Uma
publicação de simpatizantes da CRQI (Coordenação pela Refundação da IV
Internacional) no Brasil
JUNHO
2014 = JUNHO 2013²
O alcance da onda grevista que percorre o país se vê
potenciado pela sua junção com as lutas populares (juventude, bairros, sem
teto) que dão continuidade ao movimento iniciado em junho de 2013. O primeiro
aniversário das históricas “jornadas de junho” será celebrado, em meio à Copa
do Mundo, tendo como pano de fundo a participação relevante do grande ausente
de 2013: o movimento operário organizado.
15 mil petroleiros de Cubatão cruzaram os braços rejeitando a proposta de
reajuste salarial da patronal. Professores de todos os ciclos (fundamental,
secundário, terciário, universitário) e de todos os setores (federal, estadual,
privado) protagonizam uma inédita onda de lutas em todo o Brasil, embora sem
coordenação devido à dispersão sindical. Os servidores públicos federais
continuam se somando à greve da Fasubra e do Sinasefe, e realizam marchas e
bloqueios nos estados, assim como marchas unificadas de categoria em Brasília.
Até policias civis e federais estão se somando ao movimento grevista, o que
provocou situações de caos na Bahia e no Pernambuco. Numa luta exemplar, os
rodoviários de Rio de Janeiro, primeiro, e os de São Paulo, depois, paralisaram
as atividades (e, de cambulhada, paralisaram também as cidades, ou seja, as
duas mais importantes capitais do país) por reajustes salariais acima dos
índices inflacionários oficiais (mentirosos), e contra os acordos salariais celebrados pelos índices oficiais entre a patronal do transporte e a
burocracia sindical. A pelegada sindical, desesperada, foi soterrada pelo
movimento. A reação histérica dos prefeitos (PMDB/PT), e também dos âncoras da
TV, reflete a desilusão deles com a débâcle dos agentes da patronal e do Estado
nas organizações operárias.
E continuam as lutas populares e juvenis. A 8 de maio, o
MTST conseguiu, pela primeira vez, suscitar manifestações pela moradia em oito
estados do país, conjuntamente. As manifestações Não Vai Ter Copa dos jovens, estudantes ou não, continuam em
inúmeras cidades, em que pese a selvagem repressão policial. Para 12 de junho,
dia da abertura e do jogo inaugural da Copa, os diversos coletivos estaduais
estão preparando manifestações de massas em todo o país: as seleções e os
turistas estrangeiros (inclusive os “turistas midiáticos”, que assistirão pela
TV desde seus países) vão ser obrigados a testemunhar a outra face da pseudo
festa popular organizada pelo capital. Desta vez, o mundo curvar-se-á diante do
Brasil, mas pelas razões boas.
Até a reacionária Veja
(30/4) teve que deixar entrar, fato inédito na sua história, um raio de
“racionalidade” em seu reacionarismo sem limites à direita: “Fora os incêndios
promovidos pelo crime organizado, o Brasil em chamas é outro: está nas
periferias, nas favelas, é repentino, explosivo e sua paciência parece perto do esgotamento”. Puta descoberta,
cara, candidate-se ao Prêmio Pulitzer. E, para desespero de petistas de todas as
cores e confissões, que invocam sempre as “conspirações golpistas” da Veja (e da Globo) como argumento último
para defender o governo (quando já não há nada para defender, nem usando toda a
imaginação) o mesmo número do semanário direitista tem como editorial um texto
intitulado “As virtudes de Dilma” (“Dilma tem sido alvo de tramas dos
companheiros de partido e dos aliados muito mais por suas virtudes do que por
seus defeitos”). As “tramas” são, na verdade, roubalheiras monumentais, ou
disputa por posições neste e no presumível futuro governo Dilma, para continuar
roubando. As sondagens eleitorais dependem, em boa parte, do desempenho da
seleção canarinha na Copa: o jornalista esportivo Kajuru assegurou, na TV, que
a Fifa já garantiu o hexa para o time de Felipão, quer Neymar jogue bem ou não.
Renan Calheiros, ex braço direito do corrupto mor da
República (Collor) hoje presidente do Senado graças aos bons ofícios do PT e
aliados, do seu lado, fez todo o que pode para protelar a CPI da Petrobrás, que
acabou se instalando em meio a um cheiro indisfarçável de pizza. E Gabrielli,
ex presidente da Petrobrás, foi
“testemunhar” diante dos bancos da “CPI mista”, fazendo a incrível
afirmação de que a refinaria de Pasadena, agora, está dando lucros, porque
“assim são os negócios”, e que não há nada para investigar. Vai ter que dar
muito lucro, até depois do esgotamento das reservas mundiais de petróleo,
talvez, para compensar o mais de bilhão de dólares que sumiu pelo ralo texano.
A oposição, que quer o governo, mas não o quer ao ponto de querer
desestabilizar o Estado, chia um pouco e guarda a carta deste mensalão à
enésima potência para algum momento oportuno, que não é este. Mas o buraco (não
o poço petroleiro) já está aberto, e ninguém sabe todo o que pode passar por
ele.
Em muitas categorias não há greve simplesmente porque a
patronal concedeu de cara reajustes acima da inflação (a oficial, que eles
sabem fictícia) antes de suas empresas, engordadas pelos superlucros promovidos
pela política Dilma/Lula/PMDB, virarem um Cubatão federal. Daí que haja mais
greves no setor estatal, onde o “ajuste” é urgente, devido à ditadura dos
números. O superávit primário (para continuar a pagar a dívida com os tubarões
financeiros do débito público) projeta R$ 86 bilhões para 2014, para uma
necessidade de R$ 99 bilhões (quase 2% do PIB): é preciso fazer um caixa de R$
13 bilhões sangrando o serviço público, a educação, a saúde, o transporte e os
trabalhadores. No mesmo momento, gastam-se mais de R$ 28 bilhões para fazer, e
ganhar, a Copa, e vencer as eleições de outubro. Os trabalhadores organizados e
a juventude estão dando o troco.
O setor privado, do seu lado, não perde nada por esperar. A
sobreprodução de automóveis, eletrodomésticos, linha branca, etc., é espantosa:
os novos modelos dos carros populares foram lançados a um preço de quase R$ 40
mil, e já estão sendo oferecidos por R$ 26 mil a pagar a perder de vista. Mas o
crédito para consumo também está “perto do esgotamento”, num Brasil endividado
até o pescoço: o crédito ao consumo teve, em 2013, a menor taxa de crescimento
dos últimos dez anos, empatando com o desempenho do PIB (2,3%), ou seja,
estancou. O mercado externo não está muito melhor. O cliente n° 1 do país, a
China, só compra produtos primários (soja + ferro [não aço] + petróleo = 80%
das compras chinesas); mandou seu presidente a uma visita ao Planalto para
barganhar descontos nesses itens, e comunicar que aumentaram as barreiras
alfandegárias para produtos com maior valor agregado: “Sorrisos [especialidade
chinesa, como se sabe] não são suficientes para facilitar negociações”,
comentou Valor Econômico (5/5). Dilma
e Lula não precisaram assistir a uma escola de quadros marxista para fazer um
curso acelerado de crise de sobreprodução e queda da taxa de lucro.
E os jornalistas econômicos também não primam pelo
brilhantismo. A Folha de S. Paulo,
diante de todo o exposto, comentou alarmada que: “O sentimento de insegurança
do eleitorado [não da população] não
parecia tão intenso desde as graves crises de 1999, a da primeira grande
desvalorização do real, e de 2001, a do racionamento da eletricidade. O
pessimismo extraordinário aparece na enorme quantidade de eleitores que esperam um aumento da inflação”. Os pequenos
(comparados com aqueles das décadas de 80 e 90) “surtos inflacionários” “talvez
hoje esgotem a paciência do cidadão mais rapidamente”. Daí os baixos índices eleitorais de Dilma e
da oposição, e as greves. “Talvez” este Paul Krugman tropical se arrisque a
inventar uma equação de três incógnitas, relacionando inflação/ expectativa
inflacionária/paciência dos eleitores, e se candidate a uma bolsa do Instituto
do Milênio. Dificilmente aprenderá, no entanto, que os trabalhadores (“cidadãos” só na hora de votar pelos candidatos do
capital) não se movimentam e lutam pelas “expectativas inflacionárias
variáveis”, mas pelas suas condições elementares de vida e de sobrevivência, e
pela percepção da podridão de um regime social e político. Essa luta e essa
percepção precisam de uma expressão política
e de classe para transformarem-se em um fator revolucionário. Essa é a
tarefa. Junho 2014 será um degrau, talvez histórico, dessa escada, no Brasil.
ATÉ TU, ROMÁRIO...
O ex-jogador de futebol e deputado
Romário engrossou o coro anti-Copa em um vídeo na internet, no qual ataca a
Fifa e alega que a Copa brasileira custará cerca de três vezes mais do que as
anteriores: "A África do Sul teve um gasto de R$ 7,7 bilhões de reais, o
Japão de R$ 10,1 bilhões, a Alemanha de R$ 10,7 bilhões e o Brasil já está em
R$ 28 e alguma coisa (bilhões). Ou seja, desculpe a expressão, mas que
sacanagem. É sacanagem com o dinheiro do povo. Falta de respeito e escrúpulos".
O governo se defende alegando que muitos desses bilhões na realidade serão
gastos em obras de infraestrutura e mobilidade urbana que precisavam ser
realizadas com ou sem o torneio. Realizadas por quem? E com que dinheiro?
O BNDES financiou boa parte dos
estádios com linhas de crédito a juros subsidiados e, em muitos casos, os
empréstimos foram tomados por governos estaduais, que terão de pagar o banco
também com dinheiro público. Além disso, os estádios contam com isenções
fiscais dentro do programa Recopa. Do total, R$ 7,5 bilhões serão gastos em estádios; R$ 8,9
bilhões em obras de mobilidade urbana; R$ 8,4 bilhões em aeroportos e R$ 1,9 bilhão em segurança. O restante
será investido em desenvolvimento turístico, portos e telecomunicações. Cerca de um terço do valor das obras
(R$ 8,7 bilhões) está sendo financiado por bancos federais – Caixa Econômica
Federal, BNDES e BNB (Banco do Nordeste do Brasil). Boa parte desses
empréstimos é tomada pelos próprios governos estaduais, sozinhos ou em
parcerias com empresas (PPPs, parcerias público-privadas), embora alguns
empréstimos também sejam contraídos por entes privados (como os R$ 400 milhões liberados pelo BNDES para o Corinthians construir o Itaquerão). Além disso, as obras da Matriz de
Responsabilidade da Copa também consumirão R$ 6,5 bilhões do orçamento federal
e R$ 7,3 bilhões de governos locais (estaduais e municipais). Dos R$ 28,1 bilhões,
apenas R$ 5,6 bilhões serão recursos privados (que se concentram principalmente
nos aeroportos), ou seja, são investimentos de empresas em seu próprio negócio
(com base em créditos a juros subsidiados, claro). Os bancos federais financiaram cerca
de metade dos R$ 7,5 bilhões gastos em arenas para a Copa. Apenas R$ 820
milhões foram financiados com recursos privados. O restante dos recursos foi
aportado por governos locais, principalmente estaduais, tirados de saúde,
educação e gastos sociais. No caso das PPPs, os estádios serão entregues para exploração pelo setor
privado, e o retorno que obtiverem com jogos e uso dessas estruturas em shows e
grandes eventos seria usado para ajudar a pagar os empréstimos aos bancos
federais. No caso do Rio, um consórcio formado pela empreiteira Odebrecht, a
empresa IMX, do empresário Eike Batista, e a companhia norte-americana AEG
venceu em maio a licitação que determinou o responsável pela administração do
estádio do Maracanã pelas próximas... três décadas. O Regime Especial de Tributação para
Construção e Reforma de Estádios da Copa (Recopa) garante a desoneração de
impostos como IPI, PIS/ Pasep e Cofins, além de tarifas de importação, na
aquisição de equipamentos e contratação de serviços para a construção de estádios.
As isenções de impostos
federais concedidas às construtoras responsáveis pelos estádios da Copa somariam
R$ 329 milhões. No caso das isenções para a Fifa, estima-se que o total
desonerado ficaria em torno de... R$1 bilhão. Algo mais?
UM PARTIDO “DOS TRABALHADORES”
GREVES NO BRASIL: O DESPERTAR DE UM NOVO CICLO DE LUTAS?
Marcelo Badaró
Um dos mais visíveis indicadores do
recuo das lutas coletivas da classe trabalhadora brasileira, a partir dos anos
1990, foi a diminuição do número de greves. Em 1989, no auge do ciclo de lutas
que marcou o fim da ditadura empresarial-militar instalada em 1964, ocorreram
cerca de 4000 greves no Brasil. Nos anos seguintes este número foi caindo, até
atingir 1228 greves em 1996, 525 em 2000 e 299, em 2005, num dos pontos mais
baixos da curva (o menor número foi de 298 em 2002). Para explicar tal declínio
das mobilizações organizadas dos trabalhadores, podemos elencar diversos
fatores: o desemprego e a precarização das relações de trabalho decorrentes do
processo de reestruturação produtiva que se acelera a partir da década de 1990;
o progressivo apassivamento da maioria da direção sindical mais combativa
(reunida em torno da Central Única dos Trabalhadores, a CUT), que ao longo dos
anos 1990 aderiu progressivamente a uma lógica conciliatória e amoldou-se à
ordem do capital e à estrutura sindical oficial; e, já nos anos 2000, a
incorporação de dirigentes sindicais aos governos capitaneados pelo Partido dos
Trabalhadores, acompanhada da transformação da CUT em braço sindical dos
governos petistas e de sua definitiva incorporação à estrutura sindical
oficial.
Depois de 446 greves contabilizadas
em 2010 e 554 em 2011, no ano de 2012 aconteceram 873 greves no Brasil, segundo
os estudos do DIEESE. É o maior número registrado desde 1996 e revela um
crescimento significativo nos últimos anos do recurso à paralisação do
trabalho, como arma para enfrentar os baixos salários, a perda de direitos dos
trabalhadores e as péssimas condições de trabalho, geradoras de uma crescente
onda de acidentes de trabalho, especialmente em setores como o da construção
civil, que se viu mais aquecido com as grandes obras do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) e dos “megaeventos” (Copa do Mundo de Futebol e
Olimpíadas). A relativa estabilidade do nível de emprego (relativa porque os
números oficiais contabilizam seis milhões de desempregados, mas também 62
milhões de brasileiros em idade ativa que por alguma razão não buscam empregos)
também pode ajudar a explicar por que cresce o número de greves. Ainda não
foram divulgados os dados sobre as greves no ano de 2013, mas tudo indica que a
tendência ao crescimento se manterá.
