quarta-feira, 1 de outubro de 2014

VOTAR PSTU

                                                                 






Guilherme Giordano


As eleições tomaram um curso no Brasil inesperado e inusitado para os interesses do grande capital nacional e internacional.
De repente, como se fosse um raio em céu azul, de um acidente no sentido literal de percurso, brotou a candidatura de Marina Silva, herdeira da política de conciliação de classes impulsionada pelo núcleo dirigente do PT, que foi se cristalizando à medida em que os partidos tradicionais da burguesia foram entrando em colapso e o PT era convocado gradativamente a administrar os negócios da burguesia e do imperialismo, primeiramente nas prefeituras e estados, para, posteriormente, ser praticamente obrigado a tomar as rédeas do centro político do estado burguês. Assim, depois da política de terra arrasada da era FHC que levou o país a uma crise sem precedentes, fazendo inclusive com que os partidos e políticos representantes do grande capital desembarcassem do seu governo antes mesmo do final do seu segundo mandato, o que não impediu que fossem levados para o fundo do poço, como foi o caso do PFL, hoje, DEM, que combina com o verbo definhar no gerúndio, DEFINHANDO, e o malufista PP, que esconde-se hoje na "base" de sustentação política do governo do PT, a mesma classe social que derrotou a candidatura de Lula por três vezes, em 1989, 1994 e 1998, foi praticamente obrigada a elegê-la, em 2002, é claro, que com o precedente compromisso e acordo formal deste com os organismos financeiros internacionais e numa aliança espúria e estratégica com José de Alencar, um tubarão da indústria têxtil e ligado ao fundamentalismo evangélico.
Lula foi a saída menos onerosa e prejudicial para os interesses da burguesia e do imperialismo, no Brasil e na América Latina. Foi o mal menor para o grande capital nacional e internacional, que acabou numa situação de profunda instabilidade política do regime burguês, preservando e até aumentando os ganhos dos banqueiros, do agronegócio, de setores da grande indústria e da especulação imobiliária, em detrimento dos trabalhadores da cidade e do campo. Nos seus 8 anos de mandato, por exemplo, nunca o agronegócio lucrou tanto, muito mais inclusive do que na era FHC, enquanto o número de assassinatos no campo de lideranças e trabalhadores sem-terras aumentou vertiginosamente, tendo a reforma agrária, mesmo limitadíssima, pois realizada através da indenização daqueles que vivem especulando com o estoque da terra, da chamada renda fundiária, sido praticamente paralisada.
Já, no final do seu 2º mandato, Lula começou a enfrentar mobilizações dos trabalhadores da cidade e do campo, dando sinais de esgotamento da capacidade de contenção e controle dos chamados movimentos sociais, por conta principalmente da crise econômica mundial que acabou explodindo em 2008. A "blindagem" da economia nacional revelou-se como uma política que proporcionou uma enorme transferência de renda principalmente para o capital especulativo, que nadou na chamada ciranda financeira, conquistando dessa maneira uma gordura que se traduziu artificialmente em uma política de crédito para manutenção de um "aquecimento" no consumo interno, sinônimo de endividamento da maioria da população.
O governo Dilma foi o resultado de um esforço concentrado para escamotear todas as consequências nefastas da crise que abalou a economia mundial em 2008, que rebentou na forma das multitudinárias manifestações de 2013, as chamadas jornadas de junho, que se fincaram na história do país como um divisor de águas, na medida em que, embora temporariamente, tenham colocado em xeque o conjunto das instituições políticas, inclusive dos partidos que se colocam à esquerda, bem como de alguma seita, que entrou em colapso, a ponto de acusar os manifestantes de "estarem seguindo as bandeiras da direita e do imperialismo". Ou seja, supostamente seriam manifestações reivindicando "mais direita", "mais imperialismo", porque as manifestações foram em última instância dirigidas contra um governo que está completando 12 anos "agradando" os interesses da direita, que está no governo, e do imperialismo.
Dessa forma, estamos atravessando uma etapa de profundo impasse da burguesia e do imperialismo, que diante da falência econômica do seu condomínio, estão obrigados a escolher o síndico brasileiro de uma massa falida a nível mundial. Assim, as nuances entre as três principais candidaturas que foram "democraticamente" escolhidas pelos grandes capitalistas nacionais e internacionais, para descarregarem sua crise nos trabalhadores da cidade e do campo, são resultado do fracionamento e da fissura aberta pela crise. Um bloco profundamente heterogêneo da burguesia e do imperialismo será obrigado a enfrentar as massas no próximo período, o que indica desde já uma profunda fragilização da política dos exploradores que está obrigando os explorados a arcarem com a sua bancarrota, de maneira cada vez mais árdua e cruel.
Por isso, o voto no PSTU só pode ter uma consequência política para os de baixo, na medida em que se traduzir numa política de acumulação de forças das organizações que se pautam pela independência política, frente a todas as alternativas burguesas e pró-imperialistas. A luta por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo só poderá vingar se ela for capaz de arrastar as mais amplas massas detrás de um programa político de defesa das suas necessidades mais prementes, um programa de transição entre o sistema capitalista, em sua fase senil, e uma nova sociedade, a sociedade socialista.