terça-feira, 28 de abril de 2015

POR UM 1º DE MAIO DE MASSAS, CLASSISTA E DE LUTA PARA DERROTAR A TERCEIRIZAÇÃO!!

                                                                           


A classe trabalhadora brasileira vive hoje um dos períodos mais críticos de sua história. Vivenciamos uma das piores crises (política e econômica) dos últimos 50 anos. A crise econômica mundial, que abala as estruturas do capitalismo, afetando diretamente o Brasil e a América Latina no último período, e o processo de esgotamento da frente popular (frente de colaboração de classes que o PT encabeça, de forma estratégica, em aliança com outros setores da burguesia e do grande capital), evidenciado, entre outros fatores, pela enorme fragilidade do governo Dilma, são as coordenadas ou as determinantes principais que devem ser levadas em conta ao se analisar o complexo panorama conjuntural que vivemos no atual período.


Os movimentos sociais iniciados pela juventude em 2013 não foram esmagados, mas na falta de um programa que desse a esse movimento uma perspectiva de luta, perderam a sua intensidade, as lutas e greves, iniciadas pelas diversas categorias de trabalhadores no mesmo período, tiveram vitórias parciais, mas não conseguiram, ainda, se constituir em um movimento (e em um programa) de conjunto de toda a classe, para fazer frente à direita e ao grande capital. 

Os setores da classe média que saíram às ruas recentemente, conduzidos por setores da direita reacionária, também não conseguiram, até o momento, unificar o seu discurso e sua atividade, e nem ganhar a simpatia das massas populares, longe disso, como demonstra a tentativa de aprovação da PL 4330, PL da terceirização, na Câmara dos Deputados (amplamente apoiado pelos deputados que estão no centro e na direita do espectro político) e que agora encontra-se (momentaneamente) sendo analisado no Senado (frente a imensa impopularidade deste projeto diante das massas), esse movimento de direita é utilizado como um meio de pressão e chantagem contra o frágil e debilitado governo do PT, como um meio de deslocá-lo ainda mais à direita, em meio à contundente crise política em curso.

Os ministros do governo Dilma são a expressão profunda da política de fortalecimento do grande capital e da direita dentro de seu governo: Eliseu Padilha (ex ministro de FHC), Alexandre Tombini (ex FMI), Joaquim Levy (ex FMI e do governo FHC), Kátia Abreu (pró latifundiários), Gilberto Kassab (ex malufista), Afif Domingos (ex filhote da ditadura), etc, etc, etc. O esgotamento desse governo diante das massas (que leva adiante uma política de ajuste contra  a classe trabalhadora) e a tentativa de diversos setores do grande capital por substituir esse governo, prenuncia o inicio de uma grande crise do regime político. Os trabalhadores nada tem a ganhar defendendo nem o Governo Dilma e nem defendendo a oposição burguesa, os dois setores expressam interesses do grande capital nacional e internacional, portanto são opressores e não aliados dos trabalhadores. Os trabalhadores e a esquerda devem fugir das teorias do "golpe eminente" ou do "mal menor". A direita já estabeleceu-se no poder, o atual debate e a concomitante crise política é produto, em última análise, das contradições entre as frações da burguesia, e para se saber qual setor ficará com a fatia mais expressiva e mais substancial do Estado burguês. 

O governo Dilma é a expressão de uma aliança do PT com os setores mais reacionários da burguesia, do grande capital, e até mesmo das oligarquias rurais. O PT e o governo Dilma, que tanto critica a direita, oculta que se mantém no poder graças a uma aliança com uma direita endógena ao seu governo, que sustentou esse governo do PT enquanto esse lhe foi funcional aos seus fins imediatos que ambicionava, e conforme esses setores da burguesia começam a se chocar (por interesses próprios) com o PT, trocam paulatinamente de aliança política, assim como se troca de camisa quando essa fica suja, apertada ou desgastada. 

Os setores que estão na oposição burguesa (capitaneadas pelo PSDB, mas que abrangem outros partidos, entre eles setores do próprio PMDB, principal aliado nacional do PT), divergem sobre a viabilidade ou não do impeachment, afinal de contas, a derrubada de um governo coloca em questão um novo governo, e os setores desta direita exógena ao governo, que se acostumaram durante mais de uma década em atirar pedras no frágil telhado de vidro dos governos do PT, teriam que eles mesmos constituírem o seu próprio governo, e com isso teriam que se acostumar com a ideia de que eles seriam agora o novo telhado, um telhado ainda mais frágil que o do PT e sua esquálida aliança com a burguesia. As divergências entre os setores em pugna da burguesia estão focados exatamente sobre a viabilidade ou não da constituição de um novo governo em meio a uma tamanha crise em curso. O fracasso de um novo governo oriundo de um impeachment, pode desatar uma crise ainda maior e imprevisível, e a possibilidade de um governo de "União Nacional" poderia ampliar, ainda mais, o tamanho da crise, diante da impopularidade da grande maioria dos políticos e partidos burgueses e das medidas que, consequentemente, seriam adotadas. 

O impasse diante da aprovação da PL 4330 mostra que mesmo esse setor da direita tem dificuldades e divergências para agir de forma coesa e que formariam um governo instável da grande burguesia, diante do acirramento da luta de classes e do potencial choque com as massas. Esse é um dos pontos de divergência entre os setores de oposição burguesa: continuar a ir desgastando o governo do PT ou constituir um novo governo e correr o risco de assumir um governo instável em uma situação de profunda crise política e econômica.

A CUT, até o momento, está colocando suas fichas contra a terceirização no Senado, tentando a todo custo deixar a luta dos trabalhadores contida, como sinal de confiança para a burguesia e o grande capital. Uma política de colaboração de classes (ou de frente popular) que coloca o futuro dos trabalhadores de bandeja nas mãos de uma das instituições mais reacionárias do Estado burguês, mostra o que a política e a estratégia de frente popular e colaboração de classes é para os trabalhadores: uma estratégia de derrotas e de imobilismo diante da burguesia e de sua política de arrocho e ajuste voltada exclusivamente para as massas e classe trabalhadora. 

A esquerda classista precisa, mais do que nunca, se organizar, manter sua independência política e se preparar para as crises futuras, que desenvolvem-se a passos largos. A independência das organizações dos trabalhadores diante das diversas frações da burguesia em pugna, são o primeiro passo para o seu desenvolvimento ulterior. A organização dos trabalhadores, a partir desse 1º de maio, num movimento massivo e multitudinário de luta contra a terceirização, é o primeiro passo, e a única garantia, de que os trabalhadores conseguirão barrar a PL 4330. Vamos à luta!


*QUE OS CAPITALISTAS PAGUEM PELA SUA CRISE, ABAIXO O AJUSTE DE DILMA E LEVY SOBRE AS COSTAS DOS TRABALHADORES!
*PELO FIM DO TRABALHO TERCEIRIZADO EM TODO PAÍS!
*EFETIVAÇÃO DOS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS NAS EMPRESAS CONTRATANTES!
*POR UM GOVERNO DOS TRABALHADORES E O SOCIALISMO!

https://www.facebook.com/groups/TRIBUNACLASSISSTA/

TRIBUNA CLASSISTA


DAS JORNADAS DE LUTA DO DIA 15/04 A UM 1º MAIO CLASSISTA E INTERNACIONALISTA PARA DERROTAR O AJUSTAÇO DE DILMA/PMDB/LEVY

                                                                    


Convocado pela CUT, CSP/CONLUTAS e outros setores, no dia 15/04 desenvolveu-se um Dia Nacional de Lutas contra o famigerado e repudiado PL 4330 da terceirização dos prestadores de serviços e mão de obra  promovendo um retrocesso sem precedentes nas relações de trabalho. Na semana anterior, a aprovação dessa proposta infame na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal ocorreu no marco de uma enorme repressão policial contra os manifestantes diante das portas do Congresso Nacional.

Ocorreram protestos, paralisações e piquetes em 21 estados da federação, e entre os setores mobilizados se destacaram os atos e manifestações dos operários metalúrgicos de São Bernardo do Campo e de Curitiba, professores, metroviários, rodoviários, etc. Todos estes setores protagonizaram importantes lutas. Se as jornadas não lograram maior  contundência, deve-se ao papel da CUT, um braço da coalizão burguesa e pró-imperialista, que resiste a convocar uma greve geral devido a seus compromissos com o governo.

O projeto que tem o apoio escancarado da Força Sindical, uma verdadeira máfia de gângsteres sindicais, e por toda a oposição burguesa, regulamenta a precarização trabalhista, estende a terceirização para todas as atividades, sem distinção de atividade-meio e atividade-fim (na verdade, o bode na sala, em última instância) e acaba com a responsabilidade solidária da empresa principal, além da chamada pejotização (a possibilidade de criação de CNPJ's em massa) dos trabalhadores, para que as empresas sejam desoneradas das obrigações sociais (previdenciárias e trabalhistas). Além disso, aprofunda a divisão dos trabalhadores e é um mecanismo brutal de rebaixamento da massa salarial no país.

Mesmo que Lula tenha se manifestado contra o projeto e recomendado seu veto à presidente Dilma, isto não exime o PT de sua responsabilidade no ataque mais geral contra os trabalhadores no que este nefasto projeto se insere, a saber: milhares de suspensões, demissões, e cortes no seguro-desemprego, pensões, PIS e nos setores essenciais como educação e saúde.

No dia 22/04, o plenário da Câmara dos Deputados votou por 230 votos a favor e 203 contra, uma chamada emenda aglutinativa, que alterou alguns pontos do projeto, mas manteve no texto-base a terceirização na atividade-fim.

