uma enorme crise de superprodução, ou
seja, um excesso de capitais e mercadorias comparado com suas
possibilidades de valorização. Isso nutre as tendências
deflacionárias, a queda dos lucros e uma retração do investimento.
As tendências deflacionárias se expressam no crescimento da dívida
pública que hoje estão colocadas a uma taxa de juros negativa, e
que passou no último ano de 1,3 trilhões a 14 trilhões de dólares
a nível mundial. A ausência de rendimentos financeiros positivos
implica uma ameaça ao sistema bancário e às companhias de seguros,
e constitui um registro inapelável da tendência à depressão
econômica. Atividade petroleira é um exemplo eloquente desse
processo: alguns viram na queda de preços dos combustíveis como uma
reativação da economia, uma oportunidade para a redução de custos
industriais e para o aumento do consumo. Longe disso, a queda dos
preços de combustíveis somente conduz à derrubada da industria
petroleira, com sua sequência de fechamentos, demissões e
concentração industrial.
Em
2015, o informe anual do FMI assinalava que a queda de investimento
privado estava no centro do fracasso da recuperação da economia
global desde a crise de 2008, apesar do crédito com baixíssimas
taxas de juro e do resgate multimilionário dos bancos que realizaram
os Estados das principais potências e seus respectivos bancos
centrais. No último trimestre, o investimento privado dos EUA caiu
9,7%, a terceira pior queda trimestral. Esta queda de investimento
nos países capitalistas avançados está na base do desmoronamento
da produtividade.
As grandes empresas acumularam trilhões de dólares em espécie e não os investiram nem na produção e nem no desenvolvimento tecnológico. Utilizam esses fundos para recomprar ações, aumentar seus lucros e levar a cabo fusões e aquisições.
Isto
explica o paradoxo de que o desempenho produtivo seja cada mais
magro, enquanto o preço das ações nas bolsas mundiais alcançam
níveis elevados. Quando examina-se os balanços, observa-se que uma
parcela significativa de seus proventos advém de seus investimentos
financeiros.
Esta
hipertrofia do setor financeiro terminou por socavar a base
industrial norte-americana. Seu contraponto é um aumento da
especulação e uma inflação dos ativos, que não é outra coisa
que capital fictício. A economia dos Estados Unidos está sentada em
cima de uma nova e explosiva bolha, que prepara uma crise de maiores
proporções que a de 2008. Isto vai de encontro com as tendências à
desintegração da União Europeia, que ganharam um novo impulso com
o Brexit e o estado de falência que se encontra o sistema bancário
do continente europeu; com o impasse da economia japonesa, que não
consegue sair da recessão mesmo com os abundantes recursos colocados
pelo Estado; com a crise na China e nos países emergentes.
O
agravamento da bancarrota capitalista explica a crescente rivalidade
entre os Estados e, com isso, as tendências à guerra comercial,
monetária e à própria guerra se consolidam. Isso evidencia-se
agora nos EUA, no uso crescente dos candidatos à demagogia social e
chauvinista, que floresce de forma proporcional à desintegração
dos partidos tradicionais. Porém esta crise de fundo também é o
laboratório e o caldo em que se cultiva as grandes explosões
sociais, e ao ritmo delas, as profundas reviravoltas políticas das
massas.