quarta-feira, 25 de novembro de 2020

DECLARAÇÃO POLÍTICA DO AGRUPAMENTO TRIBUNA CLASSISTA FRENTE AO ASSASSINATO DE JOÃO ALBERTO, NEGRO E OPERÁRIO APOSENTADO

João Alberto, negro assassinado em Porto Alegre

                                             George Floyd, negro assassinado nos EUA


Elton Brum, sem-terra negro assassinado em São Gabriel, RS 

      Vera Lúcia, negra ameaçada de assassinato em Joinville, SC

"Não há capitalismo sem racismo" Malcom X, 1964

A MAIOR POPULAÇÃO NEGRA DO MUNDO DEPOIS DA NIGÉRIA NÃO PODE PERMITIR QUE MAIS ESTA BARBÁRIE DO CAPITALISMO FIQUE IMPUNE

 TODAS AS TARAS DO ESTADO BURGUÊS ESTÃO SENDO DESTILADAS CONTRA O NEGRO, A MULHER, O LGBT, O ÍNDIO E A JUVENTUDE

 POR UMA AMPLA MOBILIZAÇÃO DE TODA A CLASSE TRABALHADORA PRA VARRER COM TODA A FORMA DE OPRESSÃO E VIOLÊNCIA CONTRA O NEGRO, A MULHER, O LGBT, O ÍNDIO E A JUVENTUDE

O ESTADO CAPITALISTA, O MONOPÓLIO IMPERIALISTA CARREFOUR E A EMPRESA DE SEGURANÇA VECTOR SÃO OS RESPONSÁVEIS PELO ASSASSINATO BRUTAL E COVARDE DE JOÃO ALBERTO, O GEORGE FLOYD BRASILEIRO

POR UMA COMISSÃO INDEPENDENTE DAS ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO NEGRO NO PAÍS PARA INVESTIGAR E APURAR OS RESPONSÁVEIS


Às vésperas do Dia da Consciência Negra, o 20 de novembro, que foi escolhido por ser o dia da morte de Zumbi dos Palmares, para João Alberto Silveira Freitas de 40 anos de idade e sua esposa, Milena Borges Alves, de 43 anos, que são pais de quatro filhos, moradores da Vila do IAPI aonde nasceu Elis Regina, bairro operário, de trabalhadores (as) e aposentados (as) era tão somente mais um dia de compras no supermercado Carrefour, vizinho ao Passo D'Areia, do histórico Estádio do Zequinha, o E.C. São José, clube o qual João Alberto era torcedor, na zona norte de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul.

Beto, como era conhecido, e sua mulher não tinham a mínima ideia que de dentro de um supermercado, monopólio imperialista, emergeria das trevas uma espécie de Freikorps tupiniquim, o germe do nazismo alemão, na forma de dois seguranças brancos terceirizados bem preparados, Giovane Gaspar da Silva, policial militar temporário e Magno Braz Borges, e uma agente de fiscalização, Adriana Alves Dutra. Os três assassinos estão em prisão preventiva.

Dois assassinos covardes e uma cúmplice fiscal, sob a proteção de mais oito seguranças, promoveram uma das cenas mais animalescas registradas numa câmera de celular, em um estacionamento de supermercado, nos dias de hoje, seres exemplares desse maravilhoso processo civilizatório. Enquanto os oito seguranças bloqueavam as pessoas que tentavam se aproximar para impedir as agressões, a fiscal monitorava os dois assassinos desferirem cerca de doze socos de UFC todos na cabeça de Beto, para logo depois o imobilizarem e o matarem asfixiado. Um crime premeditado, porque um dos assassinos gritava que havia avisado Beto. 

Paulo Paquetá, vizinho de Beto, declarou que as agressões duraram sete minutos e a imobilização foi feita com o joelho no pescoço como foi com George Floyd. Milena foi empurrada e agredida pelos seguranças ao tentar intervir. Beto morreu gritando: "Milena, me ajuda".

