segunda-feira, 29 de abril de 2024

NO 1º DE MAIO DE 2024 - Os trabalhadores do mundo contra as guerras, a militarização e a economia de guerra

 Vide link: https://prensaobrera.com/internacionales/los-trabajadores-del-mundo-contra-las-guerras-la-militarizacion-y-la-economia-de-guerra

Vide link: https://occhiodiclasse.it/lavoratori-del-mondo-contro-le-guerre-la-militarizzazione-e-leconomia-di-guerra/?fbclid=IwZXh0bgNhZW0CMTEAAR2l79G0f7zU2CFKJfqNWEegWfvPt3f-C6N9cIcwKdb0KCb_HvHmhUJcOEM_aem_ARDVgix9Ftexa_4a2mRDm6cRtg9avxiDw8sbR_Ya1UaDdv_z1xSTUMNyUpFE08Son3NY5wQTGbdeUwEwjf6rQIUq

Mobilização dos desempregados na Itália

Declaração internacional para o 1º de maio

Semana após semana, as trombetas e os tambores da guerra soam cada vez mais alto, incluindo a Europa na linha de frente. À medida que o massacre imperialista na Ucrânia continua, os membros europeus da OTAN apelam e planejam “preparativos de guerra”, “economia de guerra”, restabelecendo o recrutamento, alimentando o nacionalismo reacionário e a xenofobia. A UE (União Europeia) e os seus Estados membros estão aumentando os seus orçamentos militares, preparando-se para transformar os trabalhadores e os jovens em “bucha de canhão” para reforçar a sua parte na redivisão do mundo.

A guerra genocida de Israel contra o povo palestino acaba de completar 6 meses com dezenas de milhares de crianças e idosos palestinos mortos, graças ao patrocínio dos Estados Unidos e de outras potências imperialistas às quais depende para cometer massacres diários com total impunidade.

No momento em que se escrevia este apelo internacionalista para o 1º de Maio, a tensão política internacional piorou significativamente, ameaçando explodir numa guerra generalizada no Oriente Médio.

A tentativa óbvia do governo de Netanyahu de superar as suas dificuldades, expandindo a guerra a toda a região do Oriente  Médio, deverá levar-nos a reforçar ainda mais a mobilização internacional contra o Estado sionista e os seus protetores.

 Na fronteira do Pacífico da Eurásia, o governo japonês está revendo a Constituição - com o endosso dos vencedores americanos que a impuseram à potência derrotada, com o terror de duas bombas atômicas - para levar a cabo um rearmamento total e irrestrito e enfrentar a crescente influência econômica da China e proatividade militar na região, onde o futuro de Taiwan funciona como uma bomba-relógio.

 O contexto global de crise capitalista e a crescente rivalidade entre as potências capitalistas, incluindo a Rússia e a China, estão minando a supremacia industrial e financeira dos estados imperialistas estabelecidos, os Estados Unidos e a Europa. Longe de criar um novo equilíbrio comedido e pacífico, como afirmam os defensores do “mundo multipolar”, isto está levando as potências em declínio a reforçar a sua primazia através do protecionismo, da política industrial financiada pelo Estado e da intervenção militar. A Terceira Guerra Mundial nunca foi um resultado mais provável, intencional ou não, das lutas intercapitalistas.

Enquanto a guerra na Ucrânia massacra centenas de milhares de pessoas e desloca milhões no núcleo europeu do capitalismo, no continente africano - Sudão e Congo em primeiro lugar - estão travando guerras de menor intensidade, mas não menos sangrentas, em um confronto entre os mesmos monopólios que concorrem pelos recursos naturais e pela mão de obra barata.

 Mesmo na América Latina, embora o confronto entre as grandes potências não se transforme em guerras abertas, manifesta-se no apoio burguês aos golpes militares ou aos líderes de direita (o mais recente: Milei na Argentina), geralmente alinhados com os interesses do imperialismo norte-americano ou europeu, para levar a cabo uma guerra aberta contra os trabalhadores, tirando as conquistas trabalhistas históricas e os direitos à auto-organização, à greve e às manifestações. Só a luta independente e a mobilização dos trabalhadores à frente dos explorados, apoiada pela unidade dos assalariados e dos desempregados, pode detê-los; certamente, não serão as coligações burguesas de centro-esquerda como a de Lula no Brasil, que se reconciliam com os militares fascistas e também promulgam leis favoráveis ​​ao capital contra os trabalhadores, e o peronismo na Argentina ou o CHP kemalista na Turquia, que propõem que os trabalhadores famintos “esperem” que Milei ou Erdogan “se desgastem” para derrotá-los nas eleições distantes de 2027, ou 2028.

 Israel está se aproveitando deste ambiente bélico e militarista para alcançar o seu “espaço vital”, estabelecendo uma Grande Israel, seguindo o seu próprio caminho genocida contra os Palestinos de Gaza, com o objetivo de intensificar a limpeza étnica. Por detrás de Israel está o seu patrocinador, os Estados Unidos e o imperialismo ocidental, que, apesar das fricções e das divergências, continuam apoiando o genocídio militar, financeiramente. 

Os revolucionários defendem o direito dos oprimidos de se rebelarem por todos os meios. O dia 7 de Outubro foi uma resposta à política cada vez mais agressiva de Israel contra o povo palestino em Gaza, Jerusalém e na Cisjordânia, que colocou em crise o compromisso dos seus líderes com os Acordos de Oslo e a inviável solução de dois Estados.

