Jorge Altamira
A Rússia e
os governos da OTAN puseram-se de acordo, em Genebra, na semana passada, sobre
a necessidade de desarmar as milícias que surgiram no leste da Ucrânia e de
desocupar os prédios públicos que se encontram tomados. Motivou-os o afã por
conter uma crise internacional maior, porém, principalmente o temor de que poderia
desenvolver-se uma situação revolucionária. A Ucrânia é um vulcão social a
ponto de explodir por todo o seu território.
A “pacificação”, no entanto, não
ocorreu. Os meios de comunicação atribuem a responsabilidade do fracasso a
Putin, que estaria alimentando a ação armada dos grupos ‘pró-russos’. O assunto
não é tão simples. Na realidade o governo usurpador de Kiev, instalado por um
golpe de Estado manipulado fundamentalmente por Obama, sem eleições, com o voto
da maioria parlamentar que havia sustentado, anteriormente, o governo
derrubado; este governo lançou uma operação militar contra o leste, sob a
direção dos funcionários da CIA e da NSA. O governo usurpador pretende
legitimar o golpe pró-OTAN, no próximo dia 25 de maio, e anexar a Ucrânia à
União Europeia e a Troika (da qual fazem parte a UE, o FMI e o Banco Central
Europeu). É uma anexação na mesma linha estratégica a qual integrou a Alemanha
oriental e a ex-Iugoslávia ao dispositivo econômico e militar do imperialismo.
Os Estados Unidos envia aviões e tropas ao Báltico e inclusive tem instalado
bases militares “provisórias”. Os delegados participantes da Conferência
Europeia convocada pela CRQI, tomaram a decisão de impulsionar o boicote a
estas eleições. A independência da Ucrânia do imperialismo e sua unidade
nacional somente poderão ser asseguradas por uma Assembleia Constituinte, ou
seja, uma deliberação democrática do povo da Ucrânia, que seja convocada pelas
organizações dos trabalhadores.
A Rússia propõe por seu lado, uma
reforma da Constituição, que dê uma forma federal ao Estado ucraniano, com o
propósito de manter uma influência decisiva no espaço geográfico limítrofe. A
OTAN entregou a Crimeia, porem não quer ir mais além (ainda que seja o mesmo
que o PSOE propõe para evitar uma secessão da Catalunha do Estado espanhol). Os
porta vozes da rebelião no leste convocaram um referendo para o dia 11 de maio,
com o propósito de impor a autonomia política de suas regiões de forma
unilateral.
O Estado, na Ucrânia é uma ficção. O
partido que governou os últimos anos encontra-se pulverizado. As forças
tradicionais do oeste não reúnem intenções suficientes de votos para ganhar as
eleições no dia 25 próximo; um oligarca da indústria de chocolate encabeça as
pesquisas. Este desequilíbrio político geral, interno assim como
internacionalmente, não pode encontrar uma saída por meio de operações
diplomáticas.
A este cenário acrescenta-se uma
acentuação dos conflitos entre os Estados Unidos e a China pelo controle do
espaço marítimo que a China disputa com o Japão, Filipinas e outros países.
Obama advertiu a China contra a tentativa de ultrapassar um certo teto de
tonelagem naval, o qual tem recordado a mesma ameaça da Grã Bretanha e da
Alemanha, que desatou a Primeira Guerra Mundial em 1914. Está se formando um
tabuleiro de três lados, se agregarmos a isso a reticência da Alemanha de
alinhar-se, de forma incondicional, com os Estados Unidos contra a Rússia.
Entre esses dois países desenvolve-se uma forte disputa pelo controle da zona
do euro e da UE (a França acaba de intervir para evitar que a empresa Alshtom
seja adquirida pela General Electric, e em troca se associe a Siemens). Um jogo
de sanções econômicas crescentes ameaça por desestabilizar ainda mais a
economia mundial. A Rússia, de imediato, está sofrendo uma forte desvalorização
do rublo. Se as sanções alcançarem a empresa Gazprom, o que até agora não ocorreu,
a desestabilização econômica se acentuaria tanto na Rússia como na UE.
É necessária uma campanha contra a
tomada e ocupação da Ucrãnia por parte da UE e da OTAN, por um lado, e contra
as pretensões de dominação do governo oligárquico capitalista de Putin, por
outro. Lutamos por conjugar as tendências revolucionárias no leste e no oeste.