Extraído e traduzido do link:
https://prensaobrera.com/internacionales/rio-de-janeiro-la-mais-grande-carniceria-policial-contra-las-favelas
Mais de 100 mortos na operação lançada pelo governo estadual.
Na madrugada de terça-feira, 28 de junho, 2.500 policiais, apoiados por cerca de 30 veículos blindados, uma dúzia de caminhões de demolição, drones e helicópteros, invadiram as favelas do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, lar de aproximadamente 300 mil pessoas. O objetivo declarado — segundo o governador de direita Cláudio Castro, aliado do ex-presidente preso, Jair Bolsonaro — era prender membros da chamado Comando Vermelho (CV), uma das organizações de narcotráfico mais poderosas do Brasil, que atua há décadas sob diversos governos, incluindo, é claro, o de Bolsonaro. O próprio Bolsonaro recrutou um número significativo de seus "milicianos" nessas favelas para formar forças paramilitares de cunho fascista. De acordo com uma reportagem citada pelo The New York Times em 2018, das 1.000 favelas do Rio de Janeiro, 45% eram controladas por "milícias".
A operação lançada por Castro resultou no maior massacre policial da história do Brasil. Inicialmente, foram relatadas 64 mortes, mas o número já ultrapassou 130, incluindo quatro policiais. Surgiram fortes alegações de que, entre as vítimas fatais, havia numerosos civis sem antecedentes criminais. Embora 81 prisões tenham sido inicialmente relatadas, esse número subiu para 113. E as informações continuam a surgir. Há relatos de vítimas baleadas na nuca: uma execução sumária.
Diversas organizações de direitos humanos — incluindo a Defensoria Pública Federal (DPV) e a Human Rights Watch Brasil — pediram uma investigação sobre essa operação devido a claras violações de direitos humanos: uma política brutal de policiamento indiscriminado teria sido executada impiedosamente. A DPV declarou: "Ações estatais relacionadas à segurança pública não podem resultar em execuções sumárias, desaparecimentos forçados ou violações de direitos humanos, especialmente em comunidades historicamente marcadas pela desigualdade e pela falta de políticas sociais". No Brasil, há uma repressão contínua contra a população negra e jovem: ser negro aumenta em 2,7 vezes a probabilidade de ser assassinado, segundo o jornal espanhol El País. A direita há muito tempo busca retratar a população pobre e negra como "inimigo interno" e "narcoterrorista".
A operação do governador Castro faz parte de uma manobra política, e não se trata apenas de uma operação policial. Segundo analistas, a violência no Brasil diminuiu (atingindo o menor índice dos últimos 11 anos), embora continue entre as mais altas do mundo. O governador alinhado a Bolsonaro e seu secretário de Segurança Pública, Víctor Santos, acreditam que a "segurança nacional" está em risco e acusam o governo federal de Lula de não prestar apoio. Eles alegam ter solicitado a participação de veículos blindados e das Forças Armadas na operação, pedido que teria sido negado. No entanto, o ministro da Justiça de Lula, Lewandowsky, nega que tenham sido informados sobre a operação ou o pedido de assistência. Em janeiro, o governador Castro solicitou a presença de veículos blindados e um aumento da militarização, pedido que foi rejeitado por Lula, que iniciou os procedimentos para a emissão de uma Ordem Geral de Repressão (GLO, na sigla em inglês).
Conflito entre facções
O Comando Vermelho não é a única facção de narcotráfico atuando no Rio; existem outras seis. Outra grande gangue rival do Comando Vermelho é o chamado “Primeiro Comando da Capital” (PCC). Já fazia algum tempo que não havia confrontos entre as duas facções nas favelas pelo controle do tráfico de drogas, estimado em cerca de 6 bilhões de dólares anualmente. Isso porque elas haviam estabelecido um “acordo” para dividir as áreas de “trabalho”. Mas esse acordo foi rompido há algumas semanas, e havia preocupações sobre como isso poderia levar a novos confrontos entre as mesmas. Há fortes suspeitas de que a operação não seja alheia a esse conflito, favorecendo o avanço do PCC.
O negócio capitalista do narcotráfico aqui se baseia em três pilares: facções de narcotraficantes, “milícias” de direita que vendem “proteção” e também participam de atividades ilícitas, e a própria polícia, que estabelece acordos e parcerias com esses grupos. As “milícias” ficaram tristemente famosas por seu envolvimento direto no assassinato de Marielle Franco, vereadora do PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade) de centro-esquerda que denunciou a intervenção das Forças Armadas na repressão às favelas, uma repressão orquestrada pelo governo golpista de Temer em 2018.