 Declaramos o nosso apoio incondicional à frente única das organizações de resistência palestina e sublinhamos que a vitória do povo palestino depende da transformação do atual conflito numa revolução que conquiste uma Palestina única, secular e socialista, o que só será possível com uma onda revolucionária na região, unindo-se na luta por uma Federação Socialista do Oriente Médio.

A emoção, a indignação, a vontade de lutar contra a opressão e o genocídio de Israel na Palestina devem ajudar a aumentar a consciência do panorama mais amplo de outras guerras não menos sangrentas e do perigo iminente de uma Terceira Guerra Mundial. Os trabalhadores, os proletários chamados a aceitar grandes sacrifícios pela economia de guerra, e a massacrar-se uns aos outros para decidir quem os explorará, devem rejeitar estes sacrifícios e declarar guerra às guerras do capital e organizar-se para derrubar a dominação capitalista do mundo.

 Historicamente, o Primeiro de Maio é o dia internacional da luta dos trabalhadores pela redução do tempo de trabalho e pela emancipação da exploração capitalista. O Primeiro de Maio é também o dia internacional da luta dos trabalhadores contra o Estado burguês, que está apoiando a exploração do capital através de todos os seus poderes: legislação que garanta os “direitos” do capital sobre a escravidão assalariada, justiça que garanta o capital contra qualquer luta que põe em perigo a opressão de classe (desde o enforcamento de quatro líderes trabalhistas em Chicago em 1886) e as organizações de repressão armada que em todo o mundo travam guerras internas para impor a exploração contra a resistência dos trabalhadores através de greves e piquetes. 

O maior perigo que os trabalhadores e toda a humanidade enfrentam hoje é o perigo de que os governos capitalistas arrastem as pessoas para uma situação de guerra generalizada, o que significa uma carnificina mundial do tipo que está ocorrendo na Ucrânia, no Sudão, no Congo, na Palestina. Devemos combatê-lo, imediatamente, opondo-nos aos governos imperialistas, autores das guerras atuais, unindo as nossas forças internacionalmente num campo proletário, contra os campos imperialistas em guerra. Não se trata de opor a guerra ao chamado pacifismo. Devemos opor o nosso internacionalismo proletário ao veneno nacionalista reacionário que está sendo instigado na classe trabalhadora. Partilhamos os nossos interesses de classe por melhores salários, semanas de trabalho mais curtas, trabalho e vidas mais saudáveis ​​com outros trabalhadores em todo o mundo. Compartilhamos o profundo desejo de viver em paz com nossas irmãs e irmãos ao redor do mundo.

 Declaramos o nosso mais fervoroso apoio à luta dos povos oprimidos que enfrentam a opressão imperialista, conscientes de que a derrota de uma nação opressora é um golpe para a ordem imperialista mundial e uma alavanca para fortalecer a causa dos explorados em todo o mundo. Os trabalhadores das metrópoles têm o dever de mobilizar-se dentro das suas fronteiras em apoio aos povos que são vítimas do submetimento da burguesia imperialista nos seus respectivos países. Esta mobilização política hoje é, antes de mais nada, de apoio ao povo palestino.

Oponhamos a fraternidade de classe entre nativos e imigrantes à xenofobia que visa dividir os trabalhadores: a nossa classe é internacional, centenas de milhões de nós somos forçados pela guerra, pela seca e pelas alterações climáticas, pela apropriação de terras, a mudar do campo para a cidade, ou a emigrar para outros países assumindo grandes riscos. Se os trabalhadores nativos unirem as suas lutas às dos trabalhadores imigrantes, estes últimos não serão usados ​​para exercer pressão de rebaixamento dos salários.

Oponhamo-nos à economia de guerra!      

Devemos deixar claro que numa guerra imperialista como a da Ucrânia não podemos tomar partido, que “o inimigo está no nosso próprio país”. Esta guerra é uma guerra interimperialista, disfarçada por cada lado com argumentos pseudo-progressistas e pseudo-democráticos. O inimigo de cada Russo e Ucraniano é o seu próprio governo, ambos os quais atiraram centenas de milhares de proletários no moedor de carne dos campos de batalha para matarem e mutilarem-se uns aos outros pelos interesses dos exploradores das suas respectivas classes dominantes. Para os trabalhadores dos países europeus e americanos da OTAN, o inimigo são os seus próprios governos, que enviam armas, pagas pelos seus próprios trabalhadores, para que os trabalhadores ucranianos derramem o seu sangue para que as corporações da OTAN estendam a sua exploração ao território e à classe trabalhadora ucraniana. Por outro lado, Putin não representa uma abordagem anti-imperialista, mas em vez disso procura assegurar a parte da oligarquia capitalista russa no bolo mundial, recorrendo inclusive a uma propaganda que ataca as políticas de Lenin e glorifica a Rússia czarista.

Todos os estados capitalistas, todos os governos, com as suas lutas e divisões internas, são expressões de burguesias especuladoras ligadas às grandes potências imperialistas, aos monopólios capitalistas, ao sistema financeiro internacional, e são parte integrante do sistema social que produz a guerra. Embora vários países tenham conflitos cada vez mais agudos com as grandes potências capitalistas ocidentais, nenhum deles pode ser aliado na guerra dos trabalhadores contra a guerra. É fácil perceber isto observando que tipo de relações estes Estados mantêm com as suas classes trabalhadoras e com os trabalhadores dos países que estão nas suas respectivas esferas de influência.