 A crise entre os setores que fazem parte do governo instalou-se no Congresso Nacional, na medida em que o Senado, na figura do seu presidente, Renan Calheiros, escancarou uma fissura dentro do PMDB, principal partido da coalizão governamental, advertindo seus pares, em especial o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, de que o projeto amplamente repudiado pela população trabalhadora passará por um longo périplo institucional até transformar-se efetivamente em lei.

A Greve Geral é o único caminho para quebrar e abortar este projeto criminoso do ponto de vista das condições de vida da classe trabalhadora. Por isso, é preciso unificar as lutas em curso e produzir um gigantesco pronunciamento do proletariado contra o ajustaço do governo Dilma/PMDB/Levy.


Por um Plano de Lutas que contemple as necessidades mais prementes dos trabalhadores da cidade e do campo. 


https://www.facebook.com/groups/TRIBUNACLASSISSTA/

TRIBUNA CLASSISTA

terça-feira, 14 de abril de 2015

DIA 15 DE ABRIL: PARALISAÇÃO NACIONAL CONTRA A PL DAS TERCEIRIZAÇÕES!



                                                                         


                   POR UM PLANO DE LUTAS QUE ORGANIZE E MOBILIZE 
                      OS TRABALHADORES PELAS SUAS NECESSIDADES 
                           MAIS PREMENTES RUMO À GREVE GERAL

No último dia 8 de abril, o Congresso Nacional aprovou o texto do Projeto de Lei 4330, chamado vulgarmente de PL das Terceirizações. A aprovação dessa lei pode significar uns dos maiores retrocessos nos direitos dos trabalhadores brasileiros. Com a terceirização teremos, em quase todas as atividades econômicas, salários menores, maior jornada de trabalho e um efeito cascata em toda a cadeia produtiva, ocasionando até mesmo o aumento do desemprego (devido à substituição de ramos inteiros de uma empresa por outros com menor número de trabalhadores para realizar a mesma quantidade de trabalho), por conta da superexploração dos trabalhadores pelas empresas prestadoras de serviços e de mão de obra que terceirizam, as quais obtém seu lucro através da precarização, o aumento da intensidade de trabalho, da própria jornada de trabalho e, é claro, do arrocho salarial (contratando para uma mesma função, trabalhadores com salários menores), e que toda a crise econômica atual recaia inteiramente sobre os ombros e as costas da classe trabalhadora e possibilitarão a obtenção de superlucros para vários setores do grande capital (nacionais e estrangeiros) afetados pela crise econômica mundial.

No dia 9 de abril foi realizada uma reunião em Brasília com a participação da CUT, da CSP/Conlutas, CTB, NCST e da Intersindical/CCT, nessa reunião foi aprovada a proposta de realização de um Dia Nacional de Paralisação marcado para o dia 15 de abril. Consideramos que, apesar de suas limitações, a proposta de um Dia Nacional de Lutas é o primeiro passo para organizar uma grande Greve Geral que tenha a organização, intensidade e disposição de luta dos trabalhadores, necessários para a derrubada da PL 4330 e todas as suas consequências funestas para a classe operária.

Os partidos alinhados com a centro-direita (PSDB, PMDB, DEM, etc.) foram os principais responsáveis pela aprovação da PL 4330. Devemos salientar que o PMDB é o principal aliado do PT nacionalmente e do governo Dilma em particular (contando com vários ministérios e com seu vice: Michel Temer, agora responsável pela articulação política). O governo Dilma já negocia sua aprovação (através de seu ministro Joaquim Levy) e mesmo seu veto pode ser derrubado pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (ex aliado de Collor e de Garotinho, deputado da bancada evangélica do PMDB e um dos deputados mais reacionários do Congresso). O papel tímido e retraído de grande parte dos partidos da, assim chamada, esquerda governista no Congresso (principalmente o PT e o PCdoB), que apesar de terem votado contra a PL 4330 não têm interesse político de mobilizar a população contra a terceirização, demonstra que o governo já negocia claramente a possível aprovação do PL (até o momento não temos um pronunciamento oficial do Governo Dilma sobre a PL 4330, se vetaria ou não um projeto que coloca aos trabalhadores em um dos maiores retrocessos da história de nossa república) e que os deputados do PT esperam explorar eleitoralmente com a possível aprovação dessa lei, com a chantagem contra os setores que votaram a favor da PL 4330. Em vez de procurar organizar uma luta política, o PT e o PCdoB procuram tirar vantagem eleitoral de uma das maiores derrotas da história dos trabalhadores brasileiros (caso seja promulgada essa lei).

A burocracia sindical dividiu-se em dois blocos definidos: um setor que apoia clara e abertamente o PL das terceirizações (com a Força Sindical do deputado Paulinho do Solidariedade à frente). E outro setor que faz uma manobra para apoiá-la de forma velada. Esse é o caso da CUT, que sendo a principal central sindical da América Latina, com mais de 3000 sindicatos afiliados, quase 8 milhões de trabalhadores associados e mais de 20 milhões de trabalhadores na base, poderia estar utilizando todo o seu peso (e sua máquina!) para mobilizar e organizar uma grande quantidade de trabalhadores na paralisação de dia 15 próximo. Mas não é este o quadro que estamos vendo até o momento. Toda essa pompa é utilizada contra os setores classistas que estão rompendo com burocracia oficialista da CUT para a defesa da “unidade”! Eis a questão: por que todo esse poderoso aparato não é utilizado com todas as suas forças contra a retirada de direitos fundamentais dos trabalhadores? A burocratização da CUT é tão grande que não quer ou não pode mobilizar os trabalhadores, sem o perigo de que sua base saia do seu próprio controle.

Consideramos de máxima importância a construção de uma frente de luta para a derrubada do PL 4330 e suas consequências. Consideramos também importante a reflexão e discussão de um balanço crítico por parte dos trabalhadores de qual política nos levou a tal situação. A crítica do papel do governo Dilma e do PT, com sua política de colaboração de classes com a burguesia e o grande capital, que levou o governo tão à direita até ficar totalmente refém de seus próprios "aliados", este é o primeiro passo para que se possa dar consequência a uma política que vise elevar a consciência política dos trabalhadores do ponto de vista da luta de classes. O papel de uma central sindical como a CUT, que tem quase a metade da população da Argentina na sua base, que organizada e mobilizada faria tremer qualquer governo, de direita ou esquerda, que ameaçasse mexer nos direitos dos trabalhadores, é outra parte dessa crítica, e pelo que podemos sentir até o momento (e torcemos para que estejamos totalmente errados), a burocracia sindical ligada à CUT pouco fará para reverter o PL 4330 no plano da luta e da mobilização dos trabalhadores. Tentará alguma manobra parlamentar, no Senado ou no STF, para não arriscar mobilizar sua base, por temer as consequências políticas de organizar os trabalhadores para uma luta e não conseguir contê-los nas lutas seguintes, que tendem a se chocar contra o conjunto do regime político, o qual a governista direção da CUT optou para acomodar seus mesquinhos interesses de casta social.

Que o próximo dia 15 de abril transforme-se em um grande Dia Nacional de Paralisação, e que a luta iniciada no dia 15 consiga desenvolver um grande processo de ascenso nas lutas, que reverta o PL 4330 e que abra a perspectiva de uma Greve Geral contra terceirização e contra as medidas de ajuste econômico anunciados pelo governo Dilma e seu ministro do ajuste: Joaquim Levy.





TRIBUNA CLASSISTA


segunda-feira, 13 de abril de 2015

A CLASSE OPERÁRIA ENFRENTA O AJUSTE









A nova onda de lutas no país tem como protagonistas o magistério estadual . À vitoriosa greve de mais de um mês de duração dos professores do Paraná, que frearam o pacote de ajustes do governador Beto Richa (PSDB), se somam agora as greves e protestos dos docentes dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, os docentes superaram um mês de greve reivindicando uma recomposição salarial e outras medidas como água nas escolas e um limite de 25 alunos por sala de aula. No dia 27 de março, mais de 60 mil professores marcharam pelas ruas da capital paulista. No Rio Grande do Sul, uma assembleia de 2.700 professores votou por importante margem a desfiliação do CPERS da oficialista CUT, assim como um chamado a um ato classista, independente e internacionalista para o próximo 1° de maio. A categoria é vítima de jornadas extenuantes de trabalho e da instabilidade no emprego que tem implicado em milhares de demissões de professores contratados. Os garis do Rio de Janeiro, no final de sete dias de greve, conquistaram uma recomposição salarial de 8%, derrotando a intimidação do governo municipal e o apelo dos pelegos sindicais. Os trabalhadores do correio desenvolveram uma greve de 48 horas contra a privatização, apesar da intimidação da Justiça e da cumplicidade da burocracia. O movimento operário é um obstáculo ao ajuste de Dilma e da oposição patronal, como foi demonstrada na antecipada resistência contra as demissões na Volkswagen, na General Motors de São José dos Campos, e no Polo Naval de Rio Grande, assim como contra os salários atrasados no complexo petroquímico de Rio de Janeiro. Está se gestando uma luta de alcance nacional contra a ofensiva reacionária da Câmara de Deputados de avançar na regulamentação da terceirização trabalhista, agora na atividade-fim.