Ofensiva da Direita
As eleições presidenciais no Brasil serão realizadas em outubro de 2026. A direita de Bolsonaro e seus aliados estão entrando na campanha explorando a questão da luta pela segurança, contra “traficantes de drogas” e “terroristas”. No centro disso está a intervenção direta do presidente dos EUA, Donald Trump. Ele exigiu a anulação da condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe. Os tribunais — contestados por Trump — o sentenciaram a 27 anos de prisão. O presidente dos EUA anunciou tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras em retaliação. A direita parlamentar (o Centrão e os apoiadores de Bolsonaro) lançou uma campanha por “anistia” para Bolsonaro e seus “milicianos” civis e militares que foram julgados e/ou processados (na Argentina, vários apoiadores de Bolsonaro que fugiram da justiça brasileira estão solicitando reconhecimento como “refugiados políticos”).
Não parece ser coincidência que o governador Castro tenha escolhido a terça-feira, dia 28, para lançar sua operação contra o “narcoterrorismo” nas favelas, ecoando a campanha de bombardeios e afundamentos de navios de Trump contra a Venezuela sob o mesmo pretexto. Flávio Bolsonaro, filho de Bolsonaro, declarou recentemente que “os Estados Unidos deveriam bombardear a Baía de Guanabara (no Rio de Janeiro), onde há tráfico de drogas”.
Os apoiadores de Lula acreditavam, há alguns dias, que Trump havia recuado em suas exigências pela libertação de Bolsonaro e pelo fim de sua campanha presidencial, para se concentrar em acordos econômicos com Lula (etanol, terras raras, tarifas, etc.). Mas o encontro entre Trump e Lula no domingo, 26 de abril, na Malásia, não parece ter resultado em nenhum acordo. Lula tentou convencer Trump de que Bolsonaro "era coisa do passado" e ofereceu acordos sobre todas as questões econômicas: "Se você quiser falar sobre minerais críticos, terras raras, etanol, açúcar, sem problema. Estou disposto a discutir todos os assuntos". Lula sugeriu que havia "acordos" que os ministros de ambos os países agora teriam que finalizar. Trump se mostrou muito mais cauteloso.
É também certo que o Supremo Tribunal Federal do Brasil irá rever esta semana as sentenças proferidas contra Bolsonaro e seus cúmplices na conspiração golpista.
O governo federal de Lula não apresentou uma política diferenciada para acabar com o narcotráfico e não está reagindo às táticas de terror da polícia de direita — não está respondendo à crescente violência contra negros e pobres — que buscam criar um clima nacional de direita. Pelo contrário, está se adaptando à direita. E, socialmente, não está tomando medidas para beneficiar as massas de trabalhadores e aposentados. Esconde-se atrás da desculpa de que suas mínimas iniciativas sociais (aumento do limite mínimo de renda para a isenção do imposto de renda sobre salários, etc.) são bloqueadas pela direita parlamentar. Mas as organizações de massa (sindicatos, sindicatos camponeses, sindicatos de moradores, grêmios estudantis) permanecem paralisadas, impedindo uma mobilização maciça das massas para recuperar as conquistas perdidas durante os governos Temer e Bolsonaro. Essa paralisia beneficia a direita e sua retórica repressiva.
Independência total das organizações operárias em relação ao governo que conspira com os patrões, a polícia, a repressão e o imperialismo. Abaixo as reformas trabalhistas, previdenciárias e educacionais antioperárias e reacionárias! Incentivar o povo e a juventude trabalhadora a lutar por suas reivindicações e contra os pactos entre o crime e a polícia. O narcotráfico é um negócio capitalista (e não marginal) que prospera com as ações dos traficantes, dos bancos que lavam seus lucros e da polícia e do sistema judiciário da classe dominante. E esse negócio não será desmantelado nem por Lula no Brasil nem por Trump nos Estados Unidos. A luta contra o narcotráfico, transformada por Trump em "narcoterrorismo", é uma desculpa para a intervenção político-militar imperialista direta. Nacionalizar os bancos e colocá-los sob controle operário, abrindo seus balanços, exporá a essência desse ramo do lucro capitalista. A polícia cúmplice e os "milicianos" que vendem proteção não impedirão, mas sim incentivarão essa atividade criminosa.