Só o passar do tempo poderá confirmar
se estamos diante de um novo ciclo de crescimento das lutas organizadas da
classe trabalhadora no Brasil. Há, no entanto, algumas características que já
nos apontam certas questões centrais. A primeira questão diz respeito à relação
estabelecida entre as ”jornadas de junho” de 2013 e as greves. Na época das
grandes manifestações de meados de 2013, uma das características mais
discutidas de seu perfil foi a rejeição aos partidos políticos e, em alguma
medida, às organizações sindicais. Quando as centrais sindicais tentaram
aproveitar o embalo das grandes passeatas para impulsionar dois dias nacionais
de luta unificada, o que se viu foram manifestações de escala muito reduzida e,
em grande medida, restringidas a dirigentes e funcionários dos aparatos
sindicais. De que relação se poderia tratar então? Indo um pouco além da
aparência dos acontecimentos, podemos perceber que as grandes demandas das
manifestações de meados de 2013 – pela redução do preço e melhoria da qualidade
do transporte coletivo, contra a violência policial, contra as corporações
empresariais de mídia, em defesa da saúde e da educação – estavam longe de ser
novidades. Trata-se de um conjunto de bandeiras assumidas e propagandeadas
pelos movimentos sociais que mantiveram uma perspectiva mais mobilizadora e
combativa, mesmo em meio à maré vazante de lutas dos anos 1990 e 2000. Em especial,
a defesa de mais verbas e melhor qualidade para saúde e educação pública teve
nos sindicatos de trabalhadores desses dois setores no serviço público
brasileiro seus principais propagadores. Em 2012, por exemplo, uma grande greve
dos trabalhadores da educação no serviço público federal atravessou mais de
três meses de enfrentamentos com o governo de Dilma Rousseff. Ou seja, lutas
sindicais, ainda que fragilizadas e fragmentadas, das duas décadas passadas
foram essenciais para manter em pauta a defesa desses direitos fundamentais.
Por outro lado, as manifestações de 2013 impulsionaram greves e táticas de
lutas dos sindicatos mais combativos. Em vários estados do país, sindicatos de
profissionais da educação fizeram greves no segundo semestre de 2013. No Rio de
Janeiro, a greve foi longa, enfrentou a intransigência dos governos estadual e
municipal, mas gerou uma nova onda de passeatas multitudinárias em seu apoio,
chegando a reunir novamente cerca de 100 mil pessoas nas ruas do Centro da
cidade em outubro. Muitos dos manifestantes de junho foram às ruas novamente
concretizar a palavra de ordem da defesa da educação, consubstanciando-a em
apoio ativo à luta dos trabalhadores do setor. A mesma tática de levar a greve
para a rua, na forma de grandes manifestações foi empregada pelos trabalhadores
da limpeza urbana do Rio de Janeiro (os garis), que em pleno carnaval carioca
de 2014 paralisaram suas atividades para garantir melhorias salariais e de
condições de trabalho. Apesar do incômodo com o acúmulo de lixo nas calçadas e
ruas, em plena festa carnavalesca, a maioria da população da cidade apoiou a
greve e quando, em 7 de março, os garis fizeram sua maior manifestação pelo
Centro da cidade foram fortemente aplaudidos e receberam muitas adesões em seu
protesto. Imediatamente após essa demonstração de força, a Prefeitura do Rio de
Janeiro, que havia classificado a greve como “motim” e mobilizara escoltas
policiais para forçar os garis a trabalharem, chamou os líderes da greve para
negociar e a paralisação se encerrou com ganhos substantivos para os
trabalhadores.
Uma segunda questão é a da relação
entre estas greves e os sindicatos. Embora continue a existir um setor
combativo do movimento sindical, que se mobiliza e comanda greves e apesar de
até mesmo a burocracia mais acomodada em alguns momentos ser obrigada a
convocar paralisações do trabalho, o que chama a atenção em muitos desses
movimentos grevistas recentes é que eles se fazem à margem das, e muitas vezes
contra as direções sindicais. Foi o que aconteceu na greve dos garis, em que a
direção sindical, encastelada há décadas no sindicato de trabalhadores da
limpeza urbana e sempre disposta a colaborar com os governos e a frear
mobilizações, não só se posicionou contra a greve, como tentou evitá-la,
boicotando a assembleia dos trabalhadores que iria deflagrá-la e anunciando
acordos com a municipalidade que nunca foram discutidos pela categoria. Mesmo
na greve dos profissionais da educação do segundo semestre de 2013, dirigida
pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE), cuja composição é
majoritariamente de militantes da esquerda mais combativa, houve uma nítida
tensão entre o posicionamento da direção (mostrando disposição para negociar
acordos que pusessem fim à greve, ainda que sem maiores garantias de
conquistas) e uma parcela expressiva das bases, mais radicalizada.
Um último exemplo, também muito
significativo, é o das greves dos operários da construção civil nos canteiros
de obras do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj). Duas
delas ocorreram em 2013 e uma terceira, de maiores dimensões, atravessou mais
de 40 dias nos meses de fevereiro e março de 2014. Novamente aí a direção do
sindicato local colocou-se contrária à greve e buscou “negociar” com as
construtoras à revelia dos 28 mil grevistas, que por mais de uma vez mantiveram
a paralisação dos trabalhos após anúncios de acordo e fim de greve por parte
dos dirigentes sindicais. Os protestos dos trabalhadores em greve envolveram
fechamento de estradas e incêndio de ônibus e logo no início do movimento, na
madrugada de 6 de fevereiro, dois trabalhadores foram feridos à tiros. Várias
declarações de envolvidos no protesto acusaram “seguranças” contratados pelo
sindicato como responsáveis pelos disparos.
Enfim, entre outras questões
importantes postas por essas greves, parece ser fundamental compreender que uma
nova onda de mobilizações grevistas, que possa recolocar a classe trabalhadora
organizada no centro do debate político nacional, dependerá: por um lado, da
capacidade das bases sindicais e dos dirigentes mais combativos de alargarem as
lutas, através de mobilizações de massas, que envolvam os setores mais
precarizados e menos organizados da classe trabalhadora, que demonstraram seu
potencial de descontentamento em junho de 2013; por outro lado, de uma
renovação do panorama sindical brasileiro, com a substituição de burocracias
esclerosadas pela colaboração de classes por novas lideranças surgidas das
greves que se enfrentam com esses burocratas. Somente com o fortalecimento de
um polo sindical combativo, que estabeleça os laços necessários entre as
frações mais formalizadas e as mais precarizadas da classe e se disponha a
romper com os métodos e as armadilhas da estrutura sindical oficial, poderemos
estar à altura do desafio.
CHAPA DE OPOSIÇÃO GANHA ELEIÇÃO NA ADUFMS
A Chapa 3 Autonomia Universitária, de oposição classista,
ganhou a eleição para direção da Associação dos Docentes da UFMS, ocorrida na
capital de Mato Grosso e nos centros universitários do interior, obtendo 180 votos, um diferença de 50 votos sobre a segunda
colocada, Inovação, apoiada pela administração da UFMS e 67 votos sobre a
terceira colocada, Movimento Docente Livre e Independente, composta
majoritariamente por integrantes da direção favorável ao Proifes. O presidente
eleito, José Carlos da Silva, considerou o resultado extremamente positivo, uma
vez que a chapa de oposição Autonomia Universitária realizou a disputa
enfrentando o peso da máquina administrativa que tinha por trás a reitora da
UFMS, Célia Maria Correia Oliveira, e da atual direção da Adufms, que detinha o
controle de todo o processo eleitoral, retardando a entrega de endereço para
postagem de material de divulgação para as chapas concorrentes, sonegação da
mala direta eletrônico dos filiados, entre outras artimanhas, o que a fez a
chapa da situação levar vantagem sobre a opção de voto dos professores
aposentados e licenciados para pós-graduação. Entre os desafios elencados pela
direção da Chapa 3 Autonomia Universitária estão uma atuação forte e organizada
nos conselhos de decisão da UFMS, a luta pela isonomia salarial com os
servidores do Ministério de Ciência e Tecnologia, abertura de mais vagas para concurso público,
enfrentamento da sobrecarga de carga de horas aulas em detrimento da pesquisa e
da extensão, mais suporte e democratização nos critérios para participação em
eventos científicos e culturais, melhor estruturação dos laboratórios e
condições de trabalho, a começar por espaço físico e disponibilidade de
tecnologias na área educacional. "A
disputa passou, agora vamos reunir todos os docentes para discutir a
implementação do nosso plano de trabalho e esperamos contar com ajuda de todos,
inclusive preparar nossa pauta de reivindicação para a próxima campanha
salarial", disse José Carlos Lembremos que esta vitória começou na
mobilização da greve de 2012. Tivemos vários percalços e não nos desmobilizamos
e nem fraquejamos. Fomos ganhando o respeito de cada vez mais professores e
alcançamos esta vitória maiúscula contra duas máquinas poderosas. É o evento
político mais importante na UFMS dos últimos 15 anos, tanto sindical quanto
institucional. É uma vitória coletiva, e
classista.
POLÍCIA INVADE OCUPAÇÃO WILLIAM ROSA EM CONTAGEM (MG)
A Polícia Militar invadiu e reprimiu violentamente os
moradores da Ocupação William Rosa, em Contagem (MG). As famílias foram
surpreendidas com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, na
noite de quarta-feira, enquanto faziam uma assembleia. Entre os moradores,
havia muitas crianças, mulheres e idosos. A a PM, comandada pelo governo de
Antônio Anastasia (PSDB), não tinha mandado legal. Existem muitos feridos, e um
morador foi detido ilegalmente. Tampouco o prefeito de Contagem, Calin Moura
(PCdoB) tomou qualquer atitude para impedir a repressão, muito menos atua para
resolver o problema da falta de moradia na cidade.
Em ano de Copa do Mundo, quando bilhões escoam para as
empreiteiras para a construção de estádios – verdadeiros elefantes brancos –,
quem apanha é quem não tem onde morar. A política dos governos para resolver o
problema da moradia tem sido a violência indiscriminada e a criminalização dos
movimentos de luta.
NOTA DO MTST SOBRE AÇÃO DE DESPEJO CONTRA A OCUPAÇÃO COPA DO POVO
Fomos informados da decisão em primeira instância
estabelecendo a reintegração de posse da Ocupação Copa do Povo. O MTST irá
recorrer da decisão, através de seus advogados, por considerá-la injusta e
descriteriosa. Foi publicado amplamente na mídia o fato da Viver Incorporadora,
proprietária do terreno, mantê-lo fraudulentamente como área rural, sendo então
tributada por ITR ao invés de IPTU. O resultado desta ação criminosa é uma
sonegação violenta que faz com que a Empreiteira, que tem cerca de R$4 bilhões
apenas em terras, pague R$57/anuais de imposto por um terreno de mais de 150
mil m². Desconsiderando este fato e muitos outros - como o abandono da área por
anos - o Juiz decretou a reintegração. O MTST julga ilegítima tal decisão e
alerta os efeitos dramáticos que ela pode causar. Recorremos judicialmente e
buscaremos todas as vias institucionais de negociação. Mas não sairemos da ocupação
sem uma negociação de solução habitacional para as famílias.
Em caso de tentativa de despejo
forçado pela Polícia haverá resistência organizada. Esperamos que o Estado
tenha o bom senso de não repetir erros passados. Não queremos outro Massacre do
Pinheirinho. Nem que a imagem da Copa do Mundo no Brasil seja definitivamente
marcada por um conflito violento e massacre de trabalhadores sem-teto.
SEM-TETO PARARAM SÃO PAULO
Milhares de famílias de sem-teto paralisaram em
manifestações cinco das grandes artérias viárias da cidade: entre elas as
marginais dos rios Tietê e Pinheiros e a Radial Leste. Os bloqueios foram
iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). As marchas são parte
dos protestos contra as condições em que está organizada a Copa. Cerca de
trinta mil pessoas ocuparam, a partir de novembro de 2013, um terreno
abandonado à especulação nas proximidades da Represa de Guarapiranga, periferia
sul da metrópole. Deram ao local o nome de Nova Palestina. Organizam-se em
grupos de trabalho coletivo, que assumem responsabilidade pela alimentação,
infraestrutura (água e luz elétrica), limpeza e segurança. Reúnem-se em
assembleias periódicas. Adotaram a mesma fórmula, há semanas, ao ocupar outro
terreno vazio, agora em Itaquera, a cerca de quatro quilômetros do estádio em
que será aberta a Copa. Esta organização deu-lhes iniciativa política. Em 29 de
abril, manifestaram-se diante da Câmara Municipal, para exigir que o novo Plano
Diretor da cidade previsse a criação de Zonas Especiais de Interesse Social
(ZEIS) destinadas à habitação popular, além de outros dispositivos com o mesmo
sentido. Foram vitoriosos: um dia depois, o Legislativo aprovava a medida, em
primeira votação. Os sem-teto reivindicam o controle do preço dos aluguéis,
cuja alta desgovernada atinge tanto os pobres como a classe média. Exigem o fim
dos despejos forçados da população a pretexto de obras públicas. Sobre o
programa Minha Casa, Minha Vida,
querem melhor localização dos conjuntos habitacionais (normalmente relegados às
periferias remotas); mais qualidade dos imóveis; melhores condições para que
sejam construídos por cooperativas habitacionais, ao invés das empreiteiras
privadas.
O MAPA DAS MANIFESTAÇÕES
Rodoviários de São Paulo
APERTEM OS CINTOS, O PILOTO SUMIU!
Jorge Luiz Souto Maior
E, de repente, os ônibus de São Paulo pararam, a 20 de maio,
em flagrante ilegalidade. Pode ser que assim alguém se refira ao fato ocorrido
na cidade paulistana, mas estará incorrendo em grave equívoco de perspectiva,
falando sobre um mundo que já não existe.
Primeiro, os fatos sociais não simplesmente brotam do nada,
ou seja, não ocorrem “de repente”. Há sempre um contexto histórico que os
embasam. Segundo, não são os ônibus que param e sim os motoristas, que são, de
fato, trabalhadores. Dar vida a seres inanimados, no caso os ônibus, serve
apenas para negar existência aos seres humanos que se relacionam ao fato, a não
ser para puni-los, quando se trata de mobilização popular. E, terceiro, a
legalidade não é suficiente para qualificar o fato ocorrido e, ademais, seu
parâmetro tradicional é abalado, fazendo irromper uma sensível mudança. Afinal,
não são os fatos sociais que devem se adaptar ao direito e sim o direito que
deve refletir esses mesmos fatos.
