sábado, 5 de março de 2022

Às Trabalhadoras - Discurso de Alexandra Kollontai, revolucionária russa bolchevique, em 1918

Vide link: https://www.youtube.com/watch?v=Bpm98pCtpOk e

link: https://www.marxists.org/espanol/kollontai/1921/1921-alexandra-kollontai-ensayo-autobiografico.pdf


Alexandra Kollontai, revolucionária russa, teórica do marxismo, participou ativamente da Revolução de 1905 que acabou derrotada por um banho de sangue promovida pelas tropas do czar, episódio que ficou conhecido como o primeiro domingo sangrento da História. Em 1907 encontrou Lênin no Congresso Socialista Internacional em Stuttgar e afirma que a posição de Lênin no caso do estouro de uma guerra era que o proletariado convertesse a guerra imperialista em uma guerra civil. Mais precisamente, a resolução redigida por Lênin e Rosa Luxemburgo era: "No caso de que apesar de tudo exploda uma guerra, é obrigação do proletariado intervir a fim de por fim à mesma o mais rapidamente possível, e com toda a sua força aproveitar a crise econômica e política criada pela guerra para agitar entre os estratos mais profundos do povo e precipitar a derrubada da dominação capitalista." Já no seu retorno do exílio no curso da primeira guerra mundial e da Revolução de Fevereiro, na Rússia, em 1917, que derrubou o secular regime czarista da dinastia dos Romanov, se opôs ao governo provisório composto por mencheviques e socialistas-revolucionários, contra o que ela considerava o ponto de vista de "camaradas embriagados pela revolução e partidários da 'unidade da frente'". Em uma polêmica com as ativistas russas que exigiam do governo provisório a aprovação do direito ao voto feminino, a bolchevique Alexandra Kollontai propagandeava e agitava palavras-de-ordem contra guerra, contra o oportunismo, a favor do poder dos soviets. Após ter sido considerada suas posições "extremamente esquerdistas" numa Conferência Pan-russa dos soviets, em 04 de abril, logo após Lênin tornar públicas as célebres Teses de Abril, por ter apoiado Lênin de primeira hora, lhe valeu o ataque pela imprensa anti-bolchevique com uma canção: "Lênin tenha ou nao razão/Kollontai está de acordo". Buscou sistematicamente e obstinadamente um trabalho entre as mulheres ao perceber o avanço da luta pela igualdade das mulheres operárias. Fez um chamado às operárias acerca da carestia de vida (inflação), e às mulheres estrangeiras sob a bandeira do internacionalismo, assembleias e manifestações de operárias contra a guerra. Em junho aprovou suas teses e resoluções sobre a participação das mulheres operárias no movimento sindical na Primeira Conferência Pan-russa de Sindicatos. Após as Jornadas de Julho, que foram consideradas uma precipitação e uma ação prematura por Lênin, e uma forte propaganda e agitação do governo Kerenski acusando os bolcheviques de espiões do imperialismo alemão, e agentes do Kaiser Wilhelm, Kollontai retornando à Rússia é presa em São Petersburgo, no bairro de Vyborg, por mais de um mês, sob um severo regime repressivo, sem acesso aos jornais, sem autorização a ver ninguém para logo depois ser libertada por Kerenski sob um regime de prisão domiciliar. Depois de participar ativamente na Revolução de Outubro entrou no Conselho de Comissários do Povo na condição de Comissária para a Previdência Social.  



Camaradas trabalhadoras!

Por longos séculos, a mulher não teve liberdade e direitos, pois era tratada como um mero apêndice, como a sombra do homem. O marido sustentava a esposa, e em troca ela se curvava ao seu arbítrio, suportando quieta a falta de justiça e a servidão familiar e doméstica. A Revolução de Outubro emancipou a mulher: hoje, as camponesas têm os mesmos direitos que os camponeses, e as operárias, os mesmos que os operários. Em todo lugar, a mulher pode votar, ser membro dos sovietes ou comissária, e até comissária do povo.

A lei equipara a mulher em direitos, mas a realidade ainda não a libertou: as operárias e camponesas continuam subjugadas ao trabalho doméstico, como escravas dentro da própria família.

Os operários devem agora cuidar para que a realidade tire dos ombros delas o fardo da lida com os filhos e alivie às operárias e camponesas o peso dos serviços de casa. A classe operária também está interessada em liberar a mulher nessas esferas. Os operários devem entender que a mulher é tão integrada à família do proletariado quanto eles próprios, pois ela trabalha sob as mesmas condições que o homem. Um terço de todas as riquezas da Terra surge das mãos das mulheres; a Europa e a América contam 70 milhões de operárias. Numa sociedade comunista mulher e homem devem ter direitos iguais! Sem essa igualdade, não há comunismo.

Então, mãos à obra, camaradas trabalhadoras! Iniciem sua emancipação! Construam creches e maternidades, ajudem os sovietes a organizar refeitórios públicos, ajudem o Partido Comunista a edificar uma nova e radiosa realidade. Tomem lugar nas fileiras de todos os que lutam pela libertação dos trabalhadores, pela igualdade, pela liberdade e pela felicidade dos filhos de vocês. Tomem lugar, operárias e camponesas, sob a bandeira vermelha revolucionária do vitorioso comunismo mundial!