segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O imperialismo norte-americano no centro da tormenta mundial, enquanto o bolsonarismo se encontra à deriva no Brasil

 



Carmanim Elisalde

O imperialismo norte-americano está sofrendo neste momento a pior crise política da sua história. A democracia política enquanto estratégia que foi utilizada para  combater todos os processos revolucionários no mundo como pano de fundo para impor por exemplo a Cuba, há mais de 60 anos, e mais recentemente à Venezuela um embargo econômico com ameaça de invasão a esta última, sofreu um abalo sísmico nos estertores do governo Trump, e expôs para o mundo inteiro um regime fraudulento questionado por uma ação fascistoide no interior do seu próprio sagrado parlamento para impedir a posse do seu novo presidente.

Nesse caso, os chamados supremacistas trumpistas utilizaram contra o seu próprio parlamento o que historicamente seu estado imperialista, seja sob o comando republicano, seja sob o comando democrata por infinitas vezes usaram e abusaram contra os países e povos oprimidos pelo mundo, a invasão militar, a espoliação da força de trabalho e das riquezas naturais, etc. O Iraque, o Afeganistão e outros povos ameaçados como o Irã, que o digam.

Que essas tendências fascistoides estejam vindo à tona no coração do imperialismo expressam a total decomposição de todo um regime político. Por outro lado, as multitudinárias mobilizações que explodiram em 2020 motivadas por uma ponta de um iceberg, que foi o assassinato brutal de Georg Floyd chegaram a obrigar o acuado Trump a se abrigar no bunker de guerra da Casa Branca, cercada pelos manifestantes, em Washington, manifestação esta dirigida contra o centro do poder político norte-americano.

É nos marcos de uma liderança dos EUA no ranking mundial, que segundo dados oficiais já superou 10 milhões de casos e mais de 400 mil óbitos que Joe Biden tomou posse no dia 20/01, numa capital militarizada com mais de 25 mil soldados, e revogou decretos da era Trump, aprofundando o fosso entre democratas e republicanos, depois de ter discursado invocando a unidade nacional.

A cidade mais populosa dos EUA, a cosmopolista Nova Yorque enfrenta um êxodo de seus habitantes por conta da pandemia e há previsões de que um terço das pequenas empresas irão desaparecer. Segundo Michael Hendrix, diretor do Manhatan Institute, um centro de estudos de mercado livre: "A cidade não está morta, mas está respirando por aparelhos".

Trump saiu pelas portas do fundo da Casa Branca prometendo que vai voltar, com dois pedidos de impeachment no parlamento e marcado como um cometedor de crimes premeditados em massa contra seu próprio povo. 

O certo é que o principal país imperialista não será mais o mesmo depois dos acontecimentos que se precipitaram nessa primeira quinzena do ano que recém iniciou, e as tendências à aceleração dos conflitos entre as classes sociais e entre os países imperialistas e os países periféricos tendem a se agudizar na esteira de uma crise mundial do capitalismo que desencadeou uma crise humanitária, em decorrência da incapacidade histórica de um modo de produção baseado na propriedade privada dos meios de produção em debelar a crise sanitária provocada pela pandemia que ele mesmo germinou e é o principal tributário da crise humanitária que se estende por todo o planeta.

No Brasil, uma parcela importante da burguesia já havia colocado em marcha um movimento no sentido de pular do barco do governo genocida de Bolsonaro e promoveu neste penúltimo final de semana do corrente mês carreatas  pelo FORA BOLSONARO, mirando o seu impeachment no Congresso Nacional, o qual está enfrentando a crise da eleição para a presidência das suas duas casas.

Por outro lado, a CUT e os chamados movimentos sociais embarcaram e se animaram com essa mobilização composta por movimentos e partidos de direita bolsonaristas de primeira hora, e que se locupletaram do golpe de estado em 2016, como é caso do famigerado MBL, o jornal Estadão, a Rede Globo, etc. etc. etc.

