quinta-feira, 26 de novembro de 2015

MACRI SE IMPÔS A SCIOLI POR UMA MÍNIMA DIFERENÇA!

                                                                                         

                                                                       JORGE ALTAMIRA


Somente uma fetichização da democracia eleitoral pode ignorar que nos marcos em que se desenvolveu o segundo turno representam uma regressão política da Argentina. Totalmente ao contrário do novo relato dominante que pinta como histórico tudo o que vem ocorrendo. Desde a Vitória do PRO na província de Buenos Aires, o debate presidencial e a vitória do Cambiemos. No domingo passado teve lugar, na realidade, uma disputa acerca das características de uma saída capitalista à bancarrota financeira que deixou a gestão de governo do kirchnerismo, entre dois candidatos conservadores da burguesia local. Que o voto popular tenha sido instrumentalizado como arbitro dessa diferença, não altera em nada seu conteúdo reacionário. Os povos não somente protagonizam epopeias históricas em períodos excepcionais, também podem sucumbir ante os desafios que lhe impõem os impasses da sociedade em que habitam.

O Kirchnerismo designou de entrada ao macrismo como seu “inimigo principal” com a convicção de que essa dicotomia lhe garantiria um prolongado monopólio de poder. O tiro lhe saiu pela culatra. Não contou com suas próprias contradições. Por isso desenvolveu com entusiasmo uma política de “desendividamento”que, pregada como uma expressão de autonomia nacional, serviu ao esvaziamento financeiro da Argentina e a bancarrota atual. A dívida impagável com os credores internacionais foi reconvertida em uma hipoteca impagável com a Anses, o Banco Central e o Nación e até o Pami. Agora difunde a necessidade de uma “recapitalização” e para isso de um “reendividamento”. É óbvio que Macri e o Pro são instrumentos mais afins para esta tarefa de “ajuste” do que qualquer outra expressão política nacional. Após um transito pelo massismo, os Techint, a Fiat e os bancos mudaram de frente para o macrismo.”Após um transito pelo massismo, os Techint, a Fiat e os bancos mudarem frontalmente sua orientação política para o macrismo.

Marx dizia que “O passado oprime como um peso morto o cérebro dos vivos”. Isto talvez explique que os K tenham querido sair do impasse econômico, tardiamente, por meio do bonapartismo, ou seja, do governo pessoal e a tentativa de repetir o primeiro peronismo. Somente conseguiu acentuar o sistema de camarilhas, as conspirações entre serviços e a corrupção. Devolveu credibilidade aos falsos profetas da democracia e do “consenso”. Aumentou a opulência com o sistema de poder pessoal que se acentuou com o colapso econômico. Estas contradições provocaram realinhamentos tormentosos no eleitorado, que demonstrou com isso que era um organismo vivo e não um algarismo numérico. Primeiro tentou envolver o aparato macrista em Buenos Aires com uma súbita guinada para Lousteau ( o qual quase havia enterrado as aspirações presidenciais de Macri). Seguiram-se semanas mudanças: caíram os barões do suburbano (prefeitos históricos da região em torno de Buenos Aires), os K perderam a província de Buenos Aires, o qual habilitou a futura governabilidade para uma presidência de Cambiemos. Macri entrou como ganhador do segundo turno, porém ao final sua esperada vitória por goleada, transformou-se em uma vitória por pontos. A volatilidade do eleitorado reflete a volatilidade do conjunto da situação política. Nos dias prévios ao segundo turno, os porta vozes do macrismo deram sinais de que estavam repensando a saída de “shock” por uma saída “gradual”. Como explica uma edição recente do The Economist, as chamadas economias emergentes estão na lona, especialmente o Brasil, e em um segundo momento a China. Ainda que se reserve alguma possibilidade para a Índia e a Argentina, descreve uma agudização da crise mundial que opera como uma barreira para uma saída de um ajuste nestes países. Uma transição econômica e política indolor para a Argentina e para os trabalhadores está fora do radar. A luta para não voltar a pagar a crise capitalista, voltará a colocar na agenda a necessidade de uma alternativa política autônoma dos trabalhadores.

Para a Frente de Esquerda é significativo que o voto em branco foi descartado por completo pelo eleitorado, como um instrumento inadequado. Inclusive nosso próprio eleitorado não compartilharam da proposta de que a delimitação política com os 'ajustadores' do capital era, primeiro, uma questão de princípios, e a única forma de propor uma perspectiva superadora dessa armadilha política. Ainda que os fatos do presente e do futuro provarão o acerto de nossa posição, é necessário aprofundar a ação política da Frente de Esquerda. Essa necessidade revela toda sua importância ante o fato de que muitos setores combativos aceitaram contribuir com o voto para Scioli. Após o rotundo fracasso do governo, os K tentarão converter-se em líderes da oposição ao macrismo (sem deixar por isso de negociar para conservar privilégios e posições estatais). O mesmo vale, com matizes diferentes, para a burocracia sindical. Desde sua ação parlamentar, sindical e nos lugares de trabalho e estudo, a Frente de Esquerda deve desenvolver as condições políticas para que emerja uma nova direção política para as massas da Argentina.