quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
IMPRESSIONISMO POLÍTICO E FUNDO PARTIDÁRIO: O TRISTE FIM DO PCO
Quem acompanha minimamente o Partido da Causa Operária (PCO) nos últimos anos percebeu um grande giro político dessa organização. De uma pequena, mas combativa, organização socialista, o PCO se transformou em uma corrente externa do Partido dos Trabalhadores (PT), chegando a defender o PT e seus governos mais do que antigos aliados históricos do lulismo, como o PCdoB.
O PCO, que outrora se notabilizou por dizer que “quem bate cartão não vota em patrão”, agora defende um projeto político de Frente Popular com partidos e organizações que não rechaçam os patrões e a exploração capitalista. Pelo contrário, seu projeto é o da conciliação de classes, que, para eles, garantiria uma série de pequenos avanços sociais que, aos poucos, transformaria a sociedade. O classismo deixa de ser princípio, já que a conjuntura obrigaria a esquerda a abrir mão de suas ideias e defender o menos pior, o mal menor.
Nos últimos anos, especialmente a partir do processo de Golpe, que derrubou do poder a presidente Dilma Rousseff, o PCO parece ter perdido totalmente a vergonha de defender esse seu novo projeto, e agora, inclusive, ataca o Partido Obrero (PO) argentino e Jorge Altamira, um de seus dirigentes históricos.
Os artigos “Lula é vítima de sua própria política” (http://tribunaclassista.blogspot.com.br/2018/01/lula-e-vitima-de-sua-propria-politica.html) e “Sem Lula é fraude” (http://tribunaclassista.blogspot.com.br/2018/01/sem-lula-e-fraude.html), escritos por Altamira e traduzidos para o português pela Tribuna Classista, foram os alvos do ataque dos ex-trotskistas. Para o PCO, a posição de Altamira, do PO e da Tribuna Classista nada mais é do que uma “adesão à lógica golpista brasileira”.
Segundo a lógica impressionista do PCO, após o Golpe a grande tarefa da esquerda é defender Lula e o PT, e qualquer posicionamento político que destoe disso é útil à direita, a Sérgio Moro, a Temer, aos golpistas e à Lava Jato. Para o PCO não é possível existir um posicionamento independente da esquerda, que condene o Golpe e a direita sem ser subserviente ao PT. É o bom e velho campismo, uma visão maniqueísta que de marxista não tem nada.
Mas o que levou o PCO a esse giro? Por que o PCO descambou para a defesa do regime burguês e da Frente Popular com os mesmos setores que contribuíram para levar o Brasil à essa encruzilhada? A adaptação à ordem burguesa e às suas benesses é uma das explicações. Além do imposto sindical – mecanismo getulista de controle estatal dos sindicatos, ao qual o PCO é afeito, e que agora está ameaçado pela Reforma Trabalhista – há uma grande explicação material: o fundo partidário. Apenas em 2017 o PCO teve disponibilizados pelo fundo 1,035 milhão de reais, de acordo com a Justiça Eleitoral.
Na crise da Nova República, o PCO enxerga a possibilidade da crise de seu próprio financiamento, e se agarra ao PT e ao regime político burguês com unhas e dentes para não perder dinheiro. Quaisquer princípios marxistas são deixados de lado para defender a democracia como valor universal, o Estado de Direito. O PCO seria mais sincero se publicamente abdicasse do marxismo e reivindicasse a social democracia, ao invés de ficar atacando o PO e Altamira para inflar seu ego.
Ataca, ainda a CSP-Conlutas, uma pequena e embrionária experiência da classe trabalhadora brasileira que se têm demonstrado importante. Afinal, nos últimos anos, mesmo tendo como maioria o PSTU que segue insistindo em uma análise equivocada de que não houve Golpe no Brasil e de que a conjuntura não mudou, foi a CSP-Conlutas que esteve à frente da batalha para construir Greves Gerais no país.
Enquanto isso, a CUT que o PCO defende e constrói de maneira parasita propôs, por exemplo, o Acordo Coletivo Especial (ACE), para que as negociações coletivas valham mais do que as leis trabalhistas como depois foi aprovado na Reforma Trabalhista. A CUT ainda compôs uma comissão criada pelo governo Dilma para reformar a Previdência cujos estudos e debates serviram de base para construir a malfadada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/16 de Temer.
Não é à toa que o PCO critica a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores argentina. Afinal, se na Argentina estivessem, estariam de mãos dadas com o kirchnerismo e com a burocracia sindical (aqueles que mataram Mariano Ferreyra), e não ao lado daqueles que buscam construir uma alternativa de poder independente dos trabalhadores.
O que defendemos para o Brasil?
A Tribuna Classista, organização que compõe no Brasil a Coordenação para a Refundação da Quarta Internacional (CRQI), compartilha das teses do PO e de Altamira sobre a situação política. Para analisar a conjuntura é necessário, primeiro, perceber que o Golpe no Brasil não é uma situação à parte da política mundial, e sim mais um exemplo da nova conjuntura do capitalismo mundial, que carrega o mundo para uma era de crises, guerras e revoluções.
O Golpe que ocorreu no Brasil é parte de uma virada política da burguesia mundial, na busca de tentar reverter a grave crise do capitalismo e aumentar suas taxas de lucro. É a percepção da burguesia de que os governos conciliatórios de centro-esquerda chegaram ao limite da conciliação, e de que, nesse momento, não são tão úteis ao capitalismo quanto foram há pouco tempo.
Se no Brasil Dilma foi deposta por um Golpe, na Argentina ele não foi necessário, já que Macri ganhou as eleições. No Equador o Golpe ocorreu dentro do próprio partido centro-esquerdista, já que Lenin Moreno rompeu com Rafael Correa após eleito para seguir aplicando a mesma cartilha de retirada de direitos.
O objetivo do capitalismo, nesse momento de crise, é global. Para manter e aumentar suas taxas de lucro é necessário fazer retroceder direitos sociais historicamente conquistados, e subjugar os países do sul do mundo a uma maior exploração do trabalho, com aposentadorias menores e sem serviços públicos.
E para isso, em um momento em que os governos de centro-esquerda já não têm mais a mesma força social para convencer os trabalhadores a aceitarem sua política, é melhor que haja um governo burguês “puro”, mesmo sem legitimidade alguma, como é o caso de Temer.
E como a esquerda responde a essa situação? A Tribuna Classista, ao contrário de PT, PCdoB, PCO e da maioria do PSOL, não acredita que os trabalhadores devem responder à crise reivindicando a defesa do regime democrático a qualquer custo. Não é defendendo a volta do imposto sindical, ou acreditando em qualquer horizonte eleitoral, muito menos em frentes eleitorais com esses partidos completamente adaptados à ordem burguesa.
A uma crise de fundo do capitalismo, a esquerda deve responder com uma saída de fundo. Apenas a organização independente da classe trabalhadora para destruir o sistema e criar um governo dos trabalhadores pode dar as soluções práticas que a social-democracia tanto diz querer para a vida das pessoas. É essa tarefa que a Tribuna Classista se dispõe a cumprir no Brasil.
Por TRIBUNA CLASSISTA