domingo, 29 de novembro de 2020

DECLARAÇÃO POLÍTICA DO AGRUPAMENTO TRIBUNA CLASSISTA FRENTE AO 2º TURNO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS





PELA INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DOS TRABALHADORES FRENTE A TODAS AS VARIANTES POLÍTICAS BURGUESAS E PRÓ-IMPERIALISTAS NO 2º TURNO DAS ELEIÇÕES 


Nos marcos de uma pandemia que recrudesceu, com 176 mil mortes, 501 mortes/dia, 34 mil contaminados/dia e uma taxa de desemprego que atinge, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, 14,6% por conta de alta de 1,3% no terceiro trimestre,  ocorrerá o 2º turno das eleições municipais em 57 cidades do país, sendo que em 18 capitais. 

Todos os partidos que compõem o regime político, da extrema direita, passando pela centro-direita até aqueles que se dizem oposição da centro-esquerda e esquerda (esses funcionam como uma válvula de escape do regime), fizeram campanha explicando a importância do voto, num país que em 2016 mais de 54 milhões de votos obtidos pela candidatura vitoriosa foram totalmente desconsiderados e isso não foi nem de longe um óbice impeditivo para que ocorresse um golpe de estado.

No entanto, com toda a propaganda e a tentativa de impor o retorno à chamada normalidade da vida pelo governo genocida de Bolsonaro com a complacência e colaboração da "oposição" através das eleições, uma média de mais de 30% do eleitorado absteve-se, votou em branco ou nulo, o que corresponde a mais de 45 milhões de eleitores, de um total de quase 150 milhões.

O resultado das eleições no 1º turno sem dúvida nenhuma expressa uma fragorosa derrota do governo Bolsonaro e do bolsonarismo, que já havia dado mostra do enorme receio de testar sua popularidade visando as eleições presidenciais de 2022. A iniciativa da tentativa de obter o registro do Aliança pelo Brasil no TSE foi tão somente uma manobra que anteviu o seu fracasso. 

O Aliança pelo Brasil foi um mecanismo descartável para tentar dissimular e pulverizar o total descontentamento da população expresso limitadamente numa urna com a conduta de um presidente e de um governo que estimulou o contágio e as mortes consequentes por conta da pandemia, fazendo campanha aberta contra o isolamento social, contra a quarentena, contra a proteção dos EPIs e EPCs, contra os testes massivos, contra a vacinação, enfim de um governo que contribuiu para que o país seja hoje um dos campeões em contágios e mortes pela pandemia.

O PT não elegeu nenhum prefeito nas capitais e nas 100 maiores cidades no 1º turno, e concorrerá no 2º turno apenas em Recife e Vitória, confirmando sua passagem de protagonismo eleitoral para uma situação de mero coadjuvante, como é o caso de Porto Alegre, cidade em que governou durante 16 anos seguidos, o que já havíamos previsto.

A política de frente popular é uma mercadoria descartável, que a burguesia e o imperialismo utilizam eventualmente num momento de profunda deterioração política dos seus partidos, num momento em que perde totalmente a hegemonia do regime político e precisa emergencialmente acalmar o ânimo das massas. Nesse momento está de molho, porque pode ainda ter que vir a ser uma tábua de salvação não obstante as margens de manobra estarem se tornando cada vez mais precárias no curso da crise mundial. 

Na inexistência de um partido operário revolucionário, a conciliação de classes pode ser o método mais eficaz para a manutenção do regime político da burguesia, como já experimentamos nos oito anos de mandato de Lula na presidência e na primeira gestão de Dilma Roussef.

O PSDB, embora tenha a chance de manter a prefeitura de São Paulo através da candidatura de Bruno Covas, junto com o MDB foram os partidos que perderam o maior número de prefeituras. O golpismo desses dois partidos está jogando-os do palco para a plateia.

