A nova onda de lutas no país tem como protagonistas
o magistério estadual . À vitoriosa greve de mais de um mês de duração dos
professores do Paraná, que frearam o pacote de ajustes do governador Beto Richa
(PSDB), se somam agora as greves e protestos dos docentes dos estados de São
Paulo e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, os docentes superaram um mês de greve
reivindicando uma recomposição salarial e outras medidas como água nas escolas
e um limite de 25 alunos por sala de aula. No dia 27 de março, mais de 60 mil
professores marcharam pelas ruas da capital paulista. No Rio Grande do Sul, uma
assembleia de 2.700 professores votou por importante margem a desfiliação do
CPERS da oficialista CUT, assim como um chamado a um ato classista,
independente e internacionalista para o próximo 1° de maio. A categoria é
vítima de jornadas extenuantes de trabalho e da instabilidade no emprego que
tem implicado em milhares de demissões de professores contratados. Os garis do
Rio de Janeiro, no final de sete dias de greve, conquistaram uma recomposição
salarial de 8%, derrotando a intimidação do governo municipal e o apelo dos
pelegos sindicais. Os trabalhadores do correio desenvolveram uma greve de 48
horas contra a privatização, apesar da intimidação da Justiça e da cumplicidade
da burocracia. O movimento operário é um obstáculo ao ajuste de Dilma e da
oposição patronal, como foi demonstrada na antecipada resistência contra as
demissões na Volkswagen, na General Motors de São José dos Campos, e no Polo
Naval de Rio Grande, assim como contra os salários atrasados no complexo
petroquímico de Rio de Janeiro. Está se gestando uma luta de alcance nacional
contra a ofensiva reacionária da Câmara de Deputados de avançar na
regulamentação da terceirização trabalhista, agora na atividade-fim.
Lula tenta recuperar sua capacidade de contenção
das massas em momentos em que a popularidade de Dilma caiu a 12%. No congresso
de junho, o PT discutirá uma reformulação organizativa que irá procurar imitar
o modelo da Frente Ampla uruguaia. Em uma demagógica autocrítica, o
ex-presidente sustentou que o PT tem sido refém do "presidencialismo de
coalizão" e que deve "voltar às ruas". Até insinuou críticas a
Dilma, ao dizer que com o novo mandato produziu-se uma "inflexão
conservadora (...) contraditória com o programa eleito" (O Estado de São
Paulo, 1°/4). O certo é que Lula é partidário de maiores concessões ao PMDB
para recuperar o apoio da base aliada, e que deu respaldo declarado ao ajuste.
O governo perdeu o controle do Congresso: desde que Eduardo Cunha (PMDB)
assumiu a presidência da Câmara de Deputados, a base de deputados que votam com
o governo caiu de 346 deputados formais (sobre 513) a uma média de 246 (Folha,
29/3), figurando entre os principais desertores legisladores do PMDB. Mas Dilma
também recebe objeções de seu núcleo mais próximo, posto que setores do PT e do
PC do B resistem a alguns dos cortes propostos.
O repúdio popular ao plano de ajuste explica as
dificuldades que este tem para ser aprovado. Boa parte do pacote do ministro da
Economia, o neoliberal Joaquim Levy, encontra-se parado no Congresso, que não
quer incinerar-se com ele e procura suavizá-lo. Ou, ao menos, encontrar uma boa
recompensa em troca. No campo de negociações figuram a renegociação das dívidas
estaduais e municipais. Neste quadro de crise se destacam os atritos de Levy
com Dilma. Na medida em que empaca o ajuste, aumenta o impacto do Petrolão:
mesmo que Lula e Dilma tenham sido excluídos da investigação, o tesoureiro do
PT não escapou.
No que avançou o governo brasileiro é no corte de
subsídios e no tarifaço dos serviços, assim como numa forte desvalorização do
real (que já alcança 30% em um ano), com o que espera recuperar a economia
sobre a base das exportações. Estas duas bordoadas contra o povo não asseguram
que a economia saia da recessão.
Abril será um novo mês de marchas e contramarchas
convocadas pelo governo e pela direita, o que tende a criar uma falsa
polarização entre os dois blocos que respaldam e negociam o ajuste. Enquanto
agita o fantasma de um golpe, Dilma avança em uma reaproximação com os Estados
Unidos.
A classe operária necessita de um plano de ação próprio, conformando um
polo classista e lutando pela greve geral para vencer o ajuste.