quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

PERU: CRISE REVOLUCIONÁRIA

 Artigo extraído e traduzido do link: https://prensaobrera.com/internacionales/peru-crisis-revolucionaria


Por César Zelada - Dirigente da Agrupación Vilcapaza

A segunda rodada de revoltas populares contra o governo golpista, caracterizada por tendências insurrecionais embrionárias, está abrindo uma crise revolucionária.

 Revolução e contrarrevolução

Dina Boluarte está "escondida" e algumas das manobras que implementa tornam-se o seu oposto. O massacre golpista dos trabalhadores provinciais não intimidou as massas. Ao contrário. Isso os levou a uma intervenção adicional. Os Comitês de Luta ou de Greve formados em muitas áreas desenvolvem-se como organismos quase paralelos do poder operário e camponês. Nada se move na sociedade se o Comitê assim o desejar.

O Aymaraço aprofundou e espalhou a rebelião. O estado de sítio em regiões como Puno é ignorado pelos manifestantes, que continuam em greve por tempo indeterminado. Mesmo nas regiões mais conservadoras do norte, as massas camponesas estão saindo para lutar.

O golpismo contrarrevolucionário estaria pensando em reprimir mais ferozmente através de uma ditadura militar aberta. Essa saída é impulsionada pelos militares congressistas, como Montoya, Cueto e Chiabra, liderados pelo presidente do Congresso, Williams Zapata. Mas, um golpe militar dentro de um golpe seria recebido com mais mobilização em massa e o eventual desenvolvimento de uma guerra civil. 

Como se fosse a insurreição operária e popular boliviana de 2003, as massas em luta, gritam: “agora sim, guerra civil”. No campo, já há tendência de guerra civil. De quiser impor uma ditadura militar aberta, passaríamos para um cenário mais sangrento. 

Esse é o impasse que será resolvido nos próximos dias. O governo golpista de Dina é insustentável. Até a centro-esquerda, que apoiava Dina, teve que se manifestar devido ao escândalo do número de mortes e à radicalização da luta. Associações profissionais, governadores regionais, etc. exigem a renúncia de Dina Golpista. 

Essa pode ser uma das manobras políticas a que a burguesia acaba chegando. No parlamento já foram apresentadas moções para “destituir” (afastar) a “presidente” Dina Boularte, responsabilizando-a por uma repressão “excessiva”. Nesse caso, vão querer transformá-la em bode expiatório da responsabilidade de todo o regime golpista (congresso, judiciário, polícia e forças armadas). 

O Ayamarazo está mudando a correlação de forças até mesmo na Lima conservadora. Na mobilização de ontem, mais de 10 mil trabalhadores, estudantes e autoconvocados se mobilizaram. 

Não às falsas saídas "institucionais" - continuistas 

Entre as soluções defendidas pelo democratismo burguês está a do Partido Roxo (Francisco Sagasti) que propõe uma "trégua". Muitos se adaptam exigindo “novas eleições” e, simultaneamente, uma “consulta” (referendo) sobre a “necessidade” de convocar uma Assembleia Constituinte. Seria seguir um caminho semelhante ao pactuado por Boric no Chile, que conseguiu manter a continuidade do governo assassino de Piñera e estabelecer uma Assembléia Constituinte manipulada pelo poder político burguês. Propostas de um “governo provisório” (Assembléia de Governadores, governo de “notáveis”, etc.) já foram consideradas para encarregar-se de levar adiante esse roteiro pseudodemocrático. Todo o objetivo seria tirar as massas de sua mobilização nas ruas e de sua crescente radicalização, com a proposta do fim da repressão, da “pacificação”. 

Mesmo o Império do Norte, sob Joe Biden, foi forçado a propor “contenção no Peru… apoiamos o compromisso do governo peruano de investigar todas as mortes e garantir que suas forças de segurança respeitem a lei e a ordem, de acordo com os direitos humanos e a legislação peruana”. O que precisa ser "investigado"? Os 50 mortos na luta e as centenas de feridos e detidos são produto da ação repressiva do regime golpista. É um campo para buscar a prisão de algum mal-avisado  (incluindo uma eventual vaga para Dina Boularte). 

"Novas eleições" sob um regime burguês com as mesmas regras de poder não vão resolver nada. Essa abordagem da centro-esquerda mostra seu caráter de atualização do regime de exploração capitalista. O Peru já teve eleições antecipadas em 2000 e 2020 e nada mudou: o mesmo cachorro com coleira diferente. Se fossem convocadas “novas eleições”, com o golpe no poder, seria trocar muco por baba. 

A saída democrática mais básica é: abaixo o regime golpista. Assembléia Constituinte Soberana. 

Por uma Assembleia Nacional dos Trabalhadores 

O objetivo central neste momento é estender a greve geral - que tem sua vanguarda massiva no sul do Peru - a Lima e a todo o país. Para isso, seria importante que a CGTP e todas as organizações de massas rompessem com todas as expectativas de “diálogo” com o governo golpista e realizassem uma Assembleia Nacional dos Trabalhadores, com delegados e representantes das fábricas, bairros, organizações, etc., vote por um plano de luta no quadro da greve geral e uma plataforma independente dos trabalhadores: fora o golpe, assembleia constituinte soberana agora! 

Liberdade a Pedro Castillo e todos os detidos por lutar contra o golpe. Revogar o Estado de Emergência. Vigência plena das liberdades democráticas (reunião, manifestação, etc.). Fora o Exército e a Polícia das ruas. Prenda os repressores do povo.