O chamado Centrão, composto pelo DEM, PP  e PSD foi vitorioso no 1º turno, invocado e saudado pela burguesia como a volta da "política tradicional". Sinais de que passa a ser definitivamente o eixo gravitacional do regime político na requalização das forças políticas. Papel esse que já havia sendo cumprido no interior do Congresso Nacional sob o comando de Rodrigo Maia (DEM). 

O voto no Centrão precisa ser descasado do governo Bolsonaro, embora saibamos que todos os crimes desse governo passaram pelo mesmo dentro do Congresso Nacional. O alardeado giro à "direita" não durou dois anos de mandato da "usina de crises políticas", segundo seus próprios aliados, que se converteu o governo Bolsonaro, mesmo antes de tomar posse.

É nas mãos do Centrão, por outro lado, que passará o eixo político do governo Bolsonaro no próximo período. A pretexto do déficit fiscal, a Reforma Administrativa que atingirá os servidores atuais das três esferas do estado: federais, estaduais e municipais, inclusive com possibilidade de demissão em massa, foi a grande ausente dos debates nessas eleições, omitida pela direita e pela esquerda (no interior dessa já há precedentes, como a Reforma da Previdência que foi defendida pelos governadores do PT e PC do B).

A eleição no RJ é a que melhor ilustra o caso do PSOL. Depois de ter lançado um ex-comandante da PM candidato a vice-prefeito naquela capital, a manchete do site UOL do dia 23/11 não deixa margens à tergiversação: "Paes sela apoio de bolsonaristas enquanto comemora votos do PSOL" (https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2020/11/23/paes-apoio-bolsonaristas-comemora-apoio-psol-unica-opcao.htm?cmpid=copiaecola0)

Eduardo Paes é candidato pelo DEM, principal partido do Centrão, e já governou a cidade do Rio do Janeiro tendo atacado profundamente os trabalhadores. Em São Paulo, Boulos pode ganhar as eleições com Luiza Erundina de vice-prefeita (Secretária da Administração do governo Itamar que entregou a CSN por moedas podres e que durante o seu governo na prefeitura de São Paulo reprimiu e demitiu os rodoviários que realizaram uma greve histórica, tendo rompido com o PT pela direita, filiando-se no golpista PSB). Boulos já se distanciou daqueles que demonizam  o capital, acalmando os empresários que financiam a sua campanha e tiraram até manifesto publicamente de apoio. O mesmo PSOL das mãos limpas de Luciana Genro, deputada estadual no RS.

O PC do B dispensa comentários. No Maranhão, o governador Flávio Dino apoia o candidato bolsonarista do Republicanos. Em Porto Alegre, Manuela já subiu no palanque com Ana Amélia Lemos, senadora na época do grupo RBS, da FIERGS e da FARSUL. Um partido que cumpriu um papel chave para a transição da Nova República de Sarney, controlando a UNE e as entidades estudantis e organizando bate-paus na CGT de Joaquinzão para dividir o movimento operário e atacar a esquerda que estava construindo a CUT. Sua "central sindical", atualmente, a CTB tem um caráter pró-patronal. 

O PDT de Ciro Gomez disputa com grandes chances de vitória a prefeitura de Fortaleza apoiado pelo governador do PT, Camilo Santana, desde o 1º turno. Este, por sua vez, rifou a candidatura de Luizianne Lins do PT, caracterizando esta candidatura como laranja de apoio à política de Frente Ampla. O lema "todos contra Bolsonaro" se estendeu para o candidato apoiado por Bolsonaro, que esforça-se a todo tempo de omitir esse apoio.

A Coluna do Estadão, do dia 28/11, leva o título de "Direita busca prumo sem 'bigorna' Bolsonaro" referindo-se à reunião de integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e do PSL (sigla a qual Bolsonaro utilizou para se eleger em 2018 e uma das mais cogitadas para sua filiação visando as eleições de 2022) que teve como objetivo fazer um balanço das eleições e buscar um consenso fora do bolsonarismo, segundo o jornal. Júnior Bozzela do PSL afirmou nessa reunião: "O bolsonarismo virou uma âncora, está muito desgastado. Estamos planejando agora os próximos passos, temos de nos reinventar. A gente quer criar um movimento alternativo."