                                                         

Lula tenta recuperar sua capacidade de contenção das massas em momentos em que a popularidade de Dilma caiu a 12%. No congresso de junho, o PT discutirá uma reformulação organizativa que irá procurar imitar o modelo da Frente Ampla uruguaia. Em uma demagógica autocrítica, o ex-presidente sustentou que o PT tem sido refém do "presidencialismo de coalizão" e que deve "voltar às ruas". Até insinuou críticas a Dilma, ao dizer que com o novo mandato produziu-se uma "inflexão conservadora (...) contraditória com o programa eleito" (O Estado de São Paulo, 1°/4). O certo é que Lula é partidário de maiores concessões ao PMDB para recuperar o apoio da base aliada, e que deu respaldo declarado ao ajuste. O governo perdeu o controle do Congresso: desde que Eduardo Cunha (PMDB) assumiu a presidência da Câmara de Deputados, a base de deputados que votam com o governo caiu de 346 deputados formais (sobre 513) a uma média de 246 (Folha, 29/3), figurando entre os principais desertores legisladores do PMDB. Mas Dilma também recebe objeções de seu núcleo mais próximo, posto que setores do PT e do PC do B resistem a alguns dos cortes propostos.

O repúdio popular ao plano de ajuste explica as dificuldades que este tem para ser aprovado. Boa parte do pacote do ministro da Economia, o neoliberal Joaquim Levy, encontra-se parado no Congresso, que não quer incinerar-se com ele e procura suavizá-lo. Ou, ao menos, encontrar uma boa recompensa em troca. No campo de negociações figuram a renegociação das dívidas estaduais e municipais. Neste quadro de crise se destacam os atritos de Levy com Dilma. Na medida em que empaca o ajuste, aumenta o impacto do Petrolão: mesmo que Lula e Dilma tenham sido excluídos da investigação, o tesoureiro do PT não escapou.

No que avançou o governo brasileiro é no corte de subsídios e no tarifaço dos serviços, assim como numa forte desvalorização do real (que já alcança 30% em um ano), com o que espera recuperar a economia sobre a base das exportações. Estas duas bordoadas contra o povo não asseguram que a economia saia da recessão.

Abril será um novo mês de marchas e contramarchas convocadas pelo governo e pela direita, o que tende a criar uma falsa polarização entre os dois blocos que respaldam e negociam o ajuste. Enquanto agita o fantasma de um golpe, Dilma avança em uma reaproximação com os Estados Unidos. 
A classe operária necessita de um plano de ação próprio, conformando um polo classista e lutando pela greve geral para vencer o ajuste.

                                                        





TRIBUNA CLASSISTA



sábado, 4 de abril de 2015

A GREVE GERAL NA ARGENTINA E SUAS PERSPECTIVAS

                                                                 
 Foto de Ignacio Smith

David Lúcius


No último dia 31 de Março, os trabalhadores argentinos realizaram sua maior greve geral durante o período Kirchner. O sindicalismo e a burocracia ligado ao governo sofreu um duro golpe. Os principais setores de transporte pararam de forma massiva: os trabalhadores ferroviários, metroviários e rodoviários. A cidade de Buenos Aires ficou completamente paralisada. O impacto da greve sobre o governo foi forte. Em outras cidades com forte desenvolvimento industrial, como Córdoba, tiveram ou uma grande paralisação. O ativismo classista teve um grande protagonismo, com destaque especial para os setores e partidos agrupados em torno da FIT, Frente de Esquerda e dos Trabalhadores.

Setores como os professores, metalúrgicos, bancários, alimentação e eletricitários, telefônicos, caminhoneiros, entre outros, tiveram uma forte participação na greve geral. Muitas fábricas e empresas aderiram após assembleias de trabalhadores massivas, demonstrando a grande disposição de luta da classe operária e a polarização social que se desenvolve no curso de uma crise econômica e política. Os trabalhadores argentinos demonstram uma grande capacidade de organização e combatividade. A greve geral obrigou os políticos burgueses, os candidatos a presidente ligados a direita, e o próprio governo a calarem a boca, diante de sua força e contundência.

Nesse aspecto, são vários os paralelos e analogias que se pode traçar entre a crise brasileira e a argentina, mas a principal diferença, é a de que no caso argentino, a classe trabalhadora está voltando a ter um grande protagonismo social, político e organizativo. Além da grande greve geral é importante salientar o papel de destaque que a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), impulsionada pelo PO, está tendo tanto na luta de classes, como na luta política e mesmo na luta eleitoral. Nesse ano ocorrerão eleições na Argentina e as primeiras projeções abrem uma grande perspectiva para a FIT e para o Partido Obrero.

O PO e a FIT foram o único bloco político que sustentou e apoiou ativamente a greve geral. Agora a luta será por formar um polo próprio dos trabalhadores, organizar assembleias nos locais de trabalho para organizar e impulsionar uma greve de 36 horas com um grande ato final, político e classista, na Praça de Maio.

Para mais informações sobre a situação política na argentina, os leitores de nosso blog podem ler diretamente no site do Partido Obrero: http://www.po.org.ar/ Além dos artigos e vídeos disponibilizados, o PO publica, toda quinta-feira, o seu jornal periódico: Prensa Obrera, que pode ser acessado na integra em formato digital ou PDF, no próprio site acima citado.



segunda-feira, 30 de março de 2015

NÃO ÀS DEMISSÕES! PELA IMEDIATA REINTEGRAÇÃO E EFETIVAÇÃO DOS PROFESSORES CONTRATADOS




A “esquerda” triunfou nas eleições no Brasil e no Uruguai para realizar e aplicar o programa da direita.
O governo Dilma representa os interesses da burguesia e do grande capital nacional e internacional. Os grandes bancos promovem a política de ajuste para garantir seus grandes lucros através do pagamento dos títulos da dívida pública (do qual são os grandes possuidores) e do aumento da taxa de juros (que, entre outras coisas, aumenta diretamente o montante da dívida interna). A grande quantidade de escândalos que se desenvolvem, apenas demonstram que a burguesia foi a grande financiadora desse governo, assim como, dos governos que a precederam. Os governos estaduais representam a mesma disputa política por “negócios” escusos com a grande burguesia e seus acólitos. O regime político está em uma crise política profunda que atinge principalmente o executivo, ou seja o governo Dilma, mas o legislativo e o judiciário também são afetados diretamente pela rejeição popular e pelos escândalos que contaminam, como uma epidemia, todos os partidos burgueses que dão sustentação ao regime e ainda os que representam supostamente uma "oposição". O Congresso tenta aproveitar-se da atual crise para colocar o governo Dilma como refém do poder legislativo e de suas inúmeras camarilhas oligárquicas, burguesas e reacionárias. Toda oposição que o Congresso realiza é apenas um jogo de cena para, no final das contas, saber quanto, como e o que, o setor majoritário (que comanda o Congresso) irá ganhar. As composições fisiológicas que se desenvolvem, na Câmara e no Senado, ultrapassam qualquer romance de literatura fantástica.

A crise de regime não será amenizada por nenhuma das variantes políticas que podem desenvolver-se no futuro político imediato, ao contrário, sob todos os aspectos essa crise irá aprofunda-se e acentuar-se, não importa se com ou sem transição política. Mesmo uma tentativa de "união nacional" entre as forças da situação e da oposição não conseguiria amenizar o tamanho da crise (por esse motivo essa variante está descartada, como disse FHC em recente entrevista), e poderia, ao contrário, colocar toda a política burguesa em um só bloco, o que potencializaria a enorme rejeição das massas. A superação da crise só pode ser construída por uma alternativa classista da esquerda e dos trabalhadores.

Os ministros do governo Dilma são a expressão profunda da política de fortalecimento do grande capital da direita: Eliseu Padilha (ex ministro de FHC), Alexandre Tombini (ex FMI), Joaquim Levy (ex FMI e do governo FHC), Kátia Abreu, Gilberto Kassab, Afif Domingos, etc, etc. Diante da crise outros setores da política burguesa e da direita aproveitam-se da insatisfação popular (em especial da pequena burguesia), para tentar derrubar o governo no “grito”, os setores mais organizados da burguesia utilizam-se desse recurso apenas como “moeda de troca” e “pressão” na luta por seus interesses.

Devemos deixar claro que a base social que comanda a política dos principais partidos políticos da situação e da oposição (PT, PMDB, PSDB e seus satélites) são financiados e defendem (com suas variações e seus diversos matizes programáticos) a política da grande burguesia e do capital nacional e internacional. Acreditar na tese de que estamos diante da luta de dois pólos antagônicos entre o PT e a “direita” somente levará a que a maioria dos setores explorados (em especial a classe trabalhadora e o proletariado) sigam na função de reboque político de um dos lados da disputa.

A criação de um polo classista que se oponha contundentemente ao submetimento dos trabalhadores ao grande capital é a única perspectiva para a superação do atual impasse político que submergimos. Qualquer outra alternativa levará a um fortalecimento dos setores burgueses que dominam o nosso país através dos partidos que sustentam o regime político vigente. A crise está colocada, sua superação depende da disposição de organização e luta das massas, de sua juventude e principalmente do proletariado. Dialeticamente uma crise coloca diante das massas os elementos de sua superação, mas essa superação só será dada pela via da luta intensa, do sacrifício e do combate. Não há soluções fáceis em grandes crises políticas ou econômicas, adiar a luta só fortalecerá os setores que usufruem do poder. A luta e a organização de um polo classista é o caminho para derrotar a direita, a burguesia e seus diversos partidos. Nem burguesia, nem colaboração com a burguesia: independência (política e organizativa) de classe para lutar contra o grande capital e seus acólitos.    


