Publicamos aqui declaração do Agrupamento Vilcapaza do Peru em defesa da necessidade de ser convocada uma Segunda Conferência Latino-americana extraída e traduzida do site prensaobrera.com, do Partido Obrero da Argentina
Agrupamento Vilcapaza do Peru
A 1ª Conferência da América Latina e dos Estados Unidos em meados do ano passado foi um sucesso estratégico.
Convocada pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores-Unidade da Argentina,
conseguiu reunir mais de 50 organizações de 15 países do continente.
Mas o mais importante é que, além de reunir os setores mais combativos da vanguarda, debateram-se
questões estratégicas como que tipo de partido construir e que política adotar diante do reformismo de esquerda.
Nesse debate, os grupos que assinaram o texto "Um programa revolucionário e uma estratégia de intervenção na América Latina e nos Estados Unidos", apontaram que nos aproximamos de uma segunda onda de rebeliões populares e que várias organizações frente populistas tendiam ao colapso devido à sua própria política de colaboração de classe, como depois aconteceu com a Frente Ampla (FA) do Peru, da qual participou a Uníos (UIT-CI). Desde do agrupamento de Vilcapaza destacamos que seria apenas uma questão de tempo até que estourasse aqui também a rebelião popular que percorria o continente e que a vanguarda se preparasse para essa perspectiva. E, de fato, logo em seguida, uma explosão social se desenrolou em todo o nosso país, desencadeando não só a pandemia, mas também a aventura do golpe da máfia parlamentar liderada por Manuel Merino “o breve”.
Diante das enormes mobilizações que abalaram todo o país, o autodenominado Presidente Merino respondeu com uma repressão brutal que resultou na morte de dois jovens pela polícia. A queda de Merino trouxe consigo a ascensão emergencial de Francisco Sagasti apoiado desde a direita até setores como a Frente Ampla que afirmam estar à esquerda. O único objetivo deste novo governo era conter a raiva popular.
No entanto, a rebelião continuou em nosso país com numerosas mobilizações de trabalhadores e camponeses de norte a sul. A aparente calma foi quebrada pela irrupção dos trabalhadores da agroindústria que foram às ruas contra a flexível “Lei de Promoção Agrária” que nada mais é do que um ataque direto aos salários e às condições de trabalho de milhares e milhares de trabalhadores rurais. O governo teve que ceder e tentar no Congresso da República a reforma desta lei para tentar conter a grande greve dos trabalhadores agrícolas. Mas é uma manobra Gatopardista: algo se muda para tentar preservar aspectos decisivos da superexploração dos trabalhadores e dos subsídios à burguesia agroexportadora.
Sagasti, que havia assumido o cargo repudiando os assassinatos do governo Merino, já carrega nas costas a morte pela polícia de três jovens trabalhadores nos protestos contra esta lei anti-operária.
Quase concomitantemente, a rebelião popular estourou na Guatemala, ameaçando incendiar todo o Congresso de seu país, rejeitando o corte orçamentário pró-patronal.
Essa nova onda de rebeliões populares ocorre, por um lado, em um novo cenário de derrota eleitoral das correntes populistas mais reacionárias como as de Donald Trump ou Jair Bolsonaro e o desenvolvimento de uma segunda onda do coronavírus com maior ataque à condições miseráveis em que a classe trabalhadora já vive com uma perspectiva de maiores demissões, ajustes e maior endividamento com organizações imperialistas como o FMI.
E, por outro lado, na ascensão ao poder de fórmulas nacionalistas de centro-esquerda e burguesas como as do MAS na Bolívia e a vitória da aprovação no Chile, esta última dialeticamente alimentada pela rebelião popular latino-americana. Mas não são apenas esses dois países. O que caracteriza todo o continente é uma ascensão vertiginosa da luta de classes, como é o caso do Haiti, Porto Rico ou Argentina, com vários protestos e mobilizações contra os ajustes fundo-monetaristas, a corrupção ou a arrogância do governo capitalista.
Porém, apesar da impressionante combatividade das massas trabalhadoras, elas se encontram em um impasse, pois não possuem uma ferramenta política para centralizar seu combate e superar as mediações centristas que operam como mais uma variante do capitalismo com rosto humano.
É assim que a necessidade de uma II Conferência Latino-Americana cai como uma luva. Por essas razões, convocamos as organizações que se dizem pertencentes à esquerda revolucionária peruana a desenvolver uma reunião de deliberações a esse respeito.