Seguindo o exemplo inaugurado na greve dos garis do Rio de Janeiro,
a mobilização, em grande escala, dos motoristas e cobradores na cidade de São
Paulo, que deixaram os ônibus parados nas ruas em protesto, mesmo após o seu
sindicato ter firmado acordo com a entidade patronal, cuja regularidade
pretendem pôr em discussão, demonstra, claramente, que as manifestações de
junho de 2013 continuam produzindo efeitos, sendo que os maiores deles talvez
sejam o das pessoas reconhecerem sua força política e de se disporem a lutar
por aquilo que acreditam.
A lição que se extrai desses fatos é a de que as pessoas, em
virtude da vivência democrática, estão assimilando maior consciência política e
compreensão da realidade, passando a se sentir capazes de agir no sentido de
enfrentar as estruturas que as oprimam, sem a necessidade de líderes, ou como
diria Caetano, de “ridículos tiranos”.
Eis a perplexidade que abala não apenas as forças punitivas
como também as estruturas de contenção da ação política dos trabalhadores. Há
muito se discute, academicamente, o problema da organização sindical brasileira
e sempre se quis acreditar que o direito impedia a consciência de classe e
mesmo que obstava a ação verdadeiramente política dos trabalhadores. Mas, como
efeito do percurso histórico iniciado em junho do ano passado, que está
atrelado, ele próprio, a experiências históricas, aí estão os trabalhadores nas
ruas, sem líderes, superando, em concreto, a forma jurídica.
Pela ação política a reforma sindical se tornou um dado da realidade,
impulsionando, ainda, uma alteração necessária na compreensão acerca do
fenômeno greve, que é, como diz a Constituição brasileira, um direito dos
trabalhadores e não dos dirigentes, muitos destes que se encastelaram e se
perderam na lógica burocrática.
A greve como direito do sindicato despersonifica os trabalhadores
e torna mais fácil a interlocução persuasiva e punitiva que se direciona contra
o sindicato e seus líderes. Na greve como direito dos trabalhadores, que a
exercem como ação política, abre-se um diálogo social mais extenso e intenso,
impondo uma espécie de abertura das artérias que nos ligam e nos distanciam.
No estágio atual de compreensão e de
consciência política da sociedade brasileira, as instituições que se apresentem
ainda antidemocráticas, como resquícios da ditadura, vêm-se em descompasso com
a realidade e tendem a ruir, sendo certo que mesmo as estratégicas da imposição
do medo pela força repressiva e da desinformação, pautada pela deformação dos
fatos e pela desqualificação das pessoas envolvidas, perdem eficácia. Abala-se
a racionalidade reacionária, pois ninguém está no comando e o povo está em
ação!
REPRESSÃO POLICIAL NA
MANIFESTAÇÃO DE SÃO PAULO FOI CRUEL, VIOLENTA E COVARDE
Carlos Eduardo Pestana Magalhães - Gato
A passeata que aconteceu 15 de maio, em São Paulo, do
movimento "Não vai ter copa", foi violenta, cruel e covardemente
reprimida pela Polícia Militar paulista. A concentração começou por volta das
15h, na Praça do Ciclista, no final da Avenida Paulista quando se encontra com
a Avenida da Consolação. Muita gente, muita gente mesmo, veio com bandeiras
representando inúmeras reivindicações que não só pelo fim da copa. Por volta
das 19h, a manifestação começou a descer a Consolação, na pista que vai em
direção a cidade. A caminhada era totalmente pacífica e perto do cemitério da
Consolação o grupo que estava a frente foi cercado pela PM e os soldados
começaram a disparar bombas de gás lacrimogênio para cima, em direção do grupo.
Parte da manifestação começou a dispersar e as bombas continuaram voando sobre
as cabeças dos manifestantes. Se algum delas atinge alguém na cabeça pode
causar sérios ferimentos, eventualmente até a morte.
Essa parte da passeata que dispersou voltou pela pista que
vem da cidade e a polícia fez uma barreira no ponto inicial, forçando os
manifestantes caminharam em direção a Avenida Dr. Arnaldo. Tão logo o grosso da
manifestação que voltava passou por esta barreira, de maneira pacífica e sem
nenhuma violência, policiais começaram a disparar, pelas costas dos
manifestantes, bombas de gás lacrimogênio sobre o grupo. Foi uma cena muito
cruel, violenta e covarde... Os participantes não fizeram nada, estavam
pacíficos, mesmo depois do primeiro ataque da PM.
Se, como está sendo veiculado pela imprensa, especialmente a
Globo cujos jornalistas se escondem e não aparecem por medo de serem vaiados e
repelidos pelos manifestantes, alguns mascarados "começaram" a
queimar coisas, se isso aconteceu, foi na Rua Augusta e não na Consolação.
Estranha muito isso ter acontecido visto que as pessoas que estavam na passeata
eram na sua maioria jovens, mulheres e homens, todos sem nenhuma máscara, e
alguns idosos. É muito estranho ter acontecido tal coisa, se aconteceu de fato,
quando a passeata estava começando a fluir pacificamente. De qualquer forma, a
violência e a covardia dos soldados da PM para com as pessoas foi
desproporcional ao que estava acontecendo. Foi uma ação orquestrada, planejada,
com uso de helicóptero policial que ficava voando baixo e com as luzes
direcionadas diretamente para as pessoas na passeata.
Vi cenas que me remeteram a 1968, quando íamos às passeatas
contra a ditadura e éramos reprimidos violentamente pela polícia de então. A
diferença é o aperfeiçoamento dos procedimentos, dos equipamentos. A
modernidade da repressão, com os soldados vestidos como se fossem samurais
guerreiros, prontos para combater... combater quem? Pessoas desarmadas?
Cidadãos que estão no pleno direito legal e democrático de se manifestarem nas
ruas? O que vi, senti, respirei acaba de vez com qualquer veleidade de o Brasil
mudou estruturalmente... mudou nada, no principal continuamos numa ditadura e
pior... porque disfarçada, envergonhada. Urge acabar de vez com a Polícia Militar
e Civil em todo país... Enquanto elas existirem a ditadura de 64 continua
presente e atuante. Qualquer declaração do governo Alckmin ou do secretário de
segurança pública do estado de que a polícia agiu corretamente, de acordo com a
lei, é MENTIRA... A polícia foi covarde, cruel e violenta usando uma força
desproporcional a manifestação.
AS GREVES DOS SERVIDORES PÚBLICOS
FEDERAIS CRESCEM
Mais de cinco mil trabalhadores marcaram presença no coração
de Brasília na Marcha dos SPFs na quarta-feira 7 de maio. A luta por serviços
públicos de qualidade, contra as privatizações e pela valorização funcionalismo
federal foram as principais pautas que levaram os manifestantes a enfrentar o
forte sol e a ocupar a Esplanada dos Ministérios por toda a manhã. A
concentração para o ato teve início às 9h, em frente à Catedral de Brasília.
Aos poucos chegavam ônibus de todo o país, trazendo servidores das diversas
categorias representadas no Fórum das Entidades Nacionais dos SPF, para exigir
seus direitos e protestar contra o descaso do governo federal. Às 11h teve
início a Marcha, que fechou pistas da Esplanada e partiu em direção ao
Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog).
Lá os manifestantes se encontraram com as delegações de
Fasubra e Sinasefe, que desde a madrugada trancavam as entradas do ministério,
cobrando do governo a abertura de negociação sobre as pautas de suas greves. Do
alto do carro de som, os organizadores da marcha deram início às falas das
entidades e categorias presentes, que expuseram suas pautas específicas, deram
informes sobre a mobilização nas bases e reafirmaram a importância da luta
conjunta entre os SPFs. Os
servidores das universidades federais e técnicos e docentes dos Institutos
Federais já estão em greve. Os funcionários do Ministério da Cultura iniciaram
a greve e o mesmo deve acontecer em vários estados na Justiça Federal, Trabalho
e Eleitoral.
A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal
(Condsef), que representa mais de 340 mil servidores em todo o país, promete
parar sua base no dia 10 de junho, dois dias antes do jogo inaugural da Copa do
Mundo. A entrada dos setores representados pela entidade aponta para a
realização de uma ampla mobilização. Caso a greve se efetue, policiais federais
e auditores da Receita Federal, por exemplo, deixarão de controlar o acesso de
turistas estrangeiros e de bagagens, nos aeroportos, nos portos e nas rodovias.
Com a greve dos servidores da Cultura, locais como museus, monumentos
históricos e outros pontos turísticos poderão ficar fechados no período da Copa
do Mundo.
De acordo com a Condsef, os servidores querem que a terceira
parcela do reajuste de 5%, prevista para janeiro de 2015, seja antecipada para
este ano. Em 2012, governo e funcionários acordaram aumento de 15%, dividido em
três anos, a partir de 2013. Os servidores reivindicam também aumento de
benefícios para diversas categorias, como auxílio-alimentação, o cumprimento
de acordos assinados em 2012, e exigem a regulamentação da Convenção 151 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) para garantir uma data-base para a
categoria e o direito a negociação coletiva para todos os trabalhadores. A pesar
da forte greve do Sinasefe e da Fasubra, o governo federal mostra-se
intransigência diante das reivindicações dos trabalhadores da educação federal.
O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog) também não apresentou
ainda resposta à pauta unificada dos servidores, protocolada pelo Fórum
Nacional das Entidades dos SPF, no início do ano.
As entidades representativas do
funcionalismo público também estão fazendo pressão no Congresso Nacional.
Exigem dos parlamentares a inclusão, no orçamento de 2015, de verbas que contemplem
o reajuste dos servidores. A greve já marca a agenda de lutas no setor da
educação, e o tema também está na pauta de todas as reuniões do ANDES-SN, que
fez uma paralisação nacional a 21 de maio.
AS GREVES NO RIO DE JANEIRO
Iniciada na segunda-feira 12 de maio, a greve por tempo indeterminado
dos servidores da educação do Rio de Janeiro teve uma adesão imediata média de
30% da categoria na rede estadual e 60%, nas escolas do município, segundo o
Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação. Entre as reivindicações da
categoria para o estado e o município estão a criação de planos de carreira
unificados para professores e funcionários de cada rede, reajuste salarial de
20%, autonomia pedagógica, a reserva de um terço da carga horária para o
planejamento e a redução de 40 para 30 horas da jornada de trabalho semanal
para os servidores administrativos. Os professores estaduais - em conjunto com
os professores municipais da cidade do Rio de Janeiro - os rodoviários e os
vigilantes de agências bancárias são algumas das categorias que estão em greve
nesse momento em terras fluminenses.
A greve da educação foi deliberada em assembleia geral de
professores estaduais e municipais e elenca 14 pautas unificadas, além de
criticar o governo do Rio de Janeiro e a prefeitura carioca por terem
descumprido os acordos das respectivas greves do ano passado. Entre as
reivindicações estão o plano de carreira unificado, o rechaço à privatização da
educação, eleição direta para diretores e o fim das terceirizações. Os
professores municipais de Niterói, São Gonçalo e Duque de Caxias também
entraram em greve.
Greve dos professores municipais de São Paulo
RESISTÊNCIA E LUTA PELA EDUCAÇÃO
Rodrigo Medina Zagni
A extensa pauta aprovada pela categoria, que conta com mais
de 200 itens reivindicatórios e que foi entregue ao governo em fevereiro, pode
ser resumida nas demandas pela valorização profissional, condições adequadas de
trabalho, educação de qualidade com a redução da quantidade de alunos por sala
de aula, fim da precarização das condições de trabalho, das terceirizações e a
garantia de condições de segurança no ambiente das escolas e imediações.
O governo municipal não foi pego de surpresa, tampouco a
greve foi o primeiro recurso de que lançaram mão os educadores em luta. Muitas
foram as tentativas de negociação que colidiram com a intransigência ou mesmo o
silêncio da administração municipal, isso porque desde fevereiro a categoria
vem mais incisivamente chamando o governo para a negociação e realizando
paralizações, sem sucesso.
A greve que teve início no dia 23 de abril foi um ponto
culminante nesse processo de luta; contudo, nem mesmo com a paralisação de
entre 10% a 100% dos profissionais da educação nas unidades escolares do município
parece ter havido vontade política para o atendimento das reivindicações mais
básicas da categoria, demonstrando a importância de uma mobilização crescente.
No dia 7 de maio os educadores em luta ocuparam a Av. 23 de
maio. No dia 13 foi a vez da Av. Paulista onde 15 mil profissionais de educação
se reuniram no vão livre do MASP a fim de deliberar sobre a decisão do governo,
que reduzia a extensa pauta dos grevistas à questão meramente salarial, ainda
assim tratada de forma insuficiente. Os grevistas fizeram passeata até a sede
da Prefeitura de São Paulo, onde inúmeras assembleias já haviam sido feitas a
fim de sensibilizar o prefeito Haddad.
Este, por sua vez, insistiu no mantra de que o governo teria
aplicado 26% de reajuste em 2 anos e que aplicaria mais 15,38%, como abono
complementar de piso que, por sua vez, não seria incorporado imediatamente,
somente a partir de maio de 2015 e atingindo apenas 16 mil profissionais de
educação, de um total de 94 mil. A reivindicação da categoria, aprovada em assembleia,
é a de que os 15,38% sejam destinados aos padrões de vencimentos tanto de
ativos quanto de aposentados, que deveriam ser tratados com isonomia.
Haddad ainda toma como feitos da atual gestão conquistas de
paralisações e greves anteriores ao seu mandato, como o reajuste de 10,19%
aprovado em 2010, aplicado apenas em maio de 2013, bem como os 13,43% aprovados
em 2011, a serem aplicados no corrente mês de maio deste ano. Não são feitos
desta gestão, porquanto encontram, quando de sua implementação, situação já de
gravíssima defasagem.
No dia 15 de maio, novamente 15 mil educadores se reuniram
desta vez defronte à Secretaria Municipal de Educação, deparando-se com a
costumeira intransigência do governo que se anteparou mais uma vez nas medidas
anteriormente anunciadas. Novo documento foi divulgado pela secretaria e
dirigido, com o título de esclarecimento, às entidades sindicais; novamente o
governo não se pronunciou acerca das decrépitas condições de trabalho a que vêm
sendo submetidos os profissionais da educação, sem o básico para ensinar, e
alunos, sem o necessário para aprender.
A luta vem tomando cada vez mais vulto, motivo pelo qual
práticas persecutórias, punitivas e de retaliação começam a ser implementadas
como o corte de ponto dos servidores mobilizados além de ameaças de toda sorte,
motivo pelo qual os comandos de greve, a partir de 16 de maio, passaram a
organizar atos pelo respeito ao direito de greve.
