segunda-feira, 13 de abril de 2015

A CLASSE OPERÁRIA ENFRENTA O AJUSTE









A nova onda de lutas no país tem como protagonistas o magistério estadual . À vitoriosa greve de mais de um mês de duração dos professores do Paraná, que frearam o pacote de ajustes do governador Beto Richa (PSDB), se somam agora as greves e protestos dos docentes dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, os docentes superaram um mês de greve reivindicando uma recomposição salarial e outras medidas como água nas escolas e um limite de 25 alunos por sala de aula. No dia 27 de março, mais de 60 mil professores marcharam pelas ruas da capital paulista. No Rio Grande do Sul, uma assembleia de 2.700 professores votou por importante margem a desfiliação do CPERS da oficialista CUT, assim como um chamado a um ato classista, independente e internacionalista para o próximo 1° de maio. A categoria é vítima de jornadas extenuantes de trabalho e da instabilidade no emprego que tem implicado em milhares de demissões de professores contratados. Os garis do Rio de Janeiro, no final de sete dias de greve, conquistaram uma recomposição salarial de 8%, derrotando a intimidação do governo municipal e o apelo dos pelegos sindicais. Os trabalhadores do correio desenvolveram uma greve de 48 horas contra a privatização, apesar da intimidação da Justiça e da cumplicidade da burocracia. O movimento operário é um obstáculo ao ajuste de Dilma e da oposição patronal, como foi demonstrada na antecipada resistência contra as demissões na Volkswagen, na General Motors de São José dos Campos, e no Polo Naval de Rio Grande, assim como contra os salários atrasados no complexo petroquímico de Rio de Janeiro. Está se gestando uma luta de alcance nacional contra a ofensiva reacionária da Câmara de Deputados de avançar na regulamentação da terceirização trabalhista, agora na atividade-fim.

                                                         

Lula tenta recuperar sua capacidade de contenção das massas em momentos em que a popularidade de Dilma caiu a 12%. No congresso de junho, o PT discutirá uma reformulação organizativa que irá procurar imitar o modelo da Frente Ampla uruguaia. Em uma demagógica autocrítica, o ex-presidente sustentou que o PT tem sido refém do "presidencialismo de coalizão" e que deve "voltar às ruas". Até insinuou críticas a Dilma, ao dizer que com o novo mandato produziu-se uma "inflexão conservadora (...) contraditória com o programa eleito" (O Estado de São Paulo, 1°/4). O certo é que Lula é partidário de maiores concessões ao PMDB para recuperar o apoio da base aliada, e que deu respaldo declarado ao ajuste. O governo perdeu o controle do Congresso: desde que Eduardo Cunha (PMDB) assumiu a presidência da Câmara de Deputados, a base de deputados que votam com o governo caiu de 346 deputados formais (sobre 513) a uma média de 246 (Folha, 29/3), figurando entre os principais desertores legisladores do PMDB. Mas Dilma também recebe objeções de seu núcleo mais próximo, posto que setores do PT e do PC do B resistem a alguns dos cortes propostos.

O repúdio popular ao plano de ajuste explica as dificuldades que este tem para ser aprovado. Boa parte do pacote do ministro da Economia, o neoliberal Joaquim Levy, encontra-se parado no Congresso, que não quer incinerar-se com ele e procura suavizá-lo. Ou, ao menos, encontrar uma boa recompensa em troca. No campo de negociações figuram a renegociação das dívidas estaduais e municipais. Neste quadro de crise se destacam os atritos de Levy com Dilma. Na medida em que empaca o ajuste, aumenta o impacto do Petrolão: mesmo que Lula e Dilma tenham sido excluídos da investigação, o tesoureiro do PT não escapou.

No que avançou o governo brasileiro é no corte de subsídios e no tarifaço dos serviços, assim como numa forte desvalorização do real (que já alcança 30% em um ano), com o que espera recuperar a economia sobre a base das exportações. Estas duas bordoadas contra o povo não asseguram que a economia saia da recessão.

Abril será um novo mês de marchas e contramarchas convocadas pelo governo e pela direita, o que tende a criar uma falsa polarização entre os dois blocos que respaldam e negociam o ajuste. Enquanto agita o fantasma de um golpe, Dilma avança em uma reaproximação com os Estados Unidos. 
A classe operária necessita de um plano de ação próprio, conformando um polo classista e lutando pela greve geral para vencer o ajuste.

                                                        





TRIBUNA CLASSISTA