terça-feira, 18 de agosto de 2020

O MARXISMO DO NOSSO TEMPO HÁ 80 ANOS DO ASSASSINATO DE LEÓN TRÓSTKY




O balanço feito por Marx em As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850, da Revolução de 1848, faz a defesa da ditadura de classe do proletariado como estratégia política.  

Durante os pouco menos de três efêmeros meses, em que durou a Comuna de Paris, em 1871, cuja ausência de fato de uma ditadura do proletariado, da dissolução de todo o aparato repressivo do estado burgues (exército regular, polícia, judiciário, etc.), antes de mais nada, foi o principal fator da derrota da primeira experiência de um governo operário, levando ao seu aniquilamento físico pelo exército regular da burguesia, em nome da República democrático-burguesa, no que ficou marcada como a Semana Sangrenta, também foi analisada por Marx e Engels.

O balanço do presidente do soviet de São Petersburgo, León Trótsky, feito em 1906, da derrota da Revolução de 1905,  episódio que ficou conhecido como Domingo Sangrento que ficou marcado por um banho de sangue pelas tropas do Czar, é que os trabalhadores podiam e deviam tomar o poder em um país atrasado como era o caso da Rússia czarista. Do que se tratava? Seria ultrapassar o programa democrático burguês através da revolução permanente, ou seja, superar o bloqueio imposto pela ideia do programa mínimo e programa máximo da social-democracia combinada com a perspectiva revolucionária principalmente do proletariado alemão. As tarefas da revolução democrático-burguesa haviam passado para o poder político da classe operária, através da ditadura do proletariado, e combinadas com as tarefas socialistas. Lênin tira essa mesma conclusão com as emblemáticas Teses de Abril, no intervalo entre a Revolução de Fevereiro e a tomada do poder pelos bolcheviques em Outubro de 1917 e buscou obstinadamente a derrubada do governo burguês de conciliação de classes de Kerenski, mesmo nas crises mais agudas como na tentativa de golpe militar pelo general Kornilov. 

Em março de 1936, Trótsky, em A França na Encruzilhada, desmistifica a camisa-de-força da política burguesa perante as massas como um fio de navalha: "A burguesia opera por abstração ('nação', 'pátria', 'democracia') para camuflar a exploração que está na base de sua dominação" (...) O primeiro ato da política revolucionária é desmascarar as ficções burguesas que intoxicam o sentimento das massas populares. Estas ficções burguesas se tornam particularmente danosas quando amalgamadas às idéias de 'socialismo' e 'revolução'." 

Em abril de 1939, Trótsky dispara em O Marxismo de nosso tempo - O pensamento vivo de Marx: 