 O nosso campo não é o campo dos Estados burgueses, é o campo das classes exploradas e oprimidas, dos trabalhadores, do proletariado internacional, a única classe que tem o interesse e a força - se, se organizar - para pôr fim à guerras que os seus exploradores levam adiante às suas custas. É necessário que as organizações que defendem um internacionalismo proletário coerente se unam em iniciativas comuns. A hora é agora, antes que seja tarde demais!

O passado é importante, mas seremos julgados pela nossa capacidade de enfrentar de frente os desafios do nosso período histórico.

 No Primeiro de Maio de 2024, vamos às ruas com os mesmas palavras-de-ordem no mundo inteiro: 

- Parar a guerra OTAN-Rússia na Ucrânia! “O inimigo está em nossa própria casa!”

- NÃO à corrida armamentista e à economia de guerra! Saúde e educação gratuitas para todos! Trabalhar menos, trabalhar todo mundo!

– Parem o genocídio em Gaza, libertem a Palestina! Apoiar a resistência palestina! Acabar com a opressão nacional, racial, étnica e religiosa em todos os lugares!

– Não à interferência imperialista e às guerras por procuração no Sudão, no Congo e em todos os lugares!

– Não à opressão dos Curdos! Defender o direito à autodeterminação dos curdos.

– Abaixo o nacionalismo chauvinista e a xenofobia! Internacionalismo dos trabalhadores!

 – Por uma sociedade sem exploração nem guerra, de harmonia entre o homem e a natureza.

 – Por governos operários e pelo socialismo.

 Proletários de todos os países, unamo-nos!


Nueva Corriente de Izquierda por la Liberación Comunista (NAR, Grecia)

Partido Socialista de los Trabajadores (SEP, Turquía)

Tendencia Internacionalista Revolucionaria (TIR, Italia)

SI Cobas (Italia)

Laboratorio Político Iskra (Italia)

Partido Obrero (PO, Argentina)

Polo Obrero (PO, Argentina)

OKDE Spartakos (Grecia)

Fuerza 18 de Octubre (Chile)

Tribuna Classista (Brasil)

Comité de Frente Unico por un Partido Laborista (UFCLP, Estados Unidos)

İnqilabin Sesi (Azerbaiyán)

Occhio de Clase (Italia)

La Fragua (Uruguay)

Red Action/Red Initiative (Croacia/Serbia)

Colectivo Comunistas de Cuba


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

24 de fevereiro: Dia Internacional de ação contra as guerras do capital!

 Vide link: 

https://prensaobrera.com/internacionales/24-de-febrero-dia-internacional-de-accion-contra-las-guerras-del-capital


Uma corrida armamentista começou em todo o mundo 

No segundo aniversário do início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de Fevereiro haverá mobilizações em vários países do mundo contra a guerra imperialista. 

O agrupamento internacionalista TRIBUNA CLASSISTA se incorporou a esta luta contra as guerras imperialistas, contra as oligarquias restauracionistas de Zelensky (lacaio do imperialismo) e de Putin, pela confraternização entre os povos ucranianos, russos e de todo o leste europeu; pelo fim dos bombardeios por parte do sionismo (gendarme do imperialismo ianque no Oriente Médio), abaixo o estado terrorista e genocida de Israel, Abaixo o imperialismo, pela Unidade socialista dos povos do  Oriente Médio e uma Palestina única, laica e socialista!

Abaixo, compartilhamos a chamada. 

Da Ucrânia a Gaza, do Sudão ao Congo, as guerras capitalistas estão promovendo o massacre de centenas de milhares de pessoas, na sua maioria proletários; milhões são forçados a abandonar as suas casas; milhões de pessoas morrem de fome e as epidemias estão se espalhando. 

Começou uma corrida armamentista em todo o mundo para se preparar a Terceira Guerra Mundial, à medida que os governos cortam as despesas sociais e reprimem as nossas lutas através da militarização da vida social. 

BASTA! Chega de massacres, chega de bucha de canhão para os interesses dos nossos exploradores! Chega de sacrifícios, militarismo e repressão! 

Vamos unir forças internacionalmente e fazer com que as vozes dos trabalhadores sejam ouvidas em todo o mundo! 

Proletários da Ucrânia e da Rússia, apertem as mãos, o nosso inimigo está em casa! Abaixo os governos capitalistas, pelos governos dos trabalhadores! 

Parem o genocídio em Gaza e a limpeza étnica na Cisjordânia e em Jerusalém! 

Do lado da resistência palestina, por uma Palestina livre do colonialismo sionista! 

Trabalhadores e jovens do Ocidente: não deixemos que os nossos governos enviem armas para a carnificina na Ucrânia e apoiem Israel! 

Unamo-nos em todo o mundo e lutemos por uma sociedade sem exploração nem guerra, de harmonia entre o homem e a natureza. 

No sábado, 24 de fevereiro de 2024, segundo aniversário da escalada da guerra na Ucrânia entre a OTAN e a Rússia, unamos forças num dia internacional e internacionalista de protesto e de luta contra as guerras do capital!

Proletários e oprimidos de todos os países, unamo-nos!

Ícone "Verificada pela comunidade"

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

HÁ CEM ANOS ATRÁS, NO DIA 21/01/1924, MORRIA O PRINCIPAL DIRIGENTE DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO, NA RÚSSIA, LÊNIN, JUNTO COM LEON TROTSKY

Guilherme Giordano

O Agrupamento Internacionalista TRIBUNA CLASSISTA presta uma homenagem a Vladimir LÊNIN, no Centenário da sua morte, em 21/01/1924, reivindicando a vigência das suas ideias e da sua luta.  

