terça-feira, 26 de abril de 2016

NÃO AO GOLPE!

                                                                         



A FRAÇÃO DOMINANTE DA BURGUESIA SE UTILIZA DA
CRISE DO REGIME POLÍTICO PARA OBTER O PODER
E FORMAR UM GOVERNO DE COALIZÃO E UNIDADE NACIONAL
DO GRANDE CAPITAL CONTRAS AS MASSAS TRABALHADORAS!
TEMER, CUNHA, RENAN, PMDB, PSDB E DEMAIS PARTIDOS
BURGUESES PREPARAM UM VERDADEIRO ROLO COMPRESSOR
CONTRA A MAIORIA ESMAGADORA DA POPULAÇÃO!
PELA INTERVENÇÃO INDEPENDENTE DOS TRABALHADORES!                                                                     
                                                      

           David Lucius

Em primeiro lugar temos caracterizar que tudo o que vivenciamos atualmente em nosso país nada mais é do que a expressão inequívoca da crise mundial do capitalismo, que eleva as contradições sociais, econômicas e políticas a um zênite em que a luta de classes, assim como a luta pela sobrevivência de cada classe social se dá, cada vez mais, sob a forma de uma encarniçada luta política.


Nosso país encontra-se hoje em dia sob os efeitos imediatos da crise mundial por ter uma grande parte de sua atividade econômica como dependente ou influenciada (direta ou indiretamente) pela venda de matérias-primas ou commodities, que no último período vem desvalorizando-se em todos os mercados mundiais devido aos efeitos da crise e das quedas internacionais de consumo, assim como, da própria retração da atividade econômica.



Não há como separar a nossa crise política e econômica do contexto da crise mundial. A crise histórica do capitalismo que vivenciamos afeta toda economia mundial e com isso vai derrubando regimes políticos inteiros que até a pouco tempo pareciam sólidos. A América latina hoje encontra-se fortemente afetada por essa crise e seus efeitos devem varrer todo o continente.


No Brasil a crise desenvolveu-se de forma concomitante como uma crise política e econômica. O PT que sustentava um governo de colaboração de classes com uma das frações da burguesia e do grande capital, começou a perder o controle da economia e do poder político diante do agravamento da crise e de suas consequências. Seus sócios políticos e econômicos foram “abandonando” o barco sob a bandeira da denúncia de um governo imerso na “corrupção”. Corrupção essa que é o próprio modus operandi da burguesia mundial, mas que tem no Brasil um desenvolvimento mais intenso, devido a formação histórica do país e da própria burguesia nacional. Deve-se sempre colocar em evidência que em todo processo recente de corrupção política temos empresas que corrompem desviando recursos do Estado para o seu bolso. O grande capital que parasita o Estado e que até ontem estava com o governo agora é o principal promotor do impeachment, especialmente os setores industriais paulistas agrupados na FIESP. A burguesia e seus partidos foram abandonando paulatinamente o PT com delações premiadas contra a corrupção e denúncias de pedaladas fiscais, mas ocultam que não estão abandonando o governo devido a corrupção, mas procurando um governo em que a corrupção possa continuar de forma mais estável e sem tantas denúncias (o que é o PMDB, no cenário político brasileiro, senão o partido que dá aulas de como se praticar a corrupção de forma discreta e duradoura?), as pedaladas fiscais que hoje são denunciadas, foram assinadas por vários presidentes (e por Temer interinamente), enquanto a economia ainda não soçobrava, a burguesia e seus partidos aproveitaram as diversas bolsas-empresario na forma de subsídios, que a FIESP e outras federações empresariais comemoravam, curiosamente agora essas mesmas federações questionam que vai pagar o pato (o símbolo da luta desse setor é um enorme pato!) diante do deficit no orçamento federal. 

A obsessão da burguesia com o orçamento federal é antes de mais nada a preocupação com os grandes lucros que são gerados pelos títulos da dívida pública, comprados primeiramente pelo sistema financeiro, mas que foi vendido e revendido a grande parte do grande capital nacional e internacional, o receio é de que a crise mundial atinja o país de forma tão fulminante que o Estado entre em 'default', ou seja: uma quebra em que não consiga pagar os títulos da dívida pública e seus gordos juros, os mais altos do mundo, mas, como tudo no capitalismo, um dos mais arriscados também, pelo menos nos últimos anos.

