quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Ucrânia: LIT-CI apela ao aprofundamento da matança interimperialista

 Vide link:

https://prensaobrera.com/internacionales/ucrania-la-lit-ci-llama-a-profundizar-la-matanza-interimperialista 

Rafael Santos - dirigente do Partido Obrero da Argentina

Estamos nos aproximando do terceiro ano da guerra travada pelos Estados Unidos e pela OTAN contra a Rússia na Ucrânia. No início de Junho de 2023 foi lançada uma apregoada “ofensiva” do exército ucraniano, organizada, financiada e armada até aos dentes diretamente pelo imperialismo, com objetivos ambiciosos (recuperação da Crimeia, etc.) que dariam uma virada decisiva ao curso da guerra contra a Rússia.

Mas… depois de longos meses de combates intensos, esta “ofensiva” falhou completamente. O New York Times informou que no final de setembro de 2023, a Ucrânia tinha ganho 370 km2. Um pouco mais que os quase 300 km2 que cobrem Buenos Aires (CABA), capital da Argentina. Segundo o mesmo jornal norte-americano, a Rússia teria conquistado apenas 860 km2. Estamos perante um atoleiro da guerra e não de ações militares. Tende a se transformar em guerra de trincheiras.

Quase todos os analistas concordam que o regime ucraniano está exausto e na defensiva e que a iniciativa (limitada) parece estar do lado russo. 

A exaustão não é apenas das massas sofredoras ucranianas, mas também das finanças dos seus mandatários imperialistas. No parlamento norte-americano, a bancada republicana de Trump bloqueou fundos orçamentados de 60 bilhões de dólares para continuar a apoiar e armar a guerra na Ucrânia. E a União Europeia também tem orçamentos de 50 bilhões de euros para a Ucrânia suspensos (devido a dissidências internas). 

Torna-se cada vez mais claro nos círculos imperialistas e burgueses, e mesmo dentro do governo Zelensky, de que se está passando por um momento de “defensiva e que se deveria explorar, senão abrir negociações para um “cessar-fogo” e uma “paz” com a Rússia que contemple até a transferência (sob protesto) de territórios conquistados (no Donbass, etc.).

Mas há uma corrente política minoritária que se diz trotskista: estamos nos referindo aos companheiros da Liga Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional (LIT-CI), cujo partido mais importante é o PSTU do Brasil, que propõe que devemos persistir, que devemos avançar para “uma verdadeira contra-ofensiva”. Para tal – numa nota publicada em 12 de dezembro – elogia o avanço dos exércitos ucranianos: “nas últimas semanas recebemos notícias muito encorajadoras da Frente Sul na região de Kherson. As forças armadas ucranianas conseguiram estabelecer uma pequena mas sólida cabeça de praia na margem esquerda do rio Dnieper”, afirmam. Embora esclareçam que “não devemos exagerar a magnitude deste avanço”, também apontam que teriam fustigado navios russos na base da Crimeia. 

Salientam, no entanto, que este rumo positivo das ações militares seria contrabalançado pela recusa do Congresso norte-americano em conceder os 60 bilhões de dólares, o que estaria freando a contra-ofensiva, impedindo-a de sair vitoriosa. 

A LIT-CI colocou-se completamente no campo de Zelensky e da OTAN. Estamos enfrentando uma guerra interimperialista entre o imperialismo mundial, liderado pelos Estados Unidos e pela OTAN, e a Rússia, que está sendo travada em solo da Ucrânia. Não importa esclarecer quem disparou o primeiro tiro, mas sim os manifestos interesses de classe e a história que se construiu em torno deles. A guerra da Ucrânia contra a Rússia foi meticulosamente preparada pelo imperialismo durante uma década. A OTAN não intervém para defender a autodeterminação nacional da Ucrânia, mas para subjugá-la e promover o cerco à Rússia, com vista a quebrar o regime de Putin e a promover uma colonização abrangente do antigo Estado operário. (Putin tem os seus próprios interesses imperialistas, é por isso que não o apoiamos e o combatemos, mas não é esse o objetivo da análise desta nota.) 

O governo de Zelenzky foi completamente transformado numa base militar fantoche semicolonial, quase completamente dependente do imperialismo: econômica, política e militarmente. Sem o apoio do imperialismo não teria sido capaz de se sustentar durante estes dois anos. 

A vida econômica na Ucrânia é sustentada pela constante transfusão de fundos imperialistas, com o objetivo de sustentar o esforço de guerra. O imperialismo ianque transferiu cerca de 75 bilhões de dólares em ajuda e armas de todos os tipos. 

Com as armas imperialistas, o povo ucraniano está sendo usado como “bucha de canhão” na aventura imperialista. Zelensky propõe a independência da Rússia, para passar à dependência total e criminosa dos Estados Unidos e da OTAN. 

Se no início da guerra, em Fevereiro de 2022, pudesse haver alguma dúvida em algum movimento de esquerda de que a guerra ucraniana lutava pela sua independência, os quase dois anos que se passaram mostraram que isso é uma falácia. 