PELA DESFILIAÇÃO DO CPERS DA CUT CHAPA BRANCA E FILIAÇÃO NA CSP/CONLUTAS – POR OPOSIÇÕES SINDICAIS COMBATIVAS E CLASSISTAS NOS SINDICATOS DE BASE - POR UM PLANO DE LUTAS QUE ORGANIZE E MOBILIZE A CLASSE TRABALHADORA PELAS SUAS NECESSIDADES MAIS SENTIDAS - ABAIXO AS MP’s 664 e 665 – NÃO À EXCLUSÃO DOS APOSENTADOS DO REAJUSTE DO SALÁRIO MÍNIMO – POR UM SALÁRIO MÍNIMO VITAL – NÃO AO CORTE NEOLIBERAL DE DILMA/LEVY/PMDB E DO CONGRESSO NACIONAL DE BILHÕES NOS GASTOS PÚBLICOS QUE ATINGEM BRUTALMENTE AS ÁREAS SOCIAIS: EDUCAÇÃO, SAÚDE, ETC. - NÃO ÀS PRIVATIZAÇÕES! ESTATIZAÇÃO SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES – NÃO ÀS DEMISSÕES! FRENTE ÚNICA DA ESQUERDA CLASSISTA E SOCIALISTA PARA LUTAR POR UM GOVERNO PRÓPRIO DOS TRABALHADORES

A Grécia é aqui?

Os milhares de demitidos no setor público foi uma exigência dos credores, os quais liberaram empréstimos, que submeteram a economia à tutela do Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional, também conhecida como Troika, que continua extorquindo o país mediterrâneo, agora governado pelo Syriza.

O Estado com a maior dívida pública do Brasil é o Rio Grande do Sul. A Dívida Consolidada Líquida é mais do que o dobro da Receita Consolidada Líquida. Esse endividamento se deu principalmente para o financiamento de setores do grande capital industrial e agrário, ou seja, por uma política que privilegiou os grandes negócios capitalistas.

Não por acaso, o ano de 2014 encerrou com mais um ataque brutal do governo Tarso sobre a nossa categoria: a demissão dos professores contratados. O número de demissões de professores contratados no RS ATÉ FEVEREIRO DE 2015 CHEGOU A 4000 DEMITIDOS!!!, evidenciando o acordo entre o PT e o PMDB, “aliados” no governo Dilma, os quais apresentam como solução para resolver a profunda crise capitalista, a demissão em massa dos trabalhadores.

Os governos do PSDB em São Paulo e no Paraná, Geraldo Alckmin e Beto Richa, agindo como verdadeiros carrascos da categoria demitiram 30 mil e 29 mil, respectivamente, professores contratados. O governo do PT, de Fernando Pimentel, já anuncia que deverá demitir 78 mil !!!!!! professores contratados. Essa é a regra dos governos capitalistas de “esquerda” e de direita!
Infelizmente, existem setores que dirigem o CPERS, inclusive nos núcleos que se dizem de oposição à atual direção majoritária do PT, que jogam água no moinho da política dos governos que defendem os interesses dos banqueiros, acirrando a divisão da categoria entre os trabalhadores nomeados e contratados. A categoria deve ser defendida como um corpo único: aposentados, funcionários, nomeados e contratados. A divisão em nossa categoria só favorece ao governo atual do “gringo que faz”, assim como favoreceu os governos anteriores de Tarso R$ 2 milhões!!!! (da Camargo Corrêa), do governo de bandidos do déficit zero de Yeda “Cruzes!”, e de todos os outros que vieram anteriormente, que se sucederam no governo estadual atacando progressivamente as condições de vida dos trabalhadores de educação e aprofundando o sucateamento do ensino público.

Os contratos emergenciais, bem como a terceirização foram introduzidos no serviço público tendo como objetivo uma enorme transferência de renda para os capitalistas prestadores de serviços, a precarização das relações de trabalho, pois são estes trabalhadores que mais sofrem na própria pele o peso da superexploração capitalista, rebaixamento da massa salarial, e divisão das categorias de trabalhadores.

A precarização se dá de forma brutal nos trabalhadores de educação, que no Rio Grande do Sul, compõem 40% da categoria, na forma de aviltamento gritante dos salários, necessidade de cumprimento de jornadas de trabalhos extenuantes, condições de trabalho precaríssimas, sendo que a possibilidade de a qualquer momento serem demitidos, transforma num verdadeiro inferno a vida deste setor da categoria.

Por isso, NÃO HÁ TERGIVERSAÇÃO neste sentido! A margem de manobra das direções sindicais cada vez mais diminui, proporcionalmente à intensidade da bancarrota mundial do capitalismo. Ou essas direções se colocam intransigentemente ao lado dos trabalhadores, defendendo a efetivação em massa de todos os professores e servidores contratados, com a consequente extensão de todos os direitos trabalhistas e previdenciários para os mesmos, ou estas direções se colocam do lado dos banqueiros, das empreiteiras, dos latifundiários, etc. que são os principais favorecidos pelas demissões em massa dos trabalhadores, tarefa essa que está destinada ao atual carrasco de plantão, o “gringo que faz”. 

A ÚNICA MANEIRA DE LUTAR CONTRA A TERCEIRIZAÇÃO E CONTRA A PRECARIZAÇÃO DOS CONTRATOS EMERGENCIAIS DO PONTO DE VISTA DOS INTERESSES DOS PROFESSORES E SERVIDORES CONTRATADOS É A REINTEGRAÇÃO DOS DEMITIDOS E A EFETIVAÇÃO IMEDIATA COM A EXTENSÃO DE TODOS OS DIREITOS DOS TRABALHADORES EFETIVOS. 

Ou a TROIKA, ou os trabalhadores, não há meios termos!
Nossa categoria é um divisor de águas no estado, tanto do ponto de vista da luta histórica em defesa da educação como nos estreitos limites eleitorais, sendo o principal fator de oposição dos governantes que não cumpriram com suas promessas, como a questão do piso nacional do magistério, por exemplo, precisamos defender intransigentemente a independência política da categoria em relação aos governos e partidos patronais, na defesa da educação pública, laica e gratuita, rumo a uma nova sociedade. Precisamos seguir o exemplo dos professores estaduais do Paraná, que colocaram em xeque o governo do PSDB de Beto Richa, e dos professores de São Paulo e Roraima, que nesse momento impulsionam uma poderosa greve contra Geraldo Alckmin do PSDB, e Suely Campos do PP, respectivamente. 



- TORNAR SEM EFEITO AS DEMISSÕES E EFETIVAÇÃO DE TODOS OS PROFESSORES E SERVIDORES CONTRATADOS 
- PELA NOMEAÇÃO DOS PROFESSORES APROVADOS EM CONCURSO (RESPEITANDO A ORDEM DE APROVAÇÃO).
- CONCURSO PÚBLICO PARA FUNCIONÁRIOS DE ESCOLAS EM TODOS OS SETORES.
- CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSORES AINDA EM 2015.
- PELA NÃO PRECARIZAÇÃO DO IPE.
- ACABAR COM O VALE-FOME DE R$ 166,00, QUEREMOS AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO DE R$ 600,00.
- VALE-TRANSPORTE PARA FUNCIONÁRIOS DE ESCOLA E PROFESSORES SEM ESTORNO.
- NÃO AO PARCELAMENTO DOS SALÁRIOS DO GOVERNO DO “GRINGO QUE FAZ”, “ALIADO” DO GOVERNO DILMA/LEVY/PMDB





TRIBUNA CLASSISTA

terça-feira, 10 de março de 2015

AMÉRICA LATINA VOLTA À CENA




Osvaldo Coggiola


                                                                    



A continuidade da crise econômica mundial (crise da Europa, recuperação limitada e largamente fictícia nos EUA, estagnação crônica no Japão, desaceleração na China) penetrou definitivamente os “mercados emergentes”, incluída a América Latina e seus “carros chefe” (Brasil, México, Argentina). Aponta-se como seu fator essencial o retrocesso de seus mercados de exportação, em especial a China (o que demonstra que essas economias continuaram sendo, basicamente, plataformas de exportação de produtos primários ou semi manufaturados). Esquece-se a fuga de capitais, que foram atraídos por taxas de juros sem paralelo mundial, fazendo do continente o principal espaço de valorização fictícia do capital financeiro internacional; o baixo ou nulo nível de investimentos; o fato de que os “programas sociais” paliativos favoreceram principalmente o trabalho “em negro” ou informal (30% da força de trabalho empregada na Argentina, por exemplo), sem criar um forte e expansivo mercado interno; o crescimento espetacular do endividamento público e privado, que compromete os investimentos públicos e até os programas sociais (consumindo, por exemplo, 47% do orçamento federal brasileiro); a crise e retrocesso dos variados projetos de integração continental independente. O PIB regional cresceu 0,9% em 2014 (contra 6% em 2010) e se prevê um desempenho pífio em 2015, com crescimento zero para o Brasil, segundo seu Banco Central. Já se cogita uma nova “década perdida” para América Latina, como a experimentada na década de 1980.