Nesse sentido traduziremos alguns artigos da histórica Revista Em Defesa do Marxismo, no formato de um Dossiê on line, editada e publicada pelo Partido Obrero da Argentina.

Algumas conclusões em relação às homenagens a LÊNIN que podem ser tiradas é que várias correntes políticas estão celebrando no centenário da sua morte um LÊNIN que não existiu.

LÊNIN, que segundo Leon Trótsky, em Lições de Outubro, em abril de 1917, em seu retorno do exílio, teria condenado a política de Stálin e Kamenev, os quais na condição de dirigentes da redação do jornal, como conciliacionista, por defenderem o que era bom e criticarem o que era ruim do governo provisório de Kerenski, governo de conciliação de classes, que LÊNIN e os bolcheviques lutaram obstinadamente para derruba-lo e assim o fizeram tomando o poder político da burguesia em Outubro daquele ano. 

Nas mesmas Lições de Outubro, Trótsky conta que frente à tentativa de golpe de estado do general Kornilov, LÊNIN teria mobilizado todo o partido para derrota-lo, deixando bem claro que a derrota de Kornilov não se tratava em nenhum instante em dar um tostão de apoio ao governo de colaboração de classes de Kerensky, antes pelo contrário, serviria como facilitador da preparação da tomada do poder pelos bolcheviques.

Da mesma maneira podemos citar o caso da Primeira Guerra Mundial em que os bolcheviques tiveram uma posição derrotista da Rússia na guerra, para tira-la da guerra. Antes, LÊNIN teria em 1907 junto com Rosa Luxemburgo assinado uma resolução internacionalista que dizia pura e simplesmente: "No caso de que apesar de tudo exploda uma guerra, é obrigação do proletariado intervir a fim de por fim à mesma o mais rapidamente possível, e com toda a sua força aproveitar a crise econômica e política criada pela guerra para agitar entre os estratos mais profundos do povo e precipitar a derrubada da dominação capitalista." 

Um LÊNIN nacionalista burguês, frentepopulista, chauvinista, etc. é o que várias correntes políticas da esquerda procuram apresentar nos dias de hoje frente aos governos colaboracionistas como o de Lula, no Brasil, ou como no caso da guerra imperialista desenvolvida pela OTAN na Ucrânia, em que uma parte da esquerda está na rabeira do imperialismo e do seu lacaio, Zelensky, como é o caso do PSTU/LIT e da maioria das correntes morenistas, senão todas; e outra parte indo a reboque do chauvinismo grão russo do czar, representado pela camarilha restauracionista de Putin. 

Defendemos intransigentemente os princípios que ficaram marcados por Lênin e León Trótsky na direção do Partido Bolchevique, em Outubro de 1917, que levaram a classe operária à tomada do poder, vitoriosamente, pela primeira vez na História da humanidade e que para nós significou tão somente o primeiro sinal da Revolução Mundial do proletariado que está por vir.


Vide links: https://revistaedm.com/edm-24-01-21/el-fantasma-de-lenin-recorre-el-mundo/ e

https://revistaedm.com/


100 ANOS APÓS SUA MORTE

O fantasma de Lenin ronda o mundo


Validade e atualidade da revolução socialista

O dia 21 de janeiro marca o centenário da morte de Lenin. A Revolução de Outubro está integralmente associada à sua figura, uma não pode estar dissociada da outra. O líder bolchevique não só liderou com firmeza e convicção a insurreição que levou à tomada do poder, mas também esteve na vanguarda do imenso trabalho preparatório realizado durante várias décadas em todos os níveis – político, organizacional, militante. Sem esta preparação teria sido impossível coroar tal empreendimento com sucesso. A Revolução de Outubro é o culminar de uma construção histórica que teve Lenin como principal arquiteto.

Lenin enfrentou o desafio de estabelecer o primeiro Estado operário de mãos dadas com uma revolução triunfante, removendo a burguesia do poder. O antecedente mais próximo, a Comuna de Paris, foi uma experiência efêmera e de curta duração que sucumbiu à contrarrevolução burguesa. O proletariado, pela primeira vez, assumiu as rédeas e a liderança da sociedade, inaugurando uma nova era da humanidade.

Apelando às próprias palavras de Lenin, a importância histórica universal do bolchevismo, liderado por ele e mais tarde incorporado na Terceira Internacional, a Internacional Comunista, "reside no fato de ter começado a pôr em prática o slogan mais importante de Marx, o slogan que resume o desenvolvimento secular do socialismo e do movimento operário, a palavra de ordem expressa neste conceito: ditadura do proletariado. Esta previsão brilhante, esta teoria brilhante está a tornar-se realidade (….). Estas palavras latinas estão atualmente traduzidas para as línguas de todos os povos da Europa contemporânea, na verdade, para todas as línguas do mundo. Uma nova era começou na história universal. A humanidade livra-se da última forma de escravatura: a escravatura capitalista, isto é, a escravatura assalariada. Ao libertar-se da escravidão, a humanidade adquire pela primeira vez a verdadeira liberdade.”

Lenine assume este desafio de entrar pela porta da frente da história, superando todas as pressões e hesitações, incluindo a atitude hesitante da liderança do seu próprio partido.

