Osvaldo Coggiola
Nos dias 29 e 30/03 foi realizada a
Segunda Conferência Euro-Mediterrânea de Trabalhadores: “Europa em crise. Por uma alternativa revolucionária internacionalista”,
impulsionada pelas organizações europeias da CRQI. Novamente ocorreu em Atenas,
sob a responsabilidade do EEK. Fruto de um trabalho político de meses,
fizeram-se presentes delegações de organizações e militantes de 15 países
europeus e do Oriente Médio, um notório crescimento em relação ao evento
precedente. Destacou-se a presença de quatro organizações marxistas da Rússia
(incluído o recentemente criado Partido Comunista Unificado) e de uma jovem
organização da Ucrânia, “Contra Corrente”, que está presente em Odessa, Kiev,
Kharkov e Donestsk. Pouco mais de 100 pessoas assistiram permanentemente às
três sessões. O Partido Obrero foi o responsável pelo informe sobre a América
Latina (ocupando parte da terceira sessão).
O DIP da Turquia (CRQI) ocupou a
presidência das sessões, como uma forma de destacar a unidade internacionalista
dos trabalhadores da Grécia e Turquia. Savas Matsas (EEK) realizou o informe
introdutório geral. Os informes das delegações (quase trinta, boa parte das
quais não se conheciam entre si) consumiram praticamente o tempo formalmente
reservado para os debates. Estes se produziram, de maneira espontânea, durante
os próprios informes. Duas delegações operárias combativas da Grécia (da
fábrica ocupada, Viome, e dos garis municipais de Atenas, em plena greve)
informaram sobre suas lutas e foram votadas moções de apoio. O informe do PO
sobre a América Latina, centrado na atividade partidária, nas vitórias
político-eleitorais da Frente de Esquerda, em especial a vitória sobre o
peronismo em Salta; na greve docente e nas lutas no Brasil, foi ouvido com um
silêncio e atenção absolutos.
Como era de se esperar, os informes
e debates mais calorosos foram os russos-ucranianos-europeus: caracterização do
governo provisório e do movimento “Euro-Maidan”, a anexação da Crimeia pela
Rússia, os planos do FMI, as perspectivas políticas em ambos os países.
Expressaram-se posições divergentes: a anexação da Crimeia como um ato
defensivo da Rússia contra o imperialismo yanque-europeu, o perigo do
ressurgimento do nazismo na Europa Oriental e até a possibilidade de uma
limpeza étnica anti-russa na Ucrânia. Os debates a viva voz nas plenárias
continuaram todo o tempo nos corredores.
O debate conclusivo se realizou em
torno à proposta de declaração apresentada pelo EEK, que foi aprovada depois de
profunda discussão. A declaração defende, com toda clareza, a luta por uma
Ucrânia unida, independente e socialista, contra toda a anexação e
desmembramento da Ucrânia, por um lado, e, diz literalmente, por outro lado,
contra “a União Europeia imperialista, prisão dos povos a serviço do capital, e
contra “a União Aduaneira Euroasiática” das oligarquias, por uma nova União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, no pleno respeito da autodeterminação
nacional e nos marcos dos Estados Unidos Socialistas da Europa”.
A Conferência adotou também uma
resolução específica sobre o Chipre, “por um Chipre independente, unificado e
socialista, em uma Europa socialista”, depois de informes das delegações turca
e grega da ilha.
Com relação à lista da esquerda
democratizante, para as eleições europeias, que é encabeçada por Aléxis
Tsipras, do partido Syriza, a Conferência caracterizou o compromisso dela com o
imperialismo e precisou que se trata de uma frente de colaboração de classes
“sem limites à direita”.
A declaração final foi votada
favoravelmente por uma ampla maioria, em geral, incluídas todas as delegações
russas e ucranianas. No voto em particular sobre a situação russo-ucraniana,
registrou-se o voto contrário do DIP, a organização turca (não se opõe à
anexação da Crimeia pela Rússia). Também votaram contra os delegados do PCL
italiano (por um lado defendem a “autodeterminação da Crimeia” e, portanto seu
direito a incorporar-se à Rússia, e por outro lado caracterizam a Rússia como
“potência imperialista”). A declaração foi votada favoravelmente, em geral,
incluindo a resolução de uma campanha política comum para as eleições europeias
(UE) e ucranianas no próximo 25 de maio, inclusive na Rússia.
A Conferência concluiu com “A
Internacional”, cantada em trinta línguas diferentes por todos os presentes. A
continuidade deste trabalho político, a colocação em prática das resoluções
votadas e as divergências que puseram de manifesto os agrupamentos da CRQI,
integram a agenda da reunião que a CRQI tinha prevista ao finalizar a 2ª Conferência
Europeia.