domingo, 16 de fevereiro de 2014

CRÔNICA DE UM RACIONAMENTO ANUNCIADO

                                                   



 David Lucius


O Brasil, que é conhecido mundialmente por ser um dos países com maior quantidade de recursos hídricos, vive nesses últimos dias um grande dilema, diante da ameaça de ter anunciado um racionamento em várias regiões do país e em vários estados da federação. Se somente a ameaça de um racionamento de água já não bastasse para demonstrar o esgotamento e a falência política do governo federal e dos governos estaduais diante de um fato que para ser evitado necessitaria apenas de um pouco de planejamento (já que recursos e investimentos para a Copa, as Olimpíadas e outras áreas sem nenhuma prioridade social não faltaram somas abundantes). Soma-se a isso o racionamento de energia elétrica ou “apagão” como é chamado popularmente, devido ao fato de um país continental como o nosso ter 80% de sua eletricidade gerada pela matriz hidroelétrica, podendo levar o país a um duplo racionamento no decorrer do ano: o de água e o de energia de uma só vez.
Em um ano de Copa do Mundo, eleições presidenciais e com a deterioração de nossa economia ocorrendo com cada vez mais intensidade, somos informados que diante da estiagem que nosso  país vem sofrendo no último mês, o Brasil está novamente a beira de um apagão generalizado, como no último ano do governo FHC e (a semelhança não é mera coincidência...) com uma situação piorada de contradições internas e externas que nos fazem antever uma verdadeira catástrofe se as expectativas de uma parte dos especialistas se confirmarem diante da pior seca já registrada desde a década de 30. 
Diante de um quadro em que os reservatórios das principais metrópoles estão com menos de 30% de sua capacidade, e diante do fato que estamos na época das chuvas (a época da estiagem começará em abril e se estenderá até outubro, onde o problema tende a se agravar). Segundo um especialista, para que a situação mudasse precisaria que chovesse nas regiões dos reservatórios durante cerca de 60 dias ininterruptos, para que se atingisse uma vazão de 1000 milímetros cúbicos até a estiagem, o que dificilmente deverá ocorrer.
Para tentar resolver o problema de uma forma emergencial, a Sabesp contratou um avião para bombardear as nuvens na região das represas do Sistema Cantareira (ao preço de quase 5 milhões de reais), mas até agora sem nenhum grande êxito registrado.
A região abastecida pelo sistema da Cantareira é uma das regiões econômicas mais desenvolvidas de São Paulo, com grande concentração de empresas, fábricas e de produção de bebidas (Coca Cola, Ambev, etc, etc), não precisamos especular muito para chegarmos a conclusão de como os efeitos de uma seca somente nesse sistema poderia afetar a economia nacional. No interior do estado a agropecuária já está afetada pela seca, se têm notícias de que há hortas paralisadas e cerca de 50 mil frangos mortosm, sufocados numa estufa devido a paralisação dos ventiladores causados pela queda de energia, ou seja, um apagão que atingiu uma parte de nosso país recentemente.
Outra conseqüência lógica e nefasta disso tudo é que o governo deve promover um tarifaço depois das eleições para descarregar o ônus da crise nas costas da população. Somente até o momento o calculo de gasto com as distribuidoras de energia deve passar dos 20 bilhões de reais, valor acrescido dos gastos com termoelétricas que serão utilizados no limite para compensar a subutilização das hidroelétricas na geração de energia. Sem contar que devido ao extremo calor o consumo de energia está tendo recordes diários de consumo. Segundo as palavras de Felipe Barroso, da empresa Bioenergias a catástrofe pode ser eminente: “Já estamos no limite e os apagões podem acontecer a qualquer momento”. Tudo indica que a situação tende a se agravar, o possível racionamento de água e de energia elétrica deve ter seu clímax no auge da estiagem entre junho e outubro, ou seja, entre a Copa e as eleições.
Carlos Farias, que é presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), prevê um tarifaço após as eleições: “Imagino que o reajuste das tarifas terá de ser, no mínimo, de 15% após as eleições”.
Diante dos racionamentos e dos tarifaços, a população e a classe trabalhadora devem se organizar e se mobilizar. A luta pelo direito a água e a energia elétrica para todos e sem tarifaços é um princípio básico para toda a população. A tentativa do governo de empurrar pela goela abaixo dos consumidores, o racionamento e o tarifaço, só podem ser contidas pela luta massiva da população e da classe trabalhadora.