A Revolução Russa

Não podemos escapar ao fato de que o primeiro Estado operário acabou por abrir caminho num país atrasado e semifeudal, um fato que não estava nas previsões marxistas originais. Marx e Engels previram que a transição para o socialismo iria ocorrer nos países capitalistas mais avançados. Não é demais assinalar que os fundadores do socialismo científico já começaram a mudar de ideias, ao acompanharem o metabolismo que ocorreu no desenvolvimento do capitalismo, na sua difusão à escala global e na criação de uma classe trabalhadora em diferentes cantos do mundo. A Rússia não é exceção e dentro dela emerge um proletariado cujo peso social e político estaria se tornando mais importante. Já Marx e, em maior medida, Engels observaram como, de covil da reação, o império czarista estava a tornar-se num dos centros mais vitais da atividade revolucionária. O marxismo expandiu-se no império czarista no calor deste desenvolvimento capitalista e é o que está na base da emergência dentro da intelectualidade e entre os setores mais lúcidos da classe trabalhadora de uma geração excepcional de revolucionários que abraçaram a causa do socialismo. Lenin é o expoente mais brilhante desta geração.

O marxismo não é um dogma, mas um guia para interpretar a realidade e assim ter a capacidade de transformá-la. Isto foi novamente corroborado pela abordagem de Lenin ao caráter da Revolução Russa, à dinâmica das diferentes classes sociais dentro do império czarista e às conclusões e tarefas que surgiram desta caracterização. Em vez de se apegar a um esquema, a qualidade que distingue Lenin é que ele se aprofunda na análise do cenário que tem de enfrentar e, o mais importante, não hesita em levar até ao fim as consequências que derivam dessa análise. :

“Como foi possível que tenha sido precisamente um dos países mais atrasados ​​da Europa o primeiro a estabelecer a ditadura do proletariado, a organizar a República Soviética? (….) É surpreendente que a implementação da ditadura do proletariado tenha mostrado, acima de tudo, a “contradição” entre o atraso da Rússia e o seu “salto” acima da democracia burguesa? Seria surpreendente se a história nos oferecesse a possibilidade de implementar uma nova forma de democracia sem uma série de contradições. Qualquer marxista, incluindo qualquer homem familiarizado com a ciência moderna em geral, a quem perguntássemos se é possível a passagem uniforme e harmonicamente proporcional dos vários países capitalistas em direcção à ditadura do proletariado, responder-nos-ia sem dúvida pela negativa. No mundo do capitalismo houve e nunca poderia haver nada de uniforme, harmonioso ou proporcional. Cada país tem vindo a desenvolver com particular ênfase um ou outro aspecto ou traço, ou todo um conjunto de traços, inerentes ao capitalismo e ao movimento operário. O processo de desenvolvimento ocorreu de forma desigual. (…) A história mundial conduz inevitavelmente à ditadura do proletariado. Mas não o faz, longe disso, em estradas lisas, planas e retas.” 1

Quando se trata de escrever a sua biografia e reconstruir a trajetória do líder da Revolução de Outubro, não se tem dado a devida atenção a uma das primeiras e grandes obras: “Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, na qual faz uma análise rigorosa das características e peculiaridades do desenvolvimento capitalista no império czarista. Isto leva-o no campo político a uma delimitação com os populistas que propõem a ilusão de partir das propriedades comunais da terra existentes no campo russo para avançar para uma coletivização da terra, sem ter que passar pelo capitalismo. Lenin salienta que as formas comunais eram típicas do atraso semifeudal russo e de um regime de servidão dos camponeses sujeitos ao despotismo e à opressão dos proprietários de terras e da nobreza. Um impulso transformador não pode vir daí. Lenin argumenta que este desenvolvimento capitalista já estava ocorrendo e era inevitável. O autogoverno comunal era inviável, porque a própria comuna camponesa já estava atravessada pelos antagonismos típicos do modo de produção capitalista.

A Rússia tinha pela frente uma transformação radical da sua estrutura social (revolução agrária) que já tinha ocorrido no passado nas nações capitalistas avançadas no quadro das chamadas “revoluções burguesas” modernas. Em torno desta questão, um divisor de águas se estabelece na Rússia, mesmo nas fileiras daqueles que se dizem marxistas. Há quem defenda que, visto que a revolução que a Rússia teve antes era burguesa, esta tarefa deveria ser liderada e desenvolvida pela burguesia liberal. O proletariado teve que acompanhar este processo como segundo violino. Esta foi a posição dos marxistas legais e mais tarde dos mencheviques. Os bolcheviques sustentavam, por outro lado, que, devido aos seus laços com a nobreza, ao seu entrelaçamento com o capital estrangeiro, à sua covardia e adaptação ao czarismo, a burguesia não podia e não queria assumir as transformações democráticas burguesas sobre os seus ombros. Estas tarefas (revolução agrária, república) foram reservadas aos trabalhadores e camponeses. Estas duas classes seriam as forças motrizes da revolução que deveria ser enfrentada através de uma aliança entre elas. Lenin não está vinculado a nenhum esquema. A crença mais difundida entre este marxismo mais domesticado era que a revolução socialista seguiria o mesmo esquema das revoluções burguesas. Que a transição para o socialismo seria semelhante aos processos pelos quais, as burguesias revolucionárias acederam ao poder político a partir das mesmas bases materiais da velha sociedade. Mas não foi assim. A história propôs caminhos mais intrincados e contraditórios e é isso que está na base das propostas de Lenin. Não havia necessidade de esperar pela burguesia liberal, tínhamos que preparar a revolução na Rússia, que ele resumiu numa fórmula algébrica: a ditadura democrática do proletariado e do campesinato. As condições estavam maduras e não dependiam de um desenvolvimento capitalista prolongado das forças produtivas, mas da crise política e da disposição revolucionária das classes oprimidas.