Contra esse pano de fundo se projetam importantes crises políticas que afetam, em maior ou menor grau, tanto os regimes “neoliberais” (de direita) como os regimes nacionalistas ou “progressistas”, até com a perspectiva de golpes civis, ou cívico-militares, novamente posta na agenda política. Paraguai (Lugo) e Honduras (Zelaya) foram só as primeiras manifestações de uma tendência maior. O pano de fundo geral é a crise capitalista mundial, a crise histórica do modo de produção do capital. São os países mais “desenvolvidos” da América Latina os mais afetados pela crise. A “periferia emergente” do capitalismo “global” enfrenta enormes pagamentos externos, uma dívida principalmente contraída pelas empresas multinacionais, superando em alguns casos as reservas internacionais. Revela-se a miragem de supor que no ciclo econômico 2002-2008 as nações dependentes teriam se transformado em credoras no mercado mundial: com o aumento da dívida privada externa, se mantiveram sempre como devedores netos; os superávits comerciais foram a garantia financeira do endividamento privado. O capital financeiro internacional apropriou-se do excedente comercial gerado pelo aumento dos preços e dos volumes exportados. A crise mundial bateu na América Latina devido à sua fragilidade financeira e comercial e à sua fraca estrutura industrial. Os governos da América Latina afirmaram inicialmente que se salvariam da crise devido à solidez das reservas dos Bancos Centrais. Mas a queda das bolsas regionais, a saída de capitais e a desvalorização das moedas deixaram sem base esses argumentos. O Brasil, orgulhosamente proclamado “sexta economia do mundo”, é apenas o 22° no ranking dos exportadores (com 3,3% do PIB mundial, detém só 1,3% das exportações internacionais). A produtividade total dos fatores econômicos, que cresceu 1,6% na primeira década do século, estagnou a partir de 2010.

A possibilidade dos EUA pressionarem e intervirem abertamente no continente diminuiu ao ritmo de seu declínio econômico e da crise de sua intervenção militar em outras regiões (Oriente Médio, Ásia Central). Limitados para recorrer aos clássicos golpes militares, os EUA, já com Bush, passaram a usar na América Latina o chamado soft power, incluindo a ocupação militar do Haiti por tropas “latino-americanas”, que realizam na ilha do Caribe o serviço policial que os EUA, embrenhados até o pescoço alhures, estavam impossibilitados de fazer. Barack Obama reatou as relações diplomáticas EUA-Cuba e ordenou a desativação da prisão militar de Guantánamo (Cuba), centro de torturas do exército imperialista, mas nem cogita em devolver o território da base a Cuba. Nem voltar atrás na reativação dos exercícios militares da IV Frota, encarregada do patrulhamento da costa atlântica de América Latina, sem falar nas quinze bases militares ianques na América Central e no Caribe. Os EUA buscam recuperar o protagonismo da desprestigiada OEA e estão de olho nas reservas de petróleo e gás natural no mar brasileiro, que colocaram o Brasil como detentor da terceira maior reserva do mundo. Isto, somado às reservas da Venezuela, da Bolívia e do Equador, fortaleceu momentaneamente a posição sul-americana em relação às potências econômicas imperialistas.

A crise dos governos neoliberais (identificados com a estabilização monetária baseada na âncora cambial, ou na dolarização) é seguida, agora, pelo declínio das bases econômicas das experiências reformistas ou nacionalistas baseadas em concessões sociais, tornadas possíveis na primeira década do século XXI por uma conjuntura econômica internacional favorável. Isso também afetou os governos neoliberais sobreviventes, agências diretas do capital financeiro internacional. América Latina entrou em uma nova etapa de lutas nacionais e de classes. A crise mundial irrompe na América Latina depois de bancarrotas capitalistas, crises políticas e levantamentos sociais. O cenário político latino-americano esteve dominado, nas últimas décadas, por crises e mobilizações de massas, em especial nos países andinos. E também pelos choques entre os governos nacionalistas “radicais”, que surgiram dessas crises, e os EUA. A emergência da esquerda na América Latina é geralmente localizada em um período que se estende de 1998 (eleição de Chávez para a presidência da Venezuela) até 2008 (eleição de Fernando Lugo para a presidência do Paraguai, pondo fim a seis décadas de governo do Partido Colorado), passando pelas eleições de Lula, Michelle Bachelet, Evo Morales, Néstor Kirchner, Daniel Ortega, Rafael Correa e a FMLN em El Salvador, devidas ao fracasso econômico dos governos neoliberais, seguidores da cartilha do FMI.

O neoliberalismo, com suas privatizações maciças, a pressão pela abertura dos mercados, em especial os do ex “bloco socialista”, a estratégia do "Consenso de Washington", foi a expressão da procura de uma saída para a massa de capital financeiro internacional acumulado com a crise dos anos 1970. Não era uma “ofensiva”, mas uma política de crise, o que explica privatizações aventureiras, como as dos serviços de água de Peru e Bolívia, que desencadearam rebeliões populares massivas. Foi o impasse do capital em escala internacional o que deu a base para uma virada política de grande amplidão, com a emergência de processos de autonomia nacional, incluindo (em especial nos países andinos) o papel inédito das massas camponesas e indígenas. Na emergência desses processos confluiu a derrubada dos partidos políticos tradicionais, que foram a garantia da estabilidade capitalista durante décadas na América Latina, com a crise mundial das relações econômicas capitalistas.

Depois de um período de enfrentamentos locais e internacionais, os regimes mais “radicais”, o venezuelano-bolivariano e o indigenismo andino, chegaram a compromissos internacionais e com a burguesia local, disciplinando a rebelião popular. As chancelarias das metrópoles imperialistas, e algumas latino-americanas (Brasil e Argentina) desenvolveram uma pressão ativa para que os “nacionalistas radicais” contivessem os processos populares. Isto foi também possível porque, a partir de finais de 2002, a retomada do comercio externo e da produção local, junto com o crescimento dos recursos fiscais, graças a um ciclo comercial internacional favorável às matérias primas latino-americanas, serviu ao conjunto dos governos da região (inclusive os neoliberais) para lubrificar os antagonismos sociais. Desde 2003-2004 se produziu, de conjunto, um refluxo na mobilização de massas. Os governos nacionalistas conseguiram administrar e canalizar a pressão popular para neutralizar a oposição de direita. A fase de relativo refluxo das lutas populares latino-americanas, a partir de 2004, condicionou a sucessão presidencial no México e o reinício de grandes lutas estudantis e mineiras no Chile e no Peru.

Os sucessos econômicos latino-americanos do século XXI, denominados pela OCDE de “grande festa macroeconômica”, foram relativos. Houve altas taxas de crescimento, inflação reduzida e orçamentos equilibrados ou até com superávits. Ao mesmo tempo, quase 50 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza, pelo menos estatisticamente: segundo a Cepal, a pobreza diminuiu de 43,9% para 28,1% na América Latina, entre 2002 e 2012. A população com rendimentos entre zero e quatro dólares diários caiu de 45% (2000) para 30% (2009); os detentores de uma renda entre 10 e 50 dólares diários (chamados de “classe média”) cresceram de 20% para 30% no mesmo período; os “vulneráveis” (entre 4 e 10 dólares diários) passaram de 30% para 40%. Os índices de melhora dos mais pobres se situaram, porém, abaixo do aumento do PIB regional. A pobreza extrema (12%), por outro lado, vem crescendo nos últimos anos. A concentração de renda (polarização social) se manteve estável, e até aumentou em países como México ou Colômbia; América Latina continuou sendo a região com a maior desigualdade social do planeta. Um dado notável é a queda do crescimento demográfico, situado em 1,8 filhos por mulher em países como Brasil ou Chile (esse índice é de 1,9 nos EUA), abaixo da taxa de reposição da população. Na América Central o índice de fertilidade feminina caiu de 6,0 (1960) para 2,2 atualmente, uma queda que os EUA ou Europa levaram mais de um século para atingir.

                                                                       
       

O retrocesso da pobreza foi especialmente importante no Brasil, onde os programas “focalizados” permitiram uma diminuição significativa da pobreza absoluta, coexistente, no entanto, com uma trajetória pouco alterada da concentração de renda e, ao mesmo tempo, com uma diminuição da renda média, da remuneração média do trabalho assalariado, e um grande incremento das fontes de renda não vinculadas ao trabalho, nas camadas mais pobres. Houve uma expressiva formação de reservas internacionais, em decorrência dos saldos comerciais obtidos pela alta de preços das commodities, e também pelo fato da taxa básica de juros, base da remuneração dos títulos públicos, ser muito elevada. Isto fez com que houvesse interesse dos investidores externos em negócios com os papéis da dívida pública. Entre 2003 e 2007 América Latina recebeu um volume recorde de investimentos estrangeiros, superior a US$ 300 bilhões. Suas multinacionais lançaram-se a outros mercados comprando importantes ativos, inclusive em países desenvolvidos. O processo alimentou a ciranda financeira: tornou-se excelente negócio captar recursos no exterior, a taxas mais baixas, e aplicar esses recursos, a taxas mais elevadas, na dívida pública latino-americana. O governo Lula isentou do imposto de renda os fundos institucionais estrangeiros que aplicassem recursos em títulos públicos. Com isso, aumentou a entrada de divisas, fazendo com que as reservas crescessem. Mas com um custo financeiro elevadíssimo: a remuneração dos credores é de 12% reais ao ano, uma carga de juros crescente e impagável.

Os dados da economia latino-americana começaram a mudar drasticamente com a crise mundial. Seu início, no entanto, multiplicou as declarações otimistas dos governos. América Latina encarava a crise mundial com mais de 75% do PIB regional com classificações de risco de crédito dentro do "grau de investimento". Em 2008, a região apresentava solvência, com 70% de sua dívida coberta por reservas internacionais - patamar bem acima dos índices verificados no Leste Europeu. Um fator alardeado foi a redução das dívidas denominadas em dólares. Mas isto ocultou a natureza do processo econômico, embutida na valorização monetária propiciada pela “estabilização”. A dívida externa foi “zerada” porque as reservas internacionais superaram seu montante, o que criou a fantasia da superação da dependência financeira externa. Mas o endividamento de um país com livre movimentação cambial de empresas estrangeiras e nacionais não pode ser aferido apenas pela dívida externa em títulos e contratos do governo. Com a abertura financeira, assistimos também uma acelerada desnacionalização das empresas, cujos lucros e dividendos foram crescentemente transferidos ao exterior. Com o barateamento das importações e as exportações menos competitivas, os resultados das contas externas começaram a apresentar uma inflexão importante já em 2007.