Um regime de oligarcas burgueses, emergindo das privatizações resultantes da restauração capitalista do antigo Estado operário soviético, submeteu-se a uma aliança semicolonial com o imperialismo mundial. 

A própria LIT-CI reconhece na sua nota que “duplicou o setor da população que mal consegue comprar alimentos”, que o país foi submetido “aos ditames dos usurários do capital imperialista, como o FMI, que já endividou a Ucrânia por várias gerações.” Que os milhões que chegam da “ajuda” imperialista desaparecem em grande parte devido à grande corrupção que existe no governo e nas Forças Armadas (algo típico das guerras lideradas pela burguesia dominante). Que “o parlamento da Rada é um covil de bandidos” onde dominam os agentes legislativos das corporações transnacionais e dos oligarcas que votam a favor de leis contra os sindicatos, os estudantes e as pessoas comuns. 

A Ucrânia já é um protetorado da OTAN. Foi transformado, tal como Israel no Oriente Médio, numa base militar imperialista, fortemente armada, para intervir nos processos conflituosos no centro da Europa, com vista ao desenvolvimento de uma guerra mundial. Não por coincidência, Zelensky viajou para apoiar o massacre genocida sionista contra Gaza e veio para a Argentina para apoiar Milei contra o povo trabalhador. 

A visão da LIT-CI é enganosamente provinciana, não consegue caracterizar as tendências em curso na crise capitalista mundial. 

Este apelo da LIT-CI para organizar uma “verdadeira contra-ofensiva” assemelha-se às loucuras dos imperialistas na guerra de trincheiras da primeira guerra mundial, quando em Julho de 1916 foi lançada a aventura criminosa da Batalha do Somme, que custou as vidas de meio milhão de soldados entre ambos os lados. 

Em vez de apelar à mobilização para acabar com a guerra imperialista entre os povos, a LIT-CI coloca lenha na fogueira. Há alguns meses, protestava porque poucos russos foram mortos e exigiu que o imperialismo enviasse 100 aviões e mísseis de longa distância para atacar o solo russo. Num artigo intitulado: “Deveríamos ficar comovidos com as baixas militares russas durante a contra-ofensiva ucraniana? “(22/08/23). 

No mesmo artigo citado acima protesta porque um responsável norte-americano recomendou “que os ucranianos abandonassem a cidade porque não via qualquer valor estratégico em retomá-la. Naquela época, as baixas russas eram 3 a 5 vezes maiores do que as ucranianas. A preocupação das autoridades americanas com “vidas humanas”, na verdade, são as vidas dos soldados e mercenários de Putin. Para proteger o poder de Putin, as potências ocidentais recomendam que os ucranianos entreguem o seu território." 

Quão socialista/internacionalista é a posição militar do PSTU! 

A LIT-CI tornou-se a ala mais belicista da guerra ucraniana, à direita de Biden e da OTAN. 

Qual é a saída desta carnificina imperialista? O apelo à luta contra a guerra imperialista, enfrentando antes de tudo os exploradores guerreristas de cada país. Os ucranianos, a Zelensky e os russos, a Putin, pela derrubada dos governos anti-operários da guerra para impor governos operários. O apelo à confraternização entre as tropas e os povos da Ucrânia e da Rússia. A LIT-CI apagou completamente isso: para ela o objetivo central deve ser a derrota da Rússia e nessa luta formar uma frente com o exército de Zelensky, a OTAN e o imperialismo mundial. 

Mulheres, mães ou esposas de soldados ucranianos estão realizando manifestações exigindo que os rapazes que já passaram mais de 18 meses consecutivos na frente e que estariam sofrendo física e psicologicamente sejam trazidos de volta. 

Segundo relatórios do Pentágono norte-americano, o total de baixas de soldados de ambos os lados, incluindo mortos e feridos, ultrapassa meio milhão (ao qual se devem acrescentar os civis). Sendo que dos quais, 60% são russos contra 40% ucranianos. Mas os relatórios também indicam que, na sequência da rejeição da contra-ofensiva de Zelensky, as baixas ucranianas estão acelerando. 

O comandante-chefe do exército ucraniano, General Zaluzhny, declarou publicamente que a guerra se encontra num “impasse”, uma posição que foi retratada pelo Presidente Zelensky. O comando militar ucraniano apelou a uma arrecadação massiva para recrutar mais meio milhão de ucranianos para a batalha, o que caiu impopularmente.

É evidente um cansaço crescente na população ucraniana, produto do sofrimento social que a guerra potencia. Mais de 6 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia e o desemprego ronda os 20%. O governo de Zelensky persegue a atividade sindical. 

É evidente que uma “paz negociada” não encerrará a crise militar. Estabelecerá novos acordos entre exploradores contra o povo e será apenas um interregno para a eclosão de novas guerras. O pano de fundo é acabar com o imperialismo capitalista, que é a reação em toda a linha.