Motoboys tiveram seus celulares arrancados pelos seguranças, que lhe impediram de registrar o assassinato. Seguranças já famigerados no bairro, por usarem da truculência como método tradicional e sistemático, o que não evitou que o CEO global do Carrefour, um francês de nome Alexandre Bompard, destilasse todo o seu cinismo colonialista sem par, declarando que a empresa não compactuava com racismo e violência, sugerindo ao Carrefour Brasil, que faça revisão completa "do treinamento dos colaboradores e de terceiros sobre segurança, respeito à diversidade e valores de respeito e repúdio à intolerância". (Jornal O Estadão, 21/11/2020)

O Grupo Vector, que tem um PM e um Policial civil como sócios, declarou cinicamente "não tolerar violência" e "faz treinamento que zela pelo respeito à diversidade". O gangsterismo norte-americano fez escola no país nestas empresas de segurança privadas. A Universidade Zumbi dos Palmares propôs "domesticar" esses cães de guerra. O Comando da BM, briosa, como a chamam seus puxa-sacos, comunicou que um dos assassinos, o policial militar temporário será retirado da corporação, como se isso fosse suficiente para livrar a cara de uma instituição carcomida pelo seu histórico de assassinatos de negros e pobres no Estado gaúcho.

O pai de Beto, sr. João Batista Rodrigues Freitas de 65 anos de idade, ao pedir justiça para o filho morto, declarou "Eu não sei o que leva a pessoa a agir desta forma. Para mim, este crime teve um grau de racismo. Não é possível uma pessoa ter tanta fúria de outra pessoa."

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, do PRTB, outra sigla de aluguel, afirmou que não existe racismo no Brasil, e o presidente Jair Bolsonaro, sem partido, disse ser daltônico, em relação ao assassinato, num país em que 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas, segundo o Atlas da Violência 2020. Na escalada da violência racista contra os negros pobres da periferia, essas declarações que partem do Palácio do Planalto são uma confissão de um regime político que não tem pudor, e tende a utilizar cada vez mais da violência e opressão dos explorados com requintes de crueldade, porque só sobreviverá através do canibalismo social.

O governador do Estado do RS, Eduardo Leite, e o prefeito da capital, Nelson Marchezan Jr. fizeram pronunciamentos dando continuidade ao festival do cinismo branco colonialista e burguês.

O movimento "Blacks lives matter" norte-americano propôs um Boicote internacional ao Carrefour, a ONU emitiu uma declaração como se através de um decreto pudesse ser resolvido uma questão de escravidão indissoluvelmente ligada à luta de classes; enfim, a repercussão tem um alcance mundial, assim como o assassinato de George Floyd, e o medo de uma reação violenta das massas percorre o mundo inteiro, e a burguesia e o imperialismo caminham para acionar bombeiros por todos os lados, começando a se desfazer de incendiários do tipo de Trump, nos EUA  e Bolsonaro, no Brasil. Pra violentar as massas do que vem por aí, precisa de gente com fala mansa, dissimulada. É hora de trocar a camisa do fascismo pela pose democrata.

No curso daquela semana, escolhida como a  Semana da Consciência Negra já haviam acontecido dois "episódios" que tiveram repercussão nacional envolvendo racismo, a saber: o candidato a prefeito de Porto Alegre, Valter Nagelstein do PSD, uma das tantas siglas de aluguel existentes no sistema eleitoral, atacou a bancada negra eleita para a Câmara de Vereadores como desqualificada, e em Joinville, Estado de Santa Catarina, Ana Lúcia Martins do PT, professora aposentada, primeira vereadora negra eleita na cidade, está sofrendo ameaças de morte reiteradamente, mesmo após a polícia ter identificado o primeiro suspeito.