O Brasil voltou a apresentar déficit nas transações correntes em 2008, por um valor de US$ 4 bilhões.
A dívida real, passível de ser saldada com moeda conversível, deve ser avaliada em conjunto com a situação da dívida interna em títulos públicos, e com a dívida externa privada. Um título público brasileiro, que vence em 2045, oferece 7,5% de interesse por cima da inflação, o mesmo título do Japão paga somente 1%, ou menos; tomar emprestado em Tókio para investir em São Paulo converteu-se em grande negócio para os bancos que operam no Brasil. As quedas espetaculares que afetaram a Bolsa de São Paulo foram a manifestação da vulnerabilidade financeira do país. A demolição dos “mercados emergentes” começou. A crise mundial tem mecanismos diretos de transmissão vinculados à contração da demanda mundial.

Mesmo durante o boom comercial, a dependência da região em relação aos EUA e à Europa continuou grande. Mais de 65% das exportações latino-americanas dirigem-se a essas duas regiões, com o restante indo para a Ásia e para parceiros regionais. Com a desaceleração chinesa, calcula-se que, em 2-3 anos, os EUA voltem a ocupar o lugar de maior importador de produtos brasileiros, deslocando a China dessa condição. Alguns países latino-americanos estão mais expostos ao comércio unilateral: o comércio do México é totalmente dependente dos EUA (que consome mais de 85% de suas exportações). No caso brasileiro, a economia mais “independente” do continente, e a dotada do maior parque industrial, seu superávit comercial (2003-2013) com o Mercosul foi de US$ 46 bilhões; com os EUA-UE, de quase dobro, US$ 90 bilhões (17,8 bilhões com os EUA, 71,6 bilhões coma UE). As economias latino-americanas continuaram muito dependentes da venda de matérias-primas, que representam mais de 60% de suas exportações. A situação do mercado mundial consente cada vez menos uma saída baseada num novo ciclo de endividamento. Os fluxos de capitais, aplicações e investimentos diretos estão em queda.

As experiências nacionalistas fracassaram na tentativa de estruturar um Estado nacional independente, e de iniciar um processo de industrialização capitalista autônomo, destruindo a supremacia do capital financeiro. Não criaram uma burguesia nacional, nem estruturaram uma etapa de transição sob a hegemonia do Estado. Em vez disso, criaram uma “boliburguesia” (os “boligarcas” da Venezuela), ou o “capitalismo de amigos” dos Kirchner, através da burocracia governamental (que sangrou financeiramente o Estado). Nas nacionalizações, os capitalistas (externos e internos) receberam fortes compensações, até maiores do valor em bolsa dos capitais “expropriados”. Em nenhum caso revolucionaram a gestão econômica, através do controle ou gestão coletiva da propriedade nacionalizada. As nacionalizações não tocaram os bancos, base da gestão capitalista da economia. O uso dos recursos fiscais extraordinários para compensar os capitais nacionalizados acabou bloqueando a possibilidade de um desenvolvimento econômico independente. O capital estrangeiro, forçado a sair da esfera industrial, retornou sob a forma de capital financeiro, usando as indenizações obtidas para a compra da dívida pública. Em Venezuela o petróleo se encontra formalmente nacionalizado, mas a PDVSA registra uma crise de custos e de endividamento, que a torna dependente de acordos de participação com os monopólios internacionais para explorar a Bacia do Orinoco. Venezuela sofreu, sob Chávez, um retrocesso industrial importante (dissimulado pela renda diferencial petroleira do país) e atualmente importa 70% de suas necessidades alimentares.

Nesse contexto, em maio de 2013, México, Chile, Colômbia e Peru, países com tratados de livre comércio com os EUA, puseram em pé a “Aliança do Pacífico” (Costa Rica e Panamá são membros observadores), eliminando em 90% suas tarifas de importação mútuas (prevendo-se a eliminação dos 10% restantes até 2020), e metendo uma cunha nos projetos integracionistas continentais animados pelo Brasil (os quatro “pacíficos” tem uma população de 210 milhões, contra 200 milhões do Brasil; um PIB de US$ dois trilhões, contra US$ 2,4 trilhões brasileiros). A iniciativa se situa no marco das negociações promovidas pelos EUA em favor do TPP (Associação Trans-Pacífica) com países da Ásia (não a China), Oceania e América que possuem costas no Pacífico, ignorando os acordos comerciais regionais desses países. Os nove países do projeto TPP (que inclui Chile e Peru) têm um PIB de US$ 18 trilhões (85% dos EUA) que ultrapassaria US$ 28 trilhões caso se incorporassem México, Canadá e Japão.

A “movida” de inspiração ianque aproveitou que os projetos de “união latino-americana” agitados pelo nacionalismo sul-americano não foram longe, e até retrocederam. A Venezuela chavista abandonou a CAN (Comunidade Andina das Nações) em 2006 – a CAN ficou restrita à Colômbia, Peru, Bolívia e Equador – e sua incorporação ulterior ao Mercosul, concomitante com o golpe que derrubou o governo Lugo e produziu a exclusão temporária do Paraguai do bloco, beneficiou principalmente as empreiteiras brasileiras, que já obtiveram um “Acordo de Complementação Econômica” (outubro de 2014) exclusivamente favorável ao Brasil, e por cima das instituições e acordos do Mercosul. O ingresso da Venezuela seria interessante para América Latina se permitisse acordos bilaterais, de intercambio de energia, com base em preços inferiores aos internacionais, investimentos industriais em ampla escala, com créditos baratos e de longo prazo. Isso é uma perspectiva fora do alcance das burguesias nacionais, pelas suas rivalidades e pela pressão do capital financeiro internacional.

                                                                     

Os governos bolivarianos se vangloriaram de uma suposta integração sem precedentes na historia continental, mas seu palavrório carece de substância, como o demonstra o retrocesso do Mercosul, embrenhado em disputas comerciais (desde 2011, Argentina aplica tarifas não automáticas de importação a 600 produtos). O propósito do bloco criado em 1991 foi o de negociar uma maior integração ao mercado mundial de seus países, o que concluiu em fracasso (só foi firmado um acordo de livre comércio... com Israel). Brasil e Argentina incorporaram Venezuela ao Mercosul, uma medida sem conteúdo: a postulada integração energética do bloco revelou-se uma ilusão. As crises mundiais apresentam uma oportunidade para os países de desenvolvimento atrasado, porém para isso é necessária uma política independente da burguesia nacional, obrigada a atuar sob a pressão da crise em função de sua dependência do capital internacional. Mais do que nunca que as economias da América Latina dependem de um punhado de matérias-primas, agrícolas e minerais. A integração latino-americana, que propicia especialmente o Brasil, reflete os interesses das grandes empreiteiras de obras de infraestrutura, vinculadas aos investimentos de capitais mineiros internacionais e em estreita relação com o capital de maquinário pesado dos EUA.

O nacionalismo não conseguiu superar suas limitações localistas e a concorrência entre as burguesias do continente. A proposta de “integração dos exércitos” é reacionária: as castas militares (e os “serviços de inteligência” vinculados) não deixaram de ser um corpo alheio a qualquer controle social, e até a qualquer controle real por parte das instituições ditas representativas. Nos países favorecidos pelas exportações de combustível (gás e petróleo), o nacionalismo usou as nacionalizações, não para transformar os trabalhadores em classe dominante, mas para impedir sua organização independente, e submeter suas organizações à tutela do Estado. A COB boliviana se submeteu ao governo de Evo Morales, cuja estabilidade econômica e política se baseia nas vendas de gás ao Brasil e à Argentina, e no aumento de 32% das taxas e royalties que as empresas estrangeiras produtoras devem pagar ao Estado desde 2006. Na Venezuela, o governo se empenhou em estatizar o movimento sindical. Em geral, as nacionalizações parciais e os aumentos de arrecadação serviram como pretexto, em setores sindicais e da esquerda, para abandonar a independência de classe e somar-se ao Estado nacionalista. Submetidas ao Estado nacionalista-caudilhista, as nacionalizações e as “ilhas de autogestão” (que devem competir comercialmente com as empresas capitalistas) concluíram reforçando o capitalismo e a exploração. A Venezuela pós-Chávez, afetada pela queda dos preços petroleiros, afundou numa inflação de 65% anual acompanhada de recessão, que projeta a sombra de um default financeiro. A movimentação golpista da oposição tropeça com sua divisão interna, que reflete a própria divisão do imperialismo ianque (extremistas republicanos vs. Obama-democratas) acerca da política a se seguir, levando-se em conta a identidade chavista das Forças Armadas.

A nacionalização integral dos recursos naturais e energéticos é a pré-condição para uma integração latino-americana que não seja um instrumento da competição entre os monopólios (como a falida ALCA, ou o próprio Mercosul). Sem essa condição, os projetos unificadores (como o gasoduto do sul) não saem do papel. As nacionalizações foram condicionadas favoravelmente pelo aumento dos preços do combustível e dos minerais, ou seja, pela possibilidade de distribuir a renda diferencial entre o capital externo e o Estado. Havia (até sobrava) dinheiro para satisfazer todo mundo. Mas não serviram para modernizar a exploração dos recursos naturais, consumindo improdutivamente o capital investido. Com base nos recursos extraordinários, Venezuela e Bolívia impulsionaram importantes campanhas de saúde e de educação, mas não avançaram em sentar as bases econômicas da autonomia nacional, para sustentar no longo prazo os planos e programas sociais. Concluíram dilapidando a renda extraordinária da produção mineira, na crença de que os preços internacionais não cairiam nunca, mas o preço internacional do petróleo, que chegou a atingir US$ 150, despencou para pouco mais de 50.