A estratégia é nefasta e tende a dividir a equipe escolar,
trazendo o conflito entre a administração municipal o os grevistas para dentro
da escola, tentando transformar diretores, coordenadores e supervisores –
integrantes da carreira do magistério tanto quanto os demais profissionais de
educação - em informantes e agentes repressores do governo, colocando-os contra
aqueles que vêm exercendo o direito de greve.
Trata-se de ato ilegal, uma vez que gestores da educação não
têm por ato de ofício dar parecer sobre a legalidade das greves, tampouco de
punir aqueles que lutam por direitos com corte de ponto, atribuindo-lhes faltas
injustificadas ou instaurando sindicâncias administrativas de toda ordem.
Como dito, tais atribuições punitivas e constrangedoras,
dadas aos diretores, são ilegais, isso porque a greve - definida como a
“suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, da prestação de
serviço ao empregador” - é um direito constitucional do trabalhador, o que
inclui funcionários públicos, estejam ou não em estágio probatório (argumento
comumente utilizado para evitar a mobilização de recém-concursados) e que não
podem ser punidos por isso.
Está inscrito no artigo 9º da Constituição Federal de 1988,
que assegura: “o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exercê-lo sobre os interesses que devam por meio dele
defender”. Regulamentado pela Lei Federal nº 7.783/89 que em seu artigo 6º
prevê que, sob nenhum pretexto, o empregado deve ser constrangido a voltar ao
trabalho pelo empregador, e que em seu artigo 7º veda a rescisão de contrato de
trabalho em função da greve. É assegurado também pelo Estatuto dos Funcionários
Públicos do Município de São Paulo, promulgado na forma da Lei 8.989/79; bem
como pelo Estatuto do Magistério, promulgado pela Lei 14.660/2007, em seu
artigo 100.
Mas questões de ordem legal são, no mínimo, secundárias. Já
dissera Drummond que “os lírios não nascem das leis”! Tanto a ação quanto a
inação do governo municipal são, sobretudo, imorais, logo ilegítimas. É o que
nos interessa como coeficiente político, responsável direto pela situação da
flagrante deficiência da educação pública na cidade de São Paulo.
Devemos ser solidários porque somos educadores, e os
professores em luta são nossos companheiros cuja tarefa é a de educar crianças
e adolescentes do ensino público que, historicamente, não chegam aos bancos das
universidades públicas de São Paulo, onde cerca de 20% a 25% dos alunos apenas
provêm de escolas públicas. Devemos nos perguntar por quê?
Não se trata de sermos solidários apenas porque o prefeito
Haddad vem tratando os educadores da rede municipal de ensino com a mesma
indiferença com que tratou docentes das universidades federais enquanto
Ministro da Educação. A luta por um ensino superior público verdadeiramente
democrático e inclusivo, direito inalienável de todos, passa diretamente pela
luta dos profissionais da educação pública infantil, do ensino fundamental e
médio para que, dotados de qualidade, com condições dignas de trabalho para
seus quadros, valorizados e capacitados, sejam a porta de entrada para o ensino
público superior, que não pode mais seguir servindo às mesmas aristocracias (ou
mesmo novas) de quando foram criadas as primeiras universidades brasileiras.
A PELEGADA AFUNDA...
A assembleia geral da ADUFC (Associação Docente da
Universidade Federal do Ceará) ocorrida a 14 de maio de 2014 (dia de
paralisação) deliberou por amplíssima maioria pela desfiliação da ADUFC da
Proifes-Federação, porcaria pelega organizada pelo governo e a CUT (com apoio
de um par de grupelhos “de esquerda”) contra o sindicalismo docente classista e
democrático. Um momento histórico que marca a independência dos docentes da
UFC, da UNILAB e da UFCA de tão nefasta entidade pelega. Agora é necessário partir
para discussão dos novos rumos para a organização sindical.
A volta ao ANDES-SN deverá ser resolvida em assembleia
geral, depois de discussão da base da categoria.
AS ELEIÇÕES NO SINDICATO
DOS BANCÁRIOS DE FLORIANÓPOLIS
Antonio Carlos Tarragô Giordano
As eleições foram vencidas pela chapa 01 da Contraf/Cut
(Articulação/DS), por 999 votos a 740 da chapa 02, a Chapa 100% BANCÁRIO,
formada basicamente por militantes independentes/Intersindical, e deixou uma
sensação de que boa parcela da categoria ficou perdida, pois em nenhum momento
ficou claro para ela quem era realmente a oposição, tal a confusão gerada pela
falta de uma diferenciação programática e pela chapa 2, em que pese sua
combatividade, não ter se declarado claramente de oposição.
Era uma chapa formada na sua maioria por militantes
combativos e históricos do movimento bancário e sindical de Florianópolis,
poderia ter sido mais ousada para denunciar à categoria que a outra chapa era
formada basicamente pela mesma corja de pelegos da famigerada Contraf/Cut, que
há décadas entrega direitos e conquistas aos banqueiros e talvez essa timidez
em enfrentar com mais força essa e outras questões que afligem a categoria,
acabou deixando um vazio e, além da costumeira fraude nas eleições, a turma do
governo/CUT acabou levando as eleições por uma diferença estranha de 259 votos,
numa disputa que sempre esteve parelha do início ao fim.
Mas a grande questão
que os bancários de Florianópolis e do Brasil inteiro precisam tirar dessas e
de outras eleições, é de que além de lutar contra as famosas fraudes da turma
da Contraf/Cut, é preciso um movimento de oposição a nível nacional, com um
programa que contemple as reivindicações mais sentidas da categoria. É preciso
que a oposição atue no dia a dia da categoria, mobilizando e arregimentando os
companheiros que estão descontentes com essa situação de assédio, de
adoecimento e de arrocho salarial, que vem sendo implementada pelos banqueiros
e pelos governos, principalmente o governo Dilma, que é agente de ataque feroz
aos bancários dos bancos Federais, da Caixa e do Banco do Brasil, com a colaboração
criminosa da Contraf/Cut.
- Pelo fim das metas e do Assédio
moral, única forma de combater o adoecimento da categoria;
- Pela recuperação de todas as perdas salariais desde o
primeiro plano econômico, que hoje estão na maioria em torno de 100%;
-Pela Isonomia na Caixa e no BB e pela imediata volta da licença-prêmio
nos bancos em que a mesma foi retirada como é o caso dos companheiros do
BRB-Banco de Brasília, luta essa que desemboca na luta contra a privatização e
as demissões;
- Pela campanha
salarial com delegados eleitos por local de trabalho, que atuem em defesa dos
bancários de seus respectivos setores, independentes e de luta;
- Lutar contra a
terceirização, quem trabalha em banco bancário é;
- Combater e
denunciar a precarização do trabalho bancário em correspondentes, lotéricas e
banco postal, que atuam sem a menor segurança;
-Combater a política
de desconto dos dias parados nas greves, os bancários não podem ser punidos por
lutarem por melhores condições de trabalho e de salário.
UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS:
REAJUSTE DE 0% - É GREVE!
O CRUSEP (O Conselho de Reitores das três universidades
estaduais paulistas) “ofereceu” um reajuste de 0% para funcionários e docentes,
que é um corte de fato de salários, devido à inflação acumulada, de no mínimo
7%. A chamada crise financeira da USP, usada como pretexto, foi manipulada e
manufaturada; as reitorias estão tentando culpar os salários de funcionários e
docentes. Quando o governo e as reitorias falam que repasse 9,57% do ICMS para
os três universidades estaduais, estão mentindo. Através de manobras contábeis
(descontando vários impostos) as universidades estaduais paulistas deixaram de
receber R$2 bilhões entre 2008 e 2013. A USP ainda tem R$2,8 bilhões na
reserva. Porque é preciso ter tanta reserva? Em janeiro os reitores discutiram
a possibilidade de aumento de 5,5%. É necessário investigar rigorosamente as
contas da gestão Rodas. A Reitoria atual inteira fazia parte da gestão Rodas e
ninguém falou nada sobre a crise até dezembro de 2013. Foi a Adusp em agosto de
2013, que pediu esclarecimentos sobre as contas. O atual Reitor Zago também não
fez nenhuma investigação das contas de Rodas. Os salários das universidades
paulistas não são competitivos com o resto de funcionalismo público no Brasil sem
falar de outros países. É bem difícil morar numa cidade cara como São Paulo com
salário do doutor da USP. Não precisamos sacrificar nossos salários para pagar
crises que não causamos; é igualmente ruim o argumento que devemos cobrar
mensalidades para os alunos, abrindo o caminho da privatização. A única saída é se mobilizar. Dia 21 de maio,
massivas assembleias de funcionários e docentes votaram greve por tempo
indeterminado a partir de 27 de maio.
Assembleia dos trabalhadores da USP vota maciçamente a greve (21 de
maio)
PARALISAÇÃO DOS RODOVIÁRIOS NO RIO, CONTRA A PATRONAL E A
BUROCRACIA SINDICAL
A paralisação de 48 horas dos rodoviários da capital
fluminense, que teve início desde a meia-noite do dia 13 de maio, contra o
acordo da burocracia sindical da categoria com a patronal, foi um sucesso. A
base reivindica 40% de reajuste, a burocracia pelega firmou por 10%. Motoristas
são obrigados a conduzirem ônibus mesmo sofrendo de vertigens; é constante o
assédio moral pelas empresas de ônibus, com ocorrência de ameaças e agressões
físicas por parte de “capatazes”; há falta até de banheiros etc. A comissão de
base da categoria externou a revolta da categoria com a condenação judicial
sobre quatro trabalhadores e reivindica que o Ministério Público (MP) investigue
a relação entre a Rio Ônibus, a Fetranspor e o sindicato da categoria. A
comissão de base denunciou as ameaças que parte da categoria tem sofrido por
milicianos na Zona Oeste e dos estranhos dados sobre ônibus depredados que
foram fornecidos apenas pela patronal. Escandaloso mesmo é a denúncia de
falsificação de assinaturas na assembleia que supostamente teria aceitado o
acordo proposto pela Rio Ônibus. Alguns profissionais de imprensa insistiram em
falar sobre mínimo de 30% de ônibus circulando. As comissões de base das
categorias se rebelaram contra as direções sindicais. A Justiça foi rápida para
criminalizar a lutas, mas é lenta na resolução das demandas trabalhistas, já
que o dissídio da categoria ainda não foi julgado. Os advogados da categoria denunciaram
as detenções arbitrárias sob a acusação de depredação e esclareceram que todos
os que conseguiram apoio jurídico já foram liberados por absoluta falta de
provas. Apesar da repressão da patronal, da criminalização da Justiça e do
Estado e das calúnias veiculadas na imprensa os rodoviários continuam lutando.
Se solidarizaram com a população, responsabilizaram o sindicato e a
intransigência da patronal em negociar pelos transtornos causados, e
denunciaram o risco que a implantação total da dupla função de
motorista-cobrador tráz aos rodoviários e à população como um todo. A greve dos
rodoviários se dá em um momento em que várias categorias também estão em greve
como os servidores públicos federais e os profissionais de educação da redes
públicas, ou se mobilizando como os próprios policiais federais; reafirmamos a
necessidade de unificarmos todas a lutas que estão ocorrendo para mostrarmos a
Dilma, Pezão, Paes e patrões que agora e na Copa vai ter luta!
Assassinato na
UFMT
PRETO INSOLENTE, QUESTIONADOR DAS NORMAS, NÓS MATAMOS, NÃO É?
Cristiana de Vasconcelos Lopes
Eu acompanhei de perto todo o desenrolar pós-crime, meu
companheiro foi levar nossos amigos também intercambistas para reconhecer o
corpo no IML, inclusive no momento do reconhecimento do corpo, o funcionário do
IML falou bora enterra-lo como indigente, ou senão vocês precisam pagar 30 mil,
e direcionou a pergunta: Você tem 30 mil para fazer o translado? A luta foi
grande aqui até para fazer o translado do corpo que a UFMT se recusava a assumir
a responsabilidade do translado. Enfim Toni era meu amigo, e ele sofreu
preconceito mesmo depois do seu assassinato, a pró-reitoria da UFMT concedeu
entrevista alegando que o Toni era adicto, o que nas entrelinhas justificava
seu assassinato. A mobilização popular foi grande em primeiro momento para que
os assassinos fossem presos, o corpo transladado, como também a segurança dos
outros intercambistas, já que sofriam ameaças diretas tanto pela PM quando da
administração da UFMT, que sinalizava para o fim do convênio. A testemunha
principal, que morava enfrente ao restaurante, mãe de uma amiga minha, sofreu
violentas ameaças para calar, mas essa professora se manteve firme, o processo
foi manipulado desde o começo, a cena do crime foi alterada, o empresário é
filho de um delegado, e os PMs já faz tempo que estão de volta na rua para
matar mais um preto que aparecer em seu caminho. Por fim, não perdi apenas um
amigo/vizinho, perdemos a capacidade de vencer o discurso xenofóbico, o
preconceito racial e classista, como também o preconceito contra os adictos,
que está pela ordem do dia e a sociedade brasileira se nega debater. O
resultado do processo com o veredito da pena é um reflexo da naturalização da
barbárie promovida pelo Estado! Estado esse que lhe permito viver, e, lhe
possibilita morrer. Num Estado como Mato Grosso, a barbárie é historicamente
estabelecida, a PM contemporânea tem uma historia, no século XVII tinha o nome
de bandeiras, surgiu com a finalidade de matar índios, como já matamos todos nossos
índios, e os que ainda tentam resistir o agronegócio mata, seja com tiro de 12,
ou com veneno. Então o que sobrou pra PM? Nos matarmos em nome da lei e da
legitimada provida pelo Estado Burguês. Toni era preto, portanto a carne mais
barata do mercado. E, preto insolente, questionador das normas nós matamos,
afinal é assim! Não é?
CAVALARIA DA PM TERÁ ATÉ ARMADURA PARA ENFRENTAR PROTESTOS
A cavalaria do choque agora será blindada. Para estrearem na
Copa do Mundo, os animais ganharam uma armadura com um conjunto de viseira de
acrílico, botas antiderrapantes, protetor facial e uma cobertura de couro no
peito. Os policiais militares por sua vez vão usar uma nova indumentária
semelhante à roupa do "Robocop" - um exoesqueleto de polipropileno,
um material resistente a todo o tipo de pancadaria esperada nos próximos
grandes eventos. Os duzentos kits de proteção começaram a ser usados nos
treinamentos. Cada conjunto custou cerca de R$600 para os acessórios dos
cavalos e R$2.300 pela nova vestimenta. Antes, os animais andavam sem nenhum
equipamento. A face e o focinho do
cavalo, o chamado chanfro, são especialmente sensíveis, o que leva ao risco de
quedas e tropeços. Os PMs tinham apenas um colete balístico e eram vulneráveis
a quedas e objetos lançados. "É um projeto já em preparação há quatro
anos. Aconteceu de coincidir com a Copa, mas servirá para operações em praças
esportivas, reintegrações de posse e
para todos os outros eventos que possam trazer perigo para o cavalo e o
policial militar", disse, sem papas na língua, o comandante tenente Rafael
da Silva Gouveia. É para a Copa, mas fica para depois também...