O que fica claro é que a burguesia abandonou o governo e deixou de sustentar essa via de colaboração de classe como política de sustentação para seu sistema de dominação. A crise mundial levou a burguesia nacional a mudar de uma política de colaboração de classes para uma coalizão interna entre suas várias frações e desse modo tentar impedir a tendência geral de queda em seus lucros. Busca então desesperadamente outra alternativa, não para mudar de forma brusca a sua política, mas para aprofundar o que já vem fazendo há décadas: parasitar o Estado de todas as formas, através de subsídios, de títulos da dívida pública (que pagam a maior taxa de juros do mundo!) e da corrupção, que é um de seus grandes negócios, mas como o PT ficou com cara de “bandido” diante da "opinião pública" precisa arrumar outro “hóspede” que assuma o atual governo para tudo voltar a ser como antes, lógico que de forma mais intensa e profunda, afinal a crise é grande e a fome por altos lucros por parte da burguesia só poderão ser contemplados por um governo que passe literalmente um rolo compressor sobre as costas da população. O PT somente servirá agora, no plano imediato, para a burguesia, como “bode expiatório” de tudo o que tiver que ser feito, realizado ou denunciado.


Mas diante disso não devemos de forma alguma “passar a mão na cabeça” do PT. Grande parte da crise que vivenciamos é de sua inteira responsabilidade. A corrupção generalizada é apenas a expressão da adaptação do PT a política de classe da burguesia: quem é que corrompe? Sempre a iniciativa privada ou seja, o grande capital. Quem é corrompido? Sempre os partidos burgueses que eram aliados do PT até ontem. O PT mutila e impede qualquer desenvolvimento da consciência política e da organização dos trabalhadores. Mesmo durante o golpe privilegia sempre os “conchavos” de bastidores com os políticos burgueses em vez de potencializar a luta. Até mesmo a CUT parece hipnotizada dada a influencia o PT em seu interior. A beira de um golpe e nem um sinal de organização dos trabalhadores por parte da CUT. No máximo manifestações sob o controle da burocracia partidária. Nem mesmo a palavra-de-ordem de greve geral é timidamente levantada ou agitada. O PT é o símbolo de tudo o que os trabalhadores não devem realizar ao construir um partido de classe. E não podemos nos esquecer que grande parte do golpe originou-se dentro de seu governo, com seus ministros burgueses e com Michel Temer, Cunha, Renan e o PMDB e outros partidos como aliados. O PT ficou durante muito tempo utilizando o escudo de “Não Vai Ter Golpe!” apenas para defender seu governo, enquanto o golpe era gerado e gestado no interior de seu próprio governo! Sobre isso se calam e fingem que os golpistas são apenas a “oposição burguesa”, mas seus principais líderes eram até ontem os sócios do próprio governo! O PT, através de sua aliança estratégica com a burguesia, armou e municiou o golpe em curso!

Temos que deixar patente e claro que esse é um golpe de classe da burguesia! A política de colaboração de classes que o PT sustentava com a burguesia esgotou-se. Não por uma crítica no interior do PT ou da esquerda, mas por que os setores dominantes da burguesia que estavam em aliança com o PT romperam com este governo moribundo. A luta pelo poder colocava dois blocos fundamentais da burguesia em campos opostos: um junto com o PT e o governo e outro com a “oposição” burguesa. No último período os setores dominantes da burguesia unificaram-se, sob a articulação do PMDB, de Cunha e Temer, com o apoio da quase totalidade dos partidos burgueses. O golpe tem seu caráter de classe. Os setores que fecharem os olhos ou que cruzarem os braços diante do golpe terão que responder historicamente no futuro diante das massas pelos seus atos. Não é admissível uma política classista que cruze os braços ou os olhos diante do grande acordo que a burguesia realiza, unificando seus principais partidos, entidades e representantes para praticar um golpe, um assalto ao poder político. A partir do controle do legislativo saqueiam o poder executivo. A partir do controle do Estado saquearão as massas.


A crise deve continuar depois da votação do impeachment, com a vitória parcial ou não dos golpistas. De qualquer forma a crise ficará mais intensa, independente do resultado da votação. Devemos lutar de forma veemente contra essa investida da burguesia de saquear o poder político por meio de um impeachment através da unificação momentânea de suas frações dominantes. Aos trabalhadores cabe a organização independente e política quanto classe para poder lutar e ter um papel no desenvolvimento histórico dessa crise. Diante da crise mundial do capitalismo, de seus efeitos em nosso continente e no Brasil, temos que lutar por uma organização dos trabalhadores de forma independente do governo e do PT, de um lado, e da burguesia, do grande capital e de seus partidos, de outro, como primeiro passo para se levantar e construir um partido que defenda claramente seus interesses imediatos e históricos, única ferramenta organizativa e programática que pode dar conta dos impasses e contradições que nos oprimem diariamente.