A queda dos preços dos hidrocarbonetos, como consequência da crise mundial, fez entrar em crise as nacionalizações parciais, e abriu a via para uma nova etapa de concessões aos monopólios multinacionais. O ciclo de grandes arrecadações fiscais está concluindo. As limitadas reformas fiscais, com aumento dos impostos sobre o petróleo e o gás extraídos pelas multinacionais, ofereceram uma vantagem passageira no marco de preços internacionais elevados. A crise mundial ameaça em especial o governo nacionalista de Equador, cujo petróleo financia, não só a economia nacional, mas também a dolarização, até agora mantida. Diante da crise do nacionalismo, a burocracia sindical latino-americana carece de independência política, situando-se no esteio das políticas de salvação do capital praticadas pelos governos. Não defende um programa próprio, propondo, por exemplo, a nacionalização e o controle operário das empresas falidas. As centrais sindicais sul-americanas apenas pediram aos chefes do Estado da região que exigissem garantia de manutenção dos empregos das empresas que recebem apoio governamental.

Nos países andinos, onde o movimento “bolivariano” teve a maior repercussão internacional, a peculiaridade do nacionalismo é o indigenismo, o protagonismo das massas rurais deslocadas às cidades, onde ocuparam o lugar ocupado no passado pelo proletariado industrial. As ideologias indigenistas compreendem um vasto arco, desde o retorno ao Inkário até a preservação das comunidades rurais originárias a partir de sua base produtiva (a pequena propriedade). Mas foi a pequena burguesia urbana a que impôs à massa indígena seu programa, o chamado “capitalismo andino”, que postula o entrosamento do meio agrário pré-capitalista com o capitalismo “global”, através da mediação do Estado. Assim, frustraram-se as promessas de uma revolução agrária.

Divididos e até enfrentados, os projetos capitalistas “latino-americanos” entraram em crise. A moeda comum Brasil-Argentina não passa de um recurso contábil para compensar saldos de pagamentos externos. A autonomia da ALBA é desmentida pelos compromissos simultâneos de seus países com outros acordos internacionais. O processo capitalista opera em favor da desintegração de América Latina. Brasil reforçou sua aliança financeira com os EUA e reduziu o consumo e o preço do gás boliviano. A Unasul é um projeto da burguesia brasileira para “integrar” uma indústria militar regional sob seu controle, e para impulsionar gastos em infraestrutura para suas empresas construtoras privadas. A CELAC (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) é um âmbito falatório que sequer consegue se pronunciar contra os golpes (Paraguai ou Honduras), contra o embargo ianque a Cuba ou pela retirada das tropas estrangeiras do Haiti, sem falar na retirada das bases militares (Washington aumentará o contingente militar no Peru de 125 para 3.200 soldados a partir de 1° de setembro) ou no fim das manobras navais norte-americanas. As bandeiras “integracionistas” foram virando ficção política. O nacionalismo burguês fracassa novamente, como no passado, agora no marco de uma crise mundial inédita.

Com o impacto da crise mundial (e com a eleição de Obama) reclamou-se insistentemente o “fim da guerra fria na América Latina”. O apaziguamento entre os EUA e Cuba, a normalização de Cuba com a UE, serviriam para estabilizar politicamente à América Latina, opondo a integração política de Cuba à revolução latino-americana, oferecendo o fim do isolamento de Cuba. O destino de Cuba está, mais do que nunca, inserido no contexto latino-americano, e também na sua própria crise política interna, contextos que o governo de Raul Castro tenta “navegar” propondo uma espécie de “via chinesa”, com um papel central das Forças Armadas (que controlam mais de 60% da economia cubana). O contexto para uma transição ao capitalismo, como a ocorrida em Rússia e na China, porém, mudou internacionalmente: o mercado mundial tornou-se estreito demais para admitir um novo competidor (embora pequeno, como Cuba). O contexto ideológico internacional não mais é o do “fim do comunismo”, como em 1989-1991. Reivindicar o fim do bloqueio norte-americano e o reconhecimento incondicional da autodeterminação nacional cubana (começando pela devolução de Guantánamo e a saída das tropas ianques da ilha) poderia por Cuba em contato direto com a luta social latino-americana, não só com o capital mundial.

As FARC colombianas viraram um fator de crise política internacional, incluindo a mobilização bélica regional. Chávez, antes de sua morte, apoiou a “troca humanitária” de reféns e o reconhecimento do caráter de força beligerante das FARC, para depois convidá-las a se desarmar e libertar incondicionalmente seus reféns, se reconciliando com a direita, uma pressão para o desarme unilateral da guerrilha. A experiência de luta armada das FARC (que chegaram a controlar quase um terço do território colombiano) está politicamente esgotada, mas isto está sendo usado para dar uma vitória política aos paramilitares colombianos que entraram no governo para apagar seu passado criminoso e se reciclar no “Estado de Direito”. As negociações de paz que se levam a cabo em Cuba, sob o patrocínio do governo castrista, se integram nesse marco político reacionário. Na América Central, as guerrilhas (FSLN e FMLN) abandonaram as armas para se somar à “política institucional” (burguesa) e gerir o Estado capitalista.

No gigante da América do Sul, o quarto mandato presidencial do PT começou sob o signo: a) da crise econômica e política; b) da tentativa de orquestrar um ataque estrutural contra as conquistas trabalhistas e as condições de vida dos assalariados brasileiros, com vistas ao “equilíbrio fiscal” e ao rebaixamento do “custo Brasil” (recuperação da taxa de lucros), para gerar uma nova corrente de investimentos externos e internos. As exportações de manufaturados (base principal da produção industrial) se situaram em 2014 em US$ 6 bilhões abaixo de 2008, um retrocesso absoluto de 17%. A balança comercial teve um déficit de US$ 3,93 bilhões, o primeiro em 14 anos. O déficit comercial em bens industriais (importações/exportações de bens manufaturados) subiu 150% em cinco anos (só Arábia Saudita fez pior na economia mundial). A reprimarização da economia brasileira está cobrando seu preço, econômico e também ambiental: a extração sem freio de minérios, a produção de soja e frango, está danificando sem volta os ecossistemas, em especial os aquíferos. Os indicadores industriais de produção, faturamento, uso da capacidade instalada, etc., embicaram para baixo. A indústria automobilística brasileira vai operar este ano e também em 2016 com estimados 50% de sua capacidade instalada. No balanço econômico dos primeiros quatro anos de Dilma Rousseff, o crescimento acumulado do PIB caiu de 19,6% para 7,4% (uma redução de 60% em relação a Lula I e II); a taxa de inflação acumulada aumentou de 22% para 27% (aumento de 20%); o déficit acumulado em conta corrente pulou de US$ 98,2 bilhões para US$ 268 bilhões, um aumento de 170%.

                                                                       
                       

Dilma Rousseff buscou absorver a pressão dos "mercados", cuja principal preocupação é que o país tenha a capacidade de honrar o pagamento da dívida externa e aumentar os “incentivos” para que o capital especulativo não escape. Entre os “incentivos” não figuram somente o congelamento de salários e a redução dos gastos sociais. Um lugar importante é ocupado pela liberalização do comércio exterior e a mudança da política para o petróleo. Os esforços do governo para assinar um acordo de livre comércio com a União Europeia, para debilitar o Mercosul e “liberar” a política brasileira da Argentina, foram até agora bloqueados pelos governos da Argentina e Uruguai. Na questão do petróleo, o governo Dilma cedeu à pressão para que a Petrobras atendesse os interesses de seus acionistas privados (aumento do preço da gasolina e uma política de maiores lucros e distribuição de dividendos). A dívida pública do Brasil supera 60% do PIB; pior é a situação da dívida privada, que está perto de 100% do PIB. Em que pesem os superávits primários que totalizaram, entre 2002 e 2013 e em valores correntes, R$ 1,082 trilhão, a dívida interna pulou para quase três trilhões de reais (US$ 1,2 trilhão). Nesse quadro, a entrada de capital especulativo para aproveitar a diferença das taxas de juros brasileiras com as dos mercados internacionais foi forte nos últimos anos, mas agora enfrenta uma reversão de tendência. A fuga de capitais já resultou numa significativa desvalorização do real, da ordem de 30%.

O escândalo de corrupção da maior empresa do país, a Petrobrás, adquiriu dimensões imprevistas, afetando inclusive as contas públicas: a empresa (cujo valor de mercado caiu de R$ 410 bilhões em 2011 para R$ 160 bilhões atualmente) é responsável por 10% da arrecadação de impostos do país. Segundo a Merrill Lynch, o escândalo vai custar 0,86% do PIB. O esquema de propinas multimilionárias para a concessão de contratos públicos envolve as nove maiores empresas construtoras do país (Camargo Correa, Engevix, Galvão, Mendes Júnior, IESA, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC). O banco Morgan Stanley calculou que as perdas da petrolífera devido ao esquema seriam de R$ 21 bilhões (aproximadamente US$ 8 bilhões). Em torno da Petrobras gira a indústria da construção naval, a construção pesada e outros segmentos da economia brasileira. As nove empresas participantes do esquema corrupto (o “cartel”) faturaram, em 2013, R$ 33 bilhões com contratos públicos, financiaram candidatos a deputados com R$ 721 milhões, e candidatos a senadores com R$ 274 milhões: 70% dos congressistas eleitos em 2014 receberam doações das grandes empresas. Mais da metade dos membros da comissão parlamentar de investigação (CPI) do petrolão receberam doações milionárias das empresas sentadas no banco dos réus. O “clube” tinha dezesseis sócios fixos, e seis empresas “ocasionais”. Numa demonstração de “soberania”, o Procurador Geral do Brasil, Rodrigo Janot (ameaçado de morte), foi buscar ajuda para as investigações junto ao FBI norte-americano. As vozes que reclamam a completa privatização da Petrobras já se fazem ouvir. Mas não ainda as que reclamam sua completa estatização sob controle operário.