FUNDOS DE PENSÃO TÊM DÉFICIT RECORDE
Com déficit recorde de R$ 22 bilhões
em 2013, mais que o dobro do ano anterior, os fundos de pensão contam com a
ajuda do governo para evitar que empresas patrocinadoras e participantes tenham
de aportar dinheiro. O Ministério da Previdência já admitiu estender a folga
para os planos com saldo em vermelho em 2014. O fundo de pensão da Petrobrás
teve déficit de R$ 7 bilhões em 2013. A regulamentação limitava a 10% do
patrimônio o déficit em um ano. Se superasse esse patamar, os planos eram
obrigados a apresentar um programa de resolução do saldo negativo no ano
seguinte. A pedido dos fundos, o governo mudou a regra: o teto de déficit subiu
para 15% em 2013. O alívio reduziu à metade a quantidade de planos que precisam
apresentar ainda neste ano um plano para cobrir os desequilíbrios. Os fundos
pediram que o teto de 15% servisse como parâmetro até 2015.
Para que os fundos se reequilibrem,
seria preciso aumentar as contribuições de participantes e patrocinadores. O
saldo negativo dos fundos de pensão no ano passado foi pior do que em 2009. O
déficit de R$ 22 bilhões foi publicado este mês pela Superintendência Nacional
de Previdência Complementar, órgão “fiscalizador” que nada fiscaliza. Em 2012,
o rombo foi de R$ 9 bilhões. A saída é: estatizar todos esses fundos sob o
controle dos trabalhadores ativos e aposentados de todas as categorias
concernidas.
GOVERNO AMEAÇA COM MP QUE
ATACA DIREITOS TRABALHISTAS
A Medida Provisória (MP) que ataca direitos trabalhistas com
a flexibilização da jornada de trabalho e de salários está em fase final de
elaboração por parte de equipe técnica do governo. Com a MP, o governo beneficiará
ainda mais as montadoras e as indústrias, visto que, além das isenções fiscais,
desonerações e incentivos às montadores e demais indústrias, o governo dará
mais dinheiro aos patrões, atacando os direitos dos trabalhadores. Em síntese,
a medida pouparia os gastos dos patrões com as demissões, e o governo pagaria
parte da conta. De acordo com o jornal,
“seria uma maneira de evitar os custos de demissões diante de uma economia que
patina”. Setores do segmento têxtil,
construção civil e de energia estão em desaceleração na geração de vagas ou já
fecharam postos neste ano. O Programa Nacional de Proteção ao Emprego (PPE),
elaborado nesta MP, permite que empregados tenham a jornada de trabalho e os
salários reduzidos a pouco mais da metade, por seis meses. A medida se
assemelha ao layoff e férias
antecipadas, já praticadas pelas empresas e que geralmente acabam em demissão. O
projeto prevê que governo arque com parte dos salários e o empregador com
outra. Como se não bastasse, segundo técnicos que elaboram a proposta, o FGTS
também pode ser usado como fonte de recursos para ajudar a bancar parte dos
salários dos trabalhadores. O ministro do Trabalho, Manoel Dias, revelou ao
jornal que a MP será envidada para aprovação da presidente Dilma Rousseff. Um
posicionamento favorável a esta medida veio de quem deveria defender os
direitos dos trabalhadores. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, Rafael Marques, mesmo que não haja condições de usar o programa já neste
ano, a sua simples criação já seria um avanço. Por isso mesmo: fora a
burocracia sindical!
GOVERNO DILMA QUER DAR MORATÓRIA A EMPRESAS DE ENSINO SUPERIOR
O Projeto de Lei Complementar 32/2014, de iniciativa do
governo federal, que facilita mais uma vez para as devedoras empresas
particulares de ensino superior o parcelamento de suas dívidas, está na pauta
da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal para ser debatido em
breve. O PLC reabre por 90 dias o prazo para requerimento de moratória e do
parcelamento previsto no Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies).
O Proies é um programa, instituído em 2012 pelo governo
federal, que busca salvar da falência empresas particulares de ensino superior
por meio de parcelamento e adiamento do pagamento de tributos federais, em
troca da oferta de vagas pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni) e de
bolsas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) por essas instituições. Essa
medida é mais uma fatia do projeto de educação privatista do governo, baseado
no Plano Nacional de Educação (PNE) do decênio 2011-2020, ainda em discussão no
Congresso Nacional. A ideia do PNE e de leis como essa é que se invista
dinheiro público em educação privada, ao invés de investir esse dinheiro em
educação pública, gratuita, de qualidade.
SECTARISMO, CENTRISMO E A
IV INTERNACIONAL
Leon Trotsky
Seria absurdo negar a existência de tendências sectárias em
nosso meio. As discussões e cisões desnudam o fato ante nossos olhos. Como
poderia deixar de haver um elemento de sectarismo em um movimento ideológico
irreconciliavelmente oposto a todas as organizações dominantes na classe
operária, e submetido a perseguições monstruosas e sem precedentes no mundo
inteiro?
Os reformistas e centristas aproveitam qualquer ocasião para
colocar o dedo na chaga de nosso “sectarismo”. Em geral, não se referem ao
nosso lado débil, e sim ao mais forte: nossa seriedade teórica; nossa tentativa
de analisar a fundo toda situação política e apresentar palavras de ordem
claras; nossa hostilidade para as decisões “fáceis” e “cômodas”, que evitam as
dores de cabeça de hoje e preparam as catástrofes de amanhã. Nos lábios de um
oportunista, a acusação de sectarismo é, na maioria dos casos, um elogio.
Por curioso que pareça, os que nos acusam de sectários não
são somente os reformistas e centristas, mas também os adversários de
“esquerda”, os sectários destacados que poderiam muito bem servir de amostra em
um museu. Seu descontentamento conosco radica em que somos implacáveis com
eles, em que tratamos de purgarmos das enfermidades infantis do sectarismo e de
nos elevar-nos a um nível superior.
Um pensador superficial poderia crer que os termos
sectarismo, centrismo, etc., são apenas expressões polêmicas que os adversários
empregam por carecer de epíteto mais apropriado. No entanto, os conceitos de
centrismo e de sectarismo tem significados precisos no léxico marxista. O
marxismo descobriu as leis que governam a sociedade capitalista e elaborou um
programa cientifico baseado nas mesmas. É uma conquista colossal! No entanto,
não basta elaborar um programa correto. É necessário que a classe trabalhadora o
aceite. Porém, o sectário, por sua própria natureza, se detêm uma vez cumprida
metade da tarefa. Em lugar de participar ativamente na verdadeira luta das
massas operárias, apresenta abstrações propagandísticas arrancadas de um
programa marxista.
Todo partido operário, e toda fração atravessam em suas
etapas iniciais, um período de propaganda pura, ou seja, de educação de seus
quadros. O período de existência como círculo marxista, faz com que
inevitavelmente seja interiorizado o hábito de enfocar os problemas do
movimento operário de forma abstrata. Quem não é capaz de transcender
oportunamente os limites desta existência limitada se transforma em um sectário
conservador. Para o sectário, a vida social é uma grande escola e ele seu
professor. Em sua opinião a classe operária deveria deixar de lado as questões
de pouca importância e agrupar-se ao redor de sua tribuna professoral. Assim as
tarefas se realizariam.
Ainda que nomeie a Marx em cada frase, o sectário é a
negação direta do materialismo dialético, que sempre toma a experiência como
ponto de partida para logo voltar a ela. O sectário não compreende a ação e a
reação dialética entre um programa acabado e a luta viva – ou seja, imperfeita
e não acabada – das massas. O método intelectual do sectário é o do
racionalista, do formalista, e o do iluminista. Em certa etapa do processo
histórico o racionalismo é progressista, apontando suas criticas contra as
crenças e superstições cegas (o século XVIII!). Todo grande movimento
emancipador repete a etapa progressista do racionalismo. Porém o racionalismo
(propagandismo abstrato) torna-se um fator reacionário, quando se dirige contra
a dialética. O sectarismo é inimigo da dialética (não em palavras, mas sim na ação) porque
volta as costas ao verdadeiro processo que vive a classe operária.
O sectário vive num mundo de formulas pré-fabricadas. Em
geral, a vida passa ao seu redor sem que ele se aperceba de sua presença, porém
de tanto em tanto a vida lhe dá um golpe que lhe faz girar 180 graus ao redor
de seu próprio eixo; e em seguida continua seu caminho... na direção contrária.
Sua discrepância com a realidade obriga-o constantemente a precisar suas
formulas. Chama a isso de discussão. Para o marxista, a discussão é uma arma
importante, porém funcional da luta de classes. Para o sectário, a discussão é
um fim em si mesmo. No entanto, quanto mais discute, menos compreende as
verdadeiras tarefas. É como um homem que sacia sua sede com água salgada:
quanto mais bebe, mais sede tem. Daí sua irritação constante. Mas quem colocou
sal no copo? Os “capituladores” do Secretariado Internacional, lógico! Para o
sectário, todo aquele que trata de explicar-lhe que a participação ativa do
movimento operário exige o estudo permanente da situação objetiva em lugar dos
conselhos altaneiros pronunciados da tribuna professoral sectária, é um
inimigo. Em lugar de dedicar-se a analisar a realidade, o sectário se dedica às
intrigas, aos rumores e à histeria.
Neste sentido, o centrismo se opõe pelo vértice ao
sectarismo: lhe aborrecem as formulações precisas, trata de encontrar caminhos
para a realidade por fora da teoria. Porém, apesar da famosa frase de Stalin,
os “antípodas” muitas vezes resultam ser... ”gêmeos”. Uma formula separada da
vida carece de conteúdo. Não se pode apreender a realidade viva sem
teoria. Assim vemos que os dois, o
sectário e o centrista, vão com as suas mãos vazias e se unem... em seu ódio contra
o marxista autêntico. Quantas vezes não encontramos com um centrista satisfeito
que se intitula “realista”, simplesmente porque se lança a nadar sem nenhuma
bagagem ideológica e se deixa levar por qualquer corrente passageira. É incapaz
de compreender que para o nadador revolucionário, os princípios não são um peso
morto, mas sim um salva-vidas. O sectário, por sua parte, geralmente não quer
nadar para evitar que molhem os seus princípios. Se senta na margem e pronuncia
conferências moralizantes ante a torrente da luta de classes. Porém, de tanto
em tanto, um sectário desesperado coloca a cabeça para fora d'água, se apega ao
centrista, e ambos se afogam. Assim foi; e assim será sempre.
Nesta época de desintegração e dispersão encontramos nos
distintos países mais de um círculo que adquire um programa marxista,
geralmente tomado dos bolcheviques, e que após isso vai ossificando sua bagagem
ideológica.
Vejamos, por exemplo, o espécime mais típico: o grupo belga
dirigido pelo camarada Vereecken. Spartakus, o órgão desse grupo, anunciou em
10 de agosto sua adesão a IV Internacional. Este anúncio foi uma boa notícia.
Porém, ao mesmo tempo, é necessário dizer que a Quarta Internacional estaria
condenada a morte se fizesse concessões às tendências sectárias.
Em seu momento, Vereecken se opôs contundentemente ao
entrismo da Liga Comunista francesa no Partido Socialista francês. Isto não é
um crime: trata-se de um problema novo, um passo arriscado e as diferenças eram
totalmente lícitas. Em certo sentido, os exageros da luta ideológica também
eram lícitos ou, ao menos inevitáveis. Vereecken vaticinou a ruína inexorável
da organização internacional bolchevique-leninista como resultado de sua
dissolução na Segunda Internacional. Aconselharíamos a Vereecken que voltasse a
publicar no jornal Spartakus seus documentos proféticos de ontem. Porém isso
não é o pior. O pior é que em sua última declaração Spartakus assinala de forma
ambígua que a seção francesa manteve-se fiel a seus princípios “poderíamos
dizer em grande medida”. Se Vereecken atuasse como político marxista, nos diria
clara e concretamente em que se desviou a seção francesa de seus princípios e
haveria de responder direta e francamente à pergunta: Quem teve razão, os
adversários ou os partidários do entrismo?
A atitude de Vereecken para com a nossa seção belga, que
entrou no Partido Trabalhista (POB) reformista, é ainda mais errônea. Em lugar
de estudar as experiências derivadas do trabalho sob novas condições, e de
criticar as medidas adotadas se o merecessem, Vereecken queixa-se das condições
em que se realizou a discussão na qual foi derrotado. A discussão, vejam vocês,
foi incompleta, inadequada e desleal: a água salgada não acalmou a sede de
Vereecken. Não existe um “autentico” centralismo democrático na Liga Comunista
Internacional! Com relação aos adversários do entrismo, a Liga
mostrou-se...”sectária”.
É evidente que a concepção do camarada Vereecken sobre o
sectarismo não é marxista, mas sim liberal: nisto aproxima-se dos centristas.
Não é correto que a discussão foi inadequada; durou vários meses e
desenvolveu-se oralmente e através de nossa imprensa e, para cumulo, a nível
internacional. Quando Vereecken fracassou em seu intento de convencer aos
demais de que ficar quieto e perder tempo é a melhor política revolucionária,
se negou a respeitar as decisões das organizações nacionais e internacionais.
Mais de uma vez os representantes da maioria disseram a Vereecken que se a
experiência demonstrava que a medida resultasse incorreta, iriamos corrigi-la juntos.
É compreensível que depois de doze anos de luta dos bolcheviques-leninistas não
se tenha suficiente confiança na Organização para manter a disciplina na ação,
ainda que existam diferenças táticas? Vereecken fez caso omisso dos argumentos
fraternais e conciliadores. Quando a maioria da seção belga entrou no Partido
Trabalhista, o grupo de Vereecken se encontrou, logicamente, fora de nossas
fileiras. A culpa disso recai sobre o próprio grupo.
Voltando ao eixo do problema, o sectarismo do camarada Vereecken
ressalta com todo seu grosseiro dogmatismo. Como!, grita Vereecken, indignado:
Lenin falou de romper com os reformistas, porém os bolcheviques-leninistas
belgas ingressam em um partido reformista! Porem Lenin considerava a ruptura
com os reformistas como consequência inevitável da luta contra eles, não como
um ato de salvação independente de tempo e de lugar. Não pediu a ruptura com os
sociais-patriotas para salvar sua alma, mas para que as massas rompessem com o
social-patriotismo. Na Bélgica, os sindicatos então unidos com o Partido
Trabalhista Belga; o partido belga é essencialmente o movimento operário
organizado.