O próprio curso dos acontecimentos revelou que, devido à sua heterogeneidade, diferenciação interna e dispersão geográfica, os camponeses foram incapazes de se estabelecerem como uma força política independente. A disputa pela representação dos seus interesses é corporificada pelas classes e partidos da cidade, ou seja, entre a burguesia e o proletariado. A partir desta constatação, Lenin substituiu o slogan original do poder pelo da ditadura do proletariado. A classe trabalhadora foi chamada a assumir as rédeas do poder político, atuar como força dirigente e liderar o resto das massas exploradas, começando pelas massas camponesas.

Ditadura do proletariado e democracia burguesa

As obras de Lenin são de natureza acadêmica, mas definem e sustentam uma estratégia política e são um guia para a ação. O líder da Revolução de Outubro tinha uma premissa muito clara: sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário. O livro O Estado e a Revolução não surgiu como consequência da Revolução Russa, mas sim o contrário. A Revolução Outubro é inspirada e alimentada pelas premissas e concepções gerais que se refletem na referida obra. É aí que se faz a defesa e a reivindicação da ditadura do proletariado em oposição ao Estado capitalista e se desmascara a impostura da democracia burguesa.

Esta premissa é o que está na base granítica da construção da Terceira Internacional: “A república burguesa mais democrática sempre foi e não poderia ser outra coisa senão uma máquina de opressão dos trabalhadores pelo capital, um instrumento de poder político de capital, a ditadura da burguesia. A república democrática burguesa prometeu poder à maioria, proclamou-o, mas nunca foi capaz de alcançá-lo, uma vez que existia propriedade privada da terra e de outros meios de produção.

Pela primeira vez no mundo, a democracia soviética ou proletária criou uma democracia para as massas, para os trabalhadores, para os trabalhadores e para os pequenos camponeses. Nunca existiu no mundo um poder estatal exercido pela maioria da população, um poder efetivamente desta maioria, como o poder soviético.

Isto reprime a “liberdade” dos exploradores e dos seus auxiliares, priva-os da “liberdade” de explorar, da “liberdade” de enriquecerem à custa da fome, da “liberdade” de lutar pela restauração da poder do capital, da “liberdade” de conspirar com a burguesia estrangeira contra os trabalhadores e camponeses da sua pátria.” 2

A obra Imperialismo, fase superior do capitalismo  orienta-se na mesma direção, pois aponta para uma compreensão da fase histórica em que o capitalismo, sob o domínio dos monopólios e do capital financeiro, passa por um ponto de inflexão e entra numa fase de decomposição e decadência. O imperialismo é a reação ao longo de toda a linha em que todas as contradições capitalistas são exacerbadas ao extremo. Não se trata de regressar ao passado – ao capitalismo de livre concorrência – o que é impossível, mas de olhar para o futuro. Trata-se de preparar os trabalhadores para acabar com o capitalismo e abrir o caminho para o socialismo. O imperialismo é caracterizado como uma “fase de transição” entre uma organização social exausta que deve e merece ser enterrada e o advento de uma organização social superior.

Imperialismo e revolução

O texto do imperialismo, escrito no meio e no calor da maré revolucionária que sacode a Europa, reforça o alcance geral da batalha estratégica pela ditadura do proletariado na medida em que a economia mundial sob o imperialismo elimina definitivamente a distinção entre países maduros e imaturos para o socialismo. A exportação de capitais, que passa a ter um papel mais importante que a exportação de mercadorias, faz com que o capital entre nos lugares mais remotos do planeta e crie, a partir do desembarque e da penetração capitalista, uma classe trabalhadora. Como resultado destes investimentos capitalistas, o atraso coexiste com as indústrias modernas. O desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo cria o sujeito capaz de liderar um processo de transformação revolucionária.

Por outro lado, a análise de Lenin sobre o imperialismo destrói definitivamente a possibilidade de um país atrasado se transformar num país industrializado, sem fazer uma revolução. Ao discutir o desenvolvimento burguês na Rússia, Lenin especulou sobre dois caminhos possíveis e alternativos. Uma delas foi a transformação da economia latifundiária, que gradualmente se tornaria cada vez mais burguesa. A outra foi a liquidação das propriedades fundiárias e o livre desenvolvimento da economia capitalista. Ele chamou o primeiro de caminho “prussiano” e o segundo de caminho “norte-americano”. Na primeira, o latifundiário continuaria a espremer o camponês enquanto se formava gradativamente uma burguesia agrária, que estava ligada a uma política protecionista da indústria nacional, colocando limites à concorrência externa. No segundo, os camponeses foram libertados para se tornarem agricultores capitalistas – ou seja, uma via revolucionária –, promovendo um levante agrário geral contra os latifundiários. A partir do momento em que o capital estrangeiro se instala no país com subsidiárias próprias, o protecionismo deixa de ser eficaz. O capitalismo independente não pode ser alcançado sem confrontar e acabar com a dominação imperialista, que excede a capacidade e a vontade das burguesias nacionais. Os limites intransponíveis que os bolcheviques encontraram em relação à burguesia liberal ocorreram com igual e ainda maior força em relação à classe capitalista local nos países atrasados. A libertação nacional e social é uma mola da classe trabalhadora no poder na qual as tarefas da revolução democrática burguesa (revolução agrária, democracia política) são combinadas com as transformações de uma revolução socialista. Estas são as premissas da revolução permanente formuladas por Leon Trotsky e que Lenin chamou em alguns dos seus textos de “revolução ininterrupta”.