"Existem hoje no mundo dois sistemas que rivalizam para salvar o capital historicamente condenado à morte: o Fascismo e o New Deal (Novo Pacto). O fascismo baseia seu programa na demolição das organizações operárias, na destruição das reformas sociais e no completo aniquilamento dos direitos democráticos, com o objetivo de impedir o ressurgimento da luta de classes do proletariado. O Estado fascista legaliza oficialmente a degradação dos trabalhadores e a depauperação das classes médias em nome da 'nação' e da 'raça', nomes presunçosos para designar o capitalismo em decadência. A política do New Deal, que tenta salvar a democracia imperialista por meio de concessões para os trabalhadores e para a aristocracia operária, só é acessível em sua grande amplitude às nações verdadeiramente ricas, e nesse sentido é uma política norte-americana por excelência. O governo estadunidense tentou obter uma parte dos gastos dessa política dos bolsos dos monopolistas, exortando-os a aumentarem os salários, a diminuir a jornada de trabalho, a aumentar o poder de compra da população e a ampliar a produção. Léon Blum tentou inutilmente transferir esse sermão para a França. O capitalista francês, assim como o estadunidense, não produz por produzir, e sim para obter lucros. Está sempre disposto a limitar a produção, e até a destruir os produtos manufaturados, se em conseqüência disso aumentar sua parte na fortuna nacional. O programa do New Deal mostra sua maior inconsistência no fato de que, enquanto predica sermões aos magnatas do capital sobre as vantagens da abundância sobre a escassez, o governo concede prêmios para reduzir a produção. É possível uma confusão maior? O governo refuta seus críticos com este desafio: podem fazer melhor? Tudo isso significa que na base do capitalismo já não existe nenhuma esperança.Desde 1933, quer dizer, no curso dos últimos seis anos, o governo federal, os diversos estados e as municipalidades dos Estados Unidos entregaram aos desempregados cerca de 15 milhões de dólares como ajuda, quantia totalmente insuficiente por si mesma e que só representa uma pequena parte da perda de salários, mas, ao mesmo tempo, levando-se em conta a renda nacional em decadência, uma quantia colossal. Em 1938, que foi um ano de relativa reação econômica, a dívida nacional dos Estados Unidos aumentou em dois bilhões de dólares, e como já chegava a 38 bilhões de dólares, chegou a ser superior em 12 bilhões de dólares à maior dívida do final da guerra. Em 1939 passou muito rapidamente dos 40 bilhões de dólares. Que significa isso? A dívida nacional crescente é, obviamente, uma carga para a posteridade. Mas o próprio New Deal só era possível graças à tremenda riqueza acumulada pelas gerações passadas. Só uma nação muito rica pode levar a cabo uma política econômica tão extravagante. Mas nem mesmo essa nação pode continuar vivendo indefinidamente às custas das gerações anteriores. A política do New Deal, com seus êxitos fictícios e seu aumento real da dívida nacional, tem que culminar necessariamente numa feroz reação capitalista e numa explosão devastadora do capitalismo. Em outras palavras, caminha pelas mesmas vias da política do fascismo." (...) "A eliminação da concorrência pelo monopólio assinala o início da desintegração da sociedade capitalista. A concorrência era a principal mola criadora do capitalismo e a justificação histórica do capitalista. Por isso mesmo, a eliminação da concorrência assinala a transformação dos acionistas em parasitas sociais. A concorrência precisa de certas liberdades, uma atmosfera liberal, um regime democrático, um cosmopolitismo comercial. O monopólio, em compensação, precisa de um governo o mais autoritário possível, barreiras alfandegárias, suas “próprias” fontes de matérias-primas e mercados (colônias). A palavra final na desintegração do capital monopolista é o fascismo."

No último encontro de Bolsonaro com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e David Alcolumbre,os mesmos defenderam a manutenção do teto de gastos públicos e as reformas tributária (dai a César! o que é de César)  e administrativa (destruição das já combalidas condições de vida da maioria dos servidores públicos das três esferas do estado). 

A democracia parlamentar maneia e o fascismo tosa, o fascismo maneia e a democracia parlamentar tosa. 

O que está em jogo é uma burguesia desesperada em salvar a sua pele, sem importar qual o método. 

O presidente Bolsonaro, frente às denúncias de corrupção no  interior do governo envolvendo a sua própria família,e principalmente frente à rebelião da poderosa classe operária e da juventude norte-americana contra Trump e o conjunto do regime político, e as mobilizações no Brasil que ganharam as ruas em várias capitais para delas varrerem os fascistas, combinadas com as rebeliões no Chile contra seu correlegionário Piñera, as marchas massivas na Bolívia que se levantam contra o golpe, etc. alterou seu tom e vira definitivamente um governo refém do famigerado Centrão, chefiado pelo ex-comandante da tropa de choque de Collor no Congresso, e também ex-aliado de Lula do PT, Roberto Jeferson. Chamar isso de pragmatismo político não passa de um eufemismo.É a burguesia tentando salvar um sistema em crise mundial e um regime político prá lá de decomposto, que ocasiona consequências sociais das mais terríveis para a maioria explorada, a começar pela pandemia que já atinge mais de 100 mil mortes e mais de 3 milhões de infectados pelo COVID-19.

Contra a ditadura do capital, seja ela escamoteada ou aberta, é necessário lutar pela ditadura do proletariado, em todos os países, ou seja, por governos operários que imponham o programa de transição de León Tróstky, há 80 anos do seu assassinato a mando do infame e contrarrevolucionário stalinismo.