É certo que o entrismo dos revolucionários no Partido
Trabalhista Belga não somente abriu possibilidades, mas também impôs
restrições. Para fazer propaganda das ideias marxistas é necessário ter em
conta, não somente a legalidade que lhe outorga o Estado burguês, mas também a
legalidade existente no partido reformista (legalidades, que acrescentamos,
coincidem em grande medida). Em termos gerais, a adaptação a uma “legalidade”
exterior envolve indubitavelmente um elemento de perigo. Porem isso não impediu
aos bolcheviques utilizar a própria legalidade czarista: durante muitos anos,
os bolcheviques em assembleias sindicais e na imprensa legal tiveram que
abandonar o nome de social-democratas e usar o de “democratas consequentes”. É
verdade que não saíram totalmente impunes: o bolchevismo atraiu uma série de
indivíduos que eram democratas mais ou menos consequentes, mas de nenhuma
maneira socialistas internacionalistas; no entanto, combinando o trabalho legal
com o ilegal, o bolchevismo superou as dificuldades.
É claro que a “legalidade” de Vandervelde, de De Man, de
Spaak e outros lacaios da plutocracia belga impõe restrições muito pesadas aos
marxistas e, em consequência, criam perigos. Porém os marxistas que todavia não
possuem as forças suficientes para criar seu próprio partido, tem métodos
próprios para combater os perigos do cativeiro reformista: um programa claro,
vínculos fraternais constantes, crítica internacional, etc, etc. Só se pode
julgar corretamente a atividade da ala
revolucionária de um partido reformista avaliando a dinâmica de seu
desenvolvimento. Vereecken não o faz no caso da fração ASR, nem tão pouco no
caso do grupo Vérite. Se tivesse feito, teria que reconhecer que ASR realizou
progressos importantes no último período. No entanto não se pode vaticinar um
balanço final. Porém a experiência já justifica o entrismo no Partido
Trabalhista Belga.
Vereecken estende e generaliza seu erro ao afirmar que a
existência de grupos pequenos e isolados que romperam com nossa organização
internacional em distintos momentos, é uma prova de nossos métodos sectários.
Ao dizer isso, mexe as relacionadas patas para cima. A verdade é que nas etapas
iniciais, nas fileiras dos bolcheviques-leninistas entraram um bom número de
elementos anarquizantes e individualistas, geralmente incapazes de respeitarem
a disciplina organizativa; também as vezes algum incompetente incapaz de fazer
carreira no Comintern. Para estes elementos a luta contra o “burocratismo” consistia
mais ou menos o seguinte: Jamais se devem tomar decisões; a “discussão” deve
ser a ocupação permanente. Podemos dizer com toda a justificação que os
bolcheviques-leninistas foram muito pacientes (talvez até excessivamente
pacientes) com tais indivíduos e grupelhos. Quando conseguimos consolidar um
núcleo internacional que ajudava às seções nacionais a purgar de suas fileiras
a sabotagem interna, somente então a nossa organização internacional começou a
crescer sistematicamente.
Vejamos alguns exemplos de grupos que romperam com nossa
organização internacional em determinadas etapas de seu desenvolvimento.
O periódico francês Que
Faire? (Que Fazer?) é um exemplo ilustrativo da combinação de sectarismo
com ecletismo(3). Com respeito aos problemas mais importantes, este periódico
difunde as posições dos bolcheviques-leninistas, trocando um par de vírgulas e
criticando-nos severamente. Ao mesmo tempo, com o pretexto da discussão e da
“defesa da URSS”, permite que prossiga com impunidade uma defesa do lixo
social-patriota. Os próprios internacionalistas do Que Faire? São incapazes de
explicar como e por que coexistem pacificamente
com os social-patriotas depois de romper com os bolcheviques. Porém
resulta claro que, com semelhante ecletismo, Que Faire? É o menos capaz de
responder a esta pergunta: o que fazer?
Os “internacionalistas” e os social-patriotas estão de
acordo em relação a uma questão: abaixo a Quarta Internacional! Por quê? Porque
não se deve “romper” com os operários comunistas. O SAP utiliza o mesmo
argumento: não romper com os operários socialdemocratas. É um novo exemplo de
antípodas que acabam sendo gêmeos. O curioso é que Que Faire? não está (e por sua própria natureza não pode estar)
ligado a nenhum operário.
É menos o que podemos dizer sobre os grupos Internationale ou Prolétaire. Também recolhem suas posições de La Verité e lhe acrescentam algumas improvisações criticas. Não tem
a menor perspectiva de crescimento revolucionário, porém acertam-se para
subsistir mesmo sem perspectivas. Em vez de tentar aprender dentro de uma
organização mais séria (aprender é difícil), estes pretensiosos “dirigentes”
que odeiam a disciplina querem ensinar a classe operária (o qual lhes parece mais
fácil). Quando refletem seriamente, eles próprios devem compreender que sua
mera existência como organizações “independentes” é apenas um mal entendido e
nada mais.
Nos
Estados Unidos poderíamos mencionar o grupo de Field e de Weisbord. Por toda
sua fisionomia política, Field é um radical burguês que adotou as posições
econômicas do marxismo. Para ser um revolucionário, Field deveria haver
militado durante alguns anos como soldado disciplinado de uma organização
proletária revolucionária; porém resolveu criar “seu próprio” movimento
operário. Tomando uma posição à nossa esquerda (aonde mais, não é mesmo?).
Field estabeleceu posições fraternais com o SAP. Como vemos, o acidente que
sofreu Bauer não foi casual em absoluto. A ânsia de situar-se à esquerda do marxismo
conduz inevitavelmente ao pântano centrista.
Indubitavelmente, Weissborg aproxima-se mais que Field do
tipo do revolucionário. Porém, ao mesmo tempo, é o mais puro exemplo do
sectário. É absolutamente incapaz de manter as proporções, seja nas ideias ou
na ação. Converte todos os princípios em caricaturas sectárias. Por isso, em
suas mãos até as ideias justas convertem-se em instrumentos para desorganizar
suas próprias fileiras.
Não é necessário que nos estendamos sobre grupos similares
de outros países. Não se afastam de nós porque somos intolerantes ou
intoleráveis, mas sim porque não quiseram nem puderam avançar. A partir de sua
cisão e de sua defecção somente conseguiram demostrar sua impotência. Não houve
uma só instância em que suas tentativas de unificar-se em escala nacional ou
internacional produzissem resultados positivos: a característica do sectarismo
é o poder da repulsão, e não o da atração.
Certo indivíduo excêntrico calculou a quantidade de “cisões”
que tivemos e somou umas vinte. Para ele isso era uma prova incontestável do
caráter de nosso regime. O irônico é que o próprio SAP, que publicou estas
estatísticas com alarde triunfalista, em poucos anos de existência sofreu mais
cisões do que todas as nossas seções juntas. Tomado de forma isolada, este fato
não significa nada. O importante não são as estatísticas sobre as cisões, mas
sim a dialética de seu desenvolvimento.
Apesar de todas as suas cisões, o SAP é uma organização extremamente
heterogênea que será incapaz de resistir ao primeiro ataque, como consequência
dos grandes acontecimentos. O mesmo fenômeno, ainda que em maior medida, é típico
do “Birô de Londres para a Unidade Socialista Revolucionária”, dilacerado
internamente por contradições irreconciliáveis: no seu futuro não há “unidade”
alguma, somente rupturas. Enquanto isso, a organização dos
bolcheviques-leninistas, depois de depurar-se das tendências sectárias e
centristas, não somente engrossou suas fileiras e fortaleceu seus vínculos
internacionais, assim como fundiu-se com organizações de espirito afim
(Holanda, Estados Unidos). As tentativas de destruir o partido holandês (desde
a direita, através de Molenaar!) e ao partido norte-americano (desde a
esquerda, através de Bauer!) somente serviram para consolidar internamente
estes dois partidos. Podemos prognosticar com segurança que, paralelamente com
a desintegração do Buro de Londres, as organizações da Quarta Internacional
crescerão ainda mais fortemente.
Ninguém pode prognosticar hoje como se formará a nova
Internacional, por quais etapas atravessará e qual será seu destino final.
Porém não é necessário faze-lo: os acontecimentos históricos nos mostrarão. No
entanto, é necessário iniciar proclamando um programa adequado às tarefas de
nossa época. Sobre a base desse programa devemos mobilizar nossos
correligionários, os pioneiros da nova Internacional. Não há outro caminho.
O Manifesto Comunista
de Marx e Engels, dirigido contra o socialismo utópico-sectário em todas as
suas variantes, assinala energicamente que os comunistas não se opõem às
mobilizações reais da classe operária, pelo contrário: eles participam como
vanguarda das mesmas. O Manifesto era por sua vez o programa de um partido
novo, nacional e internacionalmente. Para o sectário, o programa é uma receita
de salvação. O centrista guia-se pela famosa formula (no fundo, carente de
significado) de Eduard Bernstein: “O movimento é tudo; o objetivo final... nada”. O marxista toma o seu programa científico do
movimento em seu conjunto, para aplica-lo depois em cada etapa concreta do
movimento.
Os primeiros passos da nova Internacional vêm-se
dificultados, por um lado, pelas velhas organizações e por outros grupelhos divisionistas,
e por outro, se vêm facilitados pela colossal experiência do passado. O
processo de cristalização, que nas primeiras etapas é sumamente difícil e
sacrificado, adquirirá um ritmo veloz e impetuoso no futuro. Os últimos
acontecimentos internacionais possuem uma importância enorme para a formação da
vanguarda revolucionária. De certa maneira, Mussolini “auxiliou” a causa da
Quarta Internacional: os grandes conflitos varrem com tudo que é indefinido e
artificial e, por outra parte, fortalecem tudo o que é viável. Em uma guerra
somente duas tendências tem lugar para o movimento operário: o social-patriotismo,
capaz de qualquer traição, e o internacionalismo revolucionário, audaz e
disposto a continuar até o fim. Precisamente por isso os centristas,
atemorizados pelos acontecimentos que se avizinham, livram uma luta raivosa
contra a Quarta Internacional. À sua maneira eles têm razão: as únicas
organizações que sobreviverão às grandes convulsões e que seguirão
desenvolvendo-se, serão as que tenham purgado suas fileiras do sectarismo e as
educarem sistematicamente no espirito do desprezo pela vacilação e pela
covardia ideológica.
22 de outubro de 1935
MASSACRE MINEIRO NA
TURQUIA: DECLARAÇÃO DO PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DOS TRABALHADORES (CRQI)
Não é um acidente relacionado com o trabalho, é um verdadeiro massacre!
Que sejam responsabilizados os assassinos dos mineiros! Abaixo o governo! Por
uma greve geral até que se cumpram todas as exigências!
Queremos o verdadeiro número de mortos! Por uma Comissão Investigadora
Independente que traga à luz as verdadeiras causas do massacre! Basta de estado
de sítio em Soma! Cárcere imediato aos chefes e diretores da empresa mineira
criminosa! Nacionalização da mina Soma sob o controle dos trabalhadores! Não às
privatizações! Renacionalização de todas as minas! Que nenhum setor privado
seja admitido nas minas!
A classe trabalhadora da Turquia está sentindo uma terrível
dor. Temos sacrificado a centenas de nossos filhos e irmãos no altar da
voracidade do capital. Os frutos amargos das políticas aplicadas pelo governo
do AKP por mais de uma década: a privatização, a subcontratação, a ação
anti-sindical, o desprezo pela saúde dos trabalhadores e a segurança no
trabalho, a política de pisotear as conquistas e direitos adquiridos pela
classe operária, ficam muito claramente expostos: centenas de nossos irmãos da
classe trabalhadora hoje serão enterrados, no mesmo lugar aonde todos os dias
de sua vida trabalharam para ganhar o pão. Estamos cheios de uma tristeza
insondável! Nós, do Partido Revolucionário dos Trabalhadores apresentamos
nossas condolências ao povo de Soma e, em primeiro lugar, às famílias e a todos
os parentes dos trabalhadores falecidos.
Isto não é casualidade, nem é o destino. O que ocorreu está
muito claro: os chefes ligados ao governo do AKP fizeram seu trabalho! Esta é a
classe da época a que nos quer levar Zafer Çağlayan, o ex-ministro do Comércio,
agora fora do cargo, já que foi provado que recebeu um relógio de pulseira
Patek Philippe de 250 mil dólares, como suborno de parte de um ladrão que se
ocupava do comércio ilícito entre Irã e Turquia em troca de proteção, utilizado
para recorrer o mundo em função da comercialização da Turquia, presumindo:
“meus trabalhadores são tão dóceis como para trabalhar mais horas que qualquer
outro lugar, pelos salários mais baixos e nunca ficam enfermos” Seja
estrangeiro ou nacional, todos os capitalistas se protegeram fortemente dos
custos “desnecessários”, assegurando seus benefícios. Sem pagamento de horas
extras, sem segurança social, a força de trabalho dividida em uma multidão de
subcontratados no mesmo local de trabalho, com os salários, deste modo,
empurrados para baixo, sem pagamento por tempo de serviço, e o mais importante
de tudo, todas as medidas necessárias para a saúde dos trabalhadores e a
segurança no trabalho convenientemente deixado de lado! Esta é a base do tão
elogiado PIB de 10.000 dólares per capita! Para os patrões, tudo para
fazerem-se ricos, para os trabalhadores a morte!
Isto não é casual! É a conclusão lógica das políticas que
levam, de maneira mais sistemática e consciente durante mais de uma década, de
fato, inclusive mais tempo. Portanto, é um assassinato relacionado com o
trabalho. E um assassinato deliberado, para este caso. É público e notório que
a Turquia ocupa o primeiro lugar na Europa e o terceiro a nível internacional
na área de “acidentes” do trabalho. Enterramos cada ano em torno de mil
trabalhadores para satisfazer a avareza do capital, alimentando suas ganâncias.
Se um governo não move um dedo para por fim a esta situação, então isto é um
assassinato deliberado! Por isso, podemos chamar apropriadamente, ao
assassinato de Soma, relacionado com o trabalho, como um massacre!