A queda dos preços internacionais do petróleo seria, para alguns analistas, a grande oportunidade para uma reativação da economia mundial, mas o que se anuncia é um período de retrocesso para os países que sobrevivem graças ao lucro da extração mineral. O barril de petróleo havia subido até 150 dólares – com uma recaída muito forte em 2009, que levou até uma cotação média de 100 dólares antes da queda para 50-55 dólares. A queda nos preços internacionais repercute pouco nos preços internos, sendo inócua para reativar o consumo final. A maior parte dos governos do mundo precisa dos impostos aos combustíveis para fazer frente ao pagamento da dívida pública e ao resgate dos bancos. O impacto negativo sobre a taxa de lucro das companhias petroleiras é forte, devido ao aumento dos custos que acompanhou a elevação dos preços, pela distribuição da renda entre todos os setores que intervêm na produção, pela incorporação de jazidas que exigem processos mais caros, ou pelo incremento dos investimentos. A queda mundial do preço do petróleo replica a de todas as matérias primas, dos minerais e dos alimentos. Esta guinada modifica o curso da crise econômica mundial porque bate em cheio na periferia, no mesmo momento em que a crise se faz mais aguda na Europa e no Japão.

A queda do preço internacional do petróleo foi atribuída à queda da demanda da China e Europa, ao forte aumento da produção de combustíveis não convencionais nos EUA, e à recuperação da produção na Líbia e no Iraque. A crise de superprodução na China é decisiva, porque o país é um fator fundamental na expansão do mercado mundial. O lucro do setor petroleiro havia aberto espaço para a produção de gás e petróleo não convencionais nos EUA. No mercado norte-americano o preço do gás caiu para o limite da rentabilidade de sua exploração. A diminuição do preço da gasolina – e o do gás para a indústria e a calefação – é anulada pelo fechamento de jazidas, cuja produtividade é declinante. O boom dos combustíveis nos EUA foi impulsionado pelas baixas taxas de juros, que permitiram financiar investimentos que com taxas de juros maiores seriam proibitivos. A estratégia saudita de elevar a produção para inviabilizar os novos investimentos resultou na interrupção de boa parte da exploração norte-americana de petróleo de xisto, descartando novos investimentos e provocando a demissão de dezenas de milhares de trabalhadores. Os elos fracos da crise petroleira internacional são Brasil, Rússia e Venezuela. Os custos da Petrobras e da PDVSA superam os preços internacionais atuais do petróleo; nestes níveis de preço, ambas as empresas seriam inviáveis. O problema é que, além disso, possuem dívidas gigantescas e são fontes de financiamento de Estados com dívidas ainda maiores. As ações da Petrobrás cotizam em menos da metade de sua média histórica.

No Brasil, o déficit público atingiu 5% do PIB em 2014, o maior nível desde 2003. O déficit comercial e em conta corrente são os piores dos doze anos do governo do PT. O déficit das contas externas alcançou 3,7% do PIB, 83,56 bilhões de dólares, um nível que não era alcançado desde 2001-2002 (quando da crise da Argentina). Setores graúdos do grande capital brasileiro começaram por isso a propor uma mudança de eixo econômico externo. Luiz Alfredo Furlan, representante do agronegócio (e ex-ministro de Lula) propôs abertamente a saída do Brasil do Mercosul e a assinatura de acordos bilaterais com os EUA e a UE. Os 10% mais ricos da população continuam a deter 60% dos ingressos; 0,5% da população detêm 20% da renda nacional. A desigualdade social se manteve estável durante a era Lula-Dilma, apresentando ligeira tendência a aumentar. Sem falar em que basta olhar ao redor para constatar as péssimas condições de vida da imensa maioria da população brasileira, que nas últimas décadas não avançou, pelo contrário, em matéria de saneamento básico, saúde ou educação, uma deterioração que foi o detonante das jornadas massivas de luta de junho de 2013.

O anúncio da equipe econômica do novo governo recebeu as boas vindas do grande capital. Joaquim Levy, entre 2010 e 2014 foi presidente do Bradesco Asset Management, que administra mais de 130 bilhões de dólares. Na Universidade de Chicago foi discípulo do time de Milton Friedman, chefão dos “Chicago Boys” e pai declarado do neoliberalismo mundial. Como responsável político no Fundo Monetário Internacional (entre 1992 e 1999), Levy foi advogado e executor de programas de austeridade nos mais diversos países. Durante o governo FHC, Levy atuou como estrategista econômico, envolvido na privatização de empresas públicas e na liberalização do sistema financeiro, que facilitou a fuga de quinze bilhões de dólares anuais. Levy é um membro eminente da oligarquia financeira do Brasil. Em outra pasta estratégica, Kátia Abreu, no ministério da Agricultura, sustenta que o latifúndio não existe no Brasil. Foi dirigente da Confederação Nacional de Agricultura e, desde Tocantins, é agente do lobby da soja, outro setor em queda livre internacional.

Na área trabalhista, o seguro-desemprego, a pensão por morte, e outros benefícios sociais básicos, terão sua concessão tornada muito mais difícil. A desoneração da folha de pagamentos, praticada desde 2008, não reverteu a política de demissões, ao contrário, acentuou-a. Um cruzamento de dados demonstrou que R$ 5,5 bilhões (23,1% de um montante impositivo de R$ 23,8 bilhões sobre a indústria) deixaram de ser pagos por setores empresariais que demitiram mais do que contrataram desde 2012. E Levy propõe não só manter as desonerações, mas também aprofundar as facilidades para demitir. A capacidade instalada da indústria está em seu pior nível de utilização média desde 2009, sendo que as siderúrgicas, com 68,6% de uso da sua capacidade produtiva, são as que mais puxam o índice para baixo. Uma nova fase da luta de classes se abriu. No raiar do novo ano, os trabalhadores da Volkswagen do ABC paulista entraram em greve por tempo indeterminado pela readmissão de 800 dispensados. A empresa descumpriu acordo firmado em 2012, que previa a estabilidade dos funcionários até 2016. Outros 244 trabalhadores foram demitidos na Mercedes Benz. A 12 de janeiro, os metalúrgicos do ABC realizaram uma grande manifestação: mais de 20 mil pessoas ocuparam as faixas da Rodovia Anchieta, com trabalhadores da Volks, Mercedes, Karmann Ghia. Os metalúrgicos da Volks mantiveram o movimento até fazer a patronal recuar nas demissões (o sindicato admitiu, no entanto, um PDV, plano de demissão voluntária). Em São José dos Campos, uma greve de seis dias dos operários da General Motors também barrou as demissões.

No México, o massacre de 43 estudantes entre 18 e 21 anos, confessado por traficantes de drogas detidos (revelação em que os pais das vítimas se recusam a acreditar até que haja provas) na noite de 26 de setembro de 2014 em Iguala, no estado de Guerrero, quando policiais locais atacaram alunos da combativa Escola de Magistério de Ayotzinapa, por ordem do prefeito agora detido, suscitou um amplo movimento de repúdio nacional que a repressão não conseguiu fazer retroceder. Depois de quase um mês e meio, a Procuradoria Geral mexicana quis encerrar o assunto com base na confissão de três bodes expiatórios oferecidos pelo narcotráfico, em que pese a clara implicação da polícia e até do exército no massacre. A mobilização não se detém, e está levando à crise o governo do PRI (Peña Nieto) e sua complacente oposição, desestabilizando o imenso país que faz fronteira com todo o sul dos EUA, onde a maioria da população é de origem mexicana ou latino-americana. O salário mínimo do México, integrado à economia dos EUA através do NAFTA, é, graças a isso, o mais baixo do continente. Em junho haverá eleições parlamentares: a crise política mexicana apenas começou, com projeção internacional explosiva. Inclusive sobre seu vizinho do sul, a Guatemala governada pelo general genocida Otto Pérez Molina, que governa na base de estados de sitio regionais (e de assassinatos de lideranças camponesas e indígenas) para manter 60% das terras cultiváveis do país nas mãos de empresas extrativas multinacionais.

No outro extremo da América Latina, na Argentina, a morte (provavelmente assassinato) do procurador do Estado na causa AMIA (o atentado de 1994 contra a associação mutualista judia que deixou mais de 400 vítimas, 87 mortais), sistematicamente encoberta pelos governos nos últimos vinte anos, está expondo a decomposição assassina dos serviços secretos herdados da ditadura militar, intocados pela “democracia”, e sua cumplicidade com os serviços de inteligência estrangeiros (principalmente a CIA e o Mossad), configurando uma crise na própria coluna vertebral do Estado. No meio da crise política e institucional, projeta-se politicamente a Frente de Esquerda, encabeçada pelo Partido Obrero, uma alternativa de caráter classista e revolucionário, projeção confirmada pelos comícios eleitorais de Mendoza e Salta (as eleições gerais serão em outubro deste ano). Argentina espelha uma situação em que as condições objetivas (econômicas, sociais e políticas) do continente, no marco da crise mundial, abrem a possibilidade para a construção de uma alternativa de esquerda revolucionária.