Assinalamos que estas duas manifestações racistas, uma envolvendo ameaça de assassinato, não eram episódios isolados, mas constituíam-se como uma expressão política e social dos interesses de classe da burguesia contra os trabalhadores, de todo um regime político que está assentado nas sequelas da violência estatal e paraestatal dos tempos do escravagismo colonial, com seus capitães do mato dos dias de hoje, convertidos em polícias militares e civis, milicianos, exércitos de jagunços armados até os dentes dos latifundiários, seguranças privados, etc. 

Uma atualização macabra dos assassinatos de Amarildo, Marielle e centenas de tantos outros. No RS, há mais de 10 anos, o sem-terra negro, Elton Brum, foi covardemente assassinado por um policial armado com um tiro de espingarda, calibre 12, pelas costas, na brutal desocupação da Fazenda Southall, um latifúndio improdutivo que equivalia em extensão de terras a vários municípios, em São Gabriel. 

A violência contra o negro está encravada num tecido social que foi forjada no seu germe. O tráfico dos navios negreiros e a escravidão da força de trabalho do negro foram uma fusão de violência e superexploração sem par na história. O estado capitalista que foi se forjando desde o período colonial, passando pelo império até chegar à república burguesa, se ergueu sobre o modo de produção capitalista, à fórceps, sendo sinônimo de violência contra os índios, negros, etc. 

Senão como foi que num determinado estágio de desenvolvimento da humanidade, alguns vendo no excedente de produção por conta do desenvolvimento das forças produtivas, uma oportunidade histórica de se apropriar desse excedente como propriedade privada, necessitavam da violência de um grupo armado, do estado, para a passagem daquele primeiro momento histórico de propriedade privada do excedente para propriedade privada dos próprios meios de produção.

As declarações dos representantes do regime político burguês de um sistema capitalista em completa putrefação, da direita que utiliza do método sistemático de tentar fazer passar que as vítimas são os culpados, ou que foi tão somente um ato de despreparo dos verdugos, aplicação de um excesso de força, ou de força desproporcional, e que fez eco inclusive em setores que se reivindicam de esquerda e democráticos, quando que essa monstruosidade é modus operandi, o método sistemático, longe de ser uma anormalidade,  senão o funcionamento normal de todo o regime político contra as massas trabalhadoras, contra os negros, contra as mulheres, contra os lgbts, contra os índios, contra os camponeses pobres, contra os moradores de rua, enfim, contra a revolta popular que já está em curso.

O assassinato de João Alberto, negro, operário converteu-se na negação de toda essa podridão que estamos vivendo sob o jugo do capitalismo e na faísca que ascendeu um rastilho de pólvora com mobilizações que não param de crescer pedindo justiça, afirmando que "as vidas negras importam" (embora no Estado considerado o mais racista da federação, onde o que menos importa é a vida da maioria negra, expulsa para os morros e bairros da periferia), que passou a dominar os espaços, desde a Avenida Paulista até os estádios de futebol, com manifestações que atingem massivamente a consciência de todos os explorados e oprimidos pelo regime político e social e vão cada vez mais ganhando as ruas, em todas as regiões do país.

- O estado capitalista é o principal responsável por mais este crime contra o negro, num país em que morre a cada 23 minutos um jovem negro da periferia pelas balas assassinas das milícias paramilitares e das polícias, polícias essas que o jornalista Caco Barcellos apelidou de "pena de morte ambulante".

- Os monopólios capitalistas devem ser expropriados e no caso do Carrefour nacionalizado sob controle dos trabalhadores;

- Dissolução e desmantelamento de todo o aparato repressivo do estado burguês, das milícias urbanas e rurais bolsonaristas e dos grupos paramilitares estatais e privados;

Os últimos acontecimentos mostram que além desses pontos, está colocado na ordem do dia um programa de autodefesa dos trabalhadores da cidade e do campo, pontos esses indissoluvelmente ligados a um programa de transição de defesa da luta por um governo próprio dos trabalhadores da cidade e do campo, aqui, no Chile, na Guatemala, em todo o continente latino-americano. 

Pela Unidade Socialista dos trabalhadores da América Latina