Apesar de que está regulamentada a duração máxima da jornada
diária de trabalho, em sete horas e meia, em poços subterrâneos, os
trabalhadores denunciam que trabalham onze horas. A razão porque o número de
trabalhadores soterrados na mina não é possível determinar-se é porque muitos
são empregados não registrados. Algumas das famílias estão na espera de seus
entes queridos, que são descobertos diretamente na boca da mina, disseram
nossos companheiros que possuem filhos de até 15 anos que trabalham ali! O fato
de que o Ministro de Energia e Recursos Naturais tenha afirmado que esta mina,
em particular, havia sido submetida a todas as provas necessárias, mostra que
está atuando em conjunto com os chefes da mina para ocultar sua
responsabilidade no assunto. Para que se esclareça este crime é necessário
prender já aos suspeitos! Não aos engenheiros de nível inferior e capatazes,
mas aos chefes e os executivos!
Isto não é a ação do destino! A classe operária, o operário,
o camponês pobre, os pobres das cidades, os aposentados, as mulheres, os
jovens, todos os oprimidos, todos os que formaram parte da rebelião popular do
verão passado, todos temos que agir para livrar-nos deste governo e suas
políticas, que não conhece limites na defesa dos interesses dos capitalistas.
Abaixo o governo! O governo está tratando de esconder a
evidência do crime. Está tratando de impor à Soma um estado de sitio. O número
de mortos foi ocultado sistematicamente desde o primeiro momento. Enquanto que
fontes governamentais insistiam em números inferiores a 20, o prefeito opositor
de Manisa, a província em que se encontra o bairro de Soma, encontrou 157
mortos, que por sua vez é tão somente uma primeira estimativa. Os trabalhadores
de Soma relataram números maiores a 201 mortos, agora tardiamente admitidos
pelo Ministro de Energia e Recursos Naturais (até o momento, já foram apuradas
299 mortes, NR). O governo está ocultando os cadáveres, com o envio dos corpos
a seus lugares de origem, recorrendo a todo tipo de artimanha para ocultar a
verdade. As tropas estão sendo deslocadas para Soma a toda velocidade. O
governo está se preparando para fazer vistas grossas frente aos verdadeiros
criminosos e para reprimir ao povo de Soma! Que tirem suas mãos do povo de Soma
que já sofrem a morte de seus entes queridos! Temos que deter a imposição do
estado de sitio na cidade! Por uma cerimônia fúnebre coletiva de nossos
mártires operários!
Não podemos confiar que o governo revele a verdade das
causas do massacre e o número de nossos desaparecidos. Deve ser estabelecida
uma Comissão Investigadora Independente, integrada por representantes do
movimento sindical, os engenheiros e os médicos das câmaras profissionais e os colegiados
de advogados, com acesso a todos os dados e provas. A indústria mineira em seu
conjunto deve ser investigada. Todas as medidas necessárias para velar pela
segurança no trabalho nas minas devem ser tomadas sob controle operário. As
privatizações devem cessar de imediato. Todas as minas privatizadas
anteriormente devem ser renacionalizadas.
Proibição da subcontratação! Segurança no emprego para
todos! Pela supressão de todos os obstáculos contra a sindicalização! Pelo
pagamento do tempo de serviço! Deve ser retirado o projeto de lei de empresas
de trabalho temporário!
O trabalhador não é um escravo! Todos os que manifestem que
não confiam na classe capitalista devem se unir à luta imediatamente! Vamos
derrubar esta ordem social! Somente um governo operário pode proteger os
operários e afastar-nos do rosto da morte!
XXII Congresso do Partido Obrero da
Argentina
POR UM CONGRESSO NACIONAL DA ESQUERDA E DO MOVIMENTO OPERÁRIO
ARGENTINO
David Lucius
O Partido Obrero realizou seu XXII
Congresso entre os dias 17 e 20 de abril passados em uma situação excepcional
na história da Argentina em que confluem uma grande crise econômica e política,
de um lado, e um espetacular crescimento da esquerda classista e das lutas do
movimento operário, de outro. A economia argentina deteriora-se rapidamente de
forma acentuada, principalmente a partir de 2011. A projeção da inflação avança
(e talvez ultrapasse) rapidamente os 40% anuais (inflação oficial, já que como
no Brasil a carestia do custo de vida é apenas representada de forma parcial
pelos números e institutos oficiais), a desvalorização do peso argentino frente
ao dólar ultrapassa os 75% no último ano, a indústria acumula retração após
retração com grande aumento do desemprego e de demissões em massa (principalmente
no setor automobilístico). A venda de imóveis e de automóveis está em franco
retrocesso. Há projeções que dão conta da perda de 100 mil postos de trabalho
para o ano de 2014 (um número enorme para um país que tem cerca de 40 milhões
de habitantes). A dívida pública já é hoje superior a de 2001, período que
culminou com o Argentinazo. Isso
acarretou uma enorme saída de divisas para o exterior, causando com isso o
esvaziamento energético, aumento do déficit fiscal e, obviamente, da inflação.
No dia de 10 de abril passado houve
uma forte greve geral que foi chamada pelas três principais centrais sindicais
do país (as CGTs de Moyano e de Barrionuevo e a CTA de Pablo Micheli), com uma
participação massiva dos trabalhadores, e com a participação ativa do Partido Obrero
e dos demais partidos da FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) que
protagonizaram a luta em diversas regiões e cidades da Argentina, com a
utilização de piquetes e bloqueios de estradas e de avenidas. A greve mostrou a
ampla insatisfação popular com o governo de Cristina Kirchner e que a esquerda
classista está ganhando cada vez mais força no movimento sindical, o que
inevitavelmente levará a um choque com as burocracias sindicais, abrindo a
possibilidade de sua superação e da sua derrubada. Enquanto isso os professores
realizaram uma greve de 17 dias em Buenos Aires, e em Salta (norte da
Argentina) realizaram uma greve vitoriosa de mais de 30 dias, com amplas
mobilizações de até 10 mil pessoas, greve que foi impulsionada pelos setores
combativos da militância docente organizada em torno do Partido Obrero e de sua
corrente sindical junto aos docentes.
Para as eleições nacionais da central
sindical CTA, a Coordenação Sindical Classista do PO irá concorrer (lista 3) em
17 províncias, 50 regionais, com mais de 1200 candidatos em todo o país,
demonstrando que a superação da burocracia sindical já começa a se inscrever
como uma perspectiva na luta dos trabalhadores e da esquerda classista. O
crescimento da esquerda (e particularmente da FIT) tem raízes no conjunto do
processo político. Para impulsionar esse processo o Partido Obrero aprovou em
seu Congresso a impressão de um jornal para a sua corrente sindical, a
Coordenadora Sindical Classista.
O ato de 1º de maio foi convocado
pela FIT e teve a participação de vários setores da esquerda classista e
combativa. O ato realizou-se na Praça de Maio de frente a sede do governo, a
Casa Rosada, a praça estava tomada por cerca de 15 mil manifestantes que
gritavam palavras de ordem contra o governo, O principal orador, Jorge
Altamira, encerrou o ato afirmando que havia uma mudança de página na história
do movimento operário, e que a luta de classes só pode se projetar quando se
transforma em luta política. Os oradores do Partido Obrero defenderam em seus
discursos que a Frente de Esquerda convoque junto a organizações combativas dos
trabalhadores um congresso operário e socialista para se que se discutam e
organizem as perspectivas políticas que se abrem na próxima etapa.
O Partido Obrero realizou nesse
quadro seu XXII Congresso, um congresso militante e consciente de seu papel histórico
para o próximo período. O Congresso teve o papel de um verdadeiro laboratório
de elaboração política. Cerca de 400 delegados discutiram e deliberaram a
política do partido para o próximo período. O congresso teve um caráter
especialmente importante para a nova geração da juventude que se aproxima do
partido e para os militantes que se incorporam, oriundos de outras experiências
políticas, principalmente do peronismo.
A Frente de Esquerda converteu-se em um polo imantado, uma
força de atração sobre os trabalhadores, inclusive aqueles sem tradição de voto
na esquerda, e sobre a juventude. A análise do Partido Obrero considera que a
crise atual tem um caráter estratégico, porque expressa o fracasso da
reconstrução capitalista do país depois da falência do 2001. O PO considera que
a crise também é uma expressão aguda do fracasso do nacionalismo burguês
(peronismo-kirchenerismo) e da centro-esquerda, que se deslocou para a direita
no último período, e que levou a esquerda democratizante a uma crise
fulminante, pois essa buscava costurar uma frente “plural” com a própria
centro-esquerda. Uma conclusão fundamental do Congresso foi que a
desvalorização monetária e a entrega acelerada ao capital internacional darão
lugar a uma acentuação dos desequilíbrios econômicos com ‘tarifaços’,
desvalorizações e maiores ajustes contra os trabalhadores e parcelas menos
favorecidas da população.
O Congresso do Partido Obrero
considerou que a resistência popular contra a desvalorização monetária (e a
consequente inflação) deve culminar com a convocatória de uma greve geral e a
organização de um congresso de bases do movimento operário, uma greve política
de massas que deve estruturar a classe operária como um sujeito político social
independente e lutar por um governo dos trabalhadores. Esse Congresso deve
desenvolver-se sobre a base de uma frente única e utilizar os métodos da frente
única. Um Congresso do movimento operário e da esquerda deve potencializar
essa iniciativa política, mediante a fusão da esquerda revolucionária com o
movimento operário. A experiência histórica da Argentina, no último
período, é um laboratório riquíssimo de experiências para o debate em toda a
esquerda latino-americana e, particularmente, da brasileira. A discussão, o
estudo e a reflexão sobre este processo e o protagonismo que a FIT e o PO vem
desenvolvendo em sua árdua luta, abrem enormes perspectivas para a luta da
esquerda e dos trabalhadores de todo o continente.
Para surpresa, supomos, do grande publico, os grandes meios
internacionais de comunicação admitiram que uma maioria esmagadora do sul e do
leste votou, distante das improvisações impostas pela situação política e
militar, a favor da autodeterminação da região e rejeitando o governo instalado
na capital, Kiev, em finais de fevereiro passado, pela União Europeia e pelos
Estados Unidos. Trata-se de um golpe às pretensões de converter a Ucrânia em um
protetorado econômico e político desses blocos.
Este repúdio popular se junta com uma crescente resistência
à continuidade da União Europeia entre os trabalhadores dos Estados membros. A
realização destes referendos constitui uma expressão do fracasso da tentativa
de submeter o leste por meios militares que, no entanto, tem perpetrado
diversos massacres, em especial na grande cidade de Odessa, porém também em
outras cidades. A falida ofensiva militar contou com o planejamento da Agencia de
Segurança e da CIA norte-americana, que recrutaram grupos de tarefa entre os
nazistas da Ucrânia.
O apoio popular ao referendo autonomista do Leste não
significa, no entanto, que estamos em presença de um movimento revolucionário,
como prova a ausência de um questionamento aos oligarcas que controlam a
economia local. Alguns deles têm, inclusive, criado milícias para manter a
ordem pública. Ainda que nos dias prévios à realização do referendo tenha
pedido seu esmagamento, o governo russo conserva um controle sobre a direção
desta rebelião popular. Para Putin é uma carta de negociação com as potências
imperialistas, e em primeiro lugar com a Alemanha. Putin não demonstra, entre
suas opções, nenhum tipo de apoio a uma secessão do leste e do sul da Ucrânia, pelo
contrário, planeja a formação de um Estado federal e a garantia de que a
Ucrânia não será incorporada à OTAN, como ocorreu com os Estados do Báltico.
Com esse fim reclama a postergação das eleições nacionais, prevista para o dia
25 de maio próximo, e o estabelecimento de uma mesa de negociações
quadripartite entre a UE, a Rússia, o governo oficial e os representantes do
leste. A reivindicação foi admitida pelos funcionários da Comissão Europeia,
porém rechaçado pelo governo da Ucrânia. Está muito claro, desde o começo da
crise, que o governo oficial atende a política norte-americana, a qual se choca
com a vontade da composição da União Europeia. A divisão penetra o partido do
governo, entre a conhecida Yulia Timoshenko, partidária de um compromisso com o
leste e a Rússia, e o primeiro ministro, convertido quase que num agente
norte-americano.
O filho do vice-presidente dos Estados Unidos, Hunter Biden,
acaba de ser designado executivo de uma companhia privada de gás da Ucrânia. No
cenário da Ucrânia se desdobra um enfrentamento de fundo entre o imperialismo
ianque e o europeu, cujas consequências paga o povo ucraniano. O ex primeiro
ministro da Alemanha, Gerard Schroeder, que preside o consórcio da companhia
que transporta o gás pelo mar Báltico, está a favor de um rápido compromisso
com Putin; o mesmo que propôs em uma recente assembleia da União Industrial da
Alemanha. Um acordo que viabilize uma negociação entre os quatro, poderia
desatar uma crise internacional entre os Estados Unidos e a União Europeia, e
até muito mais se isso implicar em uma postergação das eleições nacionais.
O desalento por uma secessão, vinda de parte da Rússia e,
sobretudo, a pressão que exerce para alcançar um compromisso através da
Alemanha, reflete a crise de poder que os acontecimentos da Ucrânia começam a
apresentar na Rússia. A rebelião popular no leste poderia escapar do controle e
assumir características mais amplas, com projeção sobre os trabalhadores da
Rússia. Outra expressão do descontrole é a fuga de capitais, que no Banco
Central da Rússia está em 55 bilhões de dólares (uma quarta parte das reservas
internacionais da Rússia, que os observadores estrangeiros estimam em 150
bilhões de dólares) no período de quatro meses. É a forma de pressão que exerce
a oligarquia capitalista russa, ligada de mil maneiras ao capital
internacional, para que Putin se afaste da rebelião popular e feche um
compromisso com UE. Esta fuga de capitais explica a demanda que tem tido a
dívida pública na Europa e a subida do euro, o qual agrava a depressão
econômica na UE. As autoridades monetárias russas estão compensando esta fuga
com operações de troca de divisas com bancos europeus; enquanto se enfrentam no
plano diplomático, os capitalistas de um e outro lado estreitam suas relações
financeiras. A oligarquia russa encontra-se dividida em relação a uma
assimilação da Ucrânia por parte da União Europeia, devido a seu próprio
interesse em um maior acesso ao mercado mundial e em uma união econômica futura
que inclua à própria Rússia.
O “ajuste” do FMI para sair ao
resgate da economia quebrada da Ucrânia já se encontra em marcha. Em troca de
um empréstimo de 15 bilhões de dólares, claro que em longas prestações, iniciou
um “tarifaço” dos serviços básicos. A revolta social que ameaça provocar esse “ajuste”
tem todos os protagonistas internacionais. A independência da Ucrânia é, antes
do mais, o rechaço ao “ajuste” que procuram estabelecer a UE e o FMI, e que
conta com o apoio da oligarquia russa. A reivindicação da unidade da Ucrânia
significa uma convocatória aos explorados de todo o país para lutar contra esse
“ajuste”, e por essa via derrotar o intento de protetorado que quer estabelecer
a UE. A esquerda europeia deveria converter a consigna de rechaço e ruptura da
UE em uma reivindicação internacional, contra suas próprias burguesias. A
partir dessa caracterização geral, nossa posição na Ucrânia é o de apoio à
rebelião popular dos trabalhadores do leste, com um programa de confiscação da
oligarquia da Ucrânia, ou seja, por um governo dos trabalhadores de uma Ucrânia
unida e independente.