O partido

Trotsky chegou a estas conclusões muito antes, já na revolução de 1905. Lenin chegou a elas através de sucessivas aproximações. Mas, no momento decisivo, em 1917, considera-a como o principal motor da estratégia que visava a conquista do poder, desafiando a política de colaboração de classes que prevalecia sobretudo na liderança do partido bolchevique. A “Tese de Abril” é uma peça chave na qual Lenin postula e defende esta orientação.

Aqui está o papel do indivíduo na história. Embora fale da luta de classes como fundamento e força motriz da história, o marxismo não nega o papel do indivíduo. Um exemplo que pode ser apontado sem medo de errar é o de Lenin. Sem ele, teria sido altamente improvável que a revolução culminasse em vitória.

Trotsky teve uma visão precisa, antes de Lenin, sobre o caráter da revolução e o papel que a classe trabalhadora deveria desempenhar. Mas este último tinha uma vantagem incomparável sobre Trotsky: o partido bolchevique, cuja construção é um dos aspectos-chave da trajetória política do principal líder da Revolução de Outubro. Estamos a falar de um partido combatente, formado por militantes revolucionários, treinados e testados na luta de classes, com consciência política, centralizado e com disciplina interna para a ação. Quando Lenin fez a mudança de direção promovida pelo bolchevismo, ele tinha um instrumento para levá-la adiante. Aqui, falando da obra de Lenin, O que fazer merece um lugar privilegiado, onde Lenin defende e estabelece as premissas da luta por um partido revolucionário, concebido como um partido de militantes em oposição ao ponto de vista de outra parte do elenco líder da social-democracia russa que propôs que o partido tivesse um caráter mais flexível, composto por simpatizantes. Este ponto é o que provoca uma fratura na social-democracia russa entre a maioria bolchevique que respondeu a Lenin e a minoria menchevique que apoiou a outra variante. O que parecia ser uma questão aparentemente organizacional revelou-se de âmbito mais amplo. O debate sobre o tipo de organização esteve associado à estratégia política que os socialistas russos deveriam prosseguir, questão que emergiu com mais clareza nos acontecimentos subsequentes. Enquanto o Bolchevismo visava a conquista do poder e isso significava ter uma força altamente coesa, o Menchevismo ficou reduzido a atuar como um grupo de pressão, acompanhando a burguesia, para a qual concebeu uma estrutura organizacional mais flexível e amorfa.

Presente

Esta revisão que fizemos é apenas um retrato do trabalho e da trajetória de Lenin. O legado que Lenin deixou para a história é enorme e obviamente o seu alcance está longe de se esgotar no presente texto. Se tivéssemos que resumir, poderíamos dizer que Lenin escreveu a página principal da história contemporânea. E devemos acrescentar um dos marcos da história porque constitui o ponto de partida de uma nova etapa da convivência humana, uma sociedade sem explorados nem exploradores, ou seja, uma transformação da organização social sobre novas bases, aproveitando o salto sem precedentes na desenvolvimento alcançado pelas forças produtivas. A Revolução de Outubro inaugura a transição da pré-história para a história, como enfatizaram Marx e Engels.

Quando se fala do legado de Lenin, não se pode deixar de referir a sua relevância hoje. No 100º aniversário da Revolução de Outubro, o editorial da revista The Economist (16-12-16) era encabeçado por um título sugestivo: “Os bolcheviques estão de volta”. O editorial destaca que, passados ​​100 anos, o atual cenário internacional coincide em muitos aspectos com aquele que reinou sob a Revolução de Outubro.

Os sinais de desigualdade e polarização social têm-se acentuado e ao mesmo tempo há uma anemia e uma perda de dinamismo na produção e no crescimento econômico que acentuam as disputas e os confrontos capitalistas à medida que a concentração e o poder dos monopólios, que anulam a concorrência, não têm precedentes. A imagem que ele traça é eloquente: “A economia global entregou muitos dos seus benefícios aos mais ricos: nos Estados Unidos, a proporção do rendimento após impostos que vai para o 1% mais rico duplicou, passando de 8% em 1979 para 17%. 2007. E em muitos aspectos o futuro parece pior. O crescimento da produtividade desacelerou. A menos que isto possa ser mudado, a política tornar-se-á inevitavelmente uma luta para dividir o bolo. “Gigantes da tecnologia como Google e Amazon desfrutam de quotas de mercado nunca vistas desde o final do século XIX, a era dos barões ladrões.”

O editorial destaca ainda: “são marcantes as semelhanças entre o colapso da ordem liberal em 1917 e hoje. Eles começam com a atmosfera do fim do século . Os 40 anos anteriores à Revolução Russa foram anos de triunfalismo liberal. O livre comércio (liderado pelos britânicos) uniu o mundo. A democracia liberal triunfou na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos e parecia ser o que estava por vir em outros lugares. Os anos a partir de 1980 foram um período semelhante de triunfalismo. A globalização (liderada pelos Estados Unidos) avançou incansavelmente. O número de países que se qualificaram como democracias multiplicou-se. Os políticos da direita e da esquerda competiram para demonstrar a sua lealdade ao “Consenso de Washington”.

A queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética abriram um período de euforia na classe capitalista mundial. Os representantes e intelectuais da burguesia foram rápidos em apontar o que chamaram de “o fim da história”: a consagração da supremacia e superioridade do capitalismo e o fim do socialismo. A restauração do capitalismo no antigo espaço soviético, e acrescentemos a China, significou incorporar centenas de milhões de trabalhadores na órbita da exploração e acumulação capitalista e avançar na colonização em benefício de duas nações com enormes recursos e mercados. Estas circunstâncias criaram a expectativa de um novo ciclo de florescimento capitalista.

Longe de avançar nessa direção, a restauração capitalista desencadeou ainda mais as contradições capitalistas, acentuando as tendências à saturação do mercado e à crise da superprodução.

A economia mundial conheceu outro colapso em 2008, que levou à falência do Lehman Brothers e do qual, até hoje, não conseguiu recuperar. Outro editorial do The Economist , na época da crise financeira de 2008, sintetizou esse cenário sob o título “O outro muro caiu”, referindo-se ao colapso de Wall Street, brincando com o fato de que a palavra “ wall ” significa muro em inglês .

A globalização - a premissa da integração e cooperação econômica e política internacional - foi substituída por uma competição cada vez mais violenta entre capitalistas e pela exacerbação de rivalidades e confrontos entre Estados. Do acoplamento chino-norte-americano passamos para um confronto cada vez mais exacerbado. A tendência para a desintegração da União Europeia está a crescer. A ideia de que o fim do comunismo, ao acabar com a ameaça soviética, erradicou a ameaça de guerra foi desmascarada. Longe de inaugurar uma era de paz e solidariedade, como previam os apologistas da globalização, o cenário de guerra intensificou-se. E a tendência recente não é para uma atenuação, mas sim para uma exacerbação deste fenômeno. “Os números confirmam a evidência anedótica de que a guerra está a rebentar em todo o mundo. Um relatório recente do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos documentou 183 conflitos em curso em todo o mundo, o número mais elevado em mais de três décadas. E esse número foi alcançado antes do início da guerra em Gaza.” 3

Hoje temos a guerra instalada novamente na Europa com o conflito desencadeado na Ucrânia. O horror da guerra no velho continente, que os gurus da globalização e do fim da história consideravam banida, foi mais uma vez reiterado. A ameaça de um conflito de guerra está presente na África. As tensões aumentam no Pacífico entre os EUA e a China em torno de Taiwan. O genocídio de Gaza é um dos mais atrozes da história. Formalmente, estes são conflitos regionais, mas têm um âmbito internacional em que estão diretamente envolvidas as grandes potências e os principais atores da política mundial. Cada um desses conflitos tende a aumentar. Tal como se viu em Gaza e também na Ucrânia, as hostilidades começam a alastrar-se a novos países, aumentando a tendência para um conflito global.

As grandes depressões do passado levaram à primeira e à segunda guerras mundiais. Esta ameaça está latente num momento em que enfrentamos um novo salto na crise capitalista global. A falência capitalista é tanto e ainda maior que a quebra de 29. Como não poderia deixar de ser, uma crise fundamental como a que atravessamos mina os alicerces do domínio político da burguesia e está tomando conta dos governos e causando o colapso do regime político. As bases de apoio à democracia burguesa estão desgastando-se. A população perde a confiança e a credibilidade no sistema democrático na medida em que percebe que este não oferece solução para as suas necessidades e, mais ainda, é fonte do seu agravamento. No calor disto, florescem tendências bonapartistas, golpes e contragolpes e regimes excepcionais. O fracasso da democracia não é válido apenas para os países atrasados, mas também para os próprios países imperialistas que têm desmantelado o Estado-providência. E é isso que está na base do surgimento dos Trumps ou dos Bolsonaros – e Milei deve ser acrescentada recentemente – como chama a atenção o The Economist em seu editorial.

Mas o impasse capitalista não só engendra crises a partir de cima, mas também iniciativas a partir de baixo e é, portanto, terreno fértil para rebeliões populares e para a criação de situações revolucionárias.

Entramos num novo capítulo de guerras e revoluções. Este é o significado profundo da afirmação cunhada pela The Economist de que “o bolchevismo está de volta”. Isto fala da validade e oportunidade da revolução socialista. O fantasma de Lenin, portanto, ronda o mundo hoje. Em relação a esta circunstância, há uma consciência da burguesia, pelo menos dos seus setores mais lúcidos. Mas esta consciência não é a que reina majoritariamente nas fileiras da esquerda, incluindo aquela que se autodenomina revolucionária, que se apressou em declarar, quando ocorreu a dissolução da URSS, que o ciclo iniciado pela Revolução de Outubro estava encerrado. Em alguns casos, a adaptação à ordem social e ao conservadorismo vigentes é mais sútil e o que prevalece é uma variante parlamentar e democratizante na sua prática e estratégia política.

O legado de Lenin é uma ferramenta fundamental para intervir no presente e no futuro que temos pela frente. Este legado levanta a defesa da independência política dos explorados, a luta estratégica por um governo dos trabalhadores e pelo socialismo, a construção de partidos revolucionários e a reconstrução de uma Internacional revolucionária que, para o Partido Obrero, é a Quarta Internacional.