terça-feira, 12 de setembro de 2017

A CUT BLOQUEIA AS GREVES PARA APOIAR LULA


 

Por uma luta operária continental

 
Rafael Santos – dirigente do Partido Obrero da Argentina
O Congresso Extraordinário da CUT votou realizar uma marcha no dia 11 de novembro, contra as “políticas neoliberais” no continente, na capital uruguaia, em Montevidéu. A iniciativa contou com o apoio da delegação da central uruguaia (PIT-CNT) e da CTA argentina de Yaski. A burocracia destas três centrais se encontra empenhada em impedir uma luta de classe consequente contra estas políticas em seus respectivos países. Não seria mais efetivo declarar uma Greve Geral continental de 24 horas, para iniciar um plano de lutas conjunto em cada país? É o que demonstrou a greve internacional de mulheres no dia 8 de março. A resolução que votou a CUT é uma farsa.
De 28 a 31 de agosto ocorreu em São Paulo o Congresso Nacional da CUT, no Brasil. A maior central de trabalhadores da América Latina, com cerca de 8 milhões de filiados, o convocou com o propósito, declarado, de fazer frente ao ataque do governo golpista de Temer contra os trabalhadores. Estão sendo aprovadas leis que congelam os orçamentos sociais (saúde, educação, etc.) por 20 anos, de terceirizações trabalhistas generalizadas com salários rebaixados. Uma reforma trabalhista anti-operária faz tábua rasa de acordos e conquistas operárias (terceiriza a atividade principal das empresas, promove acordos por empresas e individuais, divide as férias, autoriza a extensão da jornada trabalhista, etc.) e prepara reformas reacionárias em matéria previdenciária e fiscal. Simultaneamente, o governo Temer desencadeou uma feroz política de privatizações de portos, aeroportos, da Casa da Moeda, do gigante provedor de eletricidade (Eletrobrás), duas centrais atômicas e a represa binacional de Itaipu. Se trata de uma permuta de ativos pela dívida externa, de 14 bilhões de dólares. Temer acaba de entregar a reserva natural de Renca – 46.500 Km², no Amazonas! – a grandes mineradoras de Canadá e China.  
Não se votou a Greve Geral 
Neste quadro, o Congresso da CUT se transformou em um show de verborragia. Com cem convidados internacionais – entre os quais esteve Hugo Yaski, da CTA argentina – fez todo tipo de denúncias e convocou a lutar contra o neoliberalismo, mas ... não votou um plano de lutas para demolir os ataques do governo (e ao próprio governo). A greve geral é uma palavra-de-ordem popular que está nas ruas e no movimento operário. O presidente da CUT, Vagner Freitas, prometeu que se a reforma previdenciária for votada no Congresso Nacional, o “Brasil vai parar”; mas não fez greve alguma contra a reforma anti-operária. Neste caso, a burocracia da CUT votou um plano ... para juntar um milhão e meio de assinaturas para apresentar um projeto de iniciativa popular de anulação da mesma. A “iniciativa” ficará nas mãos de um Congresso de golpistas e ladrões.
“Lulinha, paz e amor” 
Na realidade, o Congresso “extraordinário” da CUT votou outra estratégia: o apoio eleitoral a Lula. No dia 13 de setembro, na sede de Curitiba do juiz Sérgio Moro, fará um ato pela suspensão da “perseguição judicial” a Lula, com a palavra de ordem: “Eleição sem Lula é fraude!”. Uma concentração parecida com que a houve em Comodoro Py em defesa de CFK. A Central se coloca a reboque da campanha eleitoral de Lula para as eleições de outubro de 2018. A CUT incorporou-se à caravana de atos de Lula pelo Nordeste. Em resumo, nada de lutas por mais de um ano – ou seja, um apoio à agenda de Temer. Lula e a CUT estão buscando uma absolvição política dos grandes capitalistas. Como o kirchnerismo na Argentina, o PT acompanha – como pseudo opositor - a ofensiva burguesa contra as massas.
A greve de Brasília 
No mesmo dia da abertura do Congresso Extraordinário da CUT saíram em greve os rodoviários de Brasília, o que deixou sem transporte a mais de um milhão de passageiros e paralisou a capital do país. Reivindicavam um aumento de 10% frente a uma proposta patronal de 4,5%. Não teve o apoio prático da CUT. A burocracia da CUT e do PT está empenhada em desmoralizar o caminho da luta aberto pela Greve Geral de abril passado. A maior parte da esquerda brasileira converteu-se também ao eleitoralismo – antecipadamente – inclusive à campanha de Lula presidente. O PSOL acompanha esta política de trégua, enquanto se prepara para decidir sobre seu próprio candidato para a eleição que deverá ocorrer daqui a quatorze meses. A condição para que essa perspectiva aconteça está dada por um regime que prepara uma reforma política parlamentarista, que pode acabar com a eleição presidencial. A esquerda brasileira incorporou-se a uma política que visa neutralizar a tendência de luta dos explorados.