Odessa:
última advertência
CHEGA DE NAZISTAS E DE INTERVENÇÃO IMPERIALISTA! POR UMA
UCRÂNIA UNIDA, INDEPENDENTE E SOCIALISTA!
Chamado internacional
Depois da Segunda Guerra Mundial, em
todos os dias 8 de maio, a humanidade celebra a derrota do fascismo. Mas depois
da Sexta-feira Negra do dia 2 de maio, o massacre de Odessa, a humanidade ficou
perplexa, ao ver as tropas de assalto nazistas, outra vez, queimarem vivos a
civis indefesos, os quais prendiam e matavam a todos os que tratavam de
escapar, enquanto cantavam o hino nacional, perante seus cadáveres. Qualquer
silêncio é cumplicidade, inclusive pior, é um crime. Temos que dizer bem alto e
claramente a verdade sobre o massacre em Odessa, para derrotar a Grande Mentira,
espalhada pelos autores materiais e intelectuais do crime: os nazistas do Praviy Sektor e Svoboda, sócios no governo ilegítimo de Kiev de oligarcas
pró-ocidentais, e, sobretudo pelos centros imperialistas dos Estados Unidos e
da União Europeia, com a assistência dos principais meios massivos de
comunicação.
Sem lugar a dúvidas, quando uma
sociedade, em uma transição falida como a Ucrânia, implode e sua economia entra
em colapso, a situação é complexa e cheia de contradições, que não podem ser
simplificadas com o preto no branco. No entanto, somente os culpados poderiam
tratar de apresentar o preto como branco: às vítimas como delinquentes, e como
”fascistas pró-russos ou agentes russos”, aos cidadãos de Odessa assassinados,
da maneira mais atroz, pelos nazistas do Praviy
Sektor.
Isto é exatamente o que a imprensa
ocidental e a propaganda de televisão trata de fazer: apresentar aos queimados
vivos como “separatistas e nacionalistas pró-russos” e os soldados de assalto
do Praviy Sektor do dia 2 de maio, como
“ativistas a favor da Ucrânia ” (ver por exemplo o artigo no Internacional
Herald Tribune de 5 de maio de 2014). Agora, os mesmos “ativistas cidadãos”,
segundo o Ministro do Interior em Kiev, substituíram a polícia local para impor
a “lei e a ordem”, em outros lugares, para aterrorizar à população de Odessa e
subjugar à ditadura dos professores de Kiev. Já, os médicos que trataram de
ajudar às vítimas do massacre foram tratados pelos “ativistas a favor da
Ucrânia” como “judeus sujos”. Eles manifestam, uma vez mais, o antissemitismo
no poder, o qual é particularmente cruel em uma cidade como Odessa, que
costumava ser um centro tradicional da cultura judaica, honrada pela caneta
imortal de um Isaac Babel. O massacre em Odessa está revivendo com razão lembranças
sinistras do massacre de Judeus de 1942, em Lviv, perpetrado pelas bandas de Stepan
Bandera.
O massacre de Odessa está
indissoluvelmente ligado ao assédio de Sloviansk, às execuções em Kramatorsk e
outras cidades, à escalada da agressão militar por parte das forças de Kiev com
helicópteros, tanques, tropas especiais, sob a direção dos “especialistas” dos
Estados Unidos no terror da guerra contra a classe operária e da rebelião
popular no oriente e no sul da Ucrânia.
Inclusive a imprensa ocidental, que tenta
representar a rebelião como a ação de… “pequenos grupos de separatistas
pró-russos e dos soldados russos encobertos“, não pode deixar de admitir que
esta ação conta com o apoio da população local. O caráter classista e operário
da rebelião se mostra claramente na greve iniciada em 23 de abril pelos
mineiros de Donbass contra o proprietário da mina: o oligarca Akhmetov, o homem
mais rico da Ucrânia, ex partidário de Yanukovitch, e figura chave para a sua
destituição. Estes mesmos mineiros convocaram aos mineiros da União Europeia a
que se solidarizem, no espírito do internacionalismo proletário. Esta região é
o coração industrial do país e o objetivo da ofensiva do capital estrangeiro,
que segue o programa do canibalismo social, vinculado aos empréstimos do FMI.
Os trabalhadores do leste e sul da
Ucrânia não somente defendem sua língua, como proteção nacional e cultural do
ódio étnico e dos planos genocidas dos fascistas, em Kiev. A questão social
está no centro, apesar de toda a confusão introduzida pelos direitistas
nacionalistas russos.
Sabe-se bem que não somente os
oligarcas ucranianos, como também os oligarcas russos possuem interesses
investidos no leste da Ucrânia, opõem-se à rebelião e demandam sua repressão.
A verdade é que a população no leste da
Ucrânia sofre muito mais da falta de ação da Rússia de Putin, que de sua ação.
As milícias populares em Donetsk lhes reclamaram em vão, por mais armas, porque
só contam com o antigo armamento da década de 1980, tomado pelos insurgentes
locais, das forças armadas e da polícia da Ucrânia. O Kremlin subordina toda a
sua diplomacia secreta e a negociação entre bastidores com os Estados Unidos e
Alemanha. O acordo de Genebra de 17 de abril foi unicamente uma tentativa, na
política, para lograr em primeiro lugar, o desmonte da rebelião em Donetsk,
como havíamos sublinhado em nosso chamamento de 18 de abril. Foi uma perigosa
farsa que fracassou miseravelmente para converter-se na tragédia atual.
Repetimos: nem o Kremlin, nem os
oligarcas, a classe operária internacional é o aliado de classe real dos
trabalhadores da Ucrânia. O massacre de Odessa é a última advertência, não
somente pela tragédia que cai sobre todo o povo da Ucrânia, tanto no Leste e na
parte ocidental do país, como também, pela tragédia mais vasta e terrível que
envolve a toda a região, a Europa e o mundo. Recorda ao Kristallnacht, a “Noite
dos Cristais” que precedeu, na Alemanha nazista, ao genocídio dos judeus da
Europa.
A “nova ordem” que os ”cidadãos
ativistas” do Praviy Sektor têm que
impor segundo o ministro ucraniano de Assuntos Internos implica não somente à
Odessa ou o leste da Ucrânia, como a toda Ucrânia, para poder por em prática as
medidas draconianas do FMI e da UE. Por outro lado, trata-se do objetivo para a
recolonização pelos Estados Unidos, a Otan e os imperialistas da UE, de todo o
antigo espaço soviético.
Se permitirmos que tenham êxito em
seus planos, então não só a Ucrânia, ou Rússia ou Europa do Leste e os Bálcãs,
como o conjunto da Europa, o Oriente Médio e o mundo inteiro irá sofrer uma
catástrofe. Temos que pará-los imediatamente.
Começamos transformando o aniversário
da derrota do fascismo deste ano, o 8 de maio, em um Dia Internacional de
Mobilização pela Solidariedade e a denúncia do massacre perpetrado pelos
nazistas em Odessa. Organizamos piquetes nas embaixadas e consulados da Ucrânia
de todo o mundo, com panfletos e convocações de reuniões e mobilizações, etc.
Vamos pôr no centro da atividade
política de todas as organizações de esquerda e populares, e dos movimentos sociais,
em todos os fóruns internacionais e nacionais, as repercussões da tragédia
ucraniana, em conexão com a situação específica, em cada país.
Vamos romper o silêncio cúmplice, a
letargia e a inatividade da Esquerda burocratizada, sobretudo da Europa ocidental,
que mantém relação com a Ucrânia e a posição até de apoio aberto às ações de
“seu próprio” imperialismo. Se permitirmos que os fascistas em Kiev desenvolvam
sua política criminosa em Odessa, então vamos permitir que amanhã o mesmo
delito seja cometido pelo “Amanhecer Dourado” na Grécia, Jobbik na Hungria ou
inclusive, a Frente Nacional de Marine Le Pen, na França.
Vamos desmascarar sistematicamente
todas as mentiras dos meios de comunicação, propaganda e operações psicológicas
do imperialismo. A verdade é concreta e revolucionária.
As falsas eleições do dia 25 de maio na
Ucrânia impostas ditatorialmente pelo regime pró-Estados Unidos/UE contra a
rebelião popular têm que ser denunciadas como uma farsa, e boicotadas.
Denunciemos também o nacionalismo ucraniano
e o grande ódio étnico do nacionalismo russo; e a desintegração, a escravidão
nacional e o desastre social em função dos interesses da oligarquia e o capital
mundial, para o FMI, a UE, os Estados Unidos e a Otan.
A integridade e a independência da
Ucrânia podem ser asseguradas somente se todos os oligarcas forem expropriados,
sem compensação alguma, sob controle operário, e se reorganiza toda a economia
e a sociedade sobre bases socialistas, verdadeiras e antiburocráticas.O falso Verkhovna Rada (Conselho Supremo –
Parlamento unicameral da Ucrânia) tem que ser dissolvido imediatamente. Os
conselhos operários têm que ser formados em todas as partes e eleger delegados
para um novo verdadeiro Conselho Supremo que organize um debate nacional para
uma nova Constituição em uma Europa unida, independente, e uma Ucrânia
socialista, governada pelos Conselhos de seus trabalhadores e o povo e não por
quadrilhas pagas por Washington, Berlim e Bruxelas.Morte ao fascismo! Liberdade
e paz para o povo!
Todo o poder aos conselhos operários!
6
de maio de 2014
DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DE PARTIDOS DE
ESQUERDA E MOVIMENTOS DE LUTA
Os dramáticos acontecimentos na Ucrânia estão no centro da
política mundial e com certeza determinarão de forma decisiva, não só na região
e em toda a Europa, a evolução do futuro da humanidade em geral.
Nós, como marxistas e revolucionários internacionalistas,
portanto reais humanistas na prática, estendemos nossa profunda preocupação e
solidariedade ao povo ucraniano e compartilhamos seus sofrimentos e perdas. A
tragédia do povo ucraniano está aumentando por causa da guerra no sul e no
leste da Ucrânia, o massacre de Odessa, a 2 de Maio e os assassinatos na
manifestação pacífica do povo de Mariupo, em 9 de maio, Dia da Vitória
antifascista.
Nossas tarefas urgentes são três: 1) acabar com a guerra, 2)
derrotar o ressurgimento do fascismo, e 3) criar as condições nas quais o povo
da Ucrânia seja capaz de resolver a crise de forma independente de qualquer
intervenção externa e com sua autodeterminação determinar o seu presente e
futuro.
A partir deste ponto de vista apelamos a todos os povos do
mundo e a todos os partidos de esquerda, ao movimento operário e a todos os
movimentos sociais para a emancipação, grupos de direitos humanos, etc., para mobilizar
e lutar por:
1. As "eleições" do dia 25 de maio na Ucrânia, nas
condições atuais, devem ser canceladas. Tais eleições não irão trazer uma
solução, mas uma exacerbação da crise para tentar estabelecer uma fachada legal
para um regime ilegítimo e antipopular. Se estas "eleições"
fraudulentas ocorrerem, chamaremos pelo seu boicote.
2. Todas as operações militares lançadas por Kiev em todo o
território da Ucrânia e nas recentes repúblicas populares criadas em Donetsk e
Lugansk, deve ser imediatamente interrompidas.
3. Os Estados Unidos da América e a União Europeia devem
cessar, imediatamente e incondicionalmente, de intervir nos assuntos internos
da Ucrânia.
4. Os Estados Unidos da América e a União Europeia devem
abandonar todos os planos de expansão da OTAN na Europa Oriental, bem como sua
inútil tentativa de convertê-los em "parceiros orientais" para
subverter esta região em uma colônia econômica e em uma área de antagonismos
geopolíticos. Todas as suas bases militares devem ser liquidadas.
5. A Ucrânia não deve ser transformada em um protetorado da
União Europeia.
6. O pacote de "ajuda" do FMI para a Ucrânia,
conectado com medidas antinacionais que levariam a mais pobreza e miséria para
o povo ucraniano, deve ser rejeitado; a dívida externa do país deve ser paga em
primeiro lugar pelos políticos e empresários que a aprovaram.
7. Todo apoio político, militar, diplomático e financeiro
para a aliança criminosa de oligarcas e nazistas fazedores de guerra contra o
seu próprio povo, deve ser interrompido. O atual "governo provisório"
deve renunciar.
8. O desejo do povo, expresso em referendo de 11 de maio de
2014 em Donetsk e Lugansk, deve ser imediatamente reconhecido.
Propomos, além disso, o seguinte:
1. A renúncia imediata da Rada Suprema e sua substituição,
assim como de outras autoridades burguesas, com novas autoridades nacionais
surgidas de um congresso nacional que consiste de Conselhos Operários e seus
comitês executivos em nível local, regional e nacional, incluindo a todas as
fábricas e empresas. Só então, em condições de revogabilidade dos mandatos dos
deputados por aqueles que o elegeram, é que estarão abertos os precedentes para
que o movimento operário e outros trabalhadores sejam capazes de definir
democraticamente o destino do país.
2. Aceitar uma nova Constituição em um referendo para a
Ucrânia que garanta a todo o seu povo, sem exceção, direitos sociais, culturais
e humanos, incluindo o relativo a falar sua língua nativa.
3. Empreender a transformação da economia em novas bases
sociais com a confiscação sem indenização e sob o controle dos trabalhadores de
toda a riqueza social apropriada pelos oligarcas, tanto do Leste como do Oeste
da Ucrânia.
Nosso objetivo de luta é uma Ucrânia unida, independente e
socialista, sem oligarcas ou burocratas, como parte de uma Europa unificada e
socialista, é o único caminho histórico e a saída necessária ao trágico impasse
atual.
18 de maio de 2014
Tribuna Classista
Conselho de Redação: Carlos Sanches – Rodrigo Belinaso Guimarães –
Guilherme Giordano – Cristiana de Vasconcelos Lopes – David Lucius – Edgar
Azevedo – José Menezes Gomes – Fabio André Pereira – José Alberto Bandeira
Ramos – Alfeu Goulart – Antonio Carlos Tarragô Giordano
e-mail: tribunaclassista@hotmail.com
blog: http://tribunaclassista.blogspot.com.br/