terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Há 39 anos perdemos ELIS REGINA, uma voz universal, que cantou os anseios de uma geração que lutava contra os regimes militares no Brasil e na América Latina



Nossa homenagem à nossa Pimentinha, Elis Regina, da província de São Pedro para o mundo


 Carmanim Elisalde


Em 19/01/1982, sofremos de uns dos tantos assassinatos promovidos pelos regimes militares no Brasil e em toda a América Latina.

Morria a maior cantora da história da chamada MPB, Elis Regina, uma gaúcha que pouco antes de ser assassinada, havia dado uma entrevista para a RBS, no Rio Grande do Sul, afirmando que não havia saído da sua terra natal para "fundar CTG", numa clara afronta ao que naquele momento, de maneira muito incipiente ainda, era fomentado pela oligarquia rural do Estado gaúcho, e que acabou dominando relativamente a sua cultura, que foi a proliferação dos Centros de Tradição Gaúcha, que servem até nossos dias para dissimulação da dominação política do latifúndio naquela região, um latifúndio escravagista, um verdadeiro câncro, um tumor, que há muito já deveria ter dado lugar aos trabalhadores sem-terras e aos quilombolas.

Elis cantou a expressão da luta e da revolta de toda uma geração contra os regimes militares e se converteu numa voz universal, dando lugar a vários compositores que ficaram consagrados nacionalmente e em todo o continente latino-americano.

O ano de 1982 iniciou com uma das notícias mais tristes que nossa geração poderia receber. Morria nossa lutadora, que ergueu sua voz elevando junto milhares de trabalhadores e jovens na direção oposta e frontal a todo um regime político que começava a fazer água e precisava substituir sua farda militar e suas botas por uma fachada democratizante, uma fachada civil.

Era um ano de efervescência e ebulição política, de enorme ascenso do movimento operário e da juventude, combinado com um enfraquecimento cada vez maior do governo e do regime inteiro, que era obrigado a preparar a sua metamorfose para o seu continuísmo que se converteu a chamada Nova República, um governo e um regime que brotou da manobra arbitrária e anti-democrática do Colégio Eleitoral, numa falsa polarização entre Tancredo, o representante do "novo", e Maluf, o representante do "passado", que com a morte de Tancredo, resultou no governo de José Sarney, convertido de presidente da ARENA, partido oficial da ditadura militar, para presidente de honra do PMDB e da "Nova República". 

Em meados de 1982 ocorreu a Guerra das Malvinas, que contribuiu para aumentar o fervor anti-imperialista dos trabalhadores e da juventude em toda a América Latina, culminando com um massacre promovido pelos Gurkhas, os guerreiros do Nepal acionados pelo imperialismo inglês covardemente contra um exército formado pelos "chicos de las Malvinas" que foram utilizados como bucha de canhão pelo governo do general genocida Leopoldo Galtieri, como uma das últimas cartadas de uma das ditaduras mais sanguinárias que passaram pelo continente latino-americano. 

A posição mais consequente naquele momento era a de transformar a guerra para derrotar o imperialismo inglês numa guerra civil de todo o proletariado latino-americano para criar as condições para colocar abaixo o regime militar e impor um governo dos trabalhadores.

As eleições de 1982 ficaram marcadas pela inauguração do registro das candidaturas do Partido dos Trabalhadores para os governos estaduais e os parlamentos estaduais e federais, ano em que o PT ainda era obrigado pelo poderoso movimento operário que brotava principalmente do ABC paulista a defender palavras-de-ordem que mesmo superficialmente mantinham alguma veleidade classista como "Trabalhador vota em trabalhador", "Terra, trabalho e liberdade", etc., as quais foram sendo substituídas gradativamente à medida que o ascenso arrefecia e era canalizado para as ilusões eleitorais e democratizantes do tipo "Um governo para todos".

Nesse contexto histórico que abria uma enorme perspectiva política para uma saída operária independente e revolucionária, sofremos uma profunda derrota no início daquele ano memorável com a perda daquela que fazia da sua voz a expressão da emancipação política e social do jugo do sistema capitalista e do regime político militar que apodrecia e do que era preparado para enganar as massas.

Elis Regina, até a vitória, sempre! Nossa Pimentinha