Bolsonaro há poucos dias atrás não falou nada de novo. As forças armadas foram que decidiram o golpe de estado em 2016, assim como foram as mesmas com a complacência da oposição burguesa liderada por Ulisses Guimarães do PMDB, a qual Lula e o PT se subordinaram na época que controlaram o processo de "redemocratização" do país, através da transição liberal que culminou com o governo Sarney, da Nova República, que manteve intacto e em alguns casos até reforçou o aparelho repressor do estado burguês. As frentes populares, por um lado, e o fascismo, por outro, são os dois últimos recursos do imperialismo. Esta máxima de León Trótsky está em plena vigência desde que se abriu o ciclo de transição da Revolução de Outubro, em 1917, e ao contrário de arrefecer, recrudesceu no mundo inteiro.

O genocídio premeditado em Manaus, e por todo o Estado do Amazonas, que já se alastra para o Pará e toda região Norte do país, ocasionando o colapso hospitalar e sanitário, provocado pela falta de oxigênio, com centenas de óbitos cuja causa poderia ter sido evitada com um simples cilindro de oxigênio, acendeu um sinal de alerta em setores da burguesia que haviam se convertido ao bolsonarismo, ou ao menos flertado com ele, há pouco tempo atrás, durante o período eleitoral em 2018 e após a sua posse.

O país está perto de atingir 220 mil óbitos, segundo dados oficiais, perdendo em média 500 vidas humanas a cada 24 horas, mas já teve pico de 1.400 óbitos diários. A política genocida premeditada impulsionada pelo governo Bolsonaro e que não isenta os governadores e os prefeitos que foram a correia de transmissão da criminosa "volta à nova normalidade, porque a economia não pode parar", e da criminosa "contaminação de 70% do rebanho", disseminada entre outros pelo ex-Ministro da Cidadania, Osmar Terra do MDB, apelidado de Osmar Trevas, põe em questionamento toda a classe social dominante, uma burguesia pra lá de ultrapassada e incapaz historicamente de resolver os problemas mais elementares da população, e que cada vez mais faz arrefecer o seu esforço histórico em dissimular através da ideologia que os seus interesses são comuns aos interesses dos trabalhadores, que estão pagando com o fragelo do desemprego, do arrocho salarial, da falta de moradias com centenas de moradores de rua se multiplicando em todo o país, da falta de saneamento básico (água potável e tratamento de esgoto, pasmem!, em pleno século XXI), enfim de uma miséria crescente, que resulta em milhares de mortes pela pandemia, enquanto os bancos, o latifúndio do agronegócio, os grandes industriais (favorecidos com medidas de redução de salários e suspensão de contratos dos trabalhadores, entre outras, e mesmo esta dádiva do governo Bolsonaro não foi suficiente para que a FORD, uma das maiores fabricantes e montadoras do mundo fechasse suas portas e deixasse dezenas de trabalhadores na rua da amargura, literalmente na sarjeta), a cúpula das forças armadas, o conjunto dos órgaos de repressão, etc. concentram cada vez a acumulação da riqueza produzida pela força de trabalho.

A palavra-de-ordem Fora Bolsonaro começa a ser utilizada por setores da burguesia, da mesma maneira que foi utilizada por esses setores com o Fora Collor, quando até mesmo Maluf se converteu ao movimento da "Ética na  política", provando que por detrás da metafísica da moral, da ética, da religião, etc. estão os interesses materiais de uma, ou de outra classe social. A substituição de Collor por seu vice, Itamar Franco, através do impeachment no Congresso Nacional, liderado pelos "anões do orçamento", resultou no governo de resgate do capital de características frentepopulistas com a presença de Luiza Erundina e Walter Barelli do PT, que lhe emprestaram um verniz esquerdizante, e com isso se preparou as bases para a entrega da CSN pelas famigeradas "moedas podres" e a transição para a infame era FHC através do Plano Real. 

É necessário constituir uma política classista e revolucionária que tenha como base a defesa de um programa de transição para a luta por um governo próprio dos trabalhadores da cidade e do campo. Para que isso aconteça, a CUT e demais organizações de massa dos trabalhadores do país deve romper com a política frentepopulista sem limites à direita, com o frenteamplismo, que deu sua primeira cartada no 1º de maio do ano de 2020. 

O governo genocida de Bolsonaro começou a derreter a sua "popularidade" (que nunca teve, senão através de um artificialismo e frente à ausência de uma oposição classista) muito antes das eleições municipais do ano de 2020. Anunciou o abortado Aliança para o Brasil já prevendo uma fragorosa derrota, para tentar evitar se apresentar com fisionomia própria, com a desculpa dos prazos para obtenção do registro no TSE a tempo de registrar candidaturas, prenunciando um fracasso no teste de sua "popularidade" visando 2022. 

Setores que se reivindicam classistas e revolucionários convocaram os trabalhadores a votarem no 1º e no 2º turno nas eleições municipais de 2020 na centro-esquerda, que envolve partidos como o PT, PC do B, PSOL, REDE, PSB, PDT e outras siglas menos expressivas, temendo o fantasma do bolsonarismo, que já estava caminhando na corda bamba. Perderam a bússola, porque este voto pariu os ratos no Congresso Nacional, através do apoio dessa centro-esquerda às candidaturas de Baleia Rossi do golpista MDB, para a Câmara dos Deputados, e, pasmem!, Rodrigo Pacheco do DEM para o Senado Federal, o mesmo candidato do presidente Bolsonaro.

A exigência desses setores da burguesia, na divisão do trabalho interburguesa é o aprofundamento do ataque às condições de vida das massas com as privatizações que se encontram num impasse no momento dentro do governo Bolsonaro, com a reforma administrativa que pretende colocar em marcha as demissões em massa dos servidores públicos das três esferas do estado e ampliar as tercerizações, como já antecipou o prefeito Gean Loureiro do DEM, na capital catarinense, no setor de limpeza urbana, impelindo para a greve os trabalhadores da COMCAP, que já perpassa uma semana e se fortalece obrigando o prefeito a apelar para o julgamento da greve como ilegal, exigindo a criminalização por parte do judiciário da luta dos trabalhadores e da sua organização de luta que é o sindicato. O prefeito com seu projeto infame pretende retirar as conquistas históricas da categoria e já contratou uma empresa para terceirizar os serviços de limpeza. A cidade em diversos bairros até agora só ouviu falar da empresa contratada, porque a coleta de lixo está praticamente paralisada, o que prova que a função da terceirização é transferência de renda para a patronal que explora os trabalhadores precarizados e a total desorganização do próprio processo de trabalho. 

A burguesia vê desesperada o cobertor ficar cada vez mais curto, e está pouco se importando se as suas negociatas irão desorganizar serviços elementares para a qualidade de vida como a coleta de lixo, e a limpeza das ruas, bueiros, etc. nos marcos de uma pandemia que recrudesce. A cidade na maior parte dos seus bairros vê acumular o lixo nas calçadas e com a falta de manutenção dos equipamentos de escoamento das águas, vê esses equipamentos entupidos de resíduos e com a chuva torrencial que cai sobre a cidade há mais de uma semana, bairros inteiros estão debaixo d'água, literalmente, como a Lagoa da Conceição, um dos principais pontos turísticos da cidade, com sua beleza exuberante. Negócios são negócios!

Os sindicatos de base da CUT e das demais "centrais" sindicais devem olhar para a política das suas cúpulas e exigir a ruptura das mesmas com os partidos patronais em todos os terrenos,  a começar com a política pró-patronal dos partidos que se reivindicam de esquerda, como o PT, dentro do Congresso Nacional, que controla e desemboca esta política na maioria desses sindicatos e da própria CUT.
 
Sem essa condição sine qua non, o que estamos assistindo é a continuidade da política de conciliação e colaboração de classes mais à direita ainda do que já foi nos 16 anos de governos do PT, que pavimentaram o caminho para o ascenso ainda que muito efêmero do submundo miliciano bolsonarista. 

É preciso colocar abaixo o governo genocida de Bolsonaro e Mourão e todos os interesses que estão por detrás desse governo da burguesia, enquanto classe social, que escorrem pelo ralo enquanto é promovido um verdadeiro genocídio da população. A meta desse governo genocida em relação à pandemia é vacinar metade da população até o fim do primeiro semestre, o que significa que a outra metade, cerca de 110 milhões de brasileiros ficarão a mercê da própria sorte. A meta na verdade mais parece ser a meta macabra da morte de milhares de seres humanos, como já foi denunciado por especialistas da área sanitária, que está em curso uma política macabra de crimes premeditados.

Por isso, é preciso levantar a palavra-de-ordem Abaixo o governo genocida de Bolsonaro/Mourão, acompanhada de um programa de transição para um governo dos trabalhadores.