Nestas condições, frente a uma morte anunciada por seus próprios pares, enquanto Bolsonaro e o bolsonarismo caminham para o abismo, setores da própria burguesia estão se encarregando de enterra-lo, está em marcha a formação da Frente Ampla para 2022, em torno de Lula ou de Ciro Gomez. A própria palavra-de-ordem Fora Bolsonaro para setores da esquerda converteu-se em um inofensivo Feliz 2022! Para outros, um punhado de sábios professores, que vivem dando lições aos operários e às operárias, converteram uma operação fraudulenta que está em curso com o apoio e cobertura da esquerda e centro-esquerda em uma perspectiva "classista". Estes sábios de gabinetes confundem propositadamente doutrina com princípios. Truque de uma pequena-burguesia escolástica e parlamentar que não sofre as consequências sociais das mais nefastas desse regime político que é a própria fraude dos interesses das massas pauperizadas e exploradas. 

É preciso organizar a luta dos trabalhadores de maneira independente da burguesia e seu regime político com os métodos classistas que lhe são próprios e não podemos aceitar o adiamento dessa luta para daqui a dois anos nas urnas. Votamos criticamente no PSTU no 1º turno e nossa posição nesse 2º turno é pela defesa da independência de classe dos trabalhadores frente a todas as alternativas burguesas e pró-imperialistas, seja de direita, ou da centro-esquerda, expressa nas candidaturas do PSOL, PT, PDT e PC do B, na perspectiva da luta por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.

" (...) Dá-se com a doutrina de Marx, neste momento, aquilo que, muitas vezes, através da História, tem acontecido com as doutrinas dos pensadores revolucionários e dos dirigentes do movimento libertador das classes oprimidas. Os grandes revolucionários foram sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do ódio mais feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difamação por parte das classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim dizer, cercar o seu nome de uma auréola de glória, para 'consolo' das classes oprimidas e para o seu ludíbrio, enquanto se castra a substância do seu ensinamento revolucionário, embotando-lhe o gume, aviltando-o. A burguesia e os oportunistas do movimento operário se unem presentemente para infligir ao marxismo um tal 'tratamento'. Esquece-se, esbate-se, desvirtua-se o lado revolucionário, a essência revolucionária da doutrina, a sua alma revolucionária. Exalta-se e coloca-se em primeiro plano o que é ou parece aceitável para a burguesia.(...)Essa observação critica do parlamentarismo, feita em 1871, deve à hegemonia do social-patriotismo e do oportunismo a sua inclusão entre as 'páginas esquecidas' do marxismo. Ministros e parlamentares de profissão, renegados do proletariado e socialistas 'de negócios' contemporâneos deixaram aos anarquistas o monopólio da crítica do parlamentarismo e classificaram de 'anarquista' toda crítica do parlamentarismo! (...)  O meio de sair do parlamentarismo não é, certamente, anular as instituições representativas e a elegibilidade, mas sim transformar esses moinhos de palavras que são as assembleias representativas em assembleias capazes de 'trabalhar' verdadeiramente. A Comuna devia ser uma assembleia, 'não parlamentar, mas trabalhadora', ao mesmo tempo legislativa e executiva. Uma assembleia 'não parlamentar, mas trabalhadora', escutem bem, seus 'totós' parlamentares da social-democracia moderna! Reparem em qualquer país de parlamentarismo, desde a América à Suíça, desde a França à Noruega, etc.: a verdadeira tarefa 'governamental' é feita por detrás dos bastidores, e são os ministérios, as secretarias, os estados-maiores que a fazem. Nos parlamentos, só se faz tagarelar, com o único intuito de enganar a 'plebe'. " (Lênin, O Estado